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2.3 – U RBANISMO E COLÓGICO

2.1 C RESCIMENTO I NTELIGENTE

O movimento do Crescimento Inteligente (smartgrowth) surge para contrapor o contexto de urbanização vigente no final do século 20, que favorecia a formação de subúrbios em áreas, até então, rurais. Tais subúrbios, como o próprio nome sugere, não foram concebidos dentro de padrões de ocupação urbana planejada com uso diversificado do solo, frequentemente formando regiões sem infraestruturas básicas locais, forçando as pessoas residentes nessas regiões a se locomover pra ter acesso à maioria dos serviços e, conseqüentemente, às ofertas de trabalho. Essa lógica favorece a poluição de corpos hídricos e do ar, ao consumo desnecessário de combustíveis, ao gasto excessivo do tempo dos cidadãos com locomoção, à queda vertiginosa da qualidade de vida das pessoas, à formação de espaços segregadores, além de diversas outras agressões às pessoas e à natureza, como um todo.

Um plano de Crescimento Inteligente, segundo Duany, Speck e Lydon (2010), baseia-se em premissasde justiça social e supressão de espaços que fomentem qualquer tipo de segregação, além do uso racional dos recursos locais. Nesse sentido, o Crescimento Inteligente busca combater o uso pouco diversificado do solo, criando assim bairros capazes de sustentar, ao menos, as necessidades básicas de seus moradores. Porém, para compreender quais são as necessidades básicas de uma comunidade, os mecanismos participativos tornam-se vitais nas diversas escalas: cidade, bairro, quadra. A boa compreensão do contexto regional, conhecendo suas demandas, anseios e potencialidades, é essencial para se planejar a região com sucesso.

Segundo Akinaga (2014), o planejamento urbano deve prever diversas áreas de transição entre o rural e o urbano, abarcando inúmeros tipos de ocupação e uso solo, como áreas não (ou muito pouco) ocupadas de várzeas de rios, bairros de baixa, média e alta densidade, pequenos e grandes centros urbanos, porém sempre com a devida atenção à capacidade física das áreas para suportar determinados usos. Nesse sentido, considera-se inumeras variáveis para definir e limitar o tipo de ocupação e uso de solo como, por exemplo: número de pavimentos das edificações, recuos, tipo de ocupação do solo, tamanhos mínimos dos lotes, taxa de ocupação, coeficientes de aproveitamento, área mínima permeável, topografia local etc. Para se definir uma transição desejável, considera-se a complementaridade que uma determinada área tem com sua adjacente, considerando as possíveis dinâmicas dessas regiões, especialmente no que diz respeito ao consumo de recursos e na demanda das infraestruturas de transporte.

Idealmente, o bairro deve ser capaz de satisfazer, na escala do pedestre, todas as necessidades básicas de seus moradores e também ter fácil acesso, via transportes coletivos, a toda cidade. Para que um bairro seja capaz de desempenhar tal papel, seus edifícios devem ser compactos e, nas centralidades locais, ter uso misto. Porém, isso não implica na existência de altos edifícios (e compactos) em todos os bairros. Bons exemplos de comunidades confortáveissão algumas estabelecidas em áreas residenciais antigas, que incluem lojas de esquina e pequenos centros comerciais. As densidades nas áreas urbanas antigas são significativamente superiores às dos atuais subúrbios, porém elas são mais confortáveis e habitáveis por usarem a terra de forma eficiente para uma diversidade de usos (CURRAN; LEUNG, 2000).

No bairro também deve haver oferta de habitação, lazer, emprego, cultura e prática de esportes para pessoas de várias faixas etárias e classes sociais, compreendendo assim empreendimentos de diversa índole que sejam conectados ao resto da cidade e entre si por corredores de transportes coletivos, passeios públicos, vias e ciclovias. Em áreas de uso exclusivo como pólos tecnológicos, hospitalares, institucionais, industriais etc, é desejável que os corredores de transporte, que unem essas áreas ao restante da cidade, tenham ao longo de suas vias um uso diversificado do solo. As vias estruturais devem conectar centralidades ou pontos de grande interesse e dividir os bairros, enquanto vias de menor porte devem ser internas aos bairros.

