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Provínhamos ambos, pelas nossas origens, daquelas terras largas (...). Mas a nossa zona transpõe o São Francisco bem mais embaixo; pega o Rio Indaiá com a sua Estrela e as suas Dores, cobre o Abaeté e a velha terra de D. Joaquina do Pompéu. (...) Não sois, no entanto, um escritor regional, ou antes, o vosso regionalismo é uma forma de expressão do espírito universal que anima a vossa obra e, daí, sua repercussão mundial.

Afonso Arinos de Melo Franco (sobrinho). 1967340. Esguia palmeira

Pindarea concinna: o ser Ajustado à poesia

Como a palmeira se ajusta ao Oeste de Minas.

Carlos Drummond de Andrade, 1969.341 Existem obras literárias que poderiam nos informar sobre o oeste de Minas? A questão parece simples. Exige certamente uma detalhada pesquisa bibliográfica de cujos resultados obteríamos não menos que uma resposta objetiva: sim ou não. Em caso afirmativo, é de se esperar uma complementação que faça jus à capacidade do pesquisador em história – não especialista em literatura – de enumerar as obras, indicar como podem ser encontradas, informar sobre seus autores, temáticas, os lugares e tempos de produção, dentre outros. Deveríamos então passar logo à lista de obras a serem utilizadas em nossa trama historiográfica.

Entretanto, uma observação mais atenta aos termos que compõem a frase interrogativa pode desfazer nosso castelo de areia com golpes impiedosos originados dos mais diversos campos das ciências sociais: seja dos teóricos da literatura, dos geógrafos ou mesmo dos próprios historiadores. Neste levantamento, quais critérios

serão utilizados para classificar uma obra como literária? Talvez questionassem os

primeiros, afeitos à discussão do cânone342. A seleção das obras literárias que informam [sobre] o oeste de Minas Gerais, evidentemente, seria devedora de nossa compreensão do que seja a literatura, ainda que não sejamos seus críticos. Dependendo dessa noção e dos critérios pelos quais julgaríamos qualificá-la, nossa enumeração das obras que informam sobre o oeste de Minas poderia variar desde uma extensa lista sempre lacunar até uma rigorosa seleção de que resultaria apenas um número irrelevante de títulos posto

340 FRANCO, Afonso Arinos de Melo. Discurso de Recepção ao Acadêmico João Guimarães Rosa. Academia

Brasileira de Letras. Hipertexto. Disponível em http://www.academia.org.br/ Acesso em 20/08/2009.

341 ANDRADE, Carlos Drummond de. Poeta Emílio. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2002. p. 659. 342 A bibliografia sobre o tema é extensa e não pretendo listá-la aqui. Para uma primeira aproximação do

debate cf. PERRONE-MOISÉS, L. Altas Literaturas: Escolha e Valor na Obra Crítica de Escritores

que, dependendo de nosso critério do que seja digno do nome de literatura, chegaríamos talvez à conclusão de que o oeste de Minas fosse uma das

muitas regiões não-hegemônicas do Brasil [que] têm produzido, (...) literatura, (...) boa ou ruim, como em qualquer parte, (...), [mas] impondo-se ao leitor (...) [pela] simpatia que muitas vezes é tudo o que a literatura precária alcança do leitor343.

Seja pela quantidade grandiosa de obras que poderiam ser encontradas por esse critério maleável, seja pela dificuldade mesma de investigar melhor a recepção dessas obras que simpatizam o leitor, ou ainda pelo risco de rotulá-las de literatura precária, não poderíamos lançar ainda nossa lista. Para fugirmos dessa tipificação temerária, poderíamos considerar, por exemplo, a sua recepção do ponto de vista de sua fortuna crítica. Aliás, possivelmente concluiríamos que no caso da produção literária sobre o oeste de Minas seríamos obrigados a abrir mão da fortuna, quando não da crítica. Assim, talvez pudéssemos considerar duas ou três mais apreciadas, em ordem: O

Itinerário Poético344

de Emílio Moura, poeta nascido em Dores do Indaiá, que somente

entre 1931 (quando foi publicado o primeiro livro que compõe o Itinerário) até 1966, já tinha guardado em seus arquivos 112 apreciações, publicadas em diversos jornais, livros e revistas especializadas345; a Sinhá Braba de Agripa Vasconcelos346, obra ambientada [ou criando um ambiente] nas terras de Joaquina do Pompéu, romanceando a história dessa figura emblemática da região347 – que somente do jornal O Estado de Minas, de

1966 a 2000, mereceu 12 apreciações348; quem sabe não poderíamos acrescentar

também A fazenda do Doutor, localizada no município de Paineiras, escrito por Thereza Vianna Maria da Costa, em 1972349, das memórias350 romanceadas que procuram contar

343 FISCHER, Luís Augusto. Introdução. IBGE. Atlas das representações literárias de regiões brasileiras. Rio de Janeiro: IBGE, 2006, p. 11.

