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4. NOVAS TENDÊNCIAS DO DIREITO CONCORRENCIAL E PERSPECTIVAS DO

4.5 O CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR E A PREVISÃO DE RESPONSABILIZAÇÃO

Quanto à responsabilização por danos do fornecedor de serviços, esta não diz respeito apenas às empresas vinculadas à iniciativa privada.

O artigo 22 do Código de Defesa do Consumidor amplia essa responsabilidade aos órgãos públicos, seja aos entes administrativos centralizados ou descentralizados. Dessa forma, assim como a União, Estados, Municípios e Distrito Federal, estão abarcadas também, as autarquias, fundações, sociedades de economia mista, empresas públicas, inclusive as concessionárias ou permissionárias de serviços públicos, tendo as mesmas a obrigação de fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos.

Dessa maneira, o Poder Público não deixará de reparar os prejuízos causados aos administrados quando incidir em determinadas práticas, como por exemplo: as que provêm da paralisação dos serviços; suspensão dos serviços de comunicação; interrupção do fornecimento de energia elétrica; ou o corte no fornecimento de água à população.

O artigo 102 do Código ao tratar no Capítulo III do Título III “Das Ações de Responsabilidade do Fornecedor de Produtos e Serviços”, estabelece que os legitimados a agir, poderão propor ação visando a compelir o Poder Público competente a proibir, em todo o território nacional, a produção, divulgação, distribuição ou venda, ou a determinar alteração na composição, estrutura, fórmula ou acondicionamento de produto, cujo uso ou consumo regular se revele nocivo ou perigoso à saúde pública e à incolumidade pessoal.

Assim, nada obstante, segundo José Geraldo Brito Filomeno144, seja necessário realizar uma

distinção entre, de um lado, “serviço público derivado da atividade precípua do Estado, visando ao bem comum” (educação, saúde, saneamento básico, construção de estradas), sendo estes, decorrência dos tributos em geral da população, e de outro, entre “serviço público ou de produção de bens com vistas ao atendimento de necessidades específicas e não cobertas pela iniciativa privada” (transporte coletivo de passageiros das cidades, serviços e fornecimento de eletricidade, telefonia, água etc.), estes, fruto de tarifas ou “preços públicos”, o fato segundo o autor, é que, “incumbe ao Poder Público idêntica responsabilidade no bom equacionamento das ‘relações de consumo’” 145.

Ademais, o parágrafo único do artigo 22 versa acerca da responsabilidade dos prestadores de serviços públicos na hipótese de não cumprimento das obrigações elencadas em seu caput. Portanto, o usuário poderá compelir o prestador do serviço à realização, exigindo ainda de acordo com o

144 FILOMENO, José Geraldo Brito. Coibição e repressão de abusos no mercado. In Código brasileiro de defesa do

consumidor: comentado pelos autores do anteprojeto. 9. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2007, p. 104.

145 A propósito: a Promotoria de Justiça do Consumidor de Bragança Paulista, por exemplo, ajuizou interessante ação

civil pública em face da antiga TELESP em virtude dos péssimos serviços prestados aos seus usuários (isto é, ligações que não se completam, caem, ruídos, manutenção demorada das linhas e aparelhos etc.), de molde a compeli-la, sob pena do pagamento de multa diária, a prestá-los de forma dequada e conveniente. Ao que se saiba, não houve ainda decisão definitiva da demanda, tendo o Juízo de Direito local declinado de sua competência para a Justiça Federal (Vara de Campinas), com o que concordou, donde a instauração do competente conflito de competência. In: Código brasileiro defesa do consumidor: comentado pelos autores do anteprojeto. 9. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2007, p. 106.

artigo 84 do CDC, a reparação pelas perdas e danos por meio da ação prevista no mesmo, com possibilidade conferida por este, de pleitear, até mesmo, a antecipação dos efeitos da tutela ou ainda, a tutela específica.

Assim sendo, os prestadores de serviços públicos responderão pelos prejuízos ocasionados aos usuários ou a terceiros. Os prestadores de serviços públicos serão responsabilizados, de acordo com o que dispõe o Código de Defesa do Consumidor, não só pelo fato, mas também pelo vício do serviço, pela oferta, pela publicidade enganosa, pela cobrança de dívidas que tragam constrangimento, pelo uso indevido de bancos de dados e pelo não cumprimento dos contratos, até mesmo em decorrência de cláusulas abusivas.

A responsabilidade em todos esses casos é objetiva, estabelecida na Constituição Federal no artigo 37, § 6º e também no artigo 14, caput, do Código de Defesa do Consumidor.

Há a possibilidade dos concessionários poderem arrazoar em sua defesa as excludentes da responsabilidade previstas no artigo 14, § 3º, I e II do CDC, quais sejam, força maior, inexistência de defeito no serviço prestado e culpa exclusiva do consumidor-usuário ou de terceiros.

No caso da força maior, esta se identifica com uma causa estranha, exterior em relação ao objeto danoso e a seus riscos próprios, ordinariamente imprevisíveis em sua produção e, absolutamente irresistível, embora fosse possível prevê-la. Não obstante seja previsível, todavia, ela é inevitável, insuperável e irresistível, toda vez que a razão que os determine seja estranha, e independente da vontade do sujeito obrigado.

Na hipótese do serviço ser prestado e não apresentar defeito ocorre o rompimento da relação causal que gerou o episódio lesivo, permanecendo, portanto, afastada a responsabilização. Considerando a previsão da inversão do ônus da prova no CDC e a presunção do defeito do serviço, cabe ao prestador de serviço público produzir prova inequívoca em contrário.

Em caso de culpa exclusiva do usuário/consumidor ou de terceiros, incumbe ao prestador de serviço público deparar provas, de modo a evidenciar a culpa do usuário/consumidor ou de terceiros. Mas, em razão da inversão do ônus da prova é de suma importância que se perquira da

conduta culposa do usuário/consumidor ou de terceiros. Depois de provado tal fato, deixa de existir a relação de causalidade entre o defeito do serviço e o evento dano, desaparecendo a responsabilidade do prestador de serviço.

Se o prestador de serviço público transgredir quaisquer das normas previstas em defesa dos usuários, estará subordinado às sanções administrativas do artigo 56 do CDC, sendo possível, inclusive, a revogação da concessão ou permissão e a intervenção. Nesse caso, apenas poderá ser empregada quando cuidar da defesa do interesse do usuário, sendo necessário observar-se a lei autorizativa específica, assim como, a evidência do interesse público.

A aplicação de tais sanções demandam prudência e muita cautela, as quais terão de ser empregadas por meio de processo administrativo e, na hipótese de reincidência, garantir-se-á o princípio da ampla defesa.

Há ainda a previsão pelo Código de Defesa do Consumidor em seu artigo 76, VI, da aplicação de sanções penais aos prestadores de serviços públicos, e no que tange particularmente aos serviços essenciais, serão sopesadas as circunstâncias agravantes.