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2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.3 A CONFIGURAÇÃO DE CAMPI UNIVERSITÁRIOS: CARACTERÍSTICAS E INVESTIGAÇÕES SOBRE A

2.3.1 Campus Reitor João David Ferreira Lima

Como outras universidades brasileiras, a Universidade Federal de Santa Catarina sediada em campus universitário próprio, tem sua origem no agrupamento de faculdades já existentes, inicialmente funcionando em edifícios no centro da cidade de Florianópolis, capital de Santa Catarina.

A intenção inicial que levou a construção do campus fora da malha urbana, era de que o mesmo fosse em um local retirado em que as pessoas pudessem se concentrar apenas nos estudos. Com o papel polarizador e transformador da universidade, verificado no crescimento vertiginoso de seu entorno, principalmente a partir da implantação de outros órgãos públicos próximos, como a Eletrosul, vinda do Rio de Janeiro em 1975, atualmente, o campus se encontra em área densamente povoada, ladeado pelos bairros Trindade, Carvoeira, Serrinha, Pantanal e Córrego Grande.

A relação do campus com o seu entorno pode ser percebida no mapa de cheios e vazios elaborado entre 2011 e

2012 (figura 9), no qual é possível perceber claramente a área do campus, por meio da diferença nas proporções dos espaços abertos em relação ao edificado. O adensamento populacional dos bairros vizinhos ao campus é crescente, sendo cada vez maior o número de edificações habitacionais e comerciais, e a verticalização dessas construções.

O campus João David Ferreira Lima, por ser localizado em área urbana, é comumente utilizado por habitantes e visitantes do município de Florianópolis. Na ampla diversidade de usos do solo, ofertam-se desde estudos infantis até a pós-graduação, além de circularem usuários do hospital universitários, das clínicas de odontologia, dos cursos de língua, dos equipamentos esportivos, de laboratórios de pesquisa, de lanchonetes e de eventos que ocorrem constantemente dentro do campus. Assim, um grande número de usuários das mais diferentes faixas etárias, de escolarização, nível de renda e etnias circulam em suas dependências diariamente.

O campus, atualmente, é constituído por dez centros de ensino superior, sendo eles: Ciências Biológicas, Ciências da Educação, Ciências da Saúde, Ciências Físicas e Matemáticas, Ciências Jurídicas, Comunicação e Expressão, Desportos, Filosofia e Ciências Humanas, Socioeconômico e Tecnológico (figura 10). Na figura 10 é possível perceber que as edificações de cada centro são concentradas, formando áreas de conhecimentos bem definidas expressas no nome de cada centro de ensino.

Atende o nível de educação básica no Núcleo de Desenvolvimento Infantil (NDI) e na creche Flor do Campus, e no Colégio de Aplicação (CA) atende o ensino fundamental e médio. Compõem também seu espaço físico as seguintes edificações: Hospital Universitário (HU), Biblioteca Universitária (BU), Restaurante Universitário (RU), Moradia Estudantil, Centro de Cultura e Eventos, Centro de Convivências, Templo Ecumênico, entre outros.

Conforme levantamentos realizados em 2012, durante processo para a elaboração de um Plano Diretor Participativo, o campus possui uma área de 1.147.862,00 m2, sendo composto por:

 287.350,43 m2 de área edificada;

 49.276,90 m2 de área Edificada projetada;

 12,21 % de Taxa de Ocupação (TO);  0,25 de índice de aproveitamento.

Figura 9 - Mapa de cheios e vazios do campus Reitor João David Ferreira Lima – UFSC

Figura 10 - Mapa geral dos centros do campus Reitor João David Ferreira Lima - UFSC

Nas figuras 9 e 10 é possível observar a área vazia no centro do campus, correspondente a praça central, denominada Praça da Cidadania, idealizada no contexto da reforma universitária de 1968, pelo paisagista Roberto Burle Marx, como parte de um projeto de urbanização que foi realizado e apresentado em 1970 dando ênfase às praças, passeios, iluminação e vegetação. A praça foi projetada para ser o elemento ordenador ligando todos os setores e para valorizar plantas nativas, usando petit-pavê nos passeios. Na proposta, partiam caminhos sinuosos por entre as edificações já existentes, ligando os setores espalhados pelo campus. No entanto, do projeto foi executada apenas a Praça Cívica (Praça da Cidadania), apresentada na figura 11.

Ao se observar o campus pode-se perceber muitas das recomendações da Reforma universitária e do Manual de Atcon: a praça como um espaço central ordenador, podendo ser vista como o coração do campus, possuindo ao seu redor a reitoria (antigo prédio administrativo da Engenharia Mecânica), o bloco atualmente do Centro de Comunicação e Expressão (antigo prédio do curso de filosofia) e a biblioteca universitária; a divisão em centros e departamentos; o uso coletivo de edifícios e salas de aula entre os departamentos do mesmo centro; e a padronização de edificações que muitas vezes se repete.

