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Cancioneiro de Francisco Galvão. Edição crítica, introdução e notas

de MARTÍNEZ TORREJÓN, José Miguel. Lisboa: Biblioteca Nacional de

Portugal: Fundação da Casa de Bragança, 2016, ISBN 978-972-565-581-8,

85 pp.

A edição em Portugal de um cancioneiro manuscrito de conteúdo sacro organizado

em finais de Quinhentos ou início do século seguinte1, é, por si só, um acontecimento

que merece realce. Para além da importância que este género de iniciativas tem para um conhecimento mais completo da produção poética no nosso país na Época Moderna – assim como sobre os seus processos de divulgação, com o que isso permite saber acerca de leituras e gostos epocais –, ou da relevância que assume, pelo contributo (mesmo se escasso) que pode trazer ao esclarecimento desse intrincadíssimo problema que é a delimitação do corpus

da lírica camoniana – Vítor Aguiar e Silva2 apontava, há décadas, que esta seria uma das

tarefas indispensáveis a realizar neste domínio… –, o facto de se tratar, no caso vertente, de uma coleção de poesia sacra torna a sua edição ainda mais digna de registo. Antonio Rodríguez-Moñino teve oportunidade, há já muito tempo, de sublinhar como a raridade destes cancioneiros de mão de teor religioso contraria as nossas naturais expectativas, que os julgariam mais abundantes. No caso português, será possível referir um pequeníssimo conjunto de casos destes, onde se destacam o cancioneiro inserto na Miscelânea Esteves

da Veiga (Ms. FA-63 da Biblioteca Pública Municipal do Porto) e as coleções de poesias

transcritas no manuscrito 7691 da Biblioteca Nacional de Portugal – o qual, «ainda que […] não seja um “cancioneiro exclusivo de Frei Agostinho da Cruz, […] é sem dúvida

importante e fiável para o estabelecimento do cânone do frade arrábido»3 –, no ms. 1100

da Biblioteca Pública Municipal do Porto (que aí chegou trazido da Livraria do Mosteiro de Grijó) e o ms. 400 da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra associado, tal como os dois anteriores, à transmissão das obras do frade arrábido irmão de Diogo Bernardes. A estas coleções manuscritas poderíamos acrescentar alguns cancioneiros individuais editados

1 Ainda que a cópia utilizada para esta edição – que pertenceu a António Lourenço Caminha – se leia que foi feita «do seu original de 1584», Martínez Torrejón assinala: «Nada justifica a data de 1584 que Caminha lhe atribui sem dar indicação nenhuma de como chegou a ela.» (p. 14). Teremos, assim, de considerar que a organização desta coleção terá ocorrido algures num período delimitado pelas datas que balizam a biografia de Francisco Galvão, ou seja, entre 1563 e 1636.

2 Em comunicação apresentada em 1980, Aguiar e Silva referia, entre os 5 objetivos prioritários a perseguir no âmbito da investigação sobre o cânone da lírica camoniana, a urgência de «realizar a pesquisa sistemática […] dos cancioneiros manuscritos hispano-portugueses, e de outros manuscritos com informações relevantes, dos séculos XVI e XVII» (O cânone da lírica de Camões: estado actual do problema; perspectivas de investigação futura. In Camões: labirintos e fascínios, Lisboa: Edições Cotovia, p. 54. Primeira publicação: III Reunião Internacional de Camonistas (10 a 13 de Novembro de 1980). Actas, Coimbra: Universidade de Coimbra, 1987).

3 CUNHA, Mafalda Ferín – A poesia de Martim de Castro do Rio (c. 1548-1613). Coimbra: Imprensa da Univer-sidade de Coimbra, 2011, p. 37-38.

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nos séculos XVI e XVII: a segunda parte do Cancionero de 1554 de Jorge de Montemor (Las obras de devoción) e o seu Cancionero Spiritual de 1558; as Várias Rimas ao Bom Jesus, de Diogo Bernardes (1594); as Obras de D. Manuel de Portugal (1604); a Conversam e

Lágrimas da Gloriosa Sancta Maria Magdalena & outras Obras Espirituaes de Diogo Mendes

Quintela (1615). Talvez se possa ainda juntar a este conjunto a poesia, maioritariamente sacra, de Baltazar Estaço – Sonetos, Canções, Éclogas e outras Rimas (1604) – ou as Flores del

Desierto (1667 e 1675) de Frei Paulino da Estrela.

