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“O CASO DAS CALDAS DA RAINHA”

Digitalizado por Margarida Rézio Fonte: Câmara Municipal das Caldas da Rainha

“Essas cidades, com medidas e gentes diferentes, estruturam por efeito interagente a cidade de hoje que não cresce ao acaso, mas por onde e conforme os seus executores podem, que não se apresenta homogénea, mas diferenciada histórica e socialmente nas zonas que a compõem. Todavia, cada uma destas cidades é em cada momento “a cidade” de que os seus participantes de circunstancia podem ter consciência e sobre a qual agem. É, na linguagem de R. Ledrut, o “espaço agido.” (Luís Baptista, 1999: 5)

89 2. A Cidade: Organização Espacial e Social

O desenvolvimento social e territorial local inicial, da cidade das Caldas da Rainha, verificou-se num intervalo de tempo de vinte e seis anos, coincidente, praticamente com a conclusão das obras do edifício termal, permitindo e contribuindo para que o local das “Caldas de Óbidos” fosse elevada a vila. Facto que ficou a dever-se à transformação física do espaço exterior ao edifício, com o aumento de habitações em torno do hospital. Constituindo-se assim inicialmente como vila e freguesia.

Figura 1 Praça Velha, Praça das Gralhas e actual Praça da fruta

Fotografias de Margarida Rézio (2008) Fonte: Do Próprio

A vila cresceu em número de arruamentos, fogos, habitantes e de pessoas que vinham das zonas circunvizinhas comercializar os seus produtos agrícolas na praça velha junto ao edifício do Hospital Termal, figura1. Assim como começaram a fixar-se moradores, construindo habitações para viverem ao mesmo tempo que trabalhavam a terra vendendo localmente os produtos agrícolas que produziam criando zonas específicas e diversificando o funcionamento da cidade. “O funcionamento da cidade

constituirá um vector fundamental de planeamento. (…) A lógica funcionalista zonifica a cidade por funções e determina a concepção urbana por sistemas independentes – o sistema de circulações, o sistema habitacional, o sistema de equipamentos, o sistema de trabalho, o sistema de recreio, etc - sistemas esses que se localizam no território autonomamente, em função de lógicas próprias e de problemas específicos.” José

90 Figura 2 Pontos Destacados: Organização Espacial do Primeiro Núcleo Habitacional

Fotografia de Margarida Rézio (2008)

Fonte: Hospital Termal Património do CHON

Após verificar-se o primeiro impulso de povoamento da vila parece também ter- se começado a consolidar vida e malha social iniciando-se uma cultura termal de base. A Revista Álbum das Caldas (1940:15) refere-se e dá-nos conta do número de habitantes e do alargamento do espaço urbano, com ilustração através de cartografia da época, ao fim de um século da sua fundação, planta da figura nº3.

Figura 3 Planta das Caldas da Rainha em 1640

Fonte: Revista Álbum das Caldas, 1940 – Tipografia Caldense

Primitiva organização espacial

O primeiro núcleo habitacional:  Igreja Espírito Santo  Hospital Termal  Igreja N.S.ª Pópulo  Rua nova

 Paço (actual Museu)

N

S “Obra notável desde a sua

fundação, única no nosso País e só há poucos anos imitada, mas nunca excedida, em nações de civilização muito adiantada. Verdadeira Instituição de Assistência Social (…). In Revista Álbum das Caldas (1940:15), Artigo “O Maior Estabelecimento Termal da Península”

91

“A vila e seu termo, constituídos então apenas pelos logares do Campo, Avenal e Casal Novo, tinham 800 habitantes, em 193 fogos, assim distribuídos:

Rocio………..…….42 fogos» Rua Nova………....26 fogos» Rua do Hospital………….13 fogos» Rua do Espírito Santo…..23 fogos» Jogo da Bola……….…….16 fogos» Rua dos Fornos…………...4 fogos» Rua de Baixo……….11 fogos» Praça……….………4 fogos» Rua Direita……….17 fogos» Cabo da Vila………..…...20 fogos» Avenal………...8 fogos» Moinhos………....5 fogos» Quinta dos Pinheiros…….4 fogos»

Fonte: Revista Álbum das Caldas, 1940 – Tipografia Caldense

Várias personalidades, distintas individualidades, e visitantes, além dos “banhistas”passaram a frequentar a vila termal parecendo assentar nesta base, tanto económica como social, a expansão territorial e o desenvolvimento local, que foi estruturando o espaço exterior ao edifício termal permitindo o alargamento das suas fronteiras absorvendo territórios expandindo-se para o espaço circundante exterior ao seu património. E assim também se desenvolvesse a vida urbana com características próprias e vivência social local como refere e nos dá conta Augusto da Silva Carvalho (1885). “…em 17 de Novembro de 1525, a povoação era ainda muito pequena,« (…)

tem no corpo da villa 70 visinhos, dos quais 6 clerigos e 10 viuvas e o mais he povo(…) Os casais do ermo da vila tinham na mesma ocasião apenas 14 vizinhos(…) ».” Augusto da Silva Carvalho (1885:62).

Na mesma lógica de desenvolvimento social e territorial local de coexistência, parecia que a vila das Caldas estava e vivia imbuída da mesma dinâmica e cultura termal que se consolidou como explica José Lamas (2000), ao afirmar que “Na cidade antiga, as diferentes funções misturavam-se e coexistiam no mesmo bairro, no mesmo quarteirão, no mesmo prédio.” José Lamas (2000:304),

92 Isto mesmo se pode verificar na cartografia da Fig.4 onde se sublinhou delimitando a traço preto com preenchimento a amarelo a primitiva zona que originou a primeira expansão urbana, a partir da reconstrução e (re) situação do lugar das Caldas de Óbidos, aquilo que Carlos Fortuna (1999) entre Identidades, Percursos e Paisagens Culturais apelida de desalienação dizendo. “Na cidade tradicional, então, a desalienação implica

a reconquista efectiva do sentido do lugar e a construção e reconstrução de um conjunto articulado em que a memória possa ser retida e em que o sujeito se possa situar e resituar ao longo das suas trajectórias móveis e alternativas.” Carlos Fortuna (1999:23). Correspondendo o traço a vermelho ao ciclo de expansão urbana que se seguiu para o exterior do património termal.

Figura 4 A Cidade Tradicional

Digitalizado por Margarida Rézio

Fonte: Câmara Municipal das Caldas da Rainha

Nesta perspectiva, uma das fases iniciais de expansão urbana, Caldas da Rainha fig. 3 pág. 90 aparece retratada e ou representada através da primitiva urbanização, as casas que se distribuíam ao redor e junto do hospital. O que terá levado à formação do largo das vacas - actual Largo João de Deus figuras 5/6 pág. 93/94 - por aí se

93 localizarem os currais que abrigavam os animais e alfaias agrícolas pertencentes também ao hospital balneário espaço urbano, onde se desenrolava a vida social local de cariz termal.

Figura 5 Largo João de Deus.

Fotografias de Margarida Rézio (2007)

Fonte: do próprio e Hospital Termal Rainha D. Leonor, Património do CHON Igreja do Espírito Santo:

Propriedade do Hospital Termal e encerrada ao culto ►Camaroeiro Real

►Prédio devoluto

►Alojamento de Termalistas (Casa cor de rosa)

94 Figura 6 Largo João de Deus: O edificado Urbano

Fotografias de Margarida Rézio (2007) Fonte: do próprio e Hospital Termal Rainha D. Leonor, Património do CHON

LARGO JOAO DEUS

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