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15. Gráfico resultado teste 6

5.1 CAFEÍNA E FLEXIBILIDADE

Ao início da pesquisa não tinha-se certeza de como a flexibilidade se comportaria quando as atletas seriam expostas à cafeína, uma vez que um dos grandes limitadores relatados pelos praticantes de exercícios de alongamento é justamente a dor gerada pelo estiramento e a cafeína demonstra um efeito analgésico em outras situações além de que um dos efeitos da suplementação com termogênicos é o aumento da temperatura corporal e isso pode facilitar o alongamento tornando-o mais confortável e possivelmente aumentando a amplitude do movimento (COELHO, 2007). Porém quando analisado mais afundo como o processo doloroso desse tipo de exercício ocorre deixou-se uma dúvida sobre a eficácia da cafeína nessa realidade já que outro efeito esperado após a ingestão de cafeína é a sensibilização do retículo sarcoplasmático aumentando a eficiência da contração muscular e dessa forma podendo aumentar a ação reflexa dos músculos antagonistas ao movimento dificultando o ganho de amplitude.

Nas figuras 1 e 2, onde vemos uma melhora das aberturas antero-posteriores direita e esquerda quando utilizada a cafeína, podemos ver que existe uma grande possibilidade que sob a influência da cafeína a flexibilidade dos membros inferiores pode ser afetada positivamente, um dos mecanismos que pode explicar o aumento da flexibilidade observada nos resultados da presente pesquisa é o aumento do limiar da dor. Em estudos realizados nota-se que uma diminuição na percepção de dor quando ingerida a substância cafeína é bem documentada, um desses estudos demonstrou esse comportamento quando analisado os músculos dos membros inferiores em homens durante sessões de exercícios submáximos (MOLT, O’CONNOR & DISHMAN, 2003). Posteriormente, esses mesmos resultados foram encontrados por outro grupo de pesquisadores, que comparou as diferenças na percepção de dor do grupo muscular quadríceps durante o exercício quando ingerido uma dose alta

(10mg/kg) e uma dose média (5mg/kg) de cafeína em um grupo de sujeitos treinados, os resultados mostraram que a percepção de dor foi menor em ambos os casos quando comparados com placebo (O’CONNOR et al, 2004).

Durante a análise de estudos mais recentes foi percebido que os mesmos demonstram resultados contrários a esses encontrados. Astorino e colaboradores (2011) encontraram que a ingestão aguda de cafeína 30 minutos antes de um exercício de alta intensidade (40 repetições de extensão de joelho) melhorou o desempenho de homens treinados em diversos aspectos, porém, a percepção de dor não foi significativamente diferente quando comparado cafeína e placebo. Em outra oportunidade resultados semelhantes foram encontrados, dessa vez em um teste de ciclismo contra o relógio de 10 km, nesse caso foi demonstrada uma melhora de aproximadamente 3% no resultado final do teste quando o mesmo foi feito sob a influência de 5 mg/kg de cafeína contudo, a percepção de dor se manteve parecida tanto com cafeína quanto placebo (ASTORINO et al, 2012).

Sob outro ponto de vista, a cafeína por ser uma substância termogênica tem como um de seus efeitos colaterais o aumento da temperatura corporal, e consequentemente a temperatura do tecido muscular. Coelho (2007) em sua revisão cita o trabalho de Fukami e Wilkinson (1977) que traz a informação de que através do aumento da temperatura intramuscular, o tecido conectivo cede mais facilmente ao alongamento e dessa forma a sensibilidade dos órgãos tendinosos de Golgi tende a aumentar levando à uma inibição muscular maior explicando a melhora encontrada no presente estudo.

Apesar de todas essas evidências cientificas relacionando a percepção de dor de um indivíduo e o aumento da temperatura corporal com a ingestão aguda de cafeína, até o presente momento não foram encontradas situações onde a dor em questão tenha sido gerada por exercícios de alongamento, onde a flexibilidade é a capacidade física explorada, ou onde a termogênese da mesma tenha sido testada para comprovar seus efeitos sob essa capacidade física. Com base nos resultados obtidos nesse estudo é possível imaginar que assim como nos exercícios resistidos e aeróbios, a percepção de dor nos músculos anteriores e posteriores dos membros inferiores pode ser diminuída o suficiente para que os índices de flexibilidade das atletas de nado artístico possam melhorar consideravelmente, sendo auxiliados pelo aumento da temperatura corporal.

Um aspecto interessante que pode ser abordado foi o comportamento oposto que a flexibilidade demonstrou quando comparados os resultados do primeiro e do segundo teste, acredita-se que isso se deve ao fato de que o teste de número um utilizava a flexibilidade de forma passiva que por definição é a maior amplitude de movimento possível da articulação obtida por meio da atuação de forças externas, no caso, o próprio peso corporal da atleta (BADARO, DA SILVA E BECHE, 2007), enquanto que no teste de número dois a flexibilidade ativa era solicitada. Acredita-se que enquanto na flexibilidade passiva o principal limitador é a dor gerada pelo alongamento extremo das estruturas que envolvem a articulação, principalmente os músculos e tendões, na flexibilidade ativa o grande limitador é a falta de força em um determinado grupamento muscular para atingir a maior amplitude daquela articulação. Uma vez que a cafeína já demonstrou um efeito analgésico em estudos anteriores entende-se o motivo da possível melhora no teste de flexibilidade passiva, enquanto que no giro de ariana seria necessária um aumento na força para obter melhores resultados.

Graham (2001) nos traz a informação de que a cafeína possui um efeito ergogênico principalmente com atividades aeróbias e anaeróbias que necessitam repetições, sendo que não foram encontrados indícios científicos que a mesma influencia na força máxima exercida por um músculo ou grupamento muscular. Esses achados foram confirmados mais tarde por outro grupo de pesquisadores que em seu estudo encontraram que a suplementação de cafeína não aumentou a performance de atletas treinados em testes de uma repetição máxima (WILLIAMS et al, 2008), essas evidências corroboram os achados na presente pesquisa.

Outro fator relevante é o fato da amostra ser constituída somente por atletas do sexo feminino, existem obras que indicam que o rendimento esportivo pode ser maior durante o período pós-menstrual devido à alterações hormonais enquanto que no período pré-menstrual esse desempenho tende a ser inferior devido aos sintomas que são apresentados nessa fase, contudo os autores relatam que essa alteração tem um caráter individual (FLECK e KRAEMER, 2014 apud NEIS e PIZZI, 2018). Relacionando essas alterações hormonais diretamente com o desempenho da capacidade física da flexibilidade não foi encontrada diferença significativa nos estudos encontrados, sugerindo que os efeitos hormonais relacionados com as fases do ciclo menstrual não afetam os índices de flexibilidade (CHAVES, SIMÃO e ARAÚJO, 2002; MELEGARIO et al, 2006). Todavia, todas as atletas que foram

avaliadas na presente pesquisa foram analisadas no mesmo período do ciclo menstrual (mais informações no tópico da metodologia), anulando assim qualquer efeito que o mesmo possa ter em ganhos de performance.

Com a relação flexibilidade x cafeína, o conhecimento científico abordando essa relação está sendo realizada de forma pioneira nesse estudo e nossos resultados indicam pela primeira vez que a cafeína pode melhorar a flexibilidade.

5.2 CAFEÍNA E TÉCNICAS EXPLOSIVAS DO NADO ARTÍSTICO (ALÇADA DE

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