É neste contexto (aqui apenas levemente esboçado) que devem enquadrar-se estas Obras

Poéticas de Francisco Galvão, estribeiro do duque D. Theodósio, conservadas atualmente no

códice 10770 da Biblioteca Nacional de Portugal. António Lourenço Caminha utilizou esta fonte para a publicação, em 1791, das Obras inéditas dos nossos insignes poetas Pedro

da Costa Perestrello e Francisco Galvão e de muitos anónimos dos mais esclarecidos séculos da literatura portuguesa, dadas à luz e fielmente trasladadas dos seus antigos originais. Como

sublinha José Miguel Martínez Torrejón, o muito competente e bem informado editor deste

Cancioneiro de Francisco Galvão que é também responsável pela introdução e notas que o

completam, revelam-se injustas e infundadas as suspeitas de “fraude literária” levantadas por Inocêncio Francisco da Silva em 1858, segundo o qual Caminha teria incluído na sua edição composições de sua própria lavra, “de envolta com as obras dos autores dos inéditos”. O manuscrito agora publicado demonstra que, pelo menos no caso do estribeiro de D. Teodósio, António Lourenço Caminha não falsificou os poemas, tendo-se limitado a editá-los, a partir de um manuscrito da época. Este facto permite supor que o mesmo terá acontecido com as obras de Pedro da Costa Perestrello e as dos anónimos publicados no mesmo volume do século XVIII, pelo que se impõe resgatá-los da fama de alegada falsificação que sobre eles continua a pairar…

O códice 10770 da Biblioteca Nacional de Portugal contém um conjunto de 26 textos, sem nenhuma indicação de autoria. Embora o título que encabeça o conjunto (da responsabilidade do copista?) pareça atribuí-los todos a Francisco Galvão, Martínez Torrejón pôde verificar que pelo menos 7 não lhe pertencem, sendo obra de outros autores, tendo sido possível identificar, pelo menos, Pedro de Padilla, López de Úbeda, o padre Tablares e Camões. Restam 19 composições cujo autor poderá legitimamente ser o estribeiro do duque D. Teodósio, uma vez que não foram até hoje atribuídas a nenhum outro. No estado atual de conhecimento, afigura-se como plenamente justificada a interrogação que faz o editor moderno – «[…] estamos perante poemas de Francisco Galvão ou de poemas coligidos por ele?» – , assim como a consequência que daí retira quanto à designação a dar ao volume: «Inclino-me a pensar num produto híbrido e consequentemente a chamar a este volume não

Obras poéticas de Francisco Galvão mas Cancioneiro de Francisco Galvão» (p. 16).

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ser autor pelo menos de parte dos poemas que integram esta recolha – Martínez Torrejón aborda o tema debaixo dum subtítulo revelador: «Francisco Galvão, poeta?» (p. 9) – a edição deste Cancioneiro não deixa de apresentar valor ou interesse, sobretudo para quem se debruce sobre a história das mentalidades, e em particular sobre as formas e modelos de religiosidade e devoção em Portugal nos finais do século XVI e primeira metade do XVII. Inserindo-se no conjunto das obras que referimos atrás e dialogando com elas, a pequena coleção reunida sob o nome do estribeiro do duque de Bragança D. Teodósio constitui um bom exemplo das linhas dominantes que, neste âmbito, é possível detetar em Portugal no período referido. Nesta perspetiva, parece-nos acertada a opção que o editor fez de conservar o modelo organizativo original (de cariz devocional), em vez de apresentar os poemas organizados por géneros poéticos, como fez António Lourenço Caminha na edição de 1791. Deste modo, podemos detetar núcleos devocionais claros, que refletem uma hierarquia muito semelhante àquela que organiza, por exemplo, o “cancioneiro” devoto de Diogo Bernardes – as Várias

Rimas ao Bom Jesus –, ainda que no de Galvão não se chegue tão longe no aprofundamento

dos diversos motivos evocados. Ainda assim, ressalta no conjunto o eixo cristocêntrico – declinado nas vertentes da devoção ao crucificado, ao nascimento e ao Santíssimo Sacramento –, em torno do qual se organizam os motivos marianos e a celebração de santos particulares cuja biografia se prende intimamente com a figura de Cristo: S. João Evangelista e Santa Clara. Em articulação com este eixo, ou tratado de forma autónoma, surge a outra temática dominante no conjunto, a vertente penitencial. Esta tanto pode assumir um carácter dramático, dirigindo-se o sujeito poético ao “bom Jesus” que sofre na cruz as dores que não mereceu para remir os pecados humanos, como pode revestir a forma de um apelo confiado no poder e misericórdia do Senhor para que livre, com o poder da sua Graça, o pecador empedernido dos erros em que se afunda: «Sem ti caminha cego o pensamento, / sem ti, pera mor mal e toda gloria, /sem ti coberto estou de escuridade» (“Soneto a Nosso Senhor”, p. 35); «Quanto mais vivendo, / tanto mor perigo, / e quanto mais vivo / mais me vou perdendo. Senhor não me entendo! / Levai-me d’aqui, / que ares d’esta terra / não são pera

mim.» (“Cantigas a Nosso Senhor”, p. 29).

