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4. DIFICULDADES E BUROCRACIAS PARA IMPLEMENTAÇÃO DAS

4.3. Burocracias

Analisando os questionários dos funcionários e dos apenados, bem como as entrevistas com ambos os grupos, foi possível tirar algumas conclusões a respeito das burocracias encontradas por eles.

Nos questionamentos aos funcionários, 40% (quarenta por cento) respondeu que não existe qualquer tipo de burocracia. Teve quem respondesse que não há burocracia que dificulte a efetivação do trabalho de aplicação das penas, e que a burocracia do encaminhamento do aluno é resolvida na Vara de Execução de Pena Alternativa – VEPA. Outros funcionários não responderam.

Na aplicação dos questionários dos alunos, a grande maioria respondeu que não há qualquer tipo de burocracia que embarace a concretização das penas. Esta foi a resposta de aproximadamente 59% (cinqüenta e nove por cento) da amostra. Houve quem respondesse que há burocracia com relação ao trabalho aos sábados. Foi a resposta de 16% (dezesseis por cento) da população dos apenados.

Outros se referiram à burocracia relacionada ao processo que responderam mencionando ter achado muito demorado - uma parcela significativa de 16% (dezesseis por cento). Foi feita referência também à questão da discriminação por parte da comunidade – 9% (nove por cento). Os reeducandos responderam considerando burocracia como qualquer tipo de dificuldade que emperrasse o cumprimento da pena de limitação de fim de semana.

Normalmente as pessoas já ouviram falar sobre penas alternativas, mas a idéia que têm é de uma pena cumprida só por quem tem direito e não vai ser preso. Dá algumas cestas básicas e termina sua obrigação. Essa noção foi delineada logo no início quando alguns juízes aplicavam a pena alternativa de prestação de serviço à comunidade nesses moldes. Acontece que muitos apenados sequer se davam ao trabalho de irem deixar as cestas nas entidades, havendo um completo desvirtuamento do caráter retributivo e compreensão do apenado da função daquela pena.

No caso da pena de limitação de fim de semana em que os apenados recebem aulas, fazem cursos, interagem com outras pessoas, vivenciam o ambiente escolar, o Estado acaba prestando um serviço de suma importância à comunidade mais carente.

É válido destacar que a limitação de fim de semana tem aplicabilidade insuficiente em outras localidades em vista da inexistência de estabelecimentos apropriados para sua efetivação. O Ceará merece destaque entre os estados brasileiros por ter a iniciativa de estabelecer convênio com o Centro de Educação de Jovens e Adultos – CEJA Paulo Freire para a implementação destas sanções alternativas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo do presente trabalho, através de pesquisa bibliográfica, documental e de campo, foi apontar que a substituição das penas privativas de liberdade por penas alternativas nos crimes, cujas penas sejam inferiores a 04 (quatro) anos, e consideradas todas as condições estabelecidas pela legislação penal, é a direção que deve ser seguida para a nossa política criminal.

As alternativas penais se desvendam como instrumentos capazes de resolver a questão do nítido esgotamento do sistema penitenciário, o qual não alcança o propósito contemporâneo da pena, isto é, a ressocialização do apenado.

Não obstante, nosso sistema corretivo tenha como núcleo a pena privativa de liberdade, o Brasil tem atravessado por grandes transformações no que diz respeito à aplicação das penas alternativas, impedindo o aprisionamento dispensável de pessoas que cometem delitos de menor potencial ofensivo, corroborando a tendência despenalizadora do direito penal moderno.

Diante do que foi explanado nessa pesquisa, conclui-se sobre as penas alternativas: a procura por opções à pena de prisão, embora fundamentado provenientemente em pressupostos regeneradores e de direito penal mínimo, faz parte da nova inclinação mundial de extensão do direito penal, que procede dos embasamentos do sistema penal norte- americano e que se reposiciona aos demais centros do mundo inserindo uma política de exacerbação da penalidade e alargamento do controle social pelo Direito Penal.

Antigamente a pena tinha um aspecto retributivo; atualmente predomina o intento ressocializador. Destarte, o Direito Penal contemporâneo distingue-se por ser cada vez menos garantista e a pena permanece com o mesmo caráter retributivo que tinha nos primórdios.

