• Nenhum resultado encontrado

Capítulo 1 Um Breve Histórico da Cana-de-açúcar no Brasil

1.1 A Cana-de-açúcar no Brasil Colônia

Para que possamos compreender a influência da produção de um determinado produto agrícola no desenvolvimento de um município precisamos, primeiramente, analisar a implantação deste em nosso país. A cultura da cana-de-açúcar tem origem na Nova Guiné e foi introduzida no Brasil por volta do século XVI. A produção dessa cultura em nossa nação alterou o processo produtivo e industrial, além disso, provocou mudanças nos setores sociais e étnicos.

Inicialmente, houve uma expansão nas áreas destinadas ao seu plantio, as sesmarias e, com estas, a criação dos engenhos e, consequentemente, o tráfico negreiro (MIRANDA, 2008, p.21). O plantio da cana no Brasil data de nossa colonização e não seria possível analisar o avanço de tal cultura sem que possamos, primeiramente, compreender o conceito de colonização e a influência desta na expansão canavieira e territorial.

Segundo Laranjeira (1983, p.3), colonização é um processo de ocupação de território. O termo colonizar não abrange somente o sentido de ocupação territorial, mas também o desenvolvimento de uma atividade econômica. Laranjeira ainda afirma que colonizar é o ato de ocupar o território de modo racional. Segundo o autor, “a colonização é o processo

correspondente de povoamento com seletividade, para exploração econômica do solo”. (LARANJEIRA, 1983, p.4)

Ainda de acordo com o mesmo autor, existem dois tipos de ocupação. Um tipo seria a ocupação do território por imigrantes, pessoas físicas estrangeiras; o outro tipo seria a ocupação do território por nacionais, que se instalam em regiões onde não nasceram, mas que permanecem em seu próprio país. Nas colônias de povoamento, a produção se processou em função do consumo interno, havendo então a predominância da pequena propriedade. Já nas colônias de exploração, a economia foi voltada ao mercado externo, metropolitano, havendo então a grande propriedade escravista de monocultura. (LARANJEIRA, 1983, p.7)

Como o processo de colonização de um território em desenvolvimento demanda atividades econômicas, ele também é político. Sendo assim, a criação das Capitanias Hereditárias, em 1534, ajudou a implantar a organização político-administrativa do território. No entanto, o modelo das Capitanias não prosperou em todos os lotes nos quais o país foi dividido: Santana, Santo Amaro, São Vicente, São Tomé, Espírito Santo, Porto Seguro, Ilhéus, Bahia de todos os Santos, Pernambuco, Itamaracá, Rio Grande, Ceará, Segundo do Maranhão e Primeiro do Maranhão.

As Capitanias não progrediram, pois não houve uma só maneira de governar, uma lei geral. Sendo assim, o regime foi substituído para que fosse possível haver uma centralização do poder no território, o controle da população e dos atos comuns. (LARANJEIRA, 1983, p.5) A partir daí, o desenvolvimento econômico passou a ser notado e o distanciamento das classes sociais tornou-se nítido.

Naquela época, houve um grande incentivo ao sistema de plantation com a expansão da cultura da cana-de-açúcar e da fabricação do açúcar. Segundo Miranda (2008, p.41), documentos históricos provam que povoados de Pernambuco, por volta de 1526, já produziam algum açúcar, mas somente mais tarde tal cultura chegaria à pequena Capitania de São

Vicente, em São Paulo. Ainda segundo o autor, as primeiras mudas chegaram a tal Capitania em carros de boi e foram plantadas ao redor do povoado, sendo que, logo após um ano do plantio, já se havia produzido mudas o suficiente para todos os colonos.

O primeiro engenho foi construído em Pernambuco a mando do governador, sendo então chamado de “Engenho do Governador”, devido ao fato de ter sido edificado em sua propriedade. Tempos depois, o número de engenhos cresceu de forma substancial, acompanhando o valor do açúcar no mercado europeu. Desde então o cultivo da cana tornou- se algo lucrativo e desejado por muitos, gerando fortuna aos donos dos engenhos e também às áreas produtoras.

