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Pré-círculo Nesta etapa, todos os participantes são ouvidos separadamente, com o intuito de compreender a problemática e apontar caminhos possíveis para se solucionar o conflito.

Também são elencados outros prováveis participantes que poderiam auxiliar no processo. 3) Círculo - Se refere à execução da prática propriamente dita, na qual ocorre o encontro e o diálogo entre osenvolvidose, possivelmente, um acordoconsensualentre aspartes.

4) Pós-círculo -Esta etapa, segundo Santos (2014), objetivaa verificaçãodo cumprimento ou

não das diretrizes elencadas durante o círculo.

Apesar de não descreverem as práticas, podemos deduzir que Schuler e Henning (2012)referem-se aprocessos condizentes comos de círculos restaurativos. De acordo comas autoras, os encontros restaurativos contavam com a participação do ofensor, da vítima, de seus respectivos apoiadores e do coordenador, que mediante o uso de um roteiro

predeterminado, era responsável pela organização da prática. Schuler e Henning (2012) explicam que a prática almejava solucionar os conflitos por meio do diálogo, fazendo uso, assim, de uma metodologia na qual

o coordenador do CR [Círculo Restaurativo] busca encaixar a fala das pessoas a necessidades universais não atendidas e das quais teria resultado o conflito.A partir desse diálogo, que pressupõe um consenso, chega-se a um acordo, o qual deverá ser cumprido, documentado, verificado einserido nos sistemas de “segurança”. (p. 227)

Assim, a partir do uso do diálogo se objetivaria a restauração das relações. É importante ressaltar que a utilização de um roteiro determinado previamente, bem como a intenção de tornar o acordo parte de um sistema de segurança, não foram explicitadas em nenhumdos outros textossobre JR consultados.

No que concerne à prática descrita por Rosae Cerruti (2014), é explicitadoapenas um caso; em suma, o círculo ocorreu após um assalto com arma de brinquedo a uma joalheria. Participaram do círculo restaurativo o adolescente infrator, a sua mãe e a facilitadora, bem como o proprietário dajoalheria, que participou de forma indireta mediante a escrita de uma carta. Diferente das intervenções realizadas porLima(2014) e Santos(2014), Rosa e Cerruti (2014) nãoevidenciaram os processos anteriores e posteriores ao círculo restaurativo.

Resultados das Práticas Restaurativas

Nesta categoria serão contemplados os principais resultados pretendidos pela JR e por suas práticas em geral, como a restauração das relações, o real acolhimento dos envolvidos, a reinserção social do ofensor e a ressignificação do ato, dos papeis e dos posicionamentos sociais.

Morris (2005)destaca que entre os resultados almejados pelaJR, estão a reparação da vítima e, consequentemente, a satisfação significativa da mesma, e a elaboração e ressignificação doatoinfracional.

Referindo-se a uma prática específica, a denominada reunião de justiça restaurativa, Morrison (2005) afirma que, em geral, os resultados foram positivos para todosos envolvidos. Entreos aspectos destacados pelos participantes estão: a satisfação pela forma como o acordo foi firmado;o respeito no tratamento dos envolvidos; a voz ativano processo; a sensação de ser compreendido(a) pelos demais; e a justiça nas condições de acordo. De forma mais específica, a autora também descreveu as impressões de cada um dos envolvidos na prática: vítima, infrator, família e comunidade escolar. As vítimas, por exemplo, declararam que suas necessidadestinham sido satisfeitas e que se sentiram mais seguras; já os infratores relataram que se sentiram acolhidos durante a prática, amados pelos seus familiares e próximos dos envolvidos, além disso, afirmaram quecom o acordo se consideravam capazes de ter um novo começo e que nãohaviam reincididona época do processoda prática. A equipe da escola, por sua vez, salientou que os valores escolares foram reforçados durante o processo e que mudaram o modo de pensar a administração dos comportamentos; e os familiares relataram que se sentiram mais seguros para buscar a escola para tratar de outros assuntos (Morrison, 2005).

Em consonância com tais achados, Lima (2014) afirma que ao envolver vítima, ofensor e suas respectivas comunidades, a prática restaurativa busca soluções, como proporcionara sensação de segurança dos participantes, a reparação dodano causadoà vítima e à sociedade e areconciliação dos envolvidos. Assim, ao se propor e conseguir minimizar a violência nas práticas institucionais e profissionais, a JR provoca na vítima uma redução do ódio (raiva), do medo e do rancor que esta mantinha paracom o ofensor e, com isso, promove o aumento da paz; além disso, os ofensores sentem-semais arrependidos e menos impelidos a reincidir.

