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2 O CANTO E A PRÁTICA PEDAGÓGICA NA ESCOLA

2.2 O CANTO COLETIVO NA AULA DE MÚSICA

O canto, por diversas vezes, pode ser um instrumento facilitador, como um dos recursos didáticos existentes na escola para se trabalhar em uma aula de música. Alguns autores da área da educação musical trazem tal prática desde o seu contexto histórico e sua inserção nas escolas até as formas de realizar práticas pedagógicas e conhecimentos técnicos para o canto, argumentando que o professor de música necessita estar habilitado para a realização da prática vocal na sala de aula.

Villa-Lobos trabalhou amplamente para sistematizar o ensino de música e também o trabalho vocal no Brasil. Inspirado nas canções do folclore brasileiro para suas composições, por vezes, estabeleceu mesclas com o estilo musical erudito através do Canto Orfeônico, o qual fazia parte do currículo escolar nos quatro anos do primeiro clico e três anos do segundo ciclo escolar (FIGUEIREDO, 2013; FUCCI AMATO, 2012; FERRAZ, 2012). Para lecionar música e canto orfeônico nas escolas era necessário que os professores obtivessem uma consciência musical com noções pedagógicas para o ensino do canto e questões técnicas da voz e de expressão musical. Para isso havia uma formação específica oferecida aos docentes. No período dos anos 30, havia um modelo de formação para se trabalhar música nas escolas e, em específico, o canto, a técnica vocal e a performance musical. Villa- Lobos projetou a realização das práticas orfeônicas se engajando também em planejar a formação para os professores atuarem, além de organizar as práticas e composições para serem executadas. Havia exercícios formulados passo a passo a fim de desenvolver o ritmo, a afinação e a execução musical em si. Assim como Kodály, Villa-Lobos acreditava na importância do acesso da educação musical para todos, elevando a utilização da voz para as práticas musicais como o instrumento mais viável às possibilidades para execução musical nos processos educativos (FUCCI AMATO, 2012, p. 48).

O canto coletivo, para Villa-Lobos era tido como um meio de socializar e integrar os alunos através de uma atividade. Assim, o Canto Orfeônico tinha a missão de civilização através da educação escolar, excluindo-se da sua inserção nas festividades. A prática destinava-se às apresentações cívicas e artísticas e demais solenidades envolvendo religião e o valor do nacionalismo (FIGUEIREDO, 2013; FUCCI AMATO, 2012). Um dos grandes motivos para a decadência do Canto Orfeônico nos espaços escolares, segundo Fucci Amato (2012), foi a dificuldade para a efetiva formação de professores com competência para o ensino deste. Dentre os objetivos já mencionados, Figueiredo (2013, p. 33) argumenta que no período do Canto Orfeônico possuía-se o interesse em “desenvolver um potencial artístico, necessário para todos os seres humanos”. O autor aponta ainda que, “para o cumprimento destes objetivos foram recrutados e preparados professores para atuarem nas escolas, evidenciando, novamente, a necessidade de profissionais preparados para o ensino de música na escola”, importante questão discutida nesta dissertação. Após ter contribuído para a

educação musical no Brasil, o Canto Orfeônico foi enfraquecido com a inserção de “novos modelos políticos e sociais” (FIGUEIREDO, 2013).

Outra consideração sobre o período em que o Canto Orfeônico mantinha-se como disciplina escolar faz Sobreira (2013) pensar que esse modelo deve servir também como reflexão para o ensino de música nos dias atuais, não ressaltando apenas os possíveis aspectos negativos. A autora afirma que a existência de coros na escola é uma prática um tanto comum, podendo ser definida como um padrão para ensinar música. No entanto, segue argumentando que o canto, por vezes não é considerado “como primeira opção” pelos professores (p. 13).

A prática do canto na sala de aula pode ser compreendida como canto coletivo, pelo fato de ser exercida uma atividade com mais de uma pessoa em determinados tempo e circunstância. Para Sobreira (2013, p. 9), essa “é uma possibilidade que não pode ser descartada como meio de musicalização”. Sua utilização é um meio bastante eficaz para a educação musical. Porém, preocupa-se com a prática inadequada, que segundo a autora, pode trazer “comprometimentos para uma formação musical mais completa do indivíduo” (p. 11). Como professora de curso de Licenciatura em Música, Sobreira salienta sua preocupação com a consciência de seus alunos quanto ao uso do canto como prática no espaço escolar. Existem poucas discussões a