No século XVI tivemos a evolução técnica e, com ela, a agroindústria se sofisticou. Esse fato contribuiu para que aumentassem os interesses pela produção de cana, haja vista as condições de solo e clima ideais que os produtores encontram no Brasil. No início do século XVII, as lavouras e as indústrias de cana já haviam se tornado um dos investimentos mais lucrativos que se tinha notícia, sendo o Brasil o maior produtor de açúcar do mundo, posição mantida até os dias atuais. (MIRANDA, 2008, p.51)

É interessante compreender como era o funcionamento dos engenhos na Antiguidade para que possamos entender o processo de beneficiamento da cana naquela época. Segundo Miranda (2008, p.52), a casa do engenho possuía maquinarias e instalações para que pudesse ser realizado o processo de obtenção do açúcar. Após a colheita, o açúcar era manufaturado em instalações industriais, constituídas pela moenda movida pela força animal, humana ou pela água; pela casa das caldeiras, onde ocorria a purificação e o cozimento do caldo; e pela casa de purgar, onde se completava seu “branqueamento”. Após todo esse processo, o açúcar era então guardado em caixas de cerca de 750 kg e enviado para Portugal.

Os custos para montar e manter um engenho eram extremamente altos. Segundo Miranda, um bom engenho deveria contar com cinquenta escravos, no mínimo, quinze juntas

de bois e muita lenha. Ainda de acordo com o autor, há uma imagem estereotipada dos engenhos de cana, em que a atividade é interpretada como retrógada predatória e escravocrata. No entanto, muitos autores a consideram como uma atividade industrial e, talvez, a mais complexa, mecanizada e avançada naquele período. Possuía uma estrutura de produção em larga escala, divisão de tarefa, etc. Tal estrutura levou alguns autores denominarem os engenhos como as “primeiras fábricas” do Brasil colonial.

Além de toda essa estrutura organizacional, os engenhos empregavam também mão de obra na coleta da lenha e da madeira, pois a maioria destes engenhos possuía suas próprias serrarias que tinham como função prover qualquer tipo de maquinário, tábuas, vigas etc., tudo que fosse necessário.

A maior nação concorrente de Portugal, tratando-se do mercado açucareiro, era a Espanha, que cultivava a cana desde 1506 na América Central. No entanto, assim que os colonizadores espanhóis descobriram as riquezas Astecas e Incas, a Espanha perdeu parte de seu interesse no mercado açucareiro passando a se interessar em metais preciosos. Com a menor oferta de açúcar pela Espanha, tal produto, considerado de luxo, passou a sofrer uma maior valorização no mercado, favorecendo o domínio português sobre a produção do açúcar no século XVII.

Após 50 anos do “descobrimento” do Brasil, ou seja, 1550, o monopólio mundial da produção de açúcar passou a ser de Portugal. Naquela época, o açúcar brasileiro era embarcado com destino à Holanda onde seria refinado e comercializado pelos holandeses. Portanto, ambos, holandeses e portugueses, obtinham grandes lucros com o mercado açucareiro.

Em 1578, após a morte de Dom Sebastião, rei de Portugal, Felipe II, rei da Espanha, anexou Portugal a seu território. Com a oposição de Felipe II a Holanda e a Inglaterra, as relações comerciais com esses países foram interrompidas. A partir desse episódio, a corte

holandesa decidiu tomar o Nordeste brasileiro em 1630. Em 1654, os holandeses foram expulsos e levaram conhecimento e técnicas do cultivo da cana para as Antilhas e a América Central. Por estas localizações serem mais próximas à Europa, o açúcar holandês substituiu o açúcar brasileiro, que perdeu esse monopólio. Tal fato, somado a descoberta de ouro em Minas Gerais, no século XVII, fez com que o açúcar deixasse de ocupar o primeiro lugar na geração de riquezas. (MIRANDA, 2008, p.63)

Segundo Miranda (2008, p.63), no Brasil Colônia, de 1500 a 1822, a renda obtida pelo comércio açucareiro atingiu quase duas vezes a renda conquistada pelo ouro e quase cinco vezes a de todos os outros produtos agrícolas juntos (café, algodão, madeira, entre outros). Acredita-se, de acordo com o autor, que a renda com o açúcar brasileiro foi de aproximadamente 300 milhões de libras esterlinas.2

No início do século XVIII, o Haiti, colônia francesa, exerceu o monopólio do mercado açucareiro. No entanto, em 1871, uma violenta revolução de escravos destruiu a produção de açúcar por completo e expulsou os franceses da localidade.

