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C.2.3 A posição do TRF da 3ª Região

No documento Guilherme Diniz de Figueiredo Dominguez (páginas 122-126)

Em que pese estar sob a jurisdição do Tribunal Regional Federal da 3ª Região o estado mais rico e populoso da Federação (e no qual tramita quase a metade do total de processos do País127), dos 04 resultados indicados pelo mecanismo de busca, nenhum deles

se relaciona ao objeto da presente pesquisa.

Todos são recursos tirados de ações penais envolvendo a atribuição de crimes relacionados à manutenção de “rádio-pirata”. Como se explicou anteriormente, por ocorrência semelhante ter constado entre os julgados indicados na pesquisa junto ao TRF

126 A área de jurisdição do TRF da 3ª Região compreende as Seções Judiciárias de São Paulo e Mato Grosso

do Sul.

127 Conforme dados obtidos na Seção de Análise Judiciária do sítio na internet do Conselho Nacional de

Justiça (<www.cnj.jus.br>). Apenas para fins de ilustração, a taxa de novos processos na 3ª Região é a mais alta das cinco, sendo que, em 2ª instância, no ano de 2008, foram recebidos 398 casos novos para cada grupo de 100 mil habitantes.

da 1ª Região, a razão desses precedentes aparecerem nos mecanismos de busca é a menção nos votos ao Decreto-lei n° 236/67, que em seu artigo 4°, dispõe que “os serviços de radiodifusão somente poderão ser executados pela União, Estados, Territórios, Municípios,

Universidades Brasileiras, Fundações constituídas no Brasil e por sociedades por ações

nominativas ou por cotas”128.

O que torna mais intrigante essa ausência de debate judicial sobre o tema das cotas no TRF da 3ª Região é que das cinco129 universidades federais sob a jurisdição dessa Corte, que congrega os Estados de São Paulo e do Mato Grosso do Sul, apenas a Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), não adota programa de ação afirmativa em seus vestibulares.

Com efeito, a Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), implantou ainda em 2004, por meio da Resolução nº. 24/2004, um aumento de 10% no número total das vagas de todos os seus cursos de graduação, com a finalidade de destiná-las a candidatos afro- descendentes e indígenas, que cursaram o ensino médio exclusivamente em escolas públicas (municipais, estaduais ou federais). Essa política é avaliada anualmente e em 2007 foi mantida pela Resolução nº. 42/2007.

Por seu turno, a Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR) implantou em 2007 o seu Programa de Ações Afirmativas, válido a partir do vestibular de 2008, autorizado pela Resolução ConsUni nº. 541, de 04 de junho de 2007 e regulamentado pela Portaria 695/07,

128 Recurso em Sentido Estrito n°. 200561050018357; Apelação Criminal n°. 199961100052626, Apelação

Criminal n°.200003990488212 e o Recurso em Habeas Corpus nº. 95030338255.

de 06 de junho daquele ano130, inclusive com reserva de vagas para indígenas, sendo certo

que a UFSCAR tem programas de ação afirmativa específicos voltados até mesmo para refugiados políticos, conforme Edital do Vestibular 2010.

Já a Universidade Federal do ABC (UFABC), no Estado de São Paulo, bem como a Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), no Mato Grosso do Sul, passaram a adotar tais políticas muito recentemente, a partir do ano de 2009131.

A hipótese mais plausível para justificar a ausência de julgados sobre o tema no TRF da 3ª Região é a de que a morosidade do Judiciário impediu que recursos sobre essa matéria tenham sido submetidos àquela Corte, que, em função disso, não tem posição definida sobre o tema em comento, e, em verdade, ao menos segundo o levantamento realizado, até o momento não foi provocada a se manifestar sobre a questão.

130 Confira-se o que diz a Portaria a respeito da progressividade e percentual de reserva de vagas: “Artigo 6º.

O Ingresso por Reserva de Vagas de que trata esta Resolução será implantado a partir do ano letivo de 2008, de forma gradual e vigorará por tempo determinado. § 1º. O Ingresso por Reserva de Vagas será aplicado de acordo com o seguinte cronograma: I - para os anos letivos de 2008 a 2010, serão reservadas, a candidatos egressos do ensino público que venham a ser aprovados no processo seletivo para ingresso nos cursos de graduação, 20% (vinte por cento) das vagas de cada um dos cursos de graduação oferecidos pela UFSCar; II - para os anos letivos de 2011 a 2013, serão reservadas, a candidatos egressos do ensino público que venham a ser aprovados no processo seletivo para ingresso nos cursos de graduação, 40% (quarenta por cento) das vagas de cada um dos cursos de graduação oferecidos pela UFSCar; III - para os anos letivos de 2014 a 2016, serão reservadas, a candidatos egressos do ensino público que venham a ser aprovados no processo seletivo para ingresso nos cursos de graduação, 50% (cinqüenta por cento) das vagas de cada um dos cursos de graduação oferecidos pela UFSCar. § 2º. Das vagas reservadas nos termos do parágrafo primeiro, 35% (trinta e cinco por cento) serão destinadas a candidatos negros (pretos e pardos) que venham a ser aprovados no processo seletivo para ingresso nos cursos de graduação da UFSCar. § 3º. Em cada curso de graduação, presencial e na modalidade de Educação à Distância, será acrescida uma vaga anual, não cumulativa, destinada exclusivamente a candidatos indígenas, que venham a ser aprovados no correspondente processo seletivo, e que se esgotará ao término do mesmo. § 4º. O critério adotado para a identificação da cor (raça) dos candidatos negros (pretos e pardos) e indígenas será o de autodeclaração, seguindo-se a classificação adotada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE”.

131 O sítio na internet dessas instituições não disponibiliza a íntegra das resoluções que aprovaram essas

medidas, indicando apenas as informações constantes no edital de vestibular, que ambas as instituições adotam ações afirmativas, por meio de reserva de vagas (cotas), porém também sem especificar percentuais e critérios. Cf. <www.ufabc.edu.br> e <www.ufgd.edu.br>.

De toda forma, considerando que o programa da UNIFESP, por exemplo, foi implementado em 2004, mas com aumento de vagas específico para esse fim e em percentual reduzido (10%) se comparado com o adotado em outros programas pelo País, talvez isso não tenha estimulado a litigiosidade sobre o assunto, porque os possíveis interessados em ingressar na universidade não viram suas chances reduzidas diretamente com a adoção da ação afirmativa.

Os programas das demais universidades federais da 3ª Região são muito recentes, implantados em universidades também recentemente inauguradas (casos da UFAB e da UFGD) e que conforme notícias disponibilizadas em seus sítios na internet enfrentam inclusive dificuldades em preencher todas as vagas oferecidas nos seus cursos nos vestibulares anuais. Novamente, a reduzida concorrência pode atuar como fator de desestímulo à litigiosidade do tema.

Vale realçar que em busca de alguma sinalização do TRF da 3ª Região sobre o assunto, o espectro da pesquisa foi especificamente ampliado para esse Tribunal, empreendendo-se buscas também por decisões monocráticas, eventualmente apreciando alguma liminar em mandado de segurança, mas nem assim foi localizada qualquer recurso versando as ações afirmativas adotadas pelas universidades federais paulistas e sul- matogrossenses.

Logo, por ausência de decisões, ficou prejudicada qualquer análise a respeito do entendimento do TRF da 3ª região à luz das hipóteses formuladas para este trabalho.

No documento Guilherme Diniz de Figueiredo Dominguez (páginas 122-126)