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O comportamento dos usuários foi caracterizado a partir das respostas dos 102 participantes da amostra, sendo 2% inconsistente devido à dificuldade de interpretação do questionário. As respostas das questões que abordam a satisfação no ambiente e a sensação de conforto apresentaram maior número de incoerências devido à falta de familiaridade com os termos e à dificuldade em quantificar os níveis por parte dos usuários.

A amostra de edifícios é caracterizada em sua maioria por ambientes de planta livre, sendo apenas três salas compartimentadas. Os ambientes compartilhados por dois ou mais usuários representam 76% da amostra e os ambientes privativos correspondem a 24%. As aberturas estão orientadas em 74% dos ambientes para Norte/sul, 25% para Leste/oeste e 1% para Nordeste. A predominância da orientação Norte/sul se dá pela própria configuração espacial do campus e pelo atendimento às recomendações bioclimáticas para a latitude local. A orientação Leste/oeste ocorre apenas no edifício do CTEC, devido ao formato orgânico da edificação. As aberturas são representadas por 67% de PAF médio, 32% de PAF grande e apenas 1% de PAF pequeno. As ocorrências de FCV são de 60% para médio, 31% para pequeno e 9% para grande. Apenas uma abertura não possui proteção externa, sendo 66% dotadas de brises fixos (recorrentes no CTEC e SIN) e 31% de marquises ou beirais (recorrentes no CET e IIF). As proteções internas utilizadas em 56% dos ambientes são cortinas ou persianas verticais, sendo os demais 31% e 13% representados respectivamente por persianas horizontais e inexistentes. A amostra possui 66% das aberturas sem sombreamento direto do entorno e 34% com sombreamento por árvores ou outras edificações.

A amostra de usuários é caracterizada em 70% dos casos por uma faixa etária entre 20 e 40 anos, 24% entre 40 e 55 anos, e apenas 6% superior a 55 anos. Os usuários utilizam o ambiente em 84% dos casos durante manhã e tarde, seguido de 8% que utiliza somente de manhã e 7% somente à tarde. A principal atividade desenvolvida (“sempre”) por 90% dos usuários é o uso do computador, seguido por 54% de leitura, escrita ou desenho. Outras atividades citadas em menor proporção foram: uso do quadro negro, discussão com outros pesquisadores, programação, reuniões, arquivo e protocolo. O ar condicionado é sempre utilizado por 75% dos usuários, enquanto que a ventilação natural e o ventilador nunca são utilizados por cerca de 70% e 75% dos usuários, respectivamente.

Os resultados do questionário demonstram que a preferência quanto ao uso da luz natural no ambiente varia entre os extremos “sempre/quase sempre” para 40% do total e “nunca/quase nunca” para 36%, sendo os demais distribuídos em frequências intermediárias. Há preferência de intensidade de luz mediana/alta por 75% dos usuários e de baixos níveis de iluminância ou excesso de luz por apenas 1%, sendo os demais 24% distribuídos nos demais níveis de intensidade. Em geral, baixos níveis são considerados insuficientes e luz em excesso pode gerar ofuscamento.

A Figura 4-3 demonstra que o período de uso da luz natural ocorre em 37% dos casos de manhã e à tarde, 18% somente de manhã e 2% somente à tarde. O demais 43% dos usuários não a utilizam durante o período de ocupação. A curva de ocorrência do aproveitamento da luz natural ao longo do dia indica que cerca de 50% dos usuários fazem uso das 8h às 12h, havendo um decaimento de cerca de 10% das ocorrências no período das 14h às 16h (Figura 4-4). As primeiras horas do dia (6h às 8h) e o horário próximo ao poente (a partir das 16h) apresentam baixo aproveitamento da luz natural em decorrência da disponibilidade de radiação solar externa insuficiente.

Figura 4-3 – Ocorrência dos períodos de uso da luz natural.

Figura 4-4 - Ocorrência de aproveitamento da luz natural por hora.

A sensação provocada pela luz natural é considerada estimulante e relaxante pela maioria dos usuários, representando respectivamente 45% e 24% dos casos. A sensação de dispersão é indicada por 13% dos usuários, enquanto que as demais são citadas em menor proporção (Figura 4-5).

A frequência de acionamento do sistema de proteção interno é representada em 60% da amostra por usuários que nunca interagem ao longo do dia, 23% que interagem uma a duas vezes ao dia, 14% que interagem na entrada/saída do ambiente e apenas 3% que interagem mais de duas vezes ao dia (Figura 4-6). Não foi observada relação entre a frequência de acionamento e a orientação da abertura devido à predominância na amostra de sistemas voltados para Norte/Sul.

