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A pesquisa apresentada compreende um processo de investigação e compreensão dos significados atribuídos às cantigas populares como um instrumento didático para alfabetizar letrando, que é o foco do estudo.

Este trabalho baseia-se em uma pesquisa qualitativa que, segundo Lüdke e André (1986), compreende o contato direto do pesquisador tanto com o ambiente quanto com a situação investigada através do trabalho de campo e diz respeito aos dados da realidade, cujo material é rico em descrições de pessoas, situações, acontecimentos, etc.

Numa pesquisa qualitativa o pesquisador deve estar atento ao maior número possível de elementos que se apresentam na situação estudada, pois um assunto aparentemente sem importância pode ser a chave para uma melhor compreensão do problema (LÜDKE E ANDRÉ, 1986).

Para a coleta de dados utilizou-se a observação, que é um instrumento de investigação controlada e sistemática. A observação subentendeu um planejamento cuidadoso do trabalho e uma rigorosa preparação do observador para determinar com antecedência ‘o quê’ e ‘o como’ observar. A primeira tarefa da pesquisa consistiu em delimitar o objeto de estudo, definindo de maneira clara o foco da investigação e sua configuração espaço-temporal, deixando mais ou menos evidentes quais aspectos do problema seriam levados em conta pela observação e qual a melhor forma de conseguí-los (ver roteiro de observação – Anexo A).

Assim, o foco do presente estudo consiste em examinar o uso das cantigas populares como um instrumento didático para a alfabetização e o letramento nas salas de aula de duas professoras alfabetizadoras (1º ano do 1º ciclo) da Rede Municipal do Recife. Para tanto, fez-se necessário escolher as docentes com base em critérios mostrados no tópico a seguir.

2.1 As professoras e as observações de suas aulas

Para a escolha das docentes foi realizada, inicialmente, uma pesquisa piloto através da qual se aplicou uma entrevista semi-estruturada a seis professoras de alfabetização (1º ano do 1º ciclo) da Rede Municipal do Recife (roteiro da entrevista – Anexo B). Esta entrevista teve como objetivo escolher, dentre as docentes entrevistadas, as participantes da atual pesquisa, uma vez que propiciaria o conhecimento sobre quais delas realizavam trabalhos com cantigas populares em suas salas de aula de alfabetização.

Para a elaboração da entrevista foi tomada como base a idéia de Lüdk e André (1986), segundo a qual a entrevista semi-estruturada se apóia em um esquema básico cuja aplicação não é rígida, permitindo que o entrevistador refaça as perguntas endereçadas, as amplie ou crie outras. As perguntas e suas respostas foram registradas por meio da gravação direta, em áudio e transcritas posteriormente.

Durante a entrevista se atentou para as respostas apresentadas pelas professoras, principalmente sobre seus posicionamentos frente ao modo como elas concebiam o processo da alfabetização. Foi determinante para a escolha das duas docentes a observação de que uma delas deixou entrever uma visão de alfabetização voltada para uma perspectiva sócio-histórica e a outra, apresentou uma visão de alfabetização que se caracterizou como sendo mais tradicional. Tal critério teve como objetivo constatar se as duas professoras apresentavam diferenças significativas em suas práticas na sala de aula. Por razões éticas ambas as docentes são designadas, no decorrer do estudo, como P1 e P2, respectivamente.

P1 tem curso superior de Pedagogia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e especialização não concluída em Educação Infantil, atuando há quinze anos como docente, dos quais dez anos foram dedicados à alfabetização. A professora trabalhava os dois horários na

mesma escola. Sua sala de aula era pequena, mas bem aconchegante, com mesinhas de quatro cadeiras e as paredes ocupadas por músicas, parlendas, alfabeto e outros objetos escritos.

P2 tem curso superior de Pedagogia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e trabalha há oito anos como docente, dos quais apenas dois anos dedicados à alfabetização. Esta também exercia a função de docente nos dois horários – no período da manhã ela lecionava em uma escola particular do Recife. Sua sala de aula tinha um tamanho médio com carteiras para alunos maiores e as paredes também continham cartazes com músicas, alfabeto, trava-línguas, etc.

Ambas as professoras participavam das capacitações oferecidas aos professores da Rede Municipal de Ensino do Recife11.

