Com este trabalho pretendeu-se estudar o processo de valorização energética de lamas biológicas, mediante integração dos processos de secagem de lamas biológicas e co- combustão de lamas com biomassa florestal residual.
Neste capítulo são apresentadas as conclusões deste trabalho e sugestões para possíveis trabalhos futuros.
6.1 C
ONCLUSÕES SOBRE OS RESULTADOS OBTIDOSA co-combustão de biomassa e lamas aparenta ser uma alternativa para a valorização energética das lamas, contribuindo para a gestão de lamas biológicas produzidas nalguns processos industriais. Neste contexto, a tecnologia de combustão em leito fluidizado enquadra-se como uma opção tecnológica a considerar para a conversão termoquímica deste tipo de resíduos. No entanto, este processo apresenta alguns aspetos que carecem de ser resolvidos, nomeadamente questões operatórios e ambientais. Entre as questões operatórias podem-se incluir a corrosão da fornalha, a qual está associada a alguns compostos presentes nas cinzas. Entre os aspetos ambientais podem-se incluir a emissão de compostos gasosos poluentes e a gestão ambiental das cinzas produzidas.
Uma operação de gestão comum aplicada às cinzas resultantes do processo de combustão de biomassa é a deposição em aterro. No entanto, soluções alternativas como a deposição em terrenos agrícolas ou incorporação de materiais, tais como na produção de betão, argamassas e pavimentos, têm sido exploradas. Para qualquer um destes destinos é necessário conhecer em detalhe as características das cinzas. Com este trabalho pretende-se dar também um contributo para o aumento do conhecimento sobre as características físico-químicas das cinzas produzidas durante a co-combustão de lamas biológicas com biomassa florestal.
Durante este trabalho foi estudado o processo de secagem de lamas e de biomassa florestal e a subsequente valorização energética numa operação de co-combustão em reator de leito fluidizado. Foram caracterizadas as condições operatórias durante a operação de combustão e realizada a caracterização das cinzas produzidas.
Durante as experiências de combustão foram caracterizados os perfis de temperatura e pressãoao longo do reator, e a composição dos gases de exaustão em termos de O2,
CO2 e O2 ao longo do tempo. Relativamente aos perfis de temperatura no reator de leito
fluidizado, estes revelaram-se semelhantes para as três experiências de combustão realizadas. Verificou-se que a temperatura aumenta desde do leito até à zona do
freeboard, atingindo um máximo imediatamente acima do ponto de adição do combustível
e ar secundário, seguindo-se uma diminuição da temperatura até à exaustão. A temperatura máxima no reator foi observada durante a experiência com menor percentagem de lamas, ou seja, CLB3, o que está de acordo com o facto de a mistura
combustível apresentar um PCI mais elevado nessas circunstâncias.
Relativamente à composição dos gases de combustão, verifica-se que a concentração de CO2 e O2 são aproximadamente constantes ao longo do tempo, o que mostra que o
sistema operou em estado estacionário. Algumas flutuações de concentração estão relacionadas com flutuações na alimentação de biomassa florestal e de lamas. A concentração de CO nos gases de combustão foi relativamente elevada, e constitui um aspeto a ser melhorado durante o processo de valorização energética de lamas com biomassa florestal.
A caracterização físico-química das cinzas de fundo e volantes foi realizada tendo em consideração a distribuição granulométrica das partículas, a sua composição química, e elementos solúveis.
Da análise da distribuição granulométrica conclui-se que ocorreu a formação de partículas de cinza de fundo com diâmetros superiores a 1 mm (diâmetro máximo das partículas do leito original).
A condutividade da solução de lixiviação das cinzas de fundo variou entre 10,42 mS (para CLB3) e 12,46 mS (CLB1), e para as cinzas volantes registou-se o inverso com a maior
condutividade observada para CLB3, 21,80 mS, e menor condutividade para CLB1, 11,89
mS. Em relação ao pH das soluções de lixiviação, os valores situam-se na gama alcalina para ambas as cinzas, com valores entre 12,77 e 12,00, explicado pela presença de compostos alcalinos.
Relativamente à caracterização química dos elementos solúveis, conclui-se que em relação às cinzas de fundo o cálcio é elemento químico com maior concentração na solução de lixiviação. Os outros elementos químicos com maior concentração na solução de lixiviação incluem o Cl, Na e K. Verifica-se que à medida que se reduz a fração de lamas na mistura combustível a quantidade de Cl na solução de lixiviação diminui.
Nas cinzas volantes não se obteve uma tendência clara para as quantidades de elementos solúveis em função do tipo de cinzas.
A caracterização química das amostras realizadas com recurso à fluorescência raio-X, mostra que nas cinzas de fundo existem baixos valores de perda ao rubro, revelando o baixo teor em inqueimados, quando comparadas com as cinzas volantes. O elemento químico de maior concentração nas cinzas de fundo é o Si, facto explicável pela elevada concentração de areia (maioritariamente quartzo) proveniente do leito original. Por outro lado o elemento químico com maior concentração nas amostras de cinzas volantes é o Ca.
Da comparação entre a composição das amostras de cinzas lixiviadas e não lixiviadas, verifica-se que alguns elementos, como o Mg e o P, apresentam concentrações mais elevadas nas amostras não lixiviadas, o que leva a concluir que estes elementos químicos estão numa forma pouco solúvel.
Foi realizado o estudo do efeito da humidade do combustível sobre a quantidade de energia útil disponível. Concluiu-se que para as condições estudadas, o processo deixa de ser autotérmico a 800 °C para um teor de humidade da mistura de 60 %, a que corresponde a fração de 0,785 de lamas na mistura.
Relativamente ao estudo teórico do processo de secagem de lamas com recurso a calor rejeitado do processo de combustão, este foi realizado com base numa formulação teórica e recorrendo a dados das experiencias de combustão realizadas. Para as condições estudadas verificou-se que o caudal de lamas que se poderia secar é igual 0,843 kg/h, o que representa 49,5 % da massa de lamas da mistura combustível alimentada na câmara de combustão.
6.2 S
UGESTÕES DE TRABALHOS FUTUROSA realização de testes de lixiviação permite que seja efetuada uma análise aos elementos solúveis presentes no material sólido avaliado. No entanto, neste trabalho apenas foi possível proceder-se à análise dos elementos maioritários neles presentes. Como sugestão, é importante proceder-se a uma análise dos elementos minoritários solubilizados durante a realização dos testes de lixiviação, utilizando métodos de análise com um nível de deteção mais apropriado.
Como sugestão final, sugere-se a avaliação prática da secagem das lamas com calor residual do processo de combustão.