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Business judgment rule no direito societário brasileiro – con clusões.

Luiz Antonio Soares Hentz

9. Business judgment rule no direito societário brasileiro – con clusões.

No contexto em que empreendida a análise, pode-se fixar como resultados as conclusões que se seguem.

(i) O § 6º do art. 159 da LSA contém a business judgment rule, mas sua aplicação demanda a pre- sença de requisitos a serem aferidos no caso con- creto. O reconhecimento da eficácia da cláusula demanda análise da conduta do administrador no que concerne ao dever de lealdade, à boa-fé na tomada da decisão e à ausência de benefício pes- soal dela decorrente. No direito brasileiro, essas condições se traduzem no dever de diligência por expresso no art. 153 da LSA: “O administrador da companhia deve empregar, no exercício de suas funções, o cuidado e diligência que todo homem ativo e probo costuma empregar na administração dos seus próprios negócios”;

(ii) Ao juiz cabe, no processo, analisar a prova, eis que a business judgment rule não se faz aplicável por si só, nem se caracteriza pela discricionarieda- de judicial, havendo de ser consideradas as cir- cunstâncias objetivas do caso em análise. Nada obsta, porém, seu acatamento em fase anterior, pela assembleia geral, ou no processo arbitral (se

prevista sua ocorrência) e no administrativo (nos casos sujeitos a sanções da CVM);

(iii) A adoção da business judgment rule nas socie- dades limitadas, verificadas as circunstâncias ad- ministrativas similares às sociedades anônimas, é direito dos administradores daquelas, desde que atendidos os seus pressupostos.

Seria de bom alvitre debruçar-se o legislador sobre a questão da responsabilidade civil dos administradores de sociedades, elimi- nando as zonas nebulosas abordadas ao longo do estudo, notada- mente sua aplicação no âmbito das sociedades limitadas. Que sirva de exemplo o legislador português que, em 2006, reformou o Código das Sociedades Comerciais (Decreto-lei nº 76-A/2006, de 29 de mar- ço) acrescentando, no capítulo da responsabilidade civil dos gesto- res, a business judgment rule, para aplicação judicial a toda e qual- quer sociedade em reconhecimento de espaço de imunidade jurídica pelos atos de administração societária76.

76

Cf. LOURENÇO, Nuno Calaim. Os deveres de administração e a business judgment rule. Coimbra: Almedina, 2011.

act to contain the evil effects of corruption in this market environ- ment.

Keywords: Corruption. Business activities. Damage repair. Sumário: Introdução. 1. Atividade negocial e mer- cado. 1.1. O direito comercial antes do liberalismo clássico. 1.2. Os atos de comércio. 1.3. A teoria da empresa. 1.3.1. A teoria da empresa no Código Ci- vil brasileiro. 1.3.2. A influência da Economia so- bre a teoria da empresa. 2. A atividade negocial. 2.1. A empresa como mecanismo para a redução dos custos de transação e instrumento de ganho de eficiência. 3. Os danos à atividade negocial ge- rado pela corrupção e a sua reparação. 3.1. A re- pressão à corrupção pelo Direito. 3.2. A reparação do dano provocado à atividade negocial por ato de corrupção. 3.2.1. O conceito de dano material. 3.2.2. Os danos emergentes. 3.2.3. Os lucros ces- santes. 3.2.4. A perda de uma chance. Conclusão.

Introdução.

O objetivo deste trabalho é compreender o papel que o Direi- to exerce na contenção dos efeitos maléficos que a corrupção pro- duz, notadamente no âmbito das atividades negociais.

Os jornais estampam, para infelicidade da população, quase que diuturnamente, notícias envolvendo corrupção. São casos de su- borno, nos quais os envolvidos recebem ou pretendem receber van- tagens indevidas. Eles ocorrem tanto no âmbito do Poder Público, quanto na esfera privada.

Além de causarem opróbrio e indignação, a corrupção produz efeitos econômicos perversos. Ela atinge o sistema de mercado – in- vertendo a lógica de que o preço é o principal referencial para a to- mada de decisões – e viola princípios constitucionais como o da livre concorrência e da livre iniciativa. Por isso o Direito precisa atuar para evitar, corrigir ou superar esses efeitos daninhos.

Especificamente quanto às atividades econômicas, que são as que mais importam para o presente estudo, a corrupção gera custos e impede oportunidades. Por impactarem um direito legítimo, que é o exercício de atividade produtiva, os custos e as chances perdidas devem ser consideradas danos e, como tais, devem ser reparados in- tegralmente.

Não basta, contudo, que o Direito assegure essa reparação. Se essa conduta afeta direitos legítimos, é indispensável que o ordena- mento jurídico o tutele integralmente. Sendo assim, cumpre ao siste- ma jurídico desempenhar esse papel de garantir a efetividade desses direitos, o que pode ser feito de três formas: (i) repressão da conduta antijurídica por meio da previsão de sanções – que podem ser de ca- ráter penal, administrativo e civil; (ii) adoção de estímulos que indu- zam a pessoa a praticar atos que não sejam contrários à lei; e, como já mencionado, (iii) reparação integral dos danos causados pelos en- volvidos no ato de corrupção.

Para o cumprimento dessa tarefa deverão ser analisados os efeitos econômicos que esse tipo de conduta produz e as formas pe- las quais os danos podem ser evitados, mitigados ou reparados. Este estudo, contudo, se restringirá ao exame da terceira hipótese, ou seja, a reparação integral dos danos causados pelos envolvidos no ato de corrupção.

Como o estudo se limitará ao ordenamento brasileiro, é neces- sário relatar a evolução do tratamento jurídico dado à atividade nego- cial, com especial atenção à adoção da teoria da empresa pelo direito comercial e o momento atual dessa disciplina. Somente então será possível se medir a extensão dos danos aventados e compreender como o Direito pode atuar para eliminar ou mitigar os efeitos malé- volos decorrentes dessa forma de atuar.

A pesquisa parte, portanto, do problema relacionado ao trata- mento dado pelo Direito aos efeitos produzidos pela corrupção espe- cificamente quanto às atividades negociais, tal como a exploração de empresa.

No desenvolvimento do tema, procurou-se demonstrar como a corrupção, por deturpar princípios econômicos, morais e éticos que são considerados pelo Direito, atinge expectativas e direitos legíti- mos, devendo ser objeto de repressão.

O trabalho foi estruturado em pesquisa jurídico-teórica, de cu- nho bibliográfico e documental, vinculada à área de direito civil em- presarial, tendo sido utilizado o método dedutivo.

Na primeira parte buscou-se situar o problema por meio de um panorama do tratamento dado à atividade negocial e à tutela do mercado. Traçou-se a linha histórica que refletiu a evolução do Direi- to Comercial, do seu surgimento como um direito voltado para a dis- ciplina da classe dos comerciantes – vertente subjetivista –, a guinada que sofreu com a ascensão da teoria dos atos de comércio – visão objetiva –, e, por fim, a entrada da teoria da empresa e da proteção do mercado.

A segunda parte dedicou-se ao estudo da atividade negocial, notadamente do papel que a empresa desempenha no aumento da eficiência por meio da redução de custos.

Por fim, dedicou-se à análise dos efeitos malévolos da corrup- ção e como o Direito deve lidar com isso.