Cabe aqui, esmiuçar um pouco mais as práticas restaurativas apresentadas nos textos analisados, com o intuito de aprimorar a investigação acercados resultados de tais processos.

No texto de Schuler e Henning (2012), a descrição da prática restaurativa feita pelas autoras não oferece informações suficientespara que se possainferir, de forma precisa, algo sobre os seus resultados. Considerando os apontamentos das autoras, alguns resultados das práticas restaurativas, em geral, seriam: perpetuação de valores rígidos que normatizam o convívio social; propagação do status quo da sociedade de controle contemporânea, na qual tudo e todos seguem rumo à “mesmidade”, autogoverno e autorresponsabilização; achatamento da individualidade e exclusãodas diferenças tidas como perigosas.Entretanto, tais apontamentos não correspondem aos demais achados teóricos (Lima, 2014; Morris, 2005; Morrison, 2005; Rosa & Cerruti,2014; Santos, 2014).

Rosa e Cerruti (2014), por sua vez, explicitaram alguns resultados principais, como: a responsabilizaçãodo infrator; o real acolhimento do infrator, da sua comunidade e da vítima; a restauração das relações interpessoais; o envolvimento da comunidade; a ressignificação do dano edo lugar ocupado pelo ofensor e pela vítima.

Lima (2014) evidencia a responsabilização doofensor:

Enquanto Nilton [vítima] falava, Marcelo [ofensor]o ouvia. Depois foi lhe dada a vezpara que falasse ... “Sei que bagunço um pouco dentro da sala, mas não sabia que ele se incomodava tanto com a minha bagunça.” (Sic). ... a facilitadora perguntao que Marcelo pensa depois de ouvir Nilton. Depois, Marcelo expressa: “eu vou tentar melhorar meu comportamento dentro da sala” (Sic). (p. 66)

Nesse trecho, o ofensorreconhece seu erro e se responsabilizapor seucomportamento e pela alteração domesmo.

Já Santos (2014) traz a noção de responsabilização partilhada pelo grupo de envolvidos, como no caso relatado pela autora em que vários alunos participam do círculo, por causa de uma história que inventaram a respeito de um menino (João), que chegou a

ameaçar os colegas com violência física. Assim, após um primeiro encontro, eis que algumas expressões de responsabilização compartilhada surgem:

Mariana [aluna que disseminou a história] já entra na sala falando que é amiga de João de novo e que nãoquer mais prejudicarninguém, pois sabe que senão ela mesma se prejudica. ... Pedro [o aluno que inventou a história] pede pra seroprimeiro a falar. Diz que não quer bateremJoão que está resolvido, que ele não falamais nada ofensivo a ele. (Santos, 2014, p. 48)

Referente ao acolhimento da vítima, do ofensor e de suas respectivas comunidades, a maioria das autoras dos textos analisados (Lima, 2014; Rosa& Cerruti, 2014; Santos, 2014) descreve práticas que proporcionam um real acolhimento dos participantes, visto que estes são ouvidos e compreendidos, bem como têm suas necessidades e seus direitos atendidos, e seus sentimentos, suas experiências, suas opiniões e suas individualidades consideradas e respeitadas. É importante destacar que a prática também tem limites, uma vez que existem casos nos quais, devido à ausênciade um ou mais participantes, não é possível apreender se os resultadosalmejados foram alcançados(Lima, 2014; Rosa & Cerruti, 2014).

No que concerne às relações dos participantes, Lima (2014), Rosa e Cerruti (2014) e Santos (2014) compreendem que na maior parte dos casos, houve uma restauração das relações e dos laços afetivos dos envolvidos. Um exemplo disso éo seguintefragmento deum dos casos de Lima (2014), no qual fica evidente a restauração da relação entre professora e aluno:

a facilitadora pergunta para Cesar e a professora como eles estavam se sentindo e se estavam dispostos a se perdoarem para que pudessem sair do círculo, sem mágoas. Em seguida, a professora e o aluno levantam-se e estendem as mãos, se abraçaram, pedindo desculpas. (p. 88)

Além de restaurar as relações que sofreram dano por causa do conflito, a prática restaurativa, por vezes, talvez por propor um espaço de diálogo que não é muito comum nas práticas de justiça atuais, possibilita que sejam discutidas questões vinculadas aos relacionamentos diários - seja num nível familiar, de amizadesou social como um todo -;tal aspecto é ressaltado nos casos trazidos pelos textos aqui analisados (Lima, 2014; Rosa & Cerruti, 2014; Santos, 2014).

