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A BUSCA PELA EFETIVIDADE DO PROCESSO

Exigir efetividade na prestação jurisdicional é, sem dúvida, buscar alternativas jurídicas que confiram celeridade na resolução dos conflitos de interesses postos sob apreciação dos órgãos

integrantes do Poder Judiciário.71 José Rogério Cruz e Tucci,

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“A relação juiz-cidadão é, no Brasil, de um por vinte e cinco mil (no Estado de São Paulo, um por mais de vinte e seis mil), enquanto na Alemanha não há quatro mil cidadãos para cada juiz, e no Uruguai existem cerca de cinco mil”(Cândido Rangel Dinamarco, op. cit., nota 46, p.1).

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“No plano processual, a questão da efetividade ganha corpo a partir da consciência adquirida no início do século XX, quanto ao caráter público do processo, considerado um mal social. No Brasil, o movimento nessa direção também se agiganta – e parece ser esta uma causa nada desprezível - em razão das notórias deficiências da administração da Justiça, agoniada cada vez mais pela intensificação dos litígios, principalmente após o processo de redemocratização iniciado com a promulgação da Constituição de 1988”(OLIVEIRA, Carlos Alberto Álvaro de. Efetividade e processo de conhecimento. Revista de Processo, n. 96, p.59).

objetivamente, adverte: “Relegando a um plano secundário as

construções de cunho teórico, que tanta relevância ostentaram há bem pouco tempo, os processualistas passaram a preocupar-se com um valor fundamental, ínsito à tutela dos direitos, qual seja a imprescindibilidade da efetividade do processo, enquanto instrumento de realização da

justiça”72(grifo no original).

Nesse sentido, o legislador processual civil, acobertado pelo espírito da efetividade do processo, desencadeou procedimento reformador, implementando modificações e introduzindo novos institutos na sistemática processual, com o fito de mitigar as agruras provocadas pelo nocivo ataque do tempo ao processo.

Cumpre ressaltar que as modificações na legislação processual assumiram graduada relevância na implementação de um novo modelo de entrega da prestação jurisdicional; no entanto, isoladamente não tiveram o condão de suprir as deficiências que se apresentam. Assim, urge uma total remodelação do aparelho judiciário, adequando-o às novas tendências de uma sociedade prestes a atingir o terceiro milênio.

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CRUZ e TUCCI, José Rogério. Garantia do processo sem dilações indevidas. In: José Rogério Cruz e Tucci (coord.). Garantias constitucionais do processo civil, São Paulo: RT, 1999, p.234.

Fátima Nancy Andrighi, atenta ao assunto, destaca:

“Contudo, essas providências de caráter legislativo não se têm mostrado suficientes para afastar a morosidade. Há, ainda, outros fatores que devem ser objeto da nossa meditação, atinentes a questões estruturais do Poder Judiciário, como, por exemplo, a necessidade dos tribunais de atualizarem suas Leis de Organização Judiciária, adequando-as às imposições dos tempos modernos. Umas das principais exigências da modernidade é a informatização das sessões de julgamento nas cortes. Não é crível que, por conta da burocracia, a elaboração de uma acórdão seja procrastinada em até duzentos dias, contados entre a data do julgamento e a de publicação do mesmo”73

É evidente que as modificações devem ser operacionalizadas gradativamente, em que pese a urgência na adoção de medidas, para que não sejam confeccionados expedientes meramente curativos, destituídos de caráter preventivo, que solucionem momentaneamente os problemas, servindo apenas de meio ocasional de resolução das deficiências estatais, adiando a expectativa do jurisdicionado em se deparar com uma ágil movimentação do aparelho jurisdicional, apta a ensejar uma resposta célere à controvérsia apresentada, fazendo jus à garantia constitucional de pleno acesso à justiça.

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Vale ressaltar que a ratio de qualquer reforma consubstancia-se na insatisfação com o modelo existente; no entanto, concretiza-se no senso benéfico das mutações implementadas, e não na mera constatação de que o todo permanece o mesmo.

Não é demais anotar que o processo assume papel preponderante na realização do direito, pois é por meio dele, e através dele, que se chega a um acertamento de determinado conflito de interesses, com o conseqüente reconhecimento do direito a um dos titulares da relação controvertida. Desta feita, pode-se afirmar que direito e processo são realidades indissociáveis. Em preciosa introdução, destaca José Marcos Rodrigues Vieira: “O direito depende do processo

(que lhe traz efetivação), como o processo depende do direito (que o informa e lhe dita os trâmites). Outra ordem de considerações, no adiantado da evolução da Ciência do Direito, parece-me conducente a

resultados arbitrários, senão metajurídicos”.74

A concepção de mecanismo voltado a atingir os ideais de justiça faz exigir do processo plena potencialidade de resolução célere dos conflitos de interesses. Para tanto, fica evidente a necessidade do

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Teoria geral da efetividade do processo. Rev. Fac. Min. de Direito, Belo Horizonte, v. 1, n. 1, 1°sem.,1998, Pucminas, p.90-107.

Estado de propiciar meios suficientes a ensejar aconsecução de tal desiderato, como, por exemplo, estruturar o Poder Judiciário, reformular o processo de seleção dos magistrados, informatizar os tribunais e principalmente dar continuidade às reformas legislativas no âmbito do direito processual civil, desencadeadas a partir do último quartel da década passada e presentes até os dias atuais.

Decerto não se pode deixar de elogiar as recentes alterações que se promoveram na legislação processual, com a inclusão de institutos como a tutela antecipada, a ação monitória, a reformulação da disciplina do recurso de agravo, as inovações oriundas da Lei n° 9.756/98 (modificações em tema recursal) e a edição da lei dos juizados especiais cíveis e criminais. No entanto, ainda encontra-se longe de estar sepultado o drama da eternização dos processos - basta somente acompanhar o cotidiano forense para assim concluir.

Já é por demais consabido que a demora na solução dos conflitos gera inúmeros sacrifícios aos indivíduos, sobretudo pela expectativa formada, chegando ao ponto de afetar a integridade física

dos mesmos, como pondera Fátima Nancy Andrighi: “Está cientificamente

comprovado pela medicina que a pendência de processo judicial ou a falta de condições de acesso à solução de um problema jurídico causa sofrimento que se manifesta sob a forma de aflição, de angústia, evoluindo para males psicossomáticos.

A questão é de tamanha relevância que a Suprema Corte de Justiça do Uruguai firmou Convênio de Cooperação Interinstitucional com o Ministério da Saúde Pública, instalando nas dependências dos hospitais centros de atendimento de problemas jurídicos. Enquanto as pessoas aguardam resolução de seus problemas médicos, podem, dentro do próprio hospital, solucionar o problema jurídico que estão vivenciando. O intuito da iniciativa da Suprema Corte do Uruguai é a busca da saúde do cidadão não só sob o aspecto físico, mas também emocional e espiritual, porque só com essa harmonia a Justiça pode cumprir seu objetivo precípuo, que é a paz social”.75

Destarte, tem-se que o alcance de maior celeridade na solução das contendas judiciais encontra-se intimamente condicionado à redução do volume de processos que atualmente inundam os tribunais de todo o País, e é neste particular que se propõe a inserção do efeito vinculante nas decisões judiciais no sistema jurídico brasileiro.

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