No século XIX, a Inglaterra passou a cultivar beterraba e iniciou sua produção açucareira por meio da utilização desta como matéria-prima, visando não depender unicamente da importação do açúcar de cana de outros continentes. Naquele mesmo período, o Brasil foi prejudicado no mercado açucareiro devido à grande distância entre nosso continente e os demais compradores da produção.

Em 1750, o modelo de produção de açúcar brasileiro sofreria uma grande modificação, pois, naquele ano, foi abolido o tráfego de mão de obra escrava. Enquanto os engenhos brasileiros eram tradicionais e obsoletos, os países concorrentes possuíam fábricas modernas, dificultando ainda mais a concorrência desse produto. Segundo Miranda (2008, p.66),

2 Equivalente a 477 milhões de dólares hoje.

somente no início do século XIX o processo de produção de açúcar brasileiro foi melhorado para que pudesse competir no mercado mundial.

No século XIX, o comércio açucareiro brasileiro não ia bem, ficando em quinto lugar na lista de produtores de cana com somente 8% da produção mundial. Contudo, dois fatores beneficiaram a produção açucareira brasileira: o Decreto de Abertura dos Portos às Nações Amigas em 1808 e a Independência do Brasil em 1822.

Em 1857 o imperador D. Pedro II determinou um estudo para que fosse elaborado um programa de modernização açucareira. Assim, surgiram os Engenhos Centrais, cuja função era apenas moer a cana e processar o açúcar, os quais não eram responsáveis pelo plantio que ficava por conta dos fornecedores. Foi aprovada a construção de 87 engenhos, mas apenas 12 foram implantados, sendo o primeiro destes localizado na região de Campos dos Goytacazes, no estado do Rio de Janeiro, que entrou em operação em 1877 e, até hoje, continua em atividade.

A maioria dos Engenhos Centrais foi arrematada pelos próprios fornecedores de equipamentos como, por exemplo, o Engenho Central de Piracicaba, adquirido por franceses que foram responsáveis por sua montagem. No início do século XX, a Companhia Sucrerie se tornou a maior produtora de açúcar de São Paulo.

Os antigos engenhos sofreram transformações, passando a cultivar também cana-de- açúcar para que não houvesse dependência de fornecedores. Os engenhos foram modernizados e denominados de “usinas de açúcar”. (MIRANDA, 2008, p.79)

Por volta de 1900, a produção européia de açúcar de beterraba era expressiva, sendo detentora de mais de 50% da produção mundial. Entretanto, a Primeira Guerra Mundial, em 1914, provocou a destruição da indústria açucareira européia, ocasionando o aumento no preço do açúcar, o que incentivou a construção de novas usinas no Brasil, especialmente, em São Paulo onde os produtores de café buscavam diversificar a produção agrícola.

Segundo Miranda (2008, p.83), a cultura da cana no Brasil tomou proporções ainda maiores por volta de 1910, quando Pedro Morganti, juntamente com seus irmãos e outros pequenos refinadores de açúcar se uniram para criar a Companhia União dos Refinadores, uma das primeiras refinarias de grande porte do país. O objetivo dessa companhia era tornar o comércio de açúcar mais lucrativo e garantir ao mercado produtos de qualidade. A idéia deu certo e, tempos depois, a União incorporou o segmento café e mudou sua razão social para Companhia União dos Refinadores – Açúcar e Café. Em 1928, a companhia foi vendida para usineiros de Pernambuco e passou por reformulações no seu quadro administrativo.

Em 1973, a União teve seu controle acionário adquirido pela Cooperativa de Produtores de Cana, Açúcar e Álcool (COPERSUCAR) do estado de São Paulo, dobrando sua capacidade produtiva de açúcar no período de 1974 a 1987. Em março de 2005, o Grupo Nova América adquiriu a União e passou a distribuir todos os produtos destinados ao varejo com as marcas União, Glaçúcar, Doçúcar, Cristalçúcar e Único. (UNIÃO, 2010)