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Ao longo do tempo, diversas foram as modificações no texto do Código de 1965. Santos (2012) cita modificações por três leis (Leis 6.535/78, 7.511/86 e 7.803/89) e uma Medida Provisória, a MP 2.166/2001, que recebeu 67 reedições. Além disso, vários foram os Projetos de Lei que tentaram alterar o Código de 1965, como os PL 2.181/99 e PL 2.123/03 (VIANA, 2004), entretanto, o PL 1.876/99 foi adiante e transformado na Lei 12.651/12, nosso atual Código Florestal.

Até então, as alterações do texto de 1965 foram no sentido de maior rigor quanto à preservação das APPs, fosse aumentando a área preservada, fosse restringido o corte e a forma de supressão. Já em relação à RL, há alternância entre conservacionistas e produtivistas ao longo do tempo, sendo que o viés primordial desta reserva era fornecer recursos florestais a hidrovias e ferrovias, passando após para uma noção de proteção da biodiversidade (SANTOS, 2012).

O texto que data de 1999 foi recolocado em pauta após o Decreto 6.514, de 22 de julho de 2008. Esse Decreto regulamentou o processo administrativo para a apuração das infrações ambientais, operacionalizando em muito o Código Florestal de 1965. Especialmente, em sua subseção II, o Decreto dispõe sobre os crimes contra flora e, por

exemplo, determina multa de R$50,00 (cinquenta reais) a R$50.000,00 (cinquenta mil reais) por hectare ou fração para quem danifica vegetação das APPs ou a utiliza em desacordo com as normas e multa de R$5.000,00 (cinco mil reais) para que danifica ou utiliza, sem autorização prévia, vegetação em área de RL. Para a não averbação da RL, também estavam previstas advertência e multa, além de um prazo para sua regularização (BRASIL, 2008).

Santos (2012) cita outro motivo: a Resolução 3.545 do Conselho Monetário Nacional, que estabelecia a exigência de documentação comprobatória de regularidade ambiental por parte dos bancos quando da concessão de crédito rural.

Todo esse conjunto de situações recrudesceram a fiscalização por parte do Ministério Público e dos órgãos ambientais culminando com a movimentação em prol da alteração no Código de 1965. Dessa forma, na metade de 2009 foi criada a Comissão Especial do Código Florestal. Atualmente, o projeto de Lei 1876/99 tornou-se a Lei 12.651/12 e revogou a Código Florestal de 1965.

Mais do que a letra da Lei, interessa para este trabalho como se deu a discussão em torno da aprovação do atual Código Florestal Brasileiro. Assistiu-se a um embate entre diversos grupos em torno do que seria ambientalmente correto no tratamento das florestas e demais tipos de vegetação no território do país, em uma verdadeira disputa de forças. Basicamente, havia dois grupos principais: a bancada ruralista, representando interesses dos agricultores e daqueles que enxergavam no velho texto um entrave ao desenvolvimento do país e os ambientalistas, aqueles acreditavam que uma modificação na Lei traria prejuízos ambientais.

3 REFERENCIAL TEÓRICO METODOLÓGICO

A prática discursiva está presente em nosso dia a dia sem que notemos. A mediação entre o homem e a realidade natural e social se dá através da linguagem. Entretanto, a linguagem não corresponde diretamente à realidade, pois o homem é afetado pela história, por suas maneiras de significar, por sua ideologia. O discurso é onde podemos observar a linguagem materializada na ideologia, possibilitando ao sujeito significar e significar-se, produzir sentidos (ORLANDI, 2009).

Nesse sentido, a autora acima referida destaca que a definição de discurso difere da tradicional definição da comunicação do que seja mensagem, em que um emissor transmite uma mensagem a um receptor através de um código (a língua), sendo esta informação transmitida relacionada ao referente (elemento da realidade). Na verdade, na formulação de um discurso há uma complexa rede de constituição de sentidos e sujeitos. Não há emissor e receptor, há interlocutores que estão realizando o processo de significação ao mesmo tempo, a informação não é estanque, não está já dada, mas significa para o que fala e para o que ouve, produz seus efeitos em ambos: os dois atuam neste processo.

