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5. Discussão Geral e Conclusões

5.2. URE Caju

Os resultados obtidos para as várias alternativas tecnológicas estudadas, tendo em consideração a quantidade e composição dos resíduos a tratar, as condições e meios logísticos já instalados e as vantagens e desvantagens ambientais, económicas e sociais identificadas para cada tecnologia, apontam para que a solução mais favorável seja o tratamento térmico dos resíduos sólidos urbanos recebidos na ETR do Caju e, dentro desta tipologia de solução, destaca-se como

a mais interessante a implantação de uma unidade de recuperação de energia (URE) por incineração.

Efetivamente, no caso concreto, a URE é a alternativa que apresenta o valor mais elevado ao nível das receitas anuais e o menor período de payback, entre as tecnologias a construir de raíz. A solução de aterro com recuperação de biogás é a que apresenta o período de payback mais reduzido, devido ao fato de se considerar apenas o investimento da instalação de um sistema de recuperação de biogás no aterro de Seropédica, o que se traduz num menor custo de investimento comparativamente ao necessário para a implementação de uma URE. No entanto, será de realçar que esta solução apresenta um tempo de vida útil inferior ao da URE a construir, o que obrigaria a um novo investimento a médio prazo.

A solução de TMB com produção de CDR também poderia ser uma alternativa a ponderar, uma vez que tem um período de retorno apenas um pouco superior à alternativa da URE, mas a menor geração de receita anual, a maior sensibilidade do processo para obter um produto de qualidade e a dependência de um mercado capaz de realizar o escoamento e a queima do CDR produzido, retira atratividade a essa alternativa.

Já a solução de implementação de um digestor anaeróbio mostrou-se económico- financeiramente inviável, tendo em consideração os dados previsionais de projeto apresentados. Do ponto de vista ambiental, a solução mais favorável é também a implementação de uma URE, tanto pela segurança que a tecnologia e o seu sistema de controlo asseguram – embora não se possam ignorar as emissões gasosas do processo de combustão –, como pela significativa redução que vai permitir do tráfego de caminhões entre a ETR Caju e o aterro sanitário de Seropédica.

No caso da solução de aterro com recuperação de biogás, seriam de esperar impactos ambientais mais significativos, representando custos e externalidades ambientais relevantes relacionados com a destruição e degradação paisagística devido à presença e utilização permanente de uma infraestrutura de grande dimensão, ao esgotamento da sua vida útil num período mais curto e ao potencial contaminante dos resíduos depositados patente durante todo período de vida do aterro e após o seu encerramento.

Por outro lado, além do aterro representar um montante maior de emissão gases de efeito de estufa (GEE) relativamente à URE, apresenta também menor eficiência de geração de energia elétrica, visto que em aterro a mesma quantidade de RSU apenas permitirá cerca de 20 % da produção de energia gerada por uma URE.

Há alguns aspetos que podem afetar os custos, os riscos de engenharia ou as condições de execução do projeto.

Relativamente ao potencial de impacto sobre os lencóis freáticos próximos à superfície, a área selecionada situa-se numa região de cota reduzida.

Quanto a vulnerabilidades do terreno, será necessário proceder a uma escavação para permitir as fundações e a instalação da unidade, devendo atingir pelo menos cerca de 5 metros abaixo do nível atual do solo. Devido à movimentação de solo e à eventual necessidade de rebaixamento do lençol freático, será obrigatório o adequado planejamento do destino final do

solo e da água descartadas, tendo em conta o seu eventual estado de contaminação associado ao seu uso pretérito.

Ao nível de riscos biofísicos, é necessário avaliar o risco de inundação face a eventos climáticos extremos.

Mas, de qualquer forma, a prova da efetividade da tecnologia WTE é a quantidade de incineradoras instaladas nos EUA e principalmente na Europa, com mais de 430 unidades operando e quantidades de 54 milhões de toneladas de RSU tratado no ano de 2013. Também ressaltando sua integração em relação aos centros urbanos como é o caso da estação de Spittelau em Viena, Àustria (Proposal, 2015).

A juntar a este fato o Bairro de Caju, onde será implementada a URE, é retratado como uma zona de diversos impactes ambientais. O acesso a Avenida Brasil, existem cinco cemitérios que funcionam à entrada do bairro, geradores de poluição atmosférica; A zona portuária com circulação de camiões de transporte de mercadorias que promovem poluição sonora e atmosférica devido à emissão de gases poluentes; A Estação de Tratamento de Esgoto Alegria, com emissão de odores nauseabundos; Existência de um vazadouro ao céu aberto, com resíduos não tratados que ficam na margem da Baia de Guanabara.

As ocorrências frequentes, de moradores locais sofrerem acidentes devido ao grande movimento de veículos e também por problemas de saúde devido à poluição do ar. Devido a esses aspetos perversos que modificaram o urbanismo local a partir do século XIX, justificou-se a criação de uma incineradora de resíduos sólidos com tecnologias limpas para melhoria das condições ambientais do local.

O projeto ainda encontra-se em fase levantamento de dados para o estudo completo de impactes ambientais, que dada a realidade local será necessário uma abordagem minuciosa, para que esta tecnologia surja como uma mais-valia e não como um acréscimo a um urbanismo crítico.

Mas, seja qual for a realidade local, a estratégia ideal de gestão de recursos para resíduos sólidos urbanos é evitar a sua geração em primeiro lugar. Em 1993, uma Comissão Real sobre a poluição ambiental na Inglaterra emitiu um procedimento de decisão de quatro estágios, dos quais as duas primeiras etapas afirmam:

a) Sempre que possível, evitar a criação de resíduos,

b) Onde os desperdícios são inevitáveis, recicle-os se possível.

Isso implica a mudança dos padrões de produção e consumo para eliminar o uso de produtos descartáveis, não reutilizáveis, não-retornáveis e embalagens.

Uma gestão integrada de resíduos sólidos é essencial para estabelecer uma hierarquia geral de resíduos para identificar os elementos-chave. Esta deverá ser composta pela seguinte ordem: 1. Reduzir;

2. Reutilização; 3. Reciclar;

4. Minimização de resíduos e recuperação de energia a partir de resíduos por compostagem, digestão anaeróbia, incineração, etc;

O custo de construção e operação de incineradores ou fornecimento de aterros especiais é enorme. Se partes substanciais destes fundos fossem desviados para minimização de resíduos e incentivo a reciclagem, a necessidade de eliminação de resíduos poderia ser enormemente reduzida, além de reduzir os perigos resultantes tanto da incineração como do aterro sanitário. É essencial explorar o potencial de tecnologias ecológicas, como a digestão anaeróbia (AD), para o tratamento de resíduos urbanos, porque tem a promessa de abordar duas preocupações ambientais de grande importância - gestão de resíduos e energias renováveis (Zafar, 2008).

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