É no âmbito desta temática penitencial que encontramos um dos núcleos que mais valorizam este Cancioneiro. Referimo-nos, especificamente, aos textos que, de alguma forma, dialogam com o conjunto dos 7 salmos chamados penitenciais. Embora a cópia conservada na Biblioteca Nacional de Portugal anuncie, na rubrica que precede o texto 21, «Começam-se os 7 salmos» (p. 63), esta é a única composição que, glosando o salmo 6 da Vulgata, parece suscetível de integrar a vasta tradição de paráfrases destes textos bíblicos. Seria muito interessante saber se este testemunho oferece uma transcrição incompleta de cópia anterior, na qual se encontrasse o conjunto completo dos salmos penitenciais glosados, juntando a este número 6 os restantes, ou seja, aqueles que no texto da Vulgata levam os números 31,

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37, 50, 101, 129 e 142… Um indício que pode alimentar – ainda que tenuemente – esta hipótese encontra-se no facto de parecerem estar em falta neste Cancioneiro de Francisco

Galvão duas estrofes, uma que deveria glosar a segunda parte do primeiro versículo do salmo

(neque in ira tua corripias me) e outra que contemplasse a segunda parte do versículo 2 (sana

me, Domine, quoniam conturbata sunt ossa me). Com efeito, todos os restantes versículos são

glosados em duas estrofes (correspondentes a oito versos), enquanto estes dois primeiros são tratados apenas em quatro versos cada um, que incidem apenas no primeiro hemistíquio… Se tivéssemos a possibilidade de reconstruir este hipotético conjunto de paráfrases dos sete salmos penitenciais elaboradas (ou recolhidas) por Francisco Galvão, poderíamos juntá-lo ao reduzidíssimo grupo de poetas peninsulares que construíram conjuntos poéticos sobre esta unidade poético-religiosa, onde se destaca o nome de Jorge de Sá Soto Mayor, cujos

Psalmos, conservados no ms. FA-63 da Biblioteca Pública Municipal do Porto foram

editados e estudados em 1976 por José Adriano de Freitas Carvalho4. Na Miscelânea Pereira

de Foyos (códice 8920 da Biblioteca Nacional de Portugal) conserva-se também um conjunto

completo de paráfrases aos salmos penitenciais, mas em língua latina (fol. 179r-185r)5

De qualquer modo, mesmo que não ofereça o conjunto sistemático e coerente de glosas aos salmos penitenciais, este Cancioneiro de Francisco Galvão testemunha claramente o seu conhecimento e a sua influência nos hábitos devocionais em Portugal por finais do século XVI e começos do XVII, período em que não é raro encontrar comentários e glosas poéticas

de salmos penitenciais isolados6. Não é difícil, com efeito, identificar relações intertextuais

que várias composições aí incluídas estabelecem com este conjunto poético-religioso. Como já ficou assinalado, o poema 21 glosa o salmo 6; o salmo 50 é parcialmente glosado nas “Trovas de um homem aborrecido do mundo” (poema 25), nos versos 151-190, como o editor assinala em nota da p. 70 (poderá anotar-se, ainda, a intertextualidade que este poema estabelece, na sua primeira parte, com o salmo 136, o qual não integra o conjunto dos salmos penitenciais mas tem uma larguíssima tradição de glosas na poesia deste período); o último poema (26) continua a glosa do mesmo salmo 50, o que é igualmente registado por Martínez Torrejón em nota da p. 79; o poema 19 (“Elegia”) apresenta o incipit do salmo 6 (Domine ne in furore) como rubrica; do mesmo modo, o soneto com o número 20 tem como rubrica Sicut passer solitarius in tecto, ou seja, o segundo hemistíquio do versículo 8 do salmo 101.

4 No texto do Cancioneiro de Corte e de Magnates: os Psalmos Penitenciaes de D. Jorge de Soto Mayor. Estratto degli «Annali dell’Istituto Universitario Orientale». Sezione Romanze. Napoli, 1976.

5 A edição deste importante códice, preparada pelo mesmo editor deste Cancioneiro de Francisco Galvão, José Mi-guel Martínez Torrejón, depois de ter sido várias vezes anunciada foi prometida pela Imprensa Nacional – Casa da Moeda para 2016, pelo que deverá estar disponível no início do próximo ano. Nela poderá ser lida uma tradução para língua portuguesa destes «Sete Salmos em verso».

