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Capítulo IV – Método 4.1 Participantes

4.2.5. Brief Symptom Inventory (BSI)

Sendo a comorbilidade uma realidade com visibilidade na dependência alcoólica, é importante reconhecer se existe perturbação emocional na amostra seleccionada e quais as dimensões psicológicas mais afectadas.

O Brief Symptom Inventory (BSI) foi concebido por L. Derogatis (1975) e adaptado para português por Canavarro (1999) (ver Anexo V). Consiste na versão mais breve do instrumento SCL-R-90 (Derogatis, 1975, 1977) que mede as mesmas dimensões, sendo que as correlações entre os dois instrumentos foram de 0,92-0,99, o que indica valores elevados de validade para o instrumento.

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O BSI é um instrumento que visa identificar através do auto relato, a presença de sintomas psicológicos clinicamente relevantes, em adolescentes e adultos. Neste sentido, é composto por 53 itens que abrangem 9 dimensões: Somatização, Obsessões Compulsões, Sensibilidade Interpessoal, Depressão, Ansiedade, Hostilidade, Ansiedade Fóbica, Ideação Paranóide, Psicotismo e, é constituído por três índices globais de perigo, o Índice Geral de Sintomas (IGS), o Total de Sintomas Positivos (TSP) e o Índice de Sintomas Positivos (ISP). Os índices globais medem respectivamente, sintomatologia corrente, intensidade dos sintomas e número de sintomas encontrados. Desta forma, aos sujeitos é solicitado que para cada item, que representa um problema ou sintoma, seleccionem numa escala de 5 pontos (de 0=Nunca a 4=Muitíssimas vezes) a opção que melhor traduzir o grau em que esse problema os afectou durante a última semana.

Quanto à cotação do instrumento, os itens 11, 25, 39 e 52 não estão presentes em nenhuma das dimensões, mas são incluídos por serem clinicamente significativos. Assim, do IGS fazem parte estes itens, sendo que este índice corresponde ao somatório das pontuações de todos os itens a dividir pelo número total de itens. Por sua vez, o TSP equivale à contagem dos itens assinalados com resposta positiva (entenda-se superior a 0) e o ISP calcula-se através do somatório da pontuação de todos os itens a dividir pelo TSP. Se a pontuação obtida no IGS for superior a 1,7 é indicador de perturbação emocional, sendo necessário verificar quais as dimensões igualmente afectadas.

O BSI revela boa confiabilidade de consistência interna para as nove dimensões (que vão desde 0,71 para Psicotismo e 0,81 para Depressão). Quanto à confiabilidade teste-reteste para as dimensões, varia entre 0,68 (Somatização) e 0,91 (Ansiedade Fóbica) e, para os três índices globais de 0,81 (ISP) para 0.90 (IGS). Na versão portuguesa, o alpha de Cronbach (quer dos diversos itens, quer dos valores globais das dimensões) encontra-se entre 0.70 e 0.80, à excepção dos valores das dimensões Ansiedade Fóbica (0,624) e Psicotismo (0,621), que se apresentam ligeiramente abaixo do referido intervalo. Os valores das correlações slipt-half e os coeficientes de Spearman-Brown surgem também como dados indicativos da boa consistência interna da escala.

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4.3. Procedimento

Inicialmente foi realizada uma apresentação verbal do projecto de investigação à Directora da Unidade de Alcoologia do Porto, na qual foi especificado o tema da investigação e os objectivos gerais da mesma. Debatida a pertinência do presente estudo, foi obtida autorização para a sua concretização.

O primeiro contacto com os utentes ocorria na consulta de acolhimento, durante a qual está presente a equipa multidisciplinar que irá acompanhar o sujeito. Caso o diagnóstico de dependência alcoólica fosse comprovado (critério de inclusão), era marcada consulta para as diferentes especialidades, com o cuidado de que a consulta de psicologia fosse no prazo de uma semana a quinze dias.