O sistema de transportes tem papel fundamental para o Crescimento Inteligente. As regiões sempre devem ter opções equilibradas, variadas e integradas de modais, facilitando o transporte em diversas escalas do território. Nesse sentido, estações de trens, terminais de ônibus, terminais de integração entre modais etc, são pontos estratégicos para áreas de maior densificação. Projetos pautados em valorizar passeios públicos arborizados, ciclovias seguras e bem sinalizadas, bem como acessos à transportes públicos bem distribuídos, acabam por estimular a locomoção por transportes coletivos, bicicletas ou a pé em detrimento de transportes automotores individuais.

Áreas de verdes interconectadas devem ser incentivadas, tanto por funcionarem como espaços contemplativos ou icônicos, que trazem senso de lugar para os cidadãos, como por auxiliarem na preservação da biodiversidade. Essas áreas verdes podem ser compostas, também, por espaços para a prática de agricultura urbana comunitária, como pequenas hortas e jardins comunitários, espaços estes que funcionam como agentes geradores de empregos locais,

agentes educadores e conscientizadores ambientais e até contribuem com a sociabilidade entre os membros da comunidade, fortalecendo-a.

2.1.1 Vantagens econômicas do Crescimento Inteligente

Os eixos que orientam o Crescimento Inteligente, além de proporcionarem uma série de benefícios de saúde, bem estar social e qualidade de vida, de modo geral, também têm um impacto econômico interessante.

Pensando, por exemplo, em eficiência de transportes coletivos, fica reduzida a necessidade de investimento em implantação ou manutenção de vias e estacionamentos para transportes particulares. Também, é comprovado que a redução dos automóveis particulares é diretamente responsável pela diminuição da poluição do ar, o que, numa cadeia de processos, diminui a necessidade de investimentos públicos ou privados em tratamentos de doenças respiratórias.

Quando se pensa na compacidade de bairros que se tornam auto-suficientes na escala do pedestre, percebe-se que a necessidade do uso de transportes automotores coletivos ou particulares é minimizada, portanto há economia de combustíveis e na manutenção dos veículos.

Considerando a escala de planejamento regional com as diretrizes do Crescimento Inteligente, especialmente no que tange a capacidade física e estrutural das áreas para seus determinados usos elimina-se, por exemplo, estruturas improvisadas para lidar com resíduos sólidos. Essas estruturas improvisadas acabam por contribuir com a poluição de corpos hídricos que, sendo vitais para a sociedade, posteriormente necessitam ser despoluídos a um custo muito alto.

A questão da topografia para determinar o tipo de uso do solo e de projetos tem impacto financeiro em três pontos principais: na economia de combustíveis para veículos automotores, já que um local plano é estimulante para a locomoção a pé ou de bicicleta, portanto, locais onde esse tipo de locomoção for prioritária deverão ser preferencialmente planos; o segundo é na movimentação de terra para se projetar, onde deve-se tentar respeitar ao máximo a topografia de um lote ou então usar, na medida do possível, todo o volume de corte para aterro no mesmo lote ou região; o último ponto é com relação ao aproveitamento do solo superficial, quando há movimentação de terra, pois é mais rico em matéria orgânica e mais

fértil, devendo ser usado para aterrar áreas verdes, economizando parcial ou totalmente a necessidade de tratamentos fertilizantes.

Com as diretrizes do Crescimento Inteligente, os bairros tornam-se mais racionais, agradáveis e confortáveis aos cidadãos, dadas suas áreas verdes e de vivência na escala do pedestre. Uma consequência disso é a valorização econômica dos lotes e imóveis, junto ao mercado imobiliário, fato que pode ser uma qualidade ou ter desdobramentos perversos, como será visto no capítulo 3.