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Tendo em conta o que fica referido, é de justiça saudar a iniciativa conjunta da Biblioteca Nacional de Portugal e da Fundação Casa de Bragança de patrocinarem a edição deste pequeno Cancioneiro, com a qual se põe ao dispor de investigadores e outros interessados um documento significativo da prática devocional no nosso país na transição do século XVI para o XVII, que é também importante para um conhecimento mais completo da poesia maneirista portuguesa e das suas modalidades de transmissão. Ao mesmo tempo, foi possível reparar de algum modo a honra de editor de António Lourenço Caminha, posta em causa pelas suspeitas de Inocêncio Francisco da Silva e bibliógrafos que o seguiram. Assinalem-se, por último, o rigor e a segurança do trabalho de edição realizado por José Miguel Martínez Torrejón, autor também da breve “Introdução” e das notas que acompanham o texto, para além dos dois úteis anexos que completam a publicação, o primeiro com as “Epígrafes, primeiros versos e atribuições a outros autores” e o segundo com a “Ordem [dos poemas] na edição de Caminha”.

Luís de Sá Fardilha

Faculdade de Letras da Universidade do Porto Investigador do CITCEM fardilha@letras.up.pt

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WICKHAM, Chris – Roma Medievale. Crisi e stabilità di una città

900-1150. Traduzione e cura editoriale di Alessio Fiore e Luigi Provero. Roma:

Viella, 2013, 575 pp.

Organizzato in sette capitoli (Grandi narrazioni pp. 23-59, La campagna e la città pp. 61-143, L’economia urbana pp. 145-220, Le aristocrazie urbane pp. 221-305, Medie élites e

clientele ecclesiastiche: la società delle regiones di Roma nell’XI secolo e nel XII secolo pp.

307-374, La geografia rituale e identitaria pp. 375-440, La crisi (1050-1150), pp. 441-520, mappe a pp. 9-17, lista dei pontefici a pp. 19-20, bibliografia, a pp. 527-556), il libro di Chris Wickham si concentra sulla trasformazione della città di Roma a cavallo tra X e XII secolo con particolare attenzione alle dinamiche socio-economiche, al profondo mutamento dell’aristocrazia romana e all’amministrazione della giustizia in ambito cittadino. Uno dei tratti salienti dell’opera dello storico inglese consiste nel non considerare Roma esclusivamente come la città dei papi. Chris Wickham non trascura il ruolo dei pontefici e più in generale della Curia nelle vicende cittadine (si vedano ad esempio le pp. 44-59 o 480-496), ma al tempo stesso l’autore cerca di dare un quadro pù ampio di Roma che viene inserita, anche attraverso dettagliati confronti con altre realtà urbane italiane come Milano o Firenze, nell’ambito più generale della storia delle città italiane medievali. L’opera di ricerca dello Wickham cerca di colmare un “vuoto” all’interno della storiografia sulla Roma medievale, una storiografia che secondo l’autore si è sviluppata attorno a quattro temi fondamentali: la storia del papato e il suo rapporto con l’impero; l’internazionalità della Curia papale a partire dalla metà dell’XI; gli studi prosopografici sulle famiglie romane e la nascita del Senato nel 1143; il pontificato di Gregorio VII (1073-1085) e la Riforma della Chiesa romana (si vedano in particolare le pp. 36-37). Secondo l’autore questa storiografia pur essendo di altissima qualità ha trascurato alcuni temi importanti come ad esempio il governo della città da parte dei papi, un oggetto di studio invece largamente dibattuto per i pontificati del XIII secolo come ad esempio quello di Innocenzo III (1198-1216) o per i papi di età moderna (p. 38).

Nel primo capitolo in maniera molto efficace Chris Wickham traccia una breve storia di Roma tra il IX e il XII secolo mostrando tutta la complessità dell’analisi della città, dotata di una tripartita gerarchia (militare, giudiziaria ed ecclesiastica) ereditata dal passato bizantino (pp. 44-59) e nella quale gli imperatori tedeschi intervenivano molto più che in altre città rette da vescovi e legate all’impero come Milano o Ravenna (pp. 24-27). In particolare, l’autore si sofferma sulle fonti e sulla loro distribuzione nella mappa geografica cittadina. Nel primo caso Chris Wickham segnala le difficoltà della ricerca nella misura in cui pur essendo abbastanza numerose per l’arco temporale considerato (fonti sia letterarie - come gli Annales Romani, il Liber Pontificalis o l’opera di Bernardo del Monte Soratte -, che di

