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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.3 Algumas ferramentas em modelagem de Sistemas Complexos: Autômatos

2.3.2 Cadeias de Markov

Processo de Markov é um processo estocástico em que o estado futuro depende apenas do estado presente, não importando os estados passados. Também pode ser dito como um sistema de transição de estados, que pressupõe estacionaridade na influência das variáveis externas (NORRIS, 1998).

Processos de Markov também podem ser representados pela teoria de grafos. Grafos consistem de nós (ou vértices) que são interligados um ao outro (com diferentes graus de ligação) por meio de arcos (ou links). A teoria de grafos afirma que o comportamento de um sistema segue a ordem de ligação dirigida pelos seus arcos, onde cada nó representa um

estado do sistema, que sendo dinâmico pode assumir o estado de outro nó que esteja a ele conectado. Este padrão de conexões entre os nós (topologia), e a possibilidade de mudanças de estados são os principais objetos de estudo da teoria (HAYES, 2000).

Figura 2 - Grafos e Processos de Markov

Fonte: Meirelles e Almeida, 2007

Na Figura 2, os estados são os círculos e os arcos as possibilidades de transição. A representação matemática deste grafo é a matriz de transição de estado, onde o número de linhas e de colunas corresponde ao mesmo número de estados (nós) existentes no sistema.

Cada elemento da matriz corresponde à probabilidade de mudança do estado do índice-linha para o estado do índice-coluna do elemento; por exemplo, mt23 representa a probabilidade de mudança do estado 2 para o estado 3 em um passo, considerando-se passo o tempo em que ocorre ou é medida a mudança de estado (MEIRELLES e ALMEIDA, 2007, p. 509).

A matriz de transição de estado tem a capacidade de representar o comportamento do sistema descrito por uma Cadeia de Markov. A cadeia de Markov nada mais é que um subconjunto dos processos de Markov, quando se trata de células que possuem seu espaço de estado discreto (NORRIS, 1998). Nesta pesquisa, trabalhamos com cadeias de Markov.

Para se construir a matriz de transição, no caso de a base de dados ser composta por imagens de sensoriamento remoto, podemos fazer uso de ferramentas de álgebra de mapas da seguinte forma:

1. Construir matriz de área

Trata-se de uma matriz construída a partir da análise de duas imagens de sensoriamento remoto em tempos diferentes, mas de uma mesma área. Cada célula desta matriz informa o número de pixels que sofreu transição do estado de origem

(indicado pela linha onde se encontra) para outro estado no período seguinte (coluna correspondente). Na diagonal da matriz estão os elementos da imagem (representados em número de pixels) que permaneceram em um mesmo estado de um período de tempo para o outro.

2. Calcular vetores de estado (X)

O vetor de estado do tempo 1 é calculado a partir da soma de todos os elementos de cada linha da matriz de área, enquanto que para o vetor de estado do tempo 2 soma-se todos os elementos de cada coluna da mesma matriz de área. Subtraindo os valores do vetor de estado do tempo 2 pelos respectivos valores de estado do tempo 1, dentro de cada estado, é possível detectar de forma resumida as mudanças na paisagem. Resultados com valores positivos indicam que houve incremento de determinado estado (classe) na paisagem, enquanto que valores negativos indicam diminuição, e o valor zero mostra que não houve mudança global desse estado entre os dois períodos. Contudo, de acordo com Meirelles e Almeida (2007), essa análise deve ser cuidadosa, pois mascara importantes transições que só podem ser observadas pela correspondente matriz de área.

3. Calcular valores dos campos da matriz de transição de estado (P)

A matriz de transição, também chamada de matriz de Markov ou matriz de probabilidades (KOLMAN; HILL, 2006), é uma matriz estocástica com igual número de linhas e colunas:

Ela é uma representação matemática dos processos de Markov (ou “Cadeias de Markov”) e é uma formalização da modelagem de sistemas, que os descrevem como um processo estocástico. Assim, um sistema é caracterizado pelos seus estados e a forma pela qual eles se alternam (SILVA, 1992 apud MEIRELLES e ALMEIDA, 2007, p. 508).

Cada elemento da matriz de transição representa a probabilidade de mudança de uma classe para outra, e é calculado da seguinte forma: cada elemento de uma linha da matriz de área é dividido pelo somatório de todos os elementos da correspondente linha (vetor de estado). Além disso, "a matriz de transição é dinâmica, pois permite que as probabilidades de transição se modifiquem em função do tempo t, onde t é discreto" (DIMURO, 2002, p.38).

4. Matriz de transição de estado líquida

A matriz de transição de estado (P) apresentada previamente é também referida como matriz de transição global pois, calculada da forma como foi descrita, determina a matriz de transição para um determinado t, em que t representa um período de tempo

transcorrido entre o estado inicial e o estado final. Contudo, podemos querer projetar as tendências de mudanças em unidades menores de t, como por exemplo em bases anuais4. Seguindo as propriedades de matrizes ergódicas, podemos encontrar a matriz líquida tirando a raiz n-ésima da matriz de transição, sendo n o número de passos pelo qual se deseja dividir o intervalo de tempo analisado t (intervalo que foi utilizado para construir a matriz de transição). Por exemplo, se o intervalo foi de 10 anos, podemos dizer que ocorreram 10 passos se quisermos "anualizá-la", ou em 120 passos, se estivermos tratando de meses, e assim por diante. O que pode ser mais facilmente compreendida pela seguinte expressão (CUEVAS; MAS, 2008):

= (1) Onde P é a matriz de transição global, H e V são seus autovetores e autovalores, respectivamente, e 1/t é a fração desejada do intervalo de tempo (por exemplo, se o intervalo de tempo for de 10 anos, a fração anual corresponderia a 1/10 = 0,1) (CUEVAS; MAS, 2008).

Por meio desta propriedade encontramos uma nova matriz p, agora líquida. Isto nos permite trabalhar com as probabilidades de Markov da seguinte forma:

( )= * ( ) (2) Onde ( )é o vetor de estado, p é a matriz de transição líquida e n é o número de passos dentro do intervalo t. Assim, como resultado deste cálculo, teremos a projeção do estado do sistema no tempo t +1.

Para além das propriedades Markovianas, podemos incrementar nosso modelo dinâmico da paisagem integrando as potencialidades dos autômatos celulares. Esta integração é vista com mais detalhes no item a seguir.