Na consulta individual, o primeiro passo consistia em solicitar a livre colaboração na investigação, explicando aos utentes o tema e os procedimentos da mesma, bem como o carácter anónimo e confidencial da sua participação, sendo salientada a possibilidade de se retirarem da investigação a qualquer momento. Caso concordassem em participar, procedia-se ao preenchimento do termo do consentimento informado, no qual está descrito o que foi explicado verbalmente aos participantes (ver Anexo VI). Desde logo, mostrou-se disponibilidade para o esclarecimento de qualquer dúvida e para a posterior devolução dos resultados obtidos.

Depois de comprovada a participação intencional no estudo, eram administrados os seguintes instrumentos, pela ordem descrita: Questionário sócio-demográfico, Entrevista semi-estruturada, SADD, RCQ e BSI.

A administração dos instrumentos foi individual, ocorreu no gabinete do psicólogo membro da equipa multidisciplinar responsável pelo acompanhamento do utente e teve a duração máxima de 40 minutos. No caso de se verificar que o utente estava significativamente cansado ou na eventualidade de ser necessário terminar a consulta por motivos de horário, o instrumento BSI era administrado na sessão seguinte. A recolha de dados ocorreu de Janeiro a Junho de 2009.

Todos os questionários foram preenchidos pelos inquiridos, com excepção dos utentes analfabetos ou que apresentavam dificuldades acentuadas na escrita (tremura digital significativa), nestes casos o preenchimento era realizado pelo investigador.

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Os resultados das provas foram devolvidos sempre que solicitados pelos utentes e quando este procedimento se revelava importante para o desenvolvimento da intervenção terapêutica.

4.3.1. Metodologia

A presente investigação segue um desenho exploratório descritivo, recorrendo a uma metodologia qualitativa baseada na entrevista semi-estruturada e conjugando com uma componente de índole quantitativa, sustentada pelas provas administradas.

A metodologia adoptada é de índole mista com o intuito de que a relação entre o quantitativo e o qualitativo seja complementar. Segundo Bogdan e Biklen (1984) a complementaridade entre abordagens é até desejável, na medida em que torna possível, por exemplo, utilizar a estatística descritiva e conjuntamente apresentar a interpretação de dados qualitativos. A esse tipo de opção costuma denominar-se por triangulação metodológica e traduz a relação entre métodos adoptada neste estudo.

No domínio da análise qualitativa, para trabalhar dados não estruturados tendo como objectivo descrever fenómenos e comportamentos, foi utilizada a estratégia não apriorística de análise de conteúdo, ou estratégia dedutiva, que consiste em estabelecer categorias através da informação recolhida com o intuito de analisar a sua frequência e relevância (Martins & Theóphilo, 2007).

Na análise de conteúdo as categorias podem ser definidas a priori ou a posteriori, tendo sido considerada neste trabalho a segunda opção. Desta forma, a análise categorial surge como uma das técnicas mais antigas e mais utilizadas, funcionando “por desmembramento do texto em unidades, em categorias segundo reagrupamentos analógicos” (Bardin, 1977, p. 153).

Assim, categorias são rubricas ou classes que reúnem um grupo de elementos em razão de várias características comuns. Para construir categorias podem existir vários critérios, nomeadamente semânticos, sintácticos, lexicais ou expressivos. O critério adoptado nesta pesquisa foi o semântico, de categorias temáticas (Bardin, 1977).

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No domínio da análise quantitativa, para a operacionalização das variáveis estudadas, recorreu-se ao Software de manipulação, análise e apresentação de resultados da análise de dados, de utilização predominante nas Ciências Sociais e Humanas, o SPSS (Statistical Package for the Social Sciences, versão 17.0).

Foram obtidas medidas de tendência central, que procuram caracterizar o valor das variáveis em estudo que ocorriam com maior frequência, bem como o Teste do Qui- Quadrado, que serve para testar se dois ou mais grupos independentes diferem relativamente a uma determinada característica (p ≤ 0,05) (Maroco, 2007). Como tal, esta prova sustenta a caracterização da amostra quanto a diferenças de sexo.

Capítulo V – Análise e Discussão dos Resultados