Acredito que a aplicação das sanções alternativas deveria ser ampliada. Em vez de serem aplicadas para substituírem as penas privativas de liberdade nos crimes, cujas penas sejam inferiores a 04 (quatro) anos, esse limite poderia ser expandido. Bem como, à vista da experiência que vem dando certo no nosso estado, poderiam ser adotadas por outros

locais ajudando a reeducar vários infratores que, por inúmeros motivos, não foram agraciados com políticas públicas que os beneficiasse e tiveram negados seus direitos sociais.

Destaque-se, ao mesmo tempo, o trabalho desempenhado de forma singular pelo quadro de funcionários do Centro de Educação de Jovens e Adultos – CEJA Paulo Freire, o qual através de convênio com o Poder Judiciário, mediante a Vara de Execução de Penas Alternativas, recebe os apenados para o cumprimento de pena de limitação de fim de semana como seus alunos e os acompanha desde a chegada, ainda esquivos, o desenvolvimento como pessoas e a reinserção na sociedade de maneira digna.

Depois de desenhado o perfil sócio-econômico dos beneficiários, verificamos que muitos dos crimes por eles cometidos poderiam ser impedidos, caso existisse um maior empenho do poder público com as camadas sociais mais carentes. Notamos que a maior parte dos reeducandos são indivíduos que vivem à margem da sociedade, sendo afastados e despojados de seus direitos fundamentais, tais como saúde, moradia, educação, trabalho, dentre outros.

Muitos apenados, posteriormente ao cumprimento de suas penas alternativas, voltam aos estudos regulares, abandonam seus vícios, aprendem a ter mais respeito com o próximo e se reintegram ao trabalho, família e sociedade, retomando sua auto- estima e o prazer de viver.

Deduz-se, diante das investigações feitas, que as penas alternativas, principalmente as penas de limitação de fim de semana, cooperam em grande parte para a ressocialização dos apenados, fazendo com que eles se regenerem, pensem sobre as infrações cometidas e não tornem a delinqüir, atenuando os índices assustadores que tratam da reincidência.

Diante do exposto, constatamos que muitos desses beneficiários são pessoas marginalizadas, sem condições essenciais para uma existência honrada: educação, oportunidade de trabalho, remuneração justa, saúde, políticas públicas eficazes, e perante a complexa circunstância em que se deparam, procuram refúgio, subsídios para seu alento no mundo da delinqüência.

Observa-se que, caso recebam uma atenção peculiar, apoio da família, dos professores, colaboradores do centro de reabilitação, da Vara de Execução de Penas

Alternativas, do Poder Judiciário, Secretaria de Justiça e das políticas públicas, muitos ampliam seus potenciais, ganham estímulos para estudar e trabalhar, podendo desfrutar de uma vida digna, distante da criminalidade.

Conseqüentemente, verificou-se que as sanções alternativas, nomeadamente as penas de limitação de fim de semana, cooperam para a ressocialização do apenado, por terem um aspecto educacional, oferecendo aos reeducandos a chance de assistirem às aulas, terem o convívio com outros colegas, se qualificarem e terem um ofício, de se afastarem das infrações penais, de passarem a ser mais afetuosos, receberem orientação que talvez nunca tiveram, refletindo sobre seus atos tortuosos.

Assim, nesse processo de humanização das penas que remonta do passado, nesse processo de civilização, as penas alternativas podem ser um novo alento para aqueles que não tiveram a oportunidade de serem socializados.

REFERÊNCIAS

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APOLINÁRIO, Marcelo Nunes. As penas alternativas entre o direito penal minimo e

máximo, In: Observatório de la Economía Latinoamericana, 78, 2007. Texto completo in

http://www.eumed.net/cursecon/ecolat/br/

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, Senado, 1988.

______. Lei 7.209, de 11 de julho de 1984. Altera os dispositivos do Código Penal. Diário

Oficial da União, Brasília, 13 jul. 1984.

______. Ministério da Justiça: Regras de Tóquio. Comentários às regras mínimas das Nações Unidas sobre as medidas não privativas de liberdade. Escritório das Nações Unidas, Nova York, 1993. Tradução de Damásio E. de Jesus. Brasília, 1998.

FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: nascimento da prisão, 32. ed. Tradução de. Raquel Ramalhete. Petrópolis: Vozes, 2000.

GARCIA, Emerson. Dignidade da pessoa humana: referenciais metodológicos e regime jurídico. Jus Navigandi, Teresina, ano 9, n. 719, 24 jun. 2005. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=6910>. Acesso em: 22 de outubro de 2007. GIDDENS, Anthony. Crime e desvio. In: GIDDENS, Anthony. Sociologia, 4. ed. Artmed, Cap. 8, p. 172-202.

GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal Parte Geral. 8. ed. Niterói: Impetus, 2007. LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 10. ed. São Paulo: Método, 2006. MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 17. ed. São Paulo: Atlas, 2005.

NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal: Parte Geral Parte Especial. 3. ed. RT, 2007.

PAULO, Vicente; ALEXANDRINO, Marcelo. Direito Constitucional Descomplicado. 1 ed. Niterói: Impetus, 2007.

SANTOS, Juarez Cirino dos. 30 Anos de vigiar e punir (Foucault). In: Seminário Internacional do IBCCRIM, 11, 2005, São Paulo.

SARAIVA, Alexandre José de Barros Leal. Direito Penal Fácil. 1 ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2003.

MACHADO, Breno Fontenele. O Papel das Penas Alternativas no Processo de

Ressocialização do Apenado na Comarca de Fortaleza. Universo Jurídico, 2005.

Disponível em:

<http://www.universojuridico.com.br/publicacoes/doutrinas/default.asp?action=doutrina&idd outrina=2208> Acesso em 08/11/2007

APÊNDICE A

QUESTIONÁRIO DOS BENEFICIÁRIOS

1. Qual sua idade?

( ) 18 a 29 anos ( ) 30 a 40 anos ( ) 50 anos ou mais 2. Qual seu estado civil?

( ) solteiro ( ) união estável ( ) casado ( ) separado ( ) viúvo ( )outro 3. Tem filhos?

( ) sim ( ) não 4. Quantos?

( ) 1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ou mais 5. Qual sua escolaridade?

( ) fundamental incompleto ( ) fundamental ( ) médio ( ) superior 6. Em qual bairro mora?

___________________________________________________________________________ 7. Quantidade de cômodos da casa

( ) 1 ( )2 ( )3 ( )4 ( )5 ( )6 ou mais 8. Você trabalha?

( ) sim ( )não

9. Qual sua renda mensal?

( ) menos de um salário mínimo ( ) um salário mínimo ( ) dois ou três salários mínimos ( ) mais de três salários mínimos

10. Qual a infração que você cometeu?

___________________________________________________________________________ 11. Qual a pena alternativa atribuída ao seu caso?

12. Qual seria a pena restritiva de liberdade aplicada a sua situação?

___________________________________________________________________________ 13. Prefere pena alternativa ou de restrição de liberdade?

___________________________________________________________________________ 14. Como seria se não tivesse o convívio da família?

___________________________________________________________________________ 15. Já cumpriu outra pena alternativa antes?

___________________________________________________________________________

16. O que pretende fazer de sua vida depois de cumprir essa pena? Trabalhar, estudar, voltar a delinqüir? ___________________________________________________________________________

17. Há alguma dificuldade no cumprimento da pena?

___________________________________________________________________________ 18. O que acha da estrutura para o cumprimento das penas?

___________________________________________________________________________ 19. Quais os principais problemas enfrentados para cumprir as penas?

___________________________________________________________________________ 20. Há algum tipo de burocracia que emperra a efetivação das penas? Qual?

___________________________________________________________________________ 21. O que pode ser feito para agilizar e melhorar o trabalho?

ANEXO A

Presidência da República

Casa Civil

Subchefia para Assuntos Jurídicos

LEI Nº 9.714, DE 25 DE NOVEMBRO DE 1998. Mensagem de Veto nº 1.447 Altera dispositivos do Decreto-Lei n

o

2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono

a seguinte Lei:

Art. 1o Os arts. 43, 44, 45, 46, 47, 55 e 77 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940, passam a vigorar com as seguintes alterações:

"Penas restritivas de direitos

Art. 43. As penas restritivas de direitos são: I – prestação pecuniária;

II – perda de bens e valores; III – (VETADO)

IV – prestação de serviço à comunidade ou a entidades públicas; V – interdição temporária de direitos;

VI – limitação de fim de semana."

Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de liberdade, quando:

I – aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o crime não for cometido com violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for culposo; II – o réu não for reincidente em crime doloso;

III – a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que essa substituição seja suficiente.

§ 1o(VETADO)

§ 2o Na condenação igual ou inferior a um ano, a substituição pode ser feita por multa ou por uma pena restritiva de direitos; se superior a um ano, a pena privativa de liberdade pode ser substituída por uma pena restritiva de direitos e multa ou por duas restritivas de direitos.

§ 3o Se o condenado for reincidente, o juiz poderá aplicar a substituição, desde que, em face de condenação anterior, a medida seja socialmente recomendável e a reincidência não se tenha operado em virtude da prática do mesmo crime.

§ 4o A pena restritiva de direitos converte-se em privativa de liberdade quando ocorrer o descumprimento injustificado da restrição imposta. No cálculo da pena privativa de liberdade a

executar será deduzido o tempo cumprido da pena restritiva de direitos, respeitado o saldo mínimo de trinta dias de detenção ou reclusão.

§ 5o Sobrevindo condenação a pena privativa de liberdade, por outro crime, o juiz da execução penal decidirá sobre a conversão, podendo deixar de aplicá-la se for possível ao condenado cumprir a pena substitutiva anterior."

"Conversão das penas restritivas de direitos

Art. 45. Na aplicação da substituição prevista no artigo anterior, proceder-se-á na forma deste e dos arts. 46, 47 e 48.

§ 1o A prestação pecuniária consiste no pagamento em dinheiro à vítima, a seus dependentes ou a entidade pública ou privada com destinação social, de importância fixada pelo juiz, não inferior a 1 (um) salário mínimo nem superior a 360 (trezentos e sessenta) salários mínimos. O valor pago será deduzido do montante de eventual condenação em ação de reparação civil, se coincidentes os beneficiários.

§ 2o No caso do parágrafo anterior, se houver aceitação do beneficiário, a prestação pecuniária pode consistir em prestação de outra natureza.

§ 3o A perda de bens e valores pertencentes aos condenados dar-se-á, ressalvada a legislação especial, em favor do Fundo Penitenciário Nacional, e seu valor terá como teto – o que for maior – o montante do prejuízo causado ou do provento obtido pelo agente ou por terceiro, em conseqüência da prática do crime.

§ 4o(VETADO)"

"Prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas

Art. 46. A prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas é aplicável às condenações superiores a seis meses de privação da liberdade.

§ 1o A prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas consiste na atribuição de tarefas gratuitas ao condenado.

§ 2o A prestação de serviço à comunidade dar-se-á em entidades assistenciais, hospitais, escolas, orfanatos e outros estabelecimentos congêneres, em programas comunitários ou estatais.

§ 3o As tarefas a que se refere o § 1o serão atribuídas conforme as aptidões do condenado, devendo ser cumpridas à razão de uma hora de tarefa por dia de condenação, fixadas de modo a não

prejudicar a jornada normal de trabalho.

§ 4o Se a pena substituída for superior a um ano, é facultado ao condenado cumprir a pena

substitutiva em menor tempo (art. 55), nunca inferior à metade da pena privativa de liberdade fixada." "Interdição temporária de direitos

Art. 47... ...

IV – proibição de freqüentar determinados lugares."

"Art. 55. As penas restritivas de direitos referidas nos incisos III, IV, V e VI do art. 43 terão a mesma duração da pena privativa de liberdade substituída, ressalvado o disposto no § 4o do art. 46." "Requisitos da suspensão da pena

...

§ 2o A execução da pena privativa de liberdade, não superior a quatro anos, poderá ser suspensa, por quatro a seis anos, desde que o condenado seja maior de setenta anos de idade, ou razões de saúde justifiquem a suspensão."

Art. 2o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 25 de novembro de 1998; 177o da Independência e 110o da República. FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Renan Calheiros

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