O estudo partiu, assim, de observações das atividades de ensino das duas alfabetizadoras citadas, nas quais observavam-se as presenças de cantigas populares. Desse modo, o campo da investigação foram as salas de aula das duas docentes.

As observações realizaram-se ao longo de quatro meses, compreendendo um total de trinta e uma horas e dez minutos, alcançando-se dez observações para cada professora. Os números de horas dedicados a essas observações foram distribuídos da seguinte forma: vinte horas e dez minutos na sala de aula de P1 e onze horas na sala de aula de P2. A diferença nesse número de horas deveu-se ao fato de que P1 dedicava toda a sua aula a atividades que partiam das cantigas trabalhadas, enquanto que P2 dedicava apenas uma hora e meia, mais ou menos, a esse trabalho.

Durante nove aulas as professoras trabalharam de forma autônoma e sem qualquer conhecimento prévio da pesquisadora acerca da cantiga a ser trabalhada ou de qualquer outra informação que pudesse constar em algum planejamento das aulas. Após essas nove aulas foi- lhes solicitado, para a décima e última aula, um planejamento (ver Anexo C) para o trabalho com

11 Dentre estas capacitações destaca-se o Curso Alfabetização: apropriação do sistema de escrita alfabético

uma cantiga popular: Noite Feliz, considerando que era época de Natal e a canção trazia elementos como rimas, palavras repetidas, assim como era conhecida do repertório natalino das crianças.

Tinha-se em vista, ainda, a necessidade de se observar uma aula que partisse de uma organização didática escrita, uma vez que ambas as professoras nãodemonstravam se apoiar em um planejamento escrito para as aulas observadas anteriormente.

Além disso,essa estratégia possibilitaria o confronto entre a aula que teve como apoio o planejamento escrito e as aulas cujas observações mostravam que as professoras não se apoiavam em um planejamento escrito, embora tenham dito que o fizeram.

As observações foram registradas de forma detalhada, levando-se em conta como os procedimentos didáticos foram usados nas aulas, bem como se estes eram apropriados para as hipóteses de escrita dos alunos das professoras em questão.

De acordo com os níveis de apropriação dos aprendizes de P1, segundo ela, cinco se encontravam na hipótese alfabética, seis na silábico-alfabética, quatro na silábica e três na pré- silábica, somando, desse modo, um total de dezoito alunos. Já em relação aos aprendizes de P2 havia seis alfabéticos, sete silábico-alfabéticos, nove silábicos e quatro pré-silábicos, totalizando vinte e seis aprendizes. Vale ressaltar que esses níveis de apropriação do SEA foram verificados no final da coleta dos dados, que se deu no término do ano letivo (2005) das crianças.

Os registros das observações ocorreram por meio de anotações em um Diário de Campo e, após cada aula, realizaram-se perguntas com o intuito de obter informações sobre os objetivos das atividades oferecidas para complementação das observações.

2.2 A construção das categorias

Terminadas as observações, foi dado início ao agrupamento das atividades exploradas pelas professoras em categorias, tendo como eixos de ensino a oralidade, a leitura e o sistema de escrita alfabética (SEA), o que possibilitou um parâmetro para a classificação das atividades trabalhadas pelas docentes com o gênero canção, levando em conta os procedimentos didáticos e os objetivos das atividades.

A categorização deu-se com base em Bardin (2004, p. 112), para quem “classificar elementos em categorias impõe a investigação do que cada um deles tem em comum com outros. O que vai permitir o seu agrupamento é a parte comum existente entre eles”. Desse modo, as categorias são as seguintes: Quadro de situação das aulas (Eventos), que compreende a organização espacial das salas, distribuição espacial dos alunos, interação alunos/alunos, interação professoras/alunos e os suportes materiais utilizados; Tipos de cantiga, que compreendem as cantigas de roda, as de brincar, os acalantos e as cantigas natalinas (ver Anexo D); Cantação, que se dão por meio da ‘cantação livre’ e da ‘cantação coletiva’ juntamente com as professoras; Leitura, que compreende a leitura das cantigas, tendo como auxílio o cartaz ou o texto impresso; e as Atividades de apropriação do sistema de escrita alfabética.

A seguir, cada uma dessas categorias serão descritas e analisadas quanto à suas especificidades e as suas inter-relações, com o objetivo de mostrar a quais resultados se chegou com a presente investigação.

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