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C´ alculo da estimativas brutas dos quocientes de mortalidade

3.2 A abordagem dinˆ amica

3.2.2 C´ alculo da estimativas brutas dos quocientes de mortalidade

Podemos dizer que o tempo interv´em de trˆes formas distintas sobre qualquer ´obito: o ano em que o indiv´ıduo nasce, o ano do ´obito e a idade com que falece. Podemos assim defi- nir trˆes coordenadas temporais que caraterizem qualquer acontecimento demogr´afico. ´E trivial que uma destas coodenadas seja redutivel, j´a que atrav´es de duas delas, podemos

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determinar a terceira. Com esta ideia subjacente, em 1875, Wilheim Lexis introduziu o chamado diagrama de Lexis3.

O objetivo deste diagrama ´e o de representar a forma como o tempo intervem em qual- quer acontecimento demogr´afico. Podemos definir o diagrama de Lexis como um sistema de eixos que permite concretizar a forma como se combinam as trˆes coordenadas tem- porais na representa¸c˜ao gr´afica dos acontecimentos demogr´aficos. No eixo das abcissas, inscreve-se o tempo em que os acontecimentos ocorrem, no eixo das ordenadas, a idade dos indiv´ıduos a quem nos reportamos. Cada acontecimento demogr´afico corresponde a um ponto, cujas coordenadas representam a data e a idade do respectivo indiv´ıduo. No ˆambito do nosso estudo, os acontecimentos demogr´aficos representados s˜ao sempre ´

obitos. Podemos ver na figura 3.2, um exemplo de um diagrama de Lexis; est´a tamb´em representada a linha de vida de um indiv´ıduo que nasce no tempo t1 e morre, `a idade

x1, no tempo t2.

Figura 3.2: Diagrama de Lexis: ´Obitos registados `a idade x no ano t.

Time Age t − x − 1 t − x t1 t t + 1 x x + 1 A D C B P t2 x1

Assumimos uma for¸ca de mortalidade constante para idades n˜ao inteiras4, isto ´e, assumimos que:

µx+1(t + 2) = µx(t), ∀1 > 0, 2 6 1; (3.5)

ou seja, a for¸ca de mortalidade ´e constante dentro de cada quadrado, como o ABCD que pode ser visto na figura 3.2, mas pode variar de quadrado em quadrado. Sob esta hip´otese temos, um resultado esperado, que: µx(t) = mx(t). E assim, podemos

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At´e aos in´ıcios do s´eculo XX Gustav Zeuner reclamava a inven¸c˜ao deste diagrama; para uma dis- cuss˜ao aprofundada sobre esta quest˜ao, bem como uma introdu¸c˜ao formal ao diagrama de Lexis, veja-se Vandeschrick (2001).

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determinar o estimador de m´axima verosimilhan¸ca, b µx(t) =mbx,t= Dxt ET Rxt , (3.6)

onde Dxt representa o n´umero de mortes ocorridas `a idade x, durante o ano civil t e

ET Rxt´e a exposi¸c˜ao ao risco `a idade x durante o ano t. Definimos a exposi¸c˜ao ao risco

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a idade x durante o ano t como o tempo total vivido por pessoas com a idade x no ano civil t5.

Definimos agora Px,t, o n´umero de sobreviventes de idade x no instante t, e dx,t , o

n´umero de ´obitos, no decurso do ano t, de indiv´ıduos com idade x. Geometricamente, Px,t ´e o n´umero de pontos dentro do quadrado ABCD da figura 3.2. Destes ´obitos,

vemos que os ´obitos dx,t podem ser divididos em dois grupos, os ´obitos de indiv´ıduos

pertencentes `a gera¸c˜ao t − x − 1, representados por dU

x,t,g−1, e os ´obitos de indiv´ıduos

da gera¸c˜ap t − x, representados por dLx,t,g. O quadrado ABCD pode ser decomposto em dois triˆangulos, ABC e ACD. Assim, dada a hip´otese da for¸ca de mortalidade constante, temos: b mx,t= Dxt ET Rxt = d U x,t,g−1+ dLx,t,g 1 2[Px,t+ Px,t+1] + 1 6[dLx,t,g− dUx,t,g−1] . (3.7)

Figura 3.3: Diagrama de Lexis: ´Obitos registados `a idade x para a gera¸c˜ao t − x.

Time Age t − x + 1 t − x t t + 1 t + 2 x x + 1 A D C B

Por vezes ´e ´util determinar o n´umero de ´obitos `a idade x de indiv´ıduos de uma s´o gera¸c˜ao, g = t − x. O diagrama de Lexis da figura 3.3 exemplifica esta situa¸c˜ao. Neste caso o total dos ´obitos ´e dado pela soma dos ´obitos ocorridos nos triˆangulos ABD e e BCD, isto ´e, `a soma dos ´obitos de indiv´ıduos `a idade x, da gera¸c˜ao g, no ano t e t + 1, respetivamente. A estima¸c˜ao pode ser feita de forma an´aloga `a feita para a figura 3.2.

O outro c´alculo que podemos derivar com o diagrama de Lexis, ´e o c´alculo do n´umero de ´obitos durante o ano t, de indiv´ıduos da gera¸c˜ao t − x, que naturalmente abrange as idades x − 1 e x. Este diagrama ´e exemplificado pela figura 3.4, onde mais uma vez a ´area que pretendemos calcular ´e paralelogramo ABCD, mas com uma configura¸c˜ao diferente do anterior.

As estimativas brutas dos quocientes de mortalidade qx,tcorrespondentes s˜ao calculadas,

regra geral, da seguinte forma:

b

qx,t,• = b

mx,t

1 + (1 − ax,t)mbx,t

, (3.8)

onde ax,t representa o n´umero m´edio de anos vividos no intervalo [x, x + 1) pelos in-

div´ıduos que falecem `a idade x no momento t, logo, como estamos sob a hip´otese da for¸ca constante de mortalidade, ax,t= 1/2.

No entanto Vallin (1973) desenvolveu o m´etodo dos quocientes parciais para facilitar estes c´alculos. Atrav´es deste, em que os quocientes de mortalidade s˜ao estimados para cada triˆangulo relevante no estudo em causa, chega-se `as seguintes trˆes estimativas:

I No caso da figura 3.2: b qx,t,•= 1 − (1 −qbx,t,g)(1 −bqx,t,g−1), (3.9) II No caso da figura 3.3: b qx,•,g= 1 − (1 −qbx,t,g)(1 −bqx,t−1,g), (3.10) III No caso da figura 3.4:

b

q•,t,g = 1 − (1 −qbx,t,g)(1 −qbx−1,t,g). (3.11)

Figura 3.4: Diagrama de Lexis: ´Obitos registados no ano t para a gera¸c˜ao t − x.

Time Age t − x + 1 t − x t t + 1 x − 1 x x + 1 A C D B

A escolha de qual dos trˆes casos a ser utilizado na estimativa depende do objetivo do estudo, dos dados recolhidos na primeira fase da constru¸c˜ao da tabela de mortalidade e da homogeneidade preferida: o caso I, garante a homogeneidade por ano civil e por idade, mas n˜ao por gera¸c˜ao; O caso II, garante a homogeneidade por idade e por gera¸c˜ao, mas n˜ao por ano civil; finalmente o caso III garante uma homogeneidade por ano civil e por gera¸c˜ao, mas n˜ao por idade.

O caso II ´e o ´unico que nos permite interpretar os quocientes de mortalidade da forma habitual, ou seja, como estimativas da probabilidade de morte entre duas idades consecu- tivas, x e x+1. O facto de n˜ao assegurar a homogeneidade por ano civil n˜ao constitui um problema na elabora¸c˜ao das tabelas de mortalidade, pois normalmente s˜ao considerados dados referentes a mais do que um ano, o que permite suavizar as fun¸c˜oes da tabela de mortalidade. Por exemplo, as agˆencias oficiais de pa´ıses como Portugal, It´alia, Canad´a, Espanha e Sui¸ca estimam os quocientes de mortalidade, seguindo o caso II, admitindo trˆes anos consecutivos de observa¸c˜oes.

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