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archivio come testimoniato dalle 1300 carte conservate per il periodo che va dal 900 al 1150, pp. 28; 30-31), le fonti sono di scarsa densità e i dati contenuti sono spesso poco o nulla sovrapponibili a differenza ad esempio dei documenti milanesi (p. 31). Inoltre lo Wickham segnala come molte aree cittadine non siano documentate nelle fonti e solo sette zone della città di Roma siano coperte dei secoli X-XII, costituita principalmente dalle carte di alcune chiese o monasteri locali particolarmente rilevanti (come ad esempio S. Erasmo, SS. Cosma e Damiano, Santa Maria in Trastevere, l’abbazia di Farfa, S. Silvestro in Capite, SS. Ciriaco e Nicola in via Lata): il colle Celio; la parte occidentale di Trastevere; la città Leonina; la regio Scorteclari a nord-est dell’attuale piazza Navona; Campo Marzio; Pigna a sud di Campo Marzio; infine l’area del colle Palatino e del Colosseo (pp. 32-33).

Delineato il quadro generale, l’autore nei capitoli successivi analizza i tre aspetti fondamentali della sua ricerca: l’economia di Roma, l’evoluzione dell’aristocrazia cittadina e la crisi delle istituzioni politiche e giudiziarie tradizionali (sia in ambito civile che penale) che avevano retto la città dal X secolo fino agli ultimi decenni di quello successivo. Nel secondo e nel terzo capitolo, Chris Wickham mette in luce la grande vitalità dell’economia romana e l’importanza delle campagne, il cui sfruttamento era indispensabile per alimentare non solo la popolazione cittadina, ma anche la grande massa di viaggiatori che affollavano regolarmente la città: una situazione che non trovava eguali nelle altre realtà della penisola. Roma viveva una condizione del tutto particolare grazie al pieno controllo dell’Agro Romano, un’area di circa 25 km intorno al nucleo urbano (pp. 66-67), che costituiva il riferimento fondamentale della città e delle sue aristocrazie, le quali a parte poche eccezioni avevano interessi più squisitamente occasionali per aree come la Sabina, la Campagna (si pensi ad esempio ai rapporti dei Frangipane con i conti di Ceccano) o la Marittima (pp. 79-80). Le chiese locali romane controllavano quasi tutta la propietà della terra nello spazio dell’Agro Romano e delle campagne circostanti, una condizione molto simile a quella di Napoli che non a caso divenne una delle città principali del Mezzogiorno d’Italia (p. 519). La Roma che emerge dallo studio di Chris Wickham è una città estremamente dinamica fatta anche di artigiani e mercanti (si vedano le interessanti pagine sulle attività mercantili dell’area costiera di Porto e Ostia per il commercio del sale e del legno, pp. 136-137) e nella quale circolava una considerevole quantità di metallo prezioso grazie alla presenza e alle donazioni dei pellegrini (pp. 206-220). Roma per lo Wickham restava una città fortemente attraente per le aristocrazie locali, ma secondo lo studioso inglese questa capacità non derivava tanto, o solamente, dalla presenza del papato, quanto dall’esistenza anche di un capillare sistema clientelare urbano legato alle regiones cittadine, alle chiese locali e alle loro importanti risorse economiche (pp. 156-160). Nonostante queste eccezionali premesse, Chris Wickham sottolinea il fatto che la città non decollò mai completamente e rimase, dopo essere stata la città più grande dell’Europa Latina nel X secolo, una centro di medie dimensioni rispetto

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alle grandi metropoli italiane dei secoli pieno e bassomedievali: Milano, Venezia, Firenze e Genova (pp. 145-147). Due delle motivazioni più interessanti addotte dall’autore a suffragio della sua tesi sono da un lato il fatto che l’area rurale fosse poco popolata e sfruttata solo per il fabbisogno alimentare cittadino e dall’altro quella dell’assenza di città rivali nelle vicinanze come ad esempio nei casi di Milano e Firenze tra XII e XIII secolo. Roma non aveva nessun grande competitor nel Lazio, e sia Firenze a nord che Napoli a sud erano troppo distanti per poter entrare direttamente in competizione con Roma. Questo che all’inizio poteva - e fu - un vantaggio per Roma, alla lunga si rivelò un problema che limitò la competitività della città e ne frenò lo sviluppo (pp. 61-63).

Di estremo interesse sono anche le corpose e dettagliate pagine dedicate all’aristocrazia romana. L’autore apre la sua analisi partendo dalla “vecchia” aristocrazia cittadina dei secoli X-XI connessa alle cariche e alla nomenclatura civile, ecclesiastica e militare, le tre gerarchie