344 MOURA, Emílio. Itinerário poético. 2.ed. belo Horizonte: UFMG, 2002.

345 Conforme BAHIA, Virgínia Guimarães. Emílio Moura: bibliografia. Belo Horizonte: Escola de

Biblioteconomia da UFMG, 1967. (mimeo.) p. 16-38.

346 VASCONCELOS, Agripa. Sinhá Braba: romance do ciclo agropecuário nas gerais. Belo. Horizonte:

Itatiaia, 1966. (Sagas do país das gerais, 2).

347 Para esta obra são válidas as observações de Márcia Naxara: “O romancista, em especial o que produz

romance histórico, freqüentemente busca nas crônicas e na história o suporte para a ambientação dos personagens e sustentação do enredo, de forma a torná-lo verossímil, mesmo quando cria e trabalha a figura do herói”. NAXARA, Márcia Regina Capelari. Historiadores e texto literário: alguns apontamentos. História: Questões & Debates, Curitiba, UFPR, n. 44, 2006. p. 46.

348 Cf. NORONHA, Gilberto Cezar. Joaquina do Pompéu...op. cit. 2007. p. 110.

349 COSTA, Thereza Vianna Maria da. A fazenda do Doutor. Belo Horizonte, 1972. Embora não haja

levantamentos sobre sua fortuna crítica, sua obra foi premiada pela Academia Mineira de Letras.

350 Poderíamos aqui também considerar as histórias municipais, dos chamados memorialistas. No entanto,

a história da família da autora. Se procurássemos nos compêndios de história da literatura, entretanto, nas armadilhas dos estilos de época e na sua tarefa de inclusão e exclusão no cânone, é provável que dessa nossa lista constasse apenas a obra e o nome de Emílio Moura, colocado talvez numa pequena nota do movimento modernista mineiro351. E seríamos remetidos ainda uma vez para a discussão do que seja uma obra literária porque seríamos desafiados em nosso critério de receptividade da obra352, até mesmo na própria cidade natal do autor, Dores do Indaiá353.

Imaginemos, então, o semblante dos geógrafos e historiadores acompanhando apreensivos os rumos dessa conversa sobre o fenômeno literário que poderia facilmente descambar para o formalismo puro354 ou mesmo para a idéia de uma

literatura como reprodução espelhada do social355. O primeiro levando-nos talvez a considerar que pouco importa se o escritor proveio das mesmas “terras largas” de Guimarães Rosa, conforme a epígrafe de Afonso Arinos, lugar de onde buscamos informação. A segunda nos levando talvez a compreender que se autores como Emílio Moura são “palmeira que se ajusta[m] à poesia”, ela própria se ajustaria ao Oeste de Minas, como sintoma de sua configuração sócio-política.

Em meio a discussões possíveis sobre a especificidade da obra literária, talvez os próprios geógrafos tomassem a palavra e formulassem questionamentos sobre nossa compreensão das relações entre literatura e história e os pressupostos que sustentam nossa proposta de buscar, na primeira, informações para compreender a segunda: Mas [de que

vezes como obras de história. O mesmo fazemos com as escritas de si apesar de estudadas como produções literárias, tal qual o memorialismo, merecerá discussão específica na apresentação dos arquivos de família.

351 Para conferir um exemplo em que Emílio Moura é enquadrado no grupo de Outros Poetas do modernismo

mineiro ver: COUTINHO, Afrânio. A literatura no Brasil: Era Modernista. 7.ed. São Paulo: Global, 2004. p. 139.

352 “As edições de qualquer dos livros de Emílio Moura geralmente são acontecimento regional. Mereciam

público maior”. AMADOR, Paulo. O modernismo platônico de Emílio Moura. Jornal do Brasil, 26 de julho de 2003. Sobre a teoria que inspira uma análise da obra considerando sua recepção, cf. JAUSS, Hans Robert. A

história da literatura com provocação à teoria literária. São Paulo: Ática, 1994.

