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Breves reflexões sobre o processo de desenvolvimento humano

No documento MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL (páginas 39-42)

2. BRINCAR E DESENVOLVIMENTO HUMANO

2.1. Breves reflexões sobre o processo de desenvolvimento humano

O desenvolvimento é um processo construtivo que reflete a capacidade, a potencialidade, limitações e sentimentos do ser humano. Evidencia a maturação fisiológica, neurológica e psicológica desenvolvida no contato humano com o meio físico e social (RAPPAPORT, 1981, p. VIII).

Muitos dos estudos sobre o desenvolvimento humano avançaram sob a luz da psicanálise. Freud, com base na análise de seus pacientes adultos, propôs sua teoria sobre a personalidade, contribuindo para a compreensão de alguns comportamentos, remetidos à própria psicologia da criança.

A obra de Piaget teve destaque entre as teorias do desenvolvimento humano. O autor, analisando o universo infantil, sinaliza a preocupação com os aspectos que envolvem a evolução humana, tendo como base o desenvolvimento cognitivo. Considera este último como intermediário no reconhecimento do mundo, um processo que tem sua determinação na interação ativa e contínua, entre o desenvolvimento biológico e mental.

Desta forma, o indivíduo, desde o nascimento, herda as capacidades de aprendizagem e desempenho que serão desenvolvidas no transcorrer da vida, mediante as condições oferecidas pelo meio social.

Para Piaget, a criança está permanentemente disposta a assumir a posição de tentar descobrir o sentido do mundo ao seu redor. No ato de conhecer, aproxima a própria curiosidade e criatividade, estimulando seu desenvolvimento e a expressão de sentimentos de prazer e satisfação.

“Poderíamos dizer que o conhecimento possibilita novas formas de interação com o ambiente, proporcionando uma adaptação cada vez mais completa e eficiente e, neste sentido, é gratificante para o organismo, que se sente mais apto a lidar com situações novas.” (RAPPAPORT, 1981, p. 56)

Assim, toda experiência social contribui para a construção do conhecimento e o domínio do mundo, de forma gradual, mediante o que o autor denomina como etapas do desenvolvimento infantil.

Segundo o mesmo, (TAILLE, 1992, p. 17) o desenvolvimento infantil está demarcado por etapas, correlacionadas aos estágios do desenvolvimento social da criança. Inicia-se entre o nascimento e os 2 anos de idade, no estágio denominado sensório-motor, envolvendo os reflexos, os instintos, as primeiras tendências das emoções. A vivência determina a passagem gradativa ao segundo estágio, que acontece entre os 2 e os 7 anos, no denominado estágio pré-operacional, com o desabrochar da comunicação, através da linguagem, modificações de conduta no campo afetivo e intelectual, mediante esquemas simbólicos. Neste estágio, uma caixa de fósforos pode ser transformada em um carrinho para brincar; um cabo de vassoura em um cavalo; uma simples caneta, num avião. O pensamento egocêntrico caracteriza este estágio de desenvolvimento. A criança ainda não está pronta para partilhar regras coletivas, brinca apenas ao lado da outra. Entre os 7 e 10 anos, inicia-se um novo período, agora caracterizado pela organização das operações concretas, com o interesse pelas atividades coletivas e regradas, mesmo que as regras ainda

não estejam bem assimiladas. Com base nas experiências da etapa anterior, no estágio das operações formais ela se torna, por volta dos 12 anos, capaz de elaborar esquemas conceituais abstratos, adquirindo um olhar crítico acerca dos sistemas sociais. Pode, portanto, passar à construção propriamente dita de sua autonomia.

Definindo patamares para a compreensão do desenvolvimento infantil, Piaget não se deteve muito na discussão sobre as influências e determinações do meio social sobre o processo de desenvolvimento da cognição da criança, embora afirmasse que a razão do indivíduo se estrutura na base de sua relação com o meio social. (TAILLE, 1992, 1992, p. 11)

A teoria histórico-cultural vai além da compreensão piagetiana. Privilegia o rastreamento dos elementos que elucidam a natureza humana. Considerando-se, além dos fatores biológicos, os sociais, configurados pelas representações culturais, constitui-se um complexo e dialético processo de desenvolvimento humano.

Para Vygotsky (1896-1934), a maturação do organismo faz parte desse desenvolvimento, cujo processo tem consolidação no contato com o ambiente social. Isto implica na apropriação e domínio dos instintos, da maneira pela qual, historicamente, a cultura produz a dimensão humana.

A vida cotidiana é o espaço em que se desenvolve a globalização da vida (Muñoz, 2004), é uma realidade subjetiva, dotada de sentidos e originada do pensamento e ação do ser humano no ambiente social. O aprendizado obtido no ambiente social desperta, no ser humano uma série de processos internos, submersos no contato com as situações que permeiam a vida cotidiana. Trata-se da capacidade de realizar as tarefas de forma independente na vida cotidiana, o que vai nortear um desenvolvimento real do ser.

O desenvolvimento do indivíduo é determinado a partir de um ambiente dinâmico, que envolve múltiplas interações sociais. Neste contexto, a interação entre o sujeito e o ambiente social tem extrema importância para a construção da função psicológica humana. Conforme Berger (1895, p. 173), o indivíduo não nasce membro da sociedade, apenas nasce com a predisposição para desenvolver sua sociabilidade tornando-se, no decorrer da vida, um membro da sociedade. A apreensão do mundo começa a partir da atividade do ser humano, enquanto criança, e envolve uma série de investimentos em suas relações nas dimensões social, histórica e cultural. Para que este processo de apreensão do mundo constitua-se em um processo histórico de aquisições, é imprescindível o contato

com os fenômenos circundantes da vida cotidiana. Desta forma a criança apreende as ações e os objetos enquanto culturalmente definidos, e atribui-lhes significado social.

É neste espaço da inter-subjetividade, submerso no ambiente social, que a criança desenha suas múltiplas formas de interagir com o mundo.

Conforme Rocha (2005, p. 37):

“O processo de desenvolvimento humano implica, portanto, o fato de o indivíduo ser capaz de ultrapassar duas outras dimensões que participam de sua formação: suas características naturais, inscritas nos programas hereditários com todas as influências de caráter biológico e sua experiência particular, individual; implica passar a ter comportamento e desenvolvimento regulados segundo as leis histórico-culturais.”

Neste sentido, entendemos o desenvolvimento humano como a dialética da apropriação da realidade sócio-histórica, na qual o ser humano, em sua dinâmica relacional, observa, conhece, avalia, decide, escolhe, atribui significados, intervém, constrói, rompe e reconstrói suas relações com o mundo.

No documento MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL (páginas 39-42)