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Capitulo I Violência em contexto doméstico

1. Violência e família

1.3. Crenças sobre a violência doméstica

1.3.1. O círculo da violência

A agressão é infligida num ciclo repetitivo, composto de três frases: a criação da

tensão, o ato de violência e uma fase amorosa, tranquila.6

Fonte: Manita, Ribeiro e Peixoto (2009).

Fase do aumento da tensão

Os autores, Manita, Ribeiro e Peixoto (2009), definem a primeira etapa, a necessidade de exercício do domínio/controlo sobre a vítima, utilizando situações do quotidiano para produzir uma escalada de tensão para a vítima, (Manita, Ribeiro e Peixoto 2009, citado por Andrade 2012:10). As tensões quotidianas acumuladas pelo agressor, que ele não sabe resolver sem o recurso à violência, criam um ambiente de eminente perigo para a mulher vítima, que é culpabilizada por tais tensões; sob qualquer pretexto, o ofensor vai expulsar todas as suas tensões sobre

6http://violenciadomestica.gov-madeira.pt/index.php/compreendendo-a-violencia/ciclo Figura 1. Violência em círculo

22 a mulher vítima. Nesta fase podem ocorrer incidentes menores como agressões verbais, crises de ciúmes, ameaças, destruição de objectos, insultos, crítica constante, humilhação psicológica, e pequenos incidentes de agressão física,

(sosmulheresfamília)7

Nesta fase existe um aumento crescente da tensão, este período pode ter a duração de alguns dias ou anos. Neste período as alterações de comportamento do companheiro são observadas atentamente pela mulher. O companheiro torna-se cada vez mais raivoso e agressivo, a mulher não aceita que o abuso esteja a acontecer, volta-se para os cuidados da casa para garantir que esteja tudo em ordem, e procura manter o bom comportamento dos filhos. A negação da mulher possibilita um pequeno incidente violento.

Segundo a APAV8 no aumento de tensão, as tensões acumuladas no quotidiano, as

injúrias e as ameaças tecidas pelo agressor, criam, na vítima, uma sensação de perigo eminente.

Fase do ataque violento

A segunda fase, maioritariamente inicia-se com a violência verbal, associando-se à violência física, e vai escalando para diversos tipos de violência (Manita, Ribeiro & Peixoto, 2009, citado por Andrade 2012: 10). “Frequentemente esta violência aguda é acompanhada por severa agressão verbal. Esta fase é mais curta que a Fase Um e que a Fase Três, e normalmente dura de duas a quarenta e oito horas. Nesta fase, a mulher sofre os danos físicos mais sérios. A mulher consegue recordar frequentemente em detalhes a Fase Dois, o que o homem não consegue” (sosmulheresfamília, 2017). O agressor procura prolongar a violência, humilhando-a, massacrando-a, com muitos ataques violentos. A vítima procura acalmar o agressor, desvalorizando a violência. “Algumas vezes a mulher percebe a aproximação desta fase e acaba agindo de forma a provocar os incidentes violentos, por não suportar mais o medo, a raiva e a ansiedade”., (sosmulheresfamília, 2017). Conforme a APAV, na fase do ataque violento: o agressor maltrata física e psicologicamente a vítima; estes maus-tratos tendem a escalar na sua frequência e intensidade.

7http://www.sosmulherefamilia.org.br/ciclo-de-viol%C3%AAncia

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Fase da lua-de-mel

Acontece depois do ato violento/espancamento, em que o “autor das agressões manifesta arrependimento e verbaliza promessas de mudança”, (Manita, Ribeiro &Peixoto, 2009, citado por Andrade 2012: 10). Na fase da lua-de-mel: “o agressor envolve agora a vítima de carinho e atenções, desculpando-se pelas agressões e prometendo mudar (e diz que: “nunca mais voltará a exercer violência”)”, APAV (2012).

O agressor mostra-se arrependido com o comportamento que teve e age de forma humilde e amorosa, procurando se desculpar. Ele pode “encher” a mulher de presentes e desculpas e prometerá não atacá-la novamente. “O comportamento amoroso dele reforça na mulher a esperança de que ele mudará e muitos até começam a buscar um tratamento psicológico ou para alcoolismo”, (Manita, Ribeiro & Peixoto, 2009, citado por Andrade 2012: 11)

Isto normalmente “encoraja a mulher a manter sua relação de vida matrimonial” (sosmulheresfamília,2017). O agressor manipula a esposa e fá-la acreditar que pode controlar e nunca mais irá agredi-la, buscando ajuda na família e amigos para convencer a mulher a continuar no relacionamento. “O agressor mostra-se carente – não pode viver sem a mulher. A mulher sente-se responsável pelo homem. É durante esta fase que a probabilidade da mulher fugir é menor”, (sosmulheresfamília, 2017).

Os relacionamentos violentos ou não, começam pela “lua-de-mel” dos primeiros momentos, em que tudo é novidade, em que ambos os parceiros procuram mostrar o melhor de si um para o outro e tudo é maravilhoso. Nesta fase existem “ Estímulos novos e consequências reforçadoras fornecidas por ambos os parceiros mantém uma diversidade de comportamentos através de reforçadores positivos e negativos”. (Filho 2014: 1), mas a fase da lua-de-mel tem um período e “com o passar do tempo os estímulos e consequências fornecidos pelos parceiros não são mais novos e diminuem seu valor reforçador. Essa nova fase seria a entrada na rotina para o casal, ou seja, eles começam a apresentar um padrão razoavelmente estável de interacções, sendo os comportamentos e consequências mais previsíveis”, (Filho 2014: 1).

24 Assim se inicia a rotina com o surgimento de alguns problemas que se tornam mais frequentes e de difícil resolução pelo casal. O aumento de tensão devido à ausência de resolução dos problemas em comum torna-se um gatilho para disparar o comportamento violento, o que antes era violência psicológica passa também para violência física e os episódios de violência são cada vez mais frequentes. Com isto, a auto-estima da vítima fica cada vez mais em baixa sendo dominada através do medo e não apresenta reacção diante dos episódios de violência que aumentam com o decorrer do tempo. Sendo este um círculo, vem de seguida a fase da reconciliação “na qual o agressor busca reatar com a parceira, ao mesmo tempo minimiza e responsabiliza a vítima pelo seu comportamento agressivo”, (Idem:1) Dessa maneira, o agressor “também volta a apresentar estímulos novos ou consequências do início do relacionamento para reatar com a parceira”, (Filho 2014: 2). Os agressores além de culpabilizar a vítima ainda tratam mal as crianças, dizendo-lhes que ao se portarem mal vão apanhar porradas e que estão a inervar os adultos.

Fonte: Adaptado Lenore Walker (1979 ) The battered woman