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7. CONCLUSÕES

7.1. C ONCLUSÕES E C ONSIDERAÇÕES F INAIS

A pesquisa efectuada sobre metodologias de avaliação de anomalias e de classificação de pontes revelou que é grande a diversidade existente, dependendo principalmente do nível de tratamento posterior que esses dados têm no sistema de gestão de pontes. Os métodos de classificação podem variar a nível de detalhe, podendo ir desde a análise de componentes gerais da estrutura, como o tabuleiro, infraestrutura e superestrutura, a sub-elementos incluindo vigas, juntas ou elementos de apoio; em termos de caracterização, avaliando o elemento ou a anomalia no elemento; ou em conteúdo, podendo a classificação conter apenas a apreciação do estado de conservação ou ter uma abordagem económica. Directamente associado ao método de classificação está o tipo de recolha de dados necessários, seja ela visual ou através de ensaios, subjectiva ou mais objectiva, com um grau de fiabilidade menor ou maior. Os métodos de avaliação mais complexos prevêem geralmente a utilização de ferramentas de previsão de deterioração e de optimização mais específicas, com base mais científica, dando resultados mais fiáveis. Obviamente que a utilização de técnicas mais avançadas tem normalmente um custo associado maior, no entanto a consequente diminuição dos riscos de rotura e a optimização dos investimentos no sistema pode vir a compensar largamente a sua utilização.

O REGpontes apresenta uma metodologia bastante simples e intuitiva de se utilizar. As pontes são introduzidas num inventário como registos associados a uma vasta gama de itens que organizam, de modo sistematizado, todas as informações da obra relevantes para a sua correcta gestão. O método de classificação de pontes utilizado no programa é baseado num modelo americano, calculando para cada obra, de modo totalmente automático, a partir dos dados registados no inventário, o seu grau de segurança estrutural, nível de funcionalidade e de utilidade pública. As pontes são assim facilmente organizadas segundo o seu Rácio de Eficiência Global, proporcionando ao utilizador uma vista do estado geral do sistema e a informação de quais as obras com maiores necessidades de intervenção. Faltam, contudo, ao REGpontes as funcionalidades que o tornariam num sistema de gestão completo: a previsão da deterioração, uma base de dados de acções de manutenção/reparação e custos, e um algoritmo de optimização. Em todo o caso, como foi demonstrado, este programa é perfeitamente utilizável em pontes portuguesas, atingindo-se os objectivos propostos de classificação de um sistema de pontes rodoviárias portuguesas e revelando-se ainda um software de grande utilidade no acompanhamento da evolução das pontes ao longo do tempo.

Após uma campanha de inspecções realizadas pelo autor a um conjunto de doze pontes, estas foram catalogadas no REGPontes, permitindo um estudo às características mais importantes do conjunto e a análise dos rácios de eficiência global obtidos. A existência de dados de 2003, também no formato do REGPontes, recolhidos e apresentados em Almeida (2003), das pontes inspeccionadas e analisadas no presente trabalho demonstrou-se de particular interesse e utilidade pois permitiu uma análise diferida do mesmo conjunto de pontes e um estudo às diferenças entre as avaliações e classificações obtidas após um período de cinco anos, por um inspector diferente.

Os resultados obtidos no conjunto de pontes permitiram constatar, tal como havia sido registado em Almeida (2003), que, em média, as pontes que apresentam maiores deficiências a nível de segurança estrutural e de funcionalidade são as metálicas. Almeida (2003) refere que este facto, verificado também nas pontes registadas na base de dados da NBI dos Estados Unidos da América, possa encontrar explicação na deficiente manutenção e insuficiente reposição dos elementos de protecção do processo de deterioração desse material.