353 “A melhor biblioteca escolar de Dores não possui até hoje [1978], meio século depois de criada, uma

única obra sequer de Emílio Guimarães Moura, que além de ser dorense e de ter sido professor da escola, é um dos maiores poetas brasileiros (...). O nome de Emílio Moura está nas histórias de literatura brasileira, ao lado de Carlos Drummond, de Aphonsus Guimarães (...) A comunidade dorense jamais prestou a mais insignificante homenagem ao seu grande filho.” (FIÚZA, Rubens, Obras do Poeta dorense Emílio Moura. Coluninha do vigilante. O Liberal. Dores do Indaiá. ano. 12, n. 620, 11 de março de 1978. p. 1.

354 Seria pertinente lembrar aqui os formalistas russos na busca dos traços distintivos do objeto literário (literariedade) cujos caracteres não estariam no estado de alma, na pessoa do poeta, mas sim no poema;

ou em qualquer outra vivência fora do próprio texto literário. Para Tynianov, “o estudo da evolução literária (...) deve ir da série literária às séries correlatas vizinhas e não às séries mais distantes, mesmo que elas sejam principais” (TYNIANOV, J. Da evolução literária. In: TOLEDO, Dionísio de Oliveira. (Org) Teoria da literatura: formalistas russos. Porto Alegre: Globo, 1970. p. 118

355 Aqui poderíamos fazer referência às mais variadas concepções correntes na teoria literária. Entretanto,

remeto o leitor apenas a uma obra introdutória: CULLER, Jonathan. Teoria Literária: uma introdução. São Paulo: Beca, 1999.

modo] essas obras literárias podem [nos] informar [sobre] a história e a geografia [do] o oeste de Minas?356 E assim, restaria intacto apenas o último termo da frase interrogativa inicial não fosse ele próprio o nosso exato problema de pesquisa, já tantas vezes colocado em xeque. Não se sabe quem perguntaria primeiro, mas é certo que a questão seria inevitável:

Mas o que é o oeste de Minas? Que termo é este sobre o qual se buscam formas na literatura?

Ou dito de outro modo: quais são as configurações do oeste de Minas produzidas pela literatura? Diante de tantos questionamentos possíveis, estamos convencidos de que na busca das obras literárias que informam sobre o oeste de Minas não se deve desconsiderar a compreensão do que seja uma obra literária – digamos, em sua especificidade como objeto cultural – a relação entre literatura e história e o que estamos compreendo por oeste de Minas. Continuemos pelo último.

Retomemos os dois sentidos em que o termo oeste de Minas foi utilizado até agora para tentar uma formulação provisória que nos permita avançar na enumeração de nossos autores e obras. No primeiro deles, utilizo o termo como um recurso semântico para designar uma indeterminação – um emaranhado de regionalizações, o conjunto ainda não completamente compreendido, das formas de enunciação de um espaço que escapa à consciência, na construção de minha própria narrativa. No entanto, o Oeste de Minas também é uma categoria espacial que, quase tendo o efeito contrário ao primeiro sentido, é um recurso de determinação, especificação do espaço que tem sido utilizado em diferentes momentos por diversos sujeitos. Enunciado por variados suportes, não se refere à totalidade da trama de regionalizações que nos ocupa e é apenas um de seus elementos constituintes. Seria o caso, por exemplo, da própria utilização do termo por Carlos Drummond de Andrade, na epígrafe, ao falar da poesia de Emílio Moura.

356 A questão ainda me parece urgente: obra recente desenvolvida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística, procurando regionalizar o espaço brasileiro pelas representações literárias dá uma idéia de como historiadores e geógrafos ainda estão inseguros no enfrentamento da discussão. Na obra, diz-se que se “respeita os parâmetros próprios da teoria literária. Mas há a intenção de uma apropriação com objetivos, estes sim, explicitamente de viés geográfico. O que permite esta incursão em território alheio é a constatação, de resto comum a diferentes correntes do próprio campo literário, de que a Literatura relaciona-se, sofre influências, alimenta-se e reflete os contextos sócio-político-culturais em que está inserida. Trazendo a discussão para o campo de interesse em questão pode-se dizer que, ao refletir, em alguma medida, o momento histórico em que está inserida, possivelmente a obra literária trará em seus meandros algo revelador de seu berço, de sua origem territorial, de sua cor local, ou seja, a obra literária possivelmente estará influenciada pela Geografia”. Cf. IBGE. Atlas das representações literárias de

regiões brasileiras. Rio de Janeiro: IBGE, 2006, p. 20. [grifo meu]. Diante disso, seria pertinente fazer

um duplo questionamento: não haveria uma especificidade da obra literária que torna essas relações mais complexas do que uma concepção de literatura como um reflexo do espaço geográfico ou social? Por outro lado, enquanto linguagem performativa, a literatura não apenas representaria o mundo, mas também não o [re]criaria? Noutros termos: As formas literárias não influenciariam na percepção do espaço geográfico?