Em vários casos, a inserção de empreendimentos em malha urbanacontribui para que os recursos públicos e privadospossam ser direcionados para a melhoria dos serviçosjá existentes, evitando-se o processo de espalhamentodas cidades e o comprometimento coma expansão contínua dos equipamentos e das redesde infraestrutura. (TRIANA et al., 2010)

2.1.2 Diretrizes iniciais para o Planejamento Regional pautado no Crescimento Inteligente

Como premissas de planejamento, deve-se ter em mente que o Crescimento Inteligente considera dez princípios básicos: uso de solo misto; projeto compacto para edificações; Variedade de alternativas e oportunidades de habitação; Criação de vizinhanças orientadas para pedestres; Estímulo a comunidades atraentes e diferenciadas com forte senso de lugar; Preservação de espaços abertos, áreas agrícolas, de beleza natural e ambientalmente estratégicas; Fortalecimento e desenvolvimento das comunidades existentes; Variedade de alternativas de transporte; Tomada de decisão justa, com boa relação custo-efetividade; Colaboração entre comunidade e partes interessadas na tomada de decisão. (SMART GROWTH NETWORK/ICMA, 2002, 2003).

Um bom planejamento de Crescimento Inteligente, inicialmente, pressupõe que se conheça as áreas verdes da região em questão paraassim compreender os aspectos ecológicos e legais, bem como a função social desempenhada pela área. Dessa maneira, é possível traçar um eixo de crescimento para a região, porém, tomando como uma premissa, a manutenção ou criação de corredores naturais, uma vez que estes são vitais para a proteção da diversidade da fauna e flora locais. Dentre as áreas verdes, algumas que merecem mais atenção, quando de sua

manutenção, são: áreas de alagamento, várzeas de rios, áreas de reabastecimento de aqüíferos, florestas, áreas de produção agrícola, áreas de habitat selvagem significativo, sítios culturais, históricos e arqueológicos e áreas de interesse contemplativo do sistema viário (DUANY; SPECK e LYDON, 2010 apud AKINAGA, 2014).

Após conhecer bem o contexto da região e, especialmente de suas áreas verdes, deve-se identificar que áreas seriam capazes, tanto em termos de recursos, como logísticos, de suportar que tipos de ocupação e qual a solução mais racional de definir essas ocupações e usos do solo. Dessa maneira podemos pensar numa diretriz básica de crescimento onde, primeiro, desenvolvem-se as áreas subutilizadas dentro da malha urbana, as contaminadas brownfields, e próximas aos terminais intermodais. Em seguida, as áreas de crescimento controlado como perímetro da expansão urbana e áreas vazias periféricas. Em seguida, áreas de crescimento restrito como novos empreendimentos periféricos onde já há infraestrutura. Por último, o mapeamento de áreas integralmente protegidas de ocupação, sem infraestrutura e áreas ambientalmente sensíveis (DUANY; SPECK e LYDON, 2010 apud AKINAGA, 2014).

Quando as propostas de diretrizes iniciais estiverem contextualizadas e definidas, deve-se discuti-las com as comunidades que habitam ou habitarão a região planejada. Esse tipo de discussão deve ser feita em diversas etapas e níveis de organizações populares para, só assim, com ampla participação popular nos processos de tomada de decisão, o planejamento definitivo seja traçado e, posteriormente, implantado.

Para que a implantação do planejamento seja viabilizada, de fato, o poder público deve exercer o preponderante papel de gerente e fiscal, atuando em diversas frentes e de diversas maneiras, incentivando, direcionando e fiscalizando os empreendedores da região, isso quando o poder público não for o próprio empreendedor de determinadas obras. Nesse sentido, algumas ferramentas comuns que podem ser usadas pelo poder público são: incentivos fiscais para quem exceder as exigências da região; fiscalização e multas pesadas para quem descumprir os preceitos regionais; e outorgas onerosas, com contrapartidas significativas, para quem exceder, até um limite aceitável, os preceitos regionais.