Figura 11 - Praça da Cidadania

Na figura 12 são identificados os acessos ao campus, divididos em acesso para motorizado e para não motorizado, totalizando 17 acessos para motorizados e 28 para não motorizados. Na figura 12, também são identificados os locais em que os ônibus circulam no interior e entorno do campus, possuindo quatro pontos de ônibus no seu interior.

O campus possui três acessos principais, sendo também utilizados por ônibus, porém por questões de segurança esses acessos possuem portões que controlam a entrada de veículos e são fechados nos dias de semana das 23:00 às 6:00 e também nos finais de semana.

As edificações do campus possuem horário de funcionamento de acordo com o seu uso, tendo locais como a biblioteca universitária, o restaurante universitário, o hospital universitário, o colégio aplicação, as creches, os bancos, as lanchonetes e outros serviços que possuem horários específicos de funcionamento. Já, as demais edificações abrem normalmente às 7:00 e fecham às 22:30, permanecendo fechadas nos finais de semana.

Na figura 12 é possível observar que o campus é cortado por córregos e possui uma grande concentração de áreas verdes. Em suas divisas, o campus possui cercamento em áreas de vegetação constituídos basicamente por mourões conectados por telas (figura 13), e muros nos locais que o campus faz divisa com edificações vizinhas. Nas demais áreas não existe qualquer forma de divisa, sendo aberto à comunidade e não possuindo qualquer forma de controle de acesso para pedestres, ciclistas e motociclistas.

Figura 12 - Mapa acessos do campus Reitor João David Ferreira Lima – UFSC

Figura 13 - Cercas perimetrais na Avenida Desembargador Vítor Lima, fundo do Colégio Aplicação

Fonte: PDP-UFSC (2012).

A segurança do campus é realizada pela Secretaria de Segurança Institucional (SSI), antigo Departamento de Segurança Física e Patrimonial (DESEG) da UFSC, fundado em 2008, sendo responsável pelo registro de dados relativos a ocorrências de crimes dentro do campus. As atividades da secretaria são:

 Planejamento, execução, fiscalização, controle ou avaliação de projetos;

 Realização de atividades em assistência, assessoria, fiscalização, perícia e suporte técnico-administrativos e projetos e atividades;

 Elaboração dos planos de segurança e normas reguladoras da segurança na Instituição;

 Realização de operações preventivas contra acidentes;

 Execução de atividades de defesa patrimonial;

 Investigações e registro das anormalidades;

 Registro de ocorrências de sinistros, desvios, furtos, roubos ou invasões;

 Atuação em postos de segurança instalados nas entradas, portarias e vias de acesso e outras atividades de mesma natureza.

A presença da polícia militar dentro do campus é rara e de acordo com informações da Secretaria de Segurança Institucional da UFSC, isso se deve à falta de fortalecimento de

laços entre a universidade e a corporação, a falta de efetivo da polícia militar de Santa Catarina e ao fato de verem o campus como um local que possui segurança própria. Cabe ressaltar que a segurança do campus tem seu serviço prestado por empresa terceirizada (supervisionada pela SSI), cujas pessoas contratadas nem sempre possuem o treinamento necessário e não utilizam armas.

Ainda, de acordo com a SSI, a UFSC possui cerca de 4.500 salas protegidas por sistema de alarme e mais de 1.000 câmeras. A central de vídeo de monitoramento instalada na SSI conta com dois operadores diurnos e dois noturnos, em um sistema que funciona 24 horas por dia. Entretanto, não existe um monitoramento constante dessas câmeras e das imagens por elas capturadas, sendo comum o uso das imagens apenas como forma de obtenção de informações após o registro do crime.

Por fim, de uma forma geral, pode-se perceber que o campus da UFSC tem muita similaridade em seu ambiente físico com os campi de outras universidades brasileiras. Implantado inicialmente em terreno distante da malha urbana, possui uma praça central, é dividido em centros e departamentos, tem recursos financeiros sempre limitados, apresenta repetição das edificações e constante adaptação das mesmas e pouco investimento nas áreas externas. Possui uma relação em alguns pontos mais permeável e em outros menos permeável com a cidade. Os bairros ao seu redor tornaram-se um aglomerado urbano que começa a partir dos limites do campus e onde se situam diversos serviços e a infraestrutura necessários para a vida cotidiana. Cabe ressaltar também, que até hoje a UFSC, assim como outras universidades, não possui um Plano Diretor reconhecido oficialmente ou outros instrumentos que direcionem a sua ocupação, de tal modo que muitas de suas construções e investimentos no espaço físico são realizados sem um planejamento criterioso e maior conhecimento e entendimento do espaço.

Entre os aspectos que precisam ser abordados para um melhor conhecimento desses espaços, destaca-se a segurança e a sua relação com a configuração dos espaços, tema de fundamental importância para uma melhor qualidade e vitalidade desses espaços tão singulares e ainda pouco estudados que são os campi universitários. A seguir são apresentados os poucos estudos encontrados sobre o tema.

2.3.2 Estudos em campi universitários que abordam