Verificou-se ainda que na amostra de 2008 tanto as pontes de maior comprimento como as de maior vão obtiveram melhores resultados no REG e na segurança estrutural. Por outro lado os grupos das pontes de menor comprimento e das pontes de menor vão apresentaram um maior nível de funcionalidade. No entanto, verifica-se que o rácio da funcionalidade apresenta valores, na generalidade da amostra, baixos, devido principalmente à insuficiência da largura das faixas de rodagem face ao volume de tráfego.

Na comparação entre os dados de 2003 e os dados das inspecções de 2008 pôde comprovar-se que, ao contrário do que se podia estar à espera, o REG não traduziu uma degradação do conjunto das pontes, aumentando o seu valor entre as duas inspecções, essencialmente devido à diminuição da utilidade pública do conjunto e a um acréscimo na segurança estrutural média.

A construção de novas vias e de novas alternativas para o tráfego na rede em estudo, reduziu, em grande parte das pontes, o desvio implicado em caso de fecho e, consequentemente, apesar do aumento do volume de tráfego global, diminuiu a utilidade pública da amostra contribuindo deste modo para o aumento do REG médio.

A reabilitação e reforço estrutural registados em três das pontes da amostra, traduziram-se num aumento importante na segurança estrutural média do conjunto. Por outro lado, o aumento da segurança estrutural em algumas pontes que não sofreram intervenções pode encontrar explicação na atribuição de melhores classificações às componentes das pontes nas últimas inspecções, devido não só à subjectividade inerente das avaliações aos danos e anomalias nas componentes estruturais mas principalmente ao facto de as inspecções realizadas pelo autor não terem sido suficientemente profundas sendo, em alguns casos, incompletas devido à inacessibilidade a algumas zonas da estrutura.

Pode-se concluir assim que, apesar de o algoritmo de cálculo do REGPontes ter vários anos à experiência nos Estados Unidos, provando ser capaz de apresentar dados válidos para a decisão de alocação de fundos, a qualidade dos dados por ele fornecidos depende grandemente da qualidade dos dados recolhidos nas inspecções. Assim, os dados inseridos no programa devem primar pela objectividade, homogeneização e sistematização, sendo para isso necessário “guiar” o inspector durante a recolha de dados, impondo critérios de avaliação pouco ambíguos, mais específicos e mais

inspector para inspector, sendo obviamente, sempre preferível que a avaliação seja feita por um inspector experiente.

Nesta dissertação, foram dados passos para tentar tornar a metodologia do REGpontes menos subjectiva e melhor adaptada à realidade portuguesa. A plataforma do inventário foi inicialmente programada para serem introduzidos dados das inspecções visuais, em que a opinião do inspector em certos itens apreciativos tem um grande peso classificação final. A nova reestruturação do programa teve um objectivo de reduzir esse peso, ao basear-se em normas e avaliar itens consoante os critérios definidos pelas normas. Porém, no item da avaliação do gabarit horizontal, a aplicação do regulamento norte-americano revelou-se inadequado, tendo sido escolhido para o seu lugar a aplicação das normas portuguesas. Embora a atribuição de valores avaliativos específicos a cada critério da norma que era ou não respeitado tenha sido decidido pelo autor, o fundamental desta filosofia é retirar a subjectividade aos dados recolhidos estabelecendo critérios fixos, uniformes para qualquer ponte ou inspector, e mantê-los nas inspecções seguintes.

O estudo das possibilidades de adaptação da ferramenta REGpontes ao contexto português foi ainda levada mais longe, ao comparar e analisar-se os itens apreciativos da condição das componentes da ponte (utilizados na metodologia de cálculo integrada do programa) com o Estado de Conservação, utilizado em Portugal. Os resultados foram satisfatórios, tendo sido propostas equações de conversão entre as duas avaliações. Esta conversão poderá ter utilidade, tanto para adaptar directamente as bases de dados dos SGP portugueses ao REGpontes ou à sua metodologia de cálculo (devidamente alterado consoante as necessidades e critérios de cada entidade gestora de pontes) como para converter dados do REGpontes para bases de dados de SGP portugueses.