Apesar desses apontamentos, Santos (2014) discute um caso de sua pesquisa no qual, segundo afirmado pela própria autora, não houve de fato a reparação da relação entre as envolvidas. Explicando de forma breve, no caso em questão, duas colegas que não se conheciam a princípio, se agrediram fisicamente, devido a olhares mal interpretados; no fim, por interferênciada direção da escola, ambas foram suspensas e os sentimentosdevergonhae de raiva pareceram predominar durante o círculo. Para melhor compreensão, segue uma passagemdo pós-círculo:

Ambas se colocaramde forma bem distanteno sentido emocional, seja da facilitadora, seja uma da outra, respondendo apenas o solicitado. ... Afirmaram que nunca mais brigaram, continuam suas rotinas, não ficaramamigas, não querem ser amigas, mas que ficaram bem. (Santos, 2014, p. 44)

Santos (2014) hipotetizaque pode ser devido ao fato de “elas não possuírem uma relação anteriorquepudesse ser restabelecida, ou pela ineficácia da mediação restaurativa por ter sido utilizada concomitantemente com princípios punitivos” (p. 46). Nesse sentido, acredito quenão se configure como uma ineficácia da prática,mas penso quea sua vinculação com práticas punitivas podeprejudicar oseu sucesso na restauração das relações. Sobre a falta deum relacionamento anteriorao conflito, talvez possa ser um fator queinflua na restauração ou não da relação, entretanto, considero que esse caso é poucopara inferir tal conclusão.

Lima (2014), Rosa e Cerruti (2014) e Santos (2014) procuraram em suas práticas incentivar a participação ativa de todos os envolvidos. Contudo, ao contrário do que é proposto por outros autores da JR (Brusius & Rodrigues, 2008; Morris, 2005; Pinto, 2005; Roman, 2007), na prática descrita por Santos (2014) não houve um real envolvimento da comunidade como um todo. Já Rosa eCerruti (2014)e Lima (2014) demonstrampor meio das descrições das práticas que conseguiram envolver a comunidade no processo restaurativo. É importante destacar a proposta de Lima (2014), que de forma única inseriu os indivíduos da comunidade familiare dacomunidadeescolar desde aimplantação daalternativa; aautora fez isso mediante o uso da apresentação do projeto para a comunidade escolar e familiar e dos convites a todos para participarem das práticas. Por meio de tal abordagem, Lima (2014) conseguiu que houvesse um envolvimento de pais, irmãos, professoras e pedagoga.

Esse envolvimentodas comunidades da vítima e do ofensorpossibilitaque ocorra uma reinserção social dos envolvidos e, principalmente, do infrator; fator que é expresso nas práticas deLima (2014) e deRosa e Cerruti (2014), bem como em alguns casos descritos por Santos (2014), nos quais há o investimento na restauração da relação entre colegas e/ou amigos, afim deproporcionar uma reinserção socialno meio escolar.

É possível perceber que as práticas restaurativas analisadas proporcionaram ressignificações do ocorrido, dos sentimentos, da complexidade dos fenômenos que circundam o conflito, dos papéis no círculo restaurativo - vítima e ofensor, por exemplo -, dos papéis sociais, das relações interpessoais e da própria prática restaurativa(Lima, 2014; Rosa & Cerruti, 2014; Santos, 2014). Uma cena descrita porRosa e Cerruti (2014), referente ao caso do adolescente que assaltou uma joalheria com uma arma de brinquedo, parece pertinente para ilustrar de que forma a ressignificação ocorreu na prática:

O adolescente também relatou que a funcionária o viu em um ponto de ônibus e pareceu estar em choque. Essa situação parece ter comovido muito o jovem, que afirma ter se

sentido comoalgo que não erahumano naquele momento. Contaque nuncamais gostaria de servisto daquela maneira. (p.15)

Com base em tais resultados, cabe aqui colocar a consideração de Amstutz e Mullet (2012, citadosporSantos, 2014) arespeito das práticas restaurativas:

Os processos restaurativos possibilitam uma nova chance, uma nova reconstrução dos laços de amizade, através da escuta empática e das trocas de sentimentos e energias envolvidos nos círculos. É justamente na possibilidade do perdão e do começar de novo que se encontra a eficácia da restauração das relações. A melhora das comunicações, abdicando de posturas agressivas e ofensivas, privilegiando o respeito e a tolerância, entendendo que as diferenças ocasionam conflitos, mas que estes não devem ser entraves aos relacionamentos,mas sim elementos enriquecedores. (Santos,2014,p. 58)

Contribuições da PsicologiaparaaJR

Nesta categoria serão apresentadas as contribuições da Psicologia; nesse sentido, se abordará elementos psicológicos que estão presentes nos textos analisados, seja por meio de autoras que possuem formação em Psicologia e/ou pela utilização de perspectivas psicológicas paraabordar a temática da Justiça Restaurativa.