É nesse segundo sentido que o Oeste de Minas poderia ser tomado como ponto de partida para buscar informações importantes para prosseguimos na construção de nossa trama de regionalizações. Evidentemente, estaríamos restringindo a busca à época em que o termo passou a ser utilizado para regionalizar o espaço mineiro. A se considerar as informações que encontramos nos jornais locais e nos programas de governo, o oeste de Minas adquire esse sentido específico apenas na passagem do século XIX/XX. É o caso, por exemplo, das obras consideradas acima.

Aquelas que porventura informassem sobre este espaço sem utilizar tal denominação, porque teriam sido produzidas antes, ficariam, sob este critério, fora de nossa lista. Assim, poderiam ser compreendidas as poesias do Padre Manoel Xavier

“poeta mineiro de grande inspiração que viveu e morreu esquecido na obscura cidade de Tamanduá”357, atual Itapecerica, uma das primeiras a produzir um jornal cujo título

enunciava o Oeste de Minas. Ou ainda obras de autores que, mesmo reconhecidos pela crítica como enunciadores do oeste de Minas, confortavelmente inseridos no cânone, não utilizavam em suas obras tal denominação – o que não parece ser o caso de Guimarães Rosa, por exemplo, por nenhum desses motivos, a despeito da epígrafe de Afonso Arinos. Em 1929, quando o termo Oeste de Minas já tinha a função de especificação do espaço, identificada nos jornais e programas de governo, Carlos José dos Santos escrevia no Minas Gerais que:

O poeta Bernardo Guimarães foi, como romancista, ainda o mais fecundo. Há, sem dúvida, em seus romances merecimentos incontestáveis e páginas bellíssimas, em que descreve a natureza ridente e grandiosa de nossas terras (...) que ele viu (...) e pode mirar em suas viagens pelo extremo Oeste de Minas nas scenas e quadros da vida interior, traçados com animação e luz a cor local que lhes dão encantadora que lhe dão naturalidade358.

Se nesse caso, a crítica parece abonar nossa busca de informações sobre o oeste de Minas na obra de Bernardo Guimarães, é necessário lembrar que há, neste caso, pelo menos duas formas de percepção do espaço, que devem ser diferenciadas: a regionalização do crítico e a regionalização do próprio autor, utilizando, possivelmente, vocabulário e referências distintas359. Considerando essa dificuldade de denominação,

357 CORREIA, Ernesto. Um poeta desconhecido. Revista do Arquivo Público Mineiro. Ano I, 1896, p. 453. 358 SANTOS, Carlos José dos. Bernardo Guimarães na intimidade. Revista do Arquivo Público Mineiro.

Ano XXIII, 1929, p. 316-317.

359 Bernardo Guimarães escreveu sobre o “Belo Araxá, risonho Patrocínio, Ubérrimo Uberaba” em seu

um recurso possível seria considerar outras categorias de regionalização do espaço que também já conhecemos através das informações dos mapas, dos jornais e dos programas de governos visitados. Categorias como Nova Lorena Diamantina, Zona esquerda do São Francisco, Alto São Francisco, região entre a Mata da Corda e o Rio São Francisco, região do Indaiá, Abaeté (categoria utilizada por Guimarães Rosa360, por Rubens Fiúza361) e São Francisco dentre outros, além da própria divisão municipal orientada por essas delimitações regionais362.

Assumindo uma noção menos restritiva de literatura, em sua diversidade de gêneros poderíamos ampliar nossa lista e considerar a chamada literatura de viagem363:

desde as obras dos estrangeiros de nascença como Eschwege364, Saint-Hilare365,

Freyreiss366 até os viajantes em busca de sua própria terra, como Vieira do Couto367, Diogo de Vasconcelos368, que ainda titubeavam entre o que é do Brasil e o que é de Portugal, ou ainda Dom Manuel Nunes Coelho e suas viagens pastorais pelo Bispado do

Francisco Lemos,engenheiro provincial daquela zona”. Cf. GUIMARÃES, Bernardo. Folhas de outono.

