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5 A PRESENÇA DA MATEMÁTICA MODERNA NOS DIÁRIOS DE CLASSE DOS

5.2 Busca por Formação Continuada

Percebe-se que alguns professores do IEEAB estavam preocupados em dar continuidade à formação profissional por meio da participação em eventos, cursos e palestras. A maioria das informações foram encontradas nos documentos do acervo do IEEAB.

Uma professora que demonstrou interesse em se atualizar foi Cecy Sacco. Foi constatada sua participação no II Congresso Nacional de Ensino da Matemática (II CNEM), em Porto Alegre, em 1957. No evento, juntamente com os professores Platão L. da Fonseca e Lino J. Soares, submeteram um artigo que foi publicado nos anais do evento. O artigo que tem por título “Promoção dos alunos no Curso Secundário” traz uma crítica à ineficácia do sorteio dos pontos para as provas finais do curso secundário e a baixa média necessária para a aprovação, média 4 por matéria e 5 no conjunto (FONSECA; SACCO; SOARES, 1959).

No II CNEM, a professora Odila Barros Xavier, que era professora de Didática e de Metodologia de Matemática do Instituto de Educação de Porto Alegre, submeteu um artigo “Sugestões para Programas em Curso de Aperfeiçoamento de Professôres Primários” onde defende a introdução de noções de conjunto em sala de aula, por ser um conceito fundamental e por sua conceituação ser valiosa para a Metodologia. E menciona a Matemática Moderna em seu texto, por meio de uma citação de Caleb Gattegno, onde o autor conclui que a Matemática Moderna não pode ser introduzida em sala de aula sem que o professor tenha segurança sobre o assunto (XAVIER, 1959).

O Maj. Prof. Jorge Emanuel Ferreira Barbosa, professor do Colégio Militar do Rio de Janeiro, teve seu artigo “Reflexos do desenvolvimento atual da matemática no Ensino Secundário” publicada nos anais do II CNEM, onde o foco era a Matemática Moderna. Jorge Barbosa, que reconhecia a importância de se levar a Matemática Moderna à sala de aula, pois acreditava que os alunos deviam saber administrar a matemática atual, sugeriu que um grupo de professores de diferentes

regiões do país realizassem experiências e voltassem no próximos CNEM para divulgarem os resultados (BARBOSA, 1959).

E, ainda no II CNEM, Osvaldo Sangiorgi coloca a Matemática Moderna em debate, no seu artigo “Matemática Clássica ou Matemática Moderna, na Elaboração dos Programas de Ensino Secundário?”. Nele, o autor traz uma diferenciação entre a Matemática Clássica e a Matemática Moderna, sendo que a primeira tem por base os elemento simples, enquanto a segunda tem “um sistema operatório, isto é, uma série de estruturas (Bourbaki), sôbre as quais se assenta o edifício matemático, destacando-se entre elas as estruturas algébricas, as estruturas de ordem e as estruturas topológicas” (SANGIORGI, 1959, p. 398-399) e sugere que a Matemática Moderna deve ser incorporada aos poucos nas salas de aula.

Outro trabalho do evento que mencionou a Matemática Moderna foi a tese “Formação cientifica e pedagógica do Professor”, de autoria de Martha Maria de Souza Dantas, da Bahia. Aborda brevemente o tema, mencionando que um grupo na França estava pesquisando a possibilidade de introduzir a Matemática Moderna na escola secundária e posiciona-se “Deus me livre de propor tal coisa para o nosso ensino secundário, tão carente de bons ‘métodos antigos de exposição da Matemática Clássica’” (DANTAS, 1959, p. 491), justificando que os professores não receberam formação para aplicar o conteúdo e que o mesmo deveria ser abordado nas universidades.

Assim, já no ano de 1957, a professora Cecy Sacco se dispôs a ir até a capital para prestigiar o II CNEM, no qual a Matemática Moderna, mesmo que discretamente, se fez presente no artigo de alguns professores que expuseram suas posições e desta forma, contribuíram com a divulgação do movimento.

Foram encontrados registros nos diários de classe da professora Cecy Sacco e da professora Ricardina Lopes informando que elas foram prestigiar uma palestra sobre Matemática Moderna, que ocorreu em abril de 1965, sem constar onde ocorreu o evento. A palestra foi ministrada por Joana de Oliveira Bender, professora da UFRGS, que estava engajada na divulgação das ideias do Movimento da Matemática Moderna no Rio Grande do Sul. Segundo Búrigo (2008), estagiou com o Grupo Papy na Bélgica, foi coordenadora da primeira edição do curso de Licenciatura de Curta Duração em Matemática da mesma instituição e participava com frequência de vários eventos internacionais sobre o ensino da matemática.

Joana Bender se dedicou a divulgar a Matemática Moderna no Rio Grande do Sul através de cursos e palestras. Já em 1952, a professora orientou o curso de Matemática, para professores de Didática da Matemática e supervisores escolares, no Instituto de Educação General Flores da Cunha, escola dedicada ao Ensino Normal, em Porto Alegre. No curso já foram incluídos tópicos da Teoria dos Conjuntos (BÚRIGO; DALCIN; FISCHER, 2017).