No que se refereà vinculação com a Psicologia, três das autoras possuem uma formação psicológica. Rosa e Cerruti (2014) têm formação em Psicologia e vinculação institucional com o Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Já Santos (2014) e Lima (2014) obtiveram a titulação de Mestre em Psicologia da Saúde na Universidade Metodista deSãoPaulo.

Já no que concerne ao embasamento em teorias psicológicas, todas as autoras fazem menção a alguma(s) abordagem(s) para explicitar as práticas restaurativas ou apresentar entendimentos referentes a elas.Durante sua dissertação, Santos (2014) utiliza de algumas perspectivas psicológicas para compreender os processos restaurativos e os

indivíduos envolvidos nos mesmos, como: Piaget e seus estudos acerca da heteronomiae da autonomia; Freud e sua concepção de culpa; e Klein e sua teoria sobre as angústias persecutórias, paranóides e depressivas, e a posição esquizo-paranóide, se referindo à culpa também.

Rosa eCerruti (2014), por sua vez, utilizam-se da psicanálise lacaniana para abordar, compreendere analisar a Justiça Restaurativae suas práticas. Já Lima (2014), ao apresentaros resultados de sua dissertação, utilizade argumentos psicanalíticos para explicar certospadrões

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de comportamentos e atitudes dos adolescentes, embasando-se emVasconcellos (2000) 24 e na concepção psicanalítica de pulsão de vida e de pulsão de morte; trabalhando assim, as tendências opostas que temos de união e separação e ruptura, de integração e desintegração, de ligação genéticae desligamento, tendências destrutivas e agressivas.

24 Não foram localizadas informações sobre o(a) autor(a).

25 David Léo Levisky é um teórico de nacionalidade brasileira; dentre seus múltiplos ofícios e formações, estão: analista didata e professor da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo; psiquiatra formado pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo, com especialização em Psiquiatria e nas áreas da infância e da adolescência; doutor em História Social pela Universidade de São Paulo.

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Outro autor psicanalíticoutilizadopor Lima (2014) é Levisky (2000) 25. Este autor traz uma compreensão do adolescente inserido num contexto social e influenciado por ele. Segundo Levisky (2000), aviolência nos adolescentes está vinculada à falta deperspectiva de vida e à reação a um estado contraditório e mutante que é insuportável; uma vez que a preparação do adolescente para a vida adulta é contrária às frustrações, à desesperança, às desilusões e dificuldadescomas quais o indivíduo se depara na vida adulta.

Nesse sentido, Violante (2000, citado por Lima, 2014) apresenta uma contribuição dizendo que a sociedade ensina ao adolescente que ele deve ser honesto, sério, bom e persistente, mas aomesmo tempo, a regra que rege o mundo é a de que o mais esperto e sem princípios vence; assim, o adolescente fica confuso, oscilando entre a luta contra tais condições e aaceitação das mesmas. Situação esta que, de acordo com Levisky(2000, citado porLima, 2014), faz com que aviolência faça parte domodelo dedesenvolvimento depadrão

de conduta e de identidade do adolescente na sociedade atual, expressa, assim, através da revolta,da rebeldia e das manifestações agressivas.

Além desses autores que foram destacados acima, Lima (2014), em suadissertação de mestrado, fazreferência aoutros escritores com formação psicológica, como: Nasciutti(1996) e Guareshi (1996) que são representantes daPsicologia Social e Comunitária; Franco (2005) que é mestre em Psicologiada Educação; e Fukamachi (2012) que é mestre em Psicologiada Saúde.

Algumas autoras referenciaram teóricos que, apesar denão terem formação psicológica, evidenciam aspectos da Psicologiapor meio da maneira como compreendem o ser humano e a vida. Em seu texto, Lima(2014), por exemplo, citaZehr - sociólogo - e sua compreensão do ser humano e do ofensor; o autor demonstra uma preocupação e uma concepção de homem que é característica da Psicologia, como quando diz que: “o crime é um pedido de socorro de muitos ofensores por desejar somente garantia de sua condição de pessoa”(Lima, 2014, p. 38).