Rio de Janeiro: Garnier, 1883.

360 ROSA, Guimarães. Grande sertão: veredas. 19. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. p. 335 361 FIÚZA, Rubens. O Diamante do Abaeté e outros contos estórias da história da mesopotâmia Indaiá- S. Francisco (municípios de Luz, Estrela do Indaiá, Serra da Saudade, Dores do Indaiá, Quartel Geral e Abaeté). Belo Horizonte: Imprensa Oficial. 1988.

362 Em 1976 Rubens Fiúza publicava uma “lista preliminar sobre os principais escritores” de Dores do

Indaiá. “lembrados ao acaso, sem nenhuma ordem ou hierarquia. Ei-los: Antônio Nelson de Moura (Mestre Tonico), Carlos Cunha Correia, Waldemar de Almeida Barbosa, Francisco Campos, Emilio Moura, Carminha Gouthier, José Osvaldo de Araújo, Bolívar Lamounier, José Ribeiro Machado, José Ferreira Gonçalves. Mário de Matos, Jacinto Caetano Guimarães, Jacinto Campos Guimarães. Tonico Caetano, Francisco de Sousa Coelho, Joaquim G. do Amaranto”. (FIÚZA, Rubens. Escritores Dorenses. O Liberal. Dores do Indaiá, ano 10, n. 539, 3 de julho de 1976. p. 1).

363 “Os livros de viagem são vistos como um gênero próprio, produtor de representações sociais, condicionadas

a um tipo de experiência específica, a viagem, e não como sendo exclusivamente um documento histórico, literário, ficcional ou científico, mas muitas vezes reunindo todos estes estilos ao mesmo tempo. [Suas] diferenças estão: na forma dessas obras, nos objetivos por que foram escritas, na especificidade de seu destinatário e no interesse pessoal do autor.” SECO, Ana Paula. Livros de viagens ou literatura de viagem. In: LOMBARDI, José Claudinei; SAVIANI, Dermeval; NASCIMENTO, Maria Isabel Moura. (orgs.).

Navegando pela história da educação brasileira (orgs). Campinas: Graf. FE: HISTEDBR, 2006. 1. Cd-room. 364 ESCHWEGE, W.L. von . Pluto Brasiliensis. (Traduzido por Domício de Figueiredo Murta). São

Paulo: USP; Minas Gerais: Itatiaia. 1979.

365 SAINT- HILAIRE, Augusto de. Viagem às nascentes do Rio São Francisco e pela Província de Goiás. São Paulo: Cia Ed. Nacional, 1944.

366 FREYREISS, Georg Wilhelm, Viagem ao interior do Brasil. Belo Horizonte/São Paulo:

Itatiaia/Universidade de São Paulo. 1982. (trad. A. Löfgren).

367 COUTO, José Vieira. Memória sobre as minas da Capitania de Minas Geraes [1801]. In: Revista do Arquivo Público Mineiro. Belo Horizonte: Imprensa oficial. ano X, fasc. I e II, jan/jul, 1905.

368 VASCONCELOS, Diogo Pereira Ribeiro. Memória sobre a capitania de Minas Gerais: Breve

descripção geográphica, phisica e política da capitania de Minas Gerais [1806]. Revista do Arquivo

Aterrado369, talvez até o próprio Guimarães Rosa370: cada um construindo representações do espaço com formas, objetivos, destinatários e interesse específicos.

No entanto, com tal procedimento, talvez possamos fornecer aquilo que estamos procurando: as informações (produção de formas) do espaço pela literatura. A idéia não seria tomar as obras por critérios formais (históricos, topográficos ou literários) dados a priori, mas, ao contrário, apreender as formas que elas produzem como parte da tomada de consciência do espaço e do tempo que instituem as configurações sociais. E assim poderíamos reconsiderar a problemática das relações entre literatura e história, seja na discussão dos regimes de verdade da história371, seja

nas relações entre a literatura e a sociedade372. Se é pertinente pensar que “a verdade da ficção é a sua forma”373 e se há algo de específico na forma estético-literária, em

relação às outras fontes de informação comumente utilizadas pelos historiadores, e ainda se seus dispositivos formais mediadores não se reduzem a intenções temáticas externas374, poderíamos dizer que as informações que a literatura pode trazer sobre o oeste de Minas – no primeiro sentido –, entendidas como formas específicas de

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