Segundo Pereira (2010), de 1953 a 1954, a professora Joana Bender realizou cursos na Associação de Professores Católicos de Porto Alegre, destinados a professores de Didática da Matemática e professores primários, onde foi abordada a Matemática Moderna. O mesmo curso foi divulgado pelo Jornal do Dia, de Porto Alegre, em ambos os anos, e ainda em 1955, quando o curso foi ofertado em parceria com a professora Odila Barros Xavier (A.P.C., 1955).

Em 1966, Joana Bender participou do V Congresso Brasileiro de Ensino de Matemática (V CBEM), em São José dos Campos. O Jornal Diário de Notícias fez uma publicação avisando que a comissão do VCBEM aguardava em São Paulo a professora Joana Bender e demais professores anunciados, com acomodação reservada para o evento (EDUCAÇÃO, 1965b). No mesmo evento, juntamente com os professores Antônio Ribeiro e Zilá Paim, Joana Bender apresentou uma comunicação que abordava o fracasso escolar, visto o grande número de reprovações na disciplina de Matemática, e sugeria a organização de classes experimentais para o ensino da Matemática Moderna, no ensino primário e secundário (FRANÇA, 2007).

A professora Joana Bender foi representante do Departamento de Matemática no I Congresso Internacional de Educação Matemática, que aconteceu em Lyon, na França, no ano de 1969. E entre 1970 e 1971, Joana Bender coordenou a primeira turma do curso de Licenciatura de Curta Duração em Matemática, do Programa de Expansão e Melhoria do Ensino Médio, na UFRGS (BÚRIGO; DALCIN; FISCHER, 2017).

E ainda, segundo Búrigo, Dalcin e Fischer (2017), a professora Joana Bender fez com que o Movimento da Matemática Moderna tivesse impacto no curso de Licenciatura da UFRGS ao trazer para suas aulas de Fundamentos de Matemática Elementar, disciplina que lecionou por vários semestres, ideias da Matemática Moderna.

Outro evento ao qual Cecy Sacco participou foi o Seminário de Currículos e Métodos de Ensino Agrícola Superior, patrocinado pelo Instituto Interamericano de Ciências Agrícolas, a Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior, a CAPES e a UFPel. O seminário aconteceu em 1973, quando ela atuava como diretora da Divisão de Educação e Cultura da UFPel (BORDENAVE; ANDRADE, 1973, p. 70).

Além da palestra da professora Joana Bender, a professora Ricardina Lopes também participou de outros eventos, os quais não discorreram sobre a Matemática Moderna. Como exemplo, o Seminário de Orientadores que ocorreu em abril de 1966, promovido pela SEC/RS, e outra edição do mesmo em abril de 1965. Foi convocada para participar do Seminário de Escolas Normais em Porto Alegre, realizado pela CPOE, em fevereiro de 1964. E se fez presente no curso de Aperfeiçoamento e Atualização para Orientadores de Educação Primária, igualmente organizado pelo CPOE, realizado em Porto Alegre, em maio de 1969.

Além disso, frequentou o Treinamento para Coordenadores Pedagógicos e Professores do Ensino de 2º grau ocorrido em Pelotas no ano de 1977, com duração de 40 horas. Em 1977, foi coordenadora da Comissão Executiva de Segurança e Saúde da III Feira Regional de Ciências da 5ª Delegacia de Educação realizada no IEEAB.

A professora Edi Pradier igualmente participou de alguns cursos e especializações. Participou do curso de Aperfeiçoamento em Classe de 1º ano para Orientadores e Educação Primária que ocorreu em Porto Alegre em julho de 1969. Realizou Especialização em Planejamento na área da Educação na UFRGS em 1970. Participou da reciclagem de Coordenadores Pedagógicos de 2º grau realizado pela SEC, em Porto Alegre, no mês de dezembro de 1972. Frequentou a Reciclagem de Professores de 2º grau realizada em Pelotas em março de 1973 e, no mesmo ano, do Encontro de Coordenadores e Professores, realizado em Porto Alegre em 1973. Em 1987 foi designada pela 5ª Delegacia de Educação para constituir a Comissão de Avaliação de Promoções no Quadro de Carreira do Magistério Público Estadual, a nível de Escola, e se aposentou em 1988.

Ademais, a professora Eoni Xavier se deslocou até o estado de Goiás para participar do III Encontro Nacional de Supervisores de Educação, realizado em Goiânia, no ano de 1980. Já a professora Léa Ribeiro participou da Orientação às

mães em Matemática Reformulada em 1974 e ministrou aulas de Planejamento no Curso de Atualização para Diretores de Escolas de 2º Grau.

Assim, esses professores demonstraram interesse em seguir se aperfeiçoando na profissão, em adquirir conhecimentos que a formação não ofereceu por terem se formado em um campo diferente da educação, ou desejaram ampliar suas áreas de atuação.