Schuler eHenning(2012), por sua vez, utilizam dos questionamentos e das reflexões construídos a partir do discurso de Foucault acerca da sociedadee dos mecanismos sociais de controle. Com base nestes pressupostos teóricos, as autoras salientam a importância de se conhecer a sociedade na qual os indivíduos se inserem eas formas de subjetivação geradas portal contexto, para que não se desenvolvam programas que apenas se insiram no meio, de modo a servir a seus propósitos de controle, não questionando o que está dado e propagando esse modo universal de ser humano. Assim, Schuler eHenning(2012), ao se preocuparem com as formas de subjetivação e ao ressaltarem a necessidade de indagação e de reflexão constante do que se está fazendo, de modo que não seja um mero instrumento gerador de “mesmidades”, demonstram, ameuver, uma preocupação característica daPsicologia.

De forma mais implícita, existem vestígios de concepções psicológicas na maneira como Lima (2014) e Santos (2014) explicitaram alguns de seus entendimentos. O modocomo Lima (2014), por exemplo, ressalta a importância das visitas domiciliares, conhecendo o contexto e a realidade na qual o adolescente está inserido, parece-me muito com cuidados e ações típicos da Psicologia. Já Santos (2014) dedica uma visão humanizada aos sujeitos, principalmente àqueles envolvidos em conflitos escolares, queé característica das concepções psicológicas de ser humano, nasquais se consideram a inevitabilidade do conflitoeo quanto a violência escolaré sintoma de uma violênciaperpetuadasocialmente, por exemplo.

Além disso, Santos (2014) salientou, no tópico “Aspectoséticos” de sua dissertação, a garantia de que os participantes da pesquisa, caso se fizesse necessário, receberiam atendimento ou encaminhamento psicológico. A autora também destacou o sigilo e a preservação da integridade psicológica e física dos participantes, fatores característicos das investigações psicológicas.

Concluindo:reflexõessobreas práticas restaurativas, arealidade brasileira e a adolescênciaemconflito com a lei

Conforme explanado anteriormente, a nossa pesquisa se propôs a conheceras práticas restaurativasque estavam sendo desenvolvidas, no contexto brasileiro, com adolescentes que se envolveram em conflitos; compreendendo assim, se os objetivos da JR estavam sendo cumpridos ou não e a forma como a Psicologia contribuiu para as práticas. Além disso, nos propusemos a disponibilizar informações a respeito da JR. Tais objetivos nortearam as nossas pesquisasnosbancos de dados, propiciando o acesso a quatropublicações. As práticas foram analisadas, nos permitindo concluir que as ações restaurativas descritas nos trabalhos selecionados cumprem com os objetivos aos quais se propõem; visto que, em sua maioria, elas proporcionam a reinserção social do adolescente, o real acolhimento dos participantes, a restauraçãodas relações e a ressignificação do conflito edo papel social dos envolvidos.

A Psicologia orientou teoricamente as autoras nas suas interpretações a respeito das práticas e devido à formação psicológica de algumas delas, podemos supor que a perspectiva psicológica pode ter norteado e engendrado as intervenções das pesquisadoras. Ainda no que se refere aos nossos objetivos, acredito que por meio deste trabalho possibilitamos a disponibilização de informações a respeito daJR. É claroque não foram contemplados todos os escritos e as peculiaridades da temática. Ainda assim, ouso dizer que para além de disponibilizarinformações, essapesquisa se propôs apropiciar reflexões arespeito do tema.

Nesse sentido, apesar de constatarmos que os objetivos da JR foram cumpridos em suas práticas, devemos considerar que, enquanto uma alternativa relativamente recente no Brasil, a JR possui limitações e dificuldades para ser implementada efetivamente. Assim, o profissional que se compromete com essa alternativa precisa compreenderbem os alicercesda JR. Destaca-se a importância de que o profissional reflita o sobre as críticas e as incorpore, quando for relevante, para desenvolver práticas mais condizentes com os princípios da JR,

pensar sobre arealidade com a qual se defronte e sobre sua prática e, assim, não servir como mais um dispositivo social de disseminação de violência, exclusão social e controle. E aqui o psicólogo pode atuar de formapotencializadora durante a inserção das práticas restaurativas,

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