Figura 4-6 - Ocorrência da frequência de acionamento do sistema de proteção.

Os resultados permitiram identificar os horários e as principais causas para a abertura do sistema de proteção. Em geral, 53% dos usuários não costumam abrir a cortina, 29% abrem de manhã e à tarde, 13% abrem somente de manhã e apenas 5% abrem somente à tarde (Figura 4-7). As principais causas para a abertura do sistema são o aproveitamento da luz natural para 50% dos usuários e contato com o exterior para 40%, enquanto que a complementação da luz artificial foi citada por apenas 10% da amostra (Figura 4-8).

Figura 4-7 – Ocorrência do período de abertura da cortina.

Figura 4-8 – Ocorrência das principais causas para abertura da cortina.

A importância atribuída ao contato com o exterior está diretamente relacionada ao grau de estímulo pela vista externa, que pode induzir o usuário a abrir a cortina. Os resultados indicam que 75% dos usuários sentem um estímulo pela vista externa que varia de “muito” a “bastante”. Mesmo os usuários que não costumam abrir a cortina indicam preferência pela vista externa, o que pode sugerir a existência de fatores de desconforto que se sobrepõem ao contato com o meio externo.

Em geral, 61% dos usuários fazem uso da cortina “sempre” ou “quase sempre” para promover ou restaurar o conforto no ambiente. As principais causas para o fechamento da cortina correspondem ao contraste com o monitor para 26% dos usuários, ofuscamento para 25%, excesso de calor para 18%, privacidade para 13% e ausência de estímulos na vista externa para 6% (Figura 4-9). Outras causas citadas pelos usuários foram: incidência solar, entrada/saída do ambiente e preferência dos colegas de trabalho.

Figura 4-9 – Ocorrência das principais causas para o fechamento da cortina.

Os edifícios do CTEC e SIN apresentaram ocorrências de fechamento da cortina de 83% e 87%, respectivamente, devido à presença de sistemas de proteção externos de desempenho inferior aos demais edifícios. A ineficiência dos sistemas está relacionada ao dimensionamento inadequado ou à transparência dos brises (que no caso do CTEC consiste de placas perfuradas). Consequentemente, há um menor aproveitamento da luz natural pela maioria dos usuários, que fecham a cortina devido ao excesso de luz direta ou difusa. O edifício do CET apresentou maior equilíbrio entre os usuários que fecham a cortina, representados por 42%, e os que não fecham, representados por 58%. Os usuários que fecham a cortina relatam a ocorrência de contraste com o monitor gerado pelo excesso de iluminação difusa. No IIF, 80% dos usuários costumam abrir a cortina,

apresentando relação com a eficiência do sistema de proteção e o estímulo pela vista externa (Figura 4-10).

Figura 4-10 - Ocorrência de fechamento da cortina por edificação.

A Figura 4-11 relaciona o fechamento da cortina com a frequência de acionamento da luz elétrica. Usuários que “sempre” utilizam a luz elétrica tendem a fechar a cortina em 71% dos casos, enquanto que usuários que “nunca” acionam a luz elétrica, não costumam fechar a cortina. Nesse caso, há o aproveitamento da luz natural em substituição à luz elétrica durante o período com disponibilidade de radiação solar. Em geral, quanto menor a frequência de acionamento da luz elétrica, menor a quantidade de usuários que fecham a cortina. A luz elétrica é utilizada para complementação da luz natural em 45% dos casos, independe da luz natural em 39% e é acionada para suprir a insuficiência de luz natural em 16%.

Figura 4-11 - Relação entre o acionamento da luz elétrica e o fechamento da cortina.

A partir dos resultados dos questionários, foi possível obter conclusões sobre o comportamento dos usuários, sendo as principais descritas a seguir.

A rotina de ocupação predominante ocorre ao longo de todo o dia (manhã e tarde) com pausa no horário de almoço. O uso da luz natural está relacionado às preferências e satisfação dos usuários com o ambiente. Em geral, usuários que atribuem sensações positivas à luz natural (como estimulante e relaxante) tendem a aproveitar este recurso em um ou mais turnos do dia, e usuários que atribuem sensações negativas (como dispersão e estresse) utilizam a luz natural com menor frequência.