A mensagem nessa perspectiva é substituída pela noção do discurso, já que essa informação não corresponde diretamente à realidade, mas é fruto de um processo de significação do sujeito, afetado pela ideologia, por isso a noção de discurso. O significado do discurso não é dado a priori, mas é constituído no processo, todo o tempo, por ambos os locutores. Além disso, a linguagem serve para comunicar e não comunicar. De todo o exposto, emerge o conceito de discurso: “efeito de sentidos entre locutores (ORLANDI, 2009, p. 21)”.

A Análise do Discurso trabalha a linguagem inserida no mundo, na história, relacionando a linguagem à sua exterioridade. Busca analisar o homem falando. Nesse sentido, é um campo teórico-metodológico que fornece subsídios para compreender as manifestações da linguagem (SILVA, 2005; PINHO; KANTORSKI; HERNANDEZ, 2009). A Análise do Discurso busca, então, compreender “a língua fazendo sentido, enquanto trabalho simbólico, parte do trabalho social geral, constitutivo do homem e de sua história” (ORLANDI, 2009, p. 15). Dessa forma, a Análise do Discurso estuda o homem buscando e produzindo sentidos para a sociedade em que vive, enquanto sujeito. Em outras palavras, a Análise do Discurso tem como finalidade “expor o leitor à opacidade do texto (PÊCHEUX apud ORLANDI, 1998, p. 02)”.

Fundada por Michel Pechêux, a Análise do Discurso surge da comunhão da Linguística com as Ciências Sociais, mas longe de ser apenas uma interdisciplinaridade, vai além, interroga esses dois campos do conhecimento, o primeiro pela historicidade que exclui e o segundo pela transparência da linguagem em que se baseia. Assim, considerando que a língua não é transparente, mas tem sua opacidade e que é carregada de sentidos determinados historicamente, ainda questiona o sujeito que é descentralizado: “a Análise do Discurso não trabalha como um sujeito onipotente nem com um sistema totalmente autônomo (a língua é relativamente autônoma) (ORLANDI, 2005, p. 11)”.

Cabe ressaltar que a Análise do Discurso não busca o sentido verdadeiro, uma situação pode ser interpretada e significada de modos diferentes para diferentes pessoas ou grupos de pessoas. Depreende-se daí que a Análise do Discurso difere-se da hermenêutica, pois não busca interpretar a realidade. Há gestos de interpretação pelos sujeitos que precisam ser colocados também em análise para se compreender o discurso subjacente.

A Análise do Discurso difere-se também da análise de Conteúdo, pois por tudo o já exposto, a primeira considera que a linguagem não é transparente. Assim, não busca encontrar no texto o seu sentido utilizando para isso as ferramentas certas para se elucidar o que esse texto quer dizer. Busca entender como o texto, em sua materialidade simbólica, significa para o sujeito. Não basta interpretar o texto, mas ir além, chegar ao nível da compreensão que é saber como o texto produz sentidos, pois quando se interpreta já se faz preso a um sentido, o sentido vai além das intenções do sujeito. É nessa dimensão que a Análise do Discurso se insere: “estudos discursivos visam pensar o sentido dimensionado no tempo e no espaço das práticas do homem (ORLANDI, 2009, p. 16)

O que a Análise do Discurso propõe, então, é compreender como o discurso, que é um objeto sócio-histórico, produz sentidos para os sujeitos (ORLANDI, 2009). Para isso, deve-se relacioná-lo à sua exterioridade, suas condições de produção.

O discurso representa parte do que se é e se faz, assim como é representado por aquilo que se é e que se faz. Nesse sentido, o discurso repercute na vida humana e na sociedade com diferentes significados, sejam esses necessários para promover esclarecimentos, conhecimentos específicos e reflexões, seja para estimular conflitos, disseminar ideologias e persuadir pessoas ou grupos sociais (PINHO; KANTORSKI; HERNANDEZ., 2009).

Para operacionalizar a Análise do discurso nos próximos capítulos, convém deter-se em alguns conceitos da teoria.

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