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CAPÍTULO I O CAIPIRA

1.4 Os Jecas de Lobato e Mazzaropi

1.4.2 O caipira de Mazzaropi – Jeca Tatu

Amácio Mazzaropi nasceu em 9 de abril de 1912, na cidade de São Paulo. Era filho de pai italiano, Bernardo Mazzaropi, e de mãe descendente de portugueses, Clara Ferreira Mazzaropi.

Aos 14 anos de idade, mudou sua identidade para 19 anos e viajou com o circo La Paz, no qual se apresentava contando piadas. Com 20 anos, já conhecido no cenário nacional, juntamente com os pais, montou o Pavilhão Mazzaropi, um barracão de madeira e lona, instalado inicialmente em Jundiaí e, posteriormente, percorrendo diversas cidades brasileiras. No final de 1945, iniciou suas atuações no Teatro Colombo, em São Paulo, onde permaneceu por um ano.

Em 1946, a convite de Demerval Costa Lima, estreou na rádio Tupi, onde permaneceu por sete anos com o programa Rancho Alegre, no qual encenava seu programa humorístico sertanejo. Com seu linguajar puro e sem mesclas, agradou ao público ouvinte, o que promoveu, em 18 de setembro de 1950, sua estréia na tevê Tupi. Levou para a tevê o mesmo programa que fazia na rádio, Rancho Alegre, tendo como parceira Geny Prado. Nesse programa, Mazzaropi encenava um caipira esperto, romântico e cantador, que se tornou o caipira mais conhecido do Brasil.

Seu primeiro filme, Sai da Frente, de 1951, ainda em preto e branco, foi produzido pela Companhia Cinematográfica Vera Cruz, em São Paulo, no qual ele era o ator principal. Na Vera Cruz, entre 1951 e 1953, foram realizados três filmes, Sai da Frente,

Nadando em Dinheiro e Candinho. Passou, depois, pela Companhia Cinematográfica do

Brasil Filmes LTDA, Companhia Fama Filmes, Cinedistri, até que, em 1958, pela PAM (Produções Amacio Mazzaropi), produz seu primeiro filme, Chofer de Praça, no qual era produtor, diretor e ator principal.

Em 1959, produz o filme que consolidou seu espaço no cinema brasileiro e estabilizou sua produtora: Jeca Tatu. O filme Jeca Tatu foi inspirado na história de Jeca Tatuzinho, criada por Monteiro Lobato e divulgada para todo Brasil em revistas do laboratório Biotônico Fontoura. A personagem Jeca já era conhecida, facilitando assim a divulgação do filme. Para sua produção, Mazzaropi procurou a empresa farmacêutica para obter os direitos autorais da história, que foram cedidos sem ônus. Por isso, os letreiros do filme traziam a frase: “Esta história é baseada no conto Jeca Tatuzinho cujos direitos autorais foram cedidos graciosamente pelo Instituto Medicamenta Fontoura S/A, expresso aqui meu agradecimento – Mazzaropi”(FERREIRA, 2001 :115).

A produção do filme foi realizada na cidade de Pindamonhangaba, interior de São Paulo, na fazenda emprestada por Cícero Prado, com elenco composto por Amacio Mazzaropi, Geny Prado, Roberto Duval, Nicolau Guzzardi, Marlene França, Nena Viana, Francisco de Souza e Mirian Roy. Participação musical de Agnaldo Rayol, Lana Bittencourt, Tony Campelo e Cely Campelo. O diretor de produção foi Felix Aidar (OLIVEIRA, 1986:65).

Embora Mazzaropi já interpretasse o caipira no filme Jeca Tatu, ele procurou traduzir para o cinema o caipira que o público espera ver, de acordo com o almanaque de Lobato. Por isso, mostrou um caipira preguiçoso, acomodado, incapaz tomar qualquer atitude para modificar sua condição miserável de vida. Quanto aos aspectos físicos, procurou ser de acordo com Lobato, usava roupas remendadas, bigode e cavanhaque ralos, não usava calçados. Sua casa era de sapé e com poucas mobílias. Evitava tratar com autoridades ou pessoas de níveis superiores, era subserviente em relação aos poderosos.

7 Histórico da Obra: Jeca Tatu. Documento adquirido no Sítio do Pica Pau Amarelo na cidade de Taubaté. In

Figura 4: Revista SHOWTIME COMÉDIA, Abril /2006, p. 6.

A família é paternalista, a figura da mulher é fragilizada, é responsável pelo trabalho doméstico, e algumas vezes externo do rancho, pois Jeca é preguiçoso e usa o argumento de que está cansado. No convívio com a esposa, ele demonstra a masculinidade que lhe falta na rua ao tratar com as autoridades. Fatos que caracterizam uma sociedade rural paternalista e arcaica (FERREIRA, 2001, 51).

Os filhos são dois meninos pequenos, que aparecem apenas brincando e não têm função relevante na história. Porém, a filha mais velha, Marina, é objeto de desejo do mocinho e também do bandido da história. O mocinho (Marcos) é o filho do vizinho italiano (Giovani) e discorda das atitudes do pai em relação ao Jeca. O bandido é Vaca

Brava, que tenta de várias formas provocar divergências entre Jeca e Giovani e, assim,

casar-se com Marina. Entre os feitos de Vaca Brava está o suposto roubo de uma galinha, o que acarreta na prisão de Jeca, além de uma agressão a Marcos, que resulta no incêndio da casa da família do caipira.

Jeca Tatu e Vaca Brava:

A transformação da vida de Jeca, no filme, não ocorre devido ao esclarecimento a respeito das moléstias, como no conto de Lobato, e sim através de manobras políticas. A mudança ocorre após Jeca trocar suas terras por mantimentos na venda, e do incêndio em sua casa. Assim, o caipira e a família, não tendo onde morar, decidem deixar a região, porém os empregados de Giovani se reúnem para ajudá-los, oferecem objetos, e conseguem uma conversa de Jeca com o coronel local. Após a conversa, ele vai à cidade grande falar com o candidato a deputado, Doutor Felisberto, em quem os lavradores garantem votar em troca de Jeca receber novas terras. Ao receber novas terras, os empregados de Giovani o ajudam a reconstruir sua casa, porém, enquanto todos trabalham, Jeca dorme, continua preguiçoso. Por fim, Jeca aparece rico, bem vestido, e até os animais da fazenda usam botas; sua filha está casada com o filho de Giovani.

Portando, após definirmos o caipira, seu modo de ser, de se relacionar e as transformações pelas quais passou, o compararemos, posteriormente, com a personagem dos quadrinhos Chico Bento para avaliarmos como é o caipira figurativizado por Maurício de Sousa.

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