O acionamento do sistema de proteção relaciona-se com a sensação de conforto luminoso dos usuários, que por sua vez é influenciada por aspectos físicos, como a quantidade de luz natural do ambiente. Níveis de iluminância em excesso causam ofuscamento e contraste com o monitor, induzindo o fechamento da cortina, enquanto que níveis de iluminação natural adequados proporcionam conforto luminoso e consequentemente maior frequência de uso da luz natural.

Há uma tendência de polarização do comportamento em ativo ou passivo, a partir da frequência de uso da iluminação natural. Os usuários ativos consideram a luz natural e evitam o uso da luz elétrica, enquanto que os passivos desconsideram seu potencial de uso, não interagem com o sistema de proteção e acionam a luz elétrica na maior parte do dia. Estes fecham a cortina devido ao desconforto, e não abrem mais ao longo do horário de ocupação. Foi identificada uma situação intermediária entre os dois extremos, que considera o uso luz natural com menor frequência que usuários ativos, mas que não é totalmente passiva à variação das condições da luz natural, interagindo principalmente na entrada/saída do ambiente. Logo, o comportamento dos usuários pode ser definido pela frequência de acionamento do sistema de proteção, que varia entre nunca (usuários passivos), entrada/saída do ambiente ou uma/duas vezes por dia (usuários intermediários) e mais de duas vezes ao dia (usuários ativos).

As principais causas identificadas para a abertura dos sistemas de proteção são o aproveitamento da luz natural e o contato com o exterior, enquanto que as causas para o fechamento têm relação com o ofuscamento e o contraste com o monitor. O estímulo pela vista externa também consiste em um fator de grande peso para a abertura do sistema. Usuários que não abrem a cortina também demonstraram sentir estímulo pela vista externa, indicando que o fechamento está associado a fatores de desconforto que se sobrepõem à preferência pelo contato com o exterior.

O desempenho de sombreamento do sistema de abertura também possui grande influência no uso da luz natural pelos usuários. As edificações com maior frequência de

fechamento da cortina apresentam sistemas de proteção ineficientes quanto à incidência de radiação direta e/ou excesso de luz difusa, sendo destacadas causas de desconforto como ofuscamento e contraste com o monitor.

Os resultados também demonstram a relação entre o fechamento do sistema de proteção e o acionamento da luz elétrica. Em geral, usuários que mantêm a cortina sempre fechada utilizam a luz elétrica ao longo de todo o período de ocupação e usuários que abrem a cortina com maior frequência utilizam a luz elétrica em menor quantidade. O uso do sistema artificial está relacionado principalmente à complementação (caracterizando usuários ativos e intermediários) ou independe da luz natural (caracterizando usuários passivos).

O comportamento dos usuários foi definido a partir da relação de causa e efeito para representar a interação com os sistemas de aberturas. A partir das considerações observadas, foram identificados condutores, necessidades, ações e sistemas de acordo com a estrutura de DNAs (Figura 4-12). Os condutores considerados nesta pesquisa correspondem a fatores físicos relacionados aos níveis de iluminância no ambiente para o desempenho da tarefa, como luz natural insuficiente e ofuscamento/contraste com o monitor; as necessidades são representadas pelo conforto luminoso e satisfação dos usuários no ambiente; as ações correspondem à abertura do sistema para o aproveitamento da luz natural e fechamento para o controle; os sistemas acionados podem ser cortinas internas, no caso de dispositivos externos fixos, ou brises móveis.

Figura 4-12 - Relação de causa-efeito para interação dos usuários.

Os tipos de comportamento dos usuários são classificados em função da frequência de interação com os dispositivos de proteção internos ou externos, sendo definidos usuários ativos, intermediários e passivos conforme o Quadro 4-1.

Quadro 4-1 - Tipos de comportamento dos usuários.

O usuário ativo abre e fecha a cortina de acordo com a disponibilidade de luz natural para potencializar o desempenho luminoso quando não há desconforto por ofuscamento e contraste com o monitor. Esse perfil é análogo a um sistema automático que opera em condições ideais. O usuário intermediário fecha a cortina quando há a primeira ocorrência de desconforto visual e abre novamente quando retorna ao ambiente no horário da tarde, período em que há radiação solar difusa. Esse tipo de usuário se depara com a sensação de pouca luz ao entrar no ambiente, devido à variação brusca de disponibilidade de luz natural em relação ao meio externo. O usuário passivo fecha a cortina quando há a primeira ocorrência de desconforto visual e não abre novamente ao longo do dia. Esse perfil desconsidera o potencial de uso da luz natural, dando preferência ao sistema de iluminação artificial.

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