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C ARACTERIZAÇÃO DA P OPULAÇÃO COM D EFICIÊNCIA M OTORA

I. ENQUADRAMENTO TEÓRICO

1.2. C ARACTERIZAÇÃO DA P OPULAÇÃO COM D EFICIÊNCIA M OTORA

De acordo com a Classificação Internacional da Funcionalidade, Incapacidade e Saúde, podemos definir deficiência motora como “problemas nas funções ou nas estruturas do corpo, tais como, um desvio importante ou uma perda”.

As deficiências que correspondem a um desvio relativamente ao que é geralmente aceite como estado biomédico normal do corpo e das suas funções podem ser: temporárias ou permanentes, progressivas, regressivas ou estáveis, intermitentes ou contínuas.

A deficiência divide-se em áreas distintas, como a visual, a auditiva, a mental. Contudo, para o nosso estudo interessa analisar a deficiência motora. Segundo Rodrigues:

A deficiência motora pode ser considerada como uma perda de capacidades, afectando directamente a postura e/ou movimentos, fruto de uma lesão de natureza congénita ou

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adquirida, ao nível das estruturas efectivas e reguladoras do sistema nervoso e osteomuscular.

(Rodrigues, 1983:29)

A deficiência motora afecta o movimento do corpo humano, especialmente o sistema esquelético, incluindo a espinal medula, músculos, ossos e articulações. Debruçando-se o presente estudo sobre o BCR, por isso uma modalidade desportiva dirigida a uma população com deficiência motora, será de todo o interesse proceder-se à caracterização de alguns tipos de deficiências motoras, ainda que de forma sucinta. Assim, iremos fazer referência à lesão vertebro-medular; espinha bífida; poliomielite e a amputação.

1.2.1. Lesão Vertebro-medular

A lesão medular, segundo Winnick (2004), pode ser decorrente de uma lesão ou uma doença nas vértebras e/ou nos nervos da coluna vertebral, geralmente associado a um grau de paralisia, devido a dano na espinal medula. Esse grau de paralisia depende do nível da lesão na coluna vertebral e do número de fibras nervosas destruídas pela lesão.

É uma lesão provocada por traumatismo ao nível da coluna vertebral, que não permite que a informação cerebral passe na zona atingida e chegue ao músculo. Entre as causas das lesões vertebro-medulares destacam-se: traumatismos da coluna vertebral (acidentes de carro, mergulho de cabeça em águas rasas, trabalho, vida diária, lazer, golpe na medula…), tumores, hemorragias, processos infecciosos (sífilis, poliomielite anterior aguda, mielite aguda transversa, …) e degenerativos (esclerose medular, etc.). Entre as suas causas citam-se, ainda, anomalias congénitas no desenvolvimento da coluna vertebral, como o caso da espinha bífida. Esta origina um comprometimento do controlo motor dos membros ou a perda total da sua mobilidade voluntária autónoma, acompanhadas por perda de sensibilidade e dificuldades no controlo do esfíncter rectal. Pode, também, gerar incontinência urinária ou reduzir a capacidade respiratória.

Paraplegia/ tetraplegia

As lesões medulares podem apresentar-se em dois tipos mais comuns: a paraplegia - as duas pernas aparecem afectadas - e a tetraplagia ou quadriplegia, em que os quatro membros são afectados. Este tipo de lesão normalmente acontece através de situações

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traumáticas, como é o caso de acidentes de viação (48%), quedas (21%), situações de violência (incluindo guerra, 14%), lesões desportivas (14%) e outras (3%) (Sherrill, 1993).

As paraplegias e tetraplegias podem ser distinguidas entre completas e incompletas, dependendo do facto de existir ou não controle e sensibilidade periféricos abaixo do nível da lesão do indivíduo.

Apesar da sua irreversibilidade, a paraplegia e a tetraplegia não impedem a prática desportiva. A selecção das actividades e modalidades desportivas, bem como a dosagem das cargas, deverá ter em conta e procurar desenvolver as funções e qualidades (motoras, fisiológicas, sociais, psicológicas, etc.) remanescentes.

1.2.2. Espinha Bífida

É uma malformação congénita e de nascença, na qual o tubo neural não chega a fechar completamente. Ocorre, normalmente, durante as primeiras quatro semanas de desenvolvimento fetal. Em consequência, o arco posterior de uma ou mais vértebras não se desenvolve na totalidade, deixando sem protecção uma parte da espinal medula ou das suas raízes.

A espinha bífida manifesta-se sob três formas: mielomeningocelo, meningocelo, espinha bífida oculta (Sherrill, 1993).

No mielomeningocelo a bolsa contém, para além de tecido e líquido cefalorraquidiano, raízes nervosas e parte da espinal medula. A espinal medula está lesionada ou não totalmente desenvolvida.

No meningocelo a bolsa contém tecidos que cobrem a espinal medula (meninges) e líquido cefalorraquidiano. Este líquido banha e protege o cérebro e a espinal medula. As raízes nervosas não estão geralmente muito lesadas e estão aptas a funcionar, por isso, normalmente, existem muito poucos sinais de deficiência. Esta é a forma menos comum.

A espinha bífida oculta é um tipo muito comum que raramente causa deficiência. Existe uma formação ligeiramente deficiente de uma das vértebras. Pode ter algumas manifestações externas, como por exemplo, uma cova nas costas ou proeminência de pêlos nas costas. Não há sintomatologia deste tipo de espinha bífida o que faz com que muitas pessoas afectadas desconheçam que têm esta malformação.

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1.2.3. Poliomielite

A poliomielite, vulgarmente chamada de polio, é uma forma de paralisia causada por infecção viral que afecta as células motoras da medula espinhal. A severidade e grau da paralisia varia em cada indivíduo e depende do número e localização das células afectadas. A paralisia pode ser temporária, ocorrendo apenas durante a fase aguda da doença, nos casos em que as células motoras não sejam destruídas pelo vírus, ou permanente se as células motoras forem destruídas pelo vírus.

No combate ao aparecimento desta doença a melhor medida é a vacinação.

1.2.4. Amputação

Amputação é a remoção de uma extremidade do corpo, membro completo ou a um segmento específico do membro através de cirurgia ou acidente.

As amputações podem ser classificadas como congénitas ou adquiridas. Amputações adquiridas podem resultar de doença, tumor ou traumatismo, enquanto as amputações congénitas resultam de uma falha no feto que não conseguiu desenvolver-se propriamente nos primeiros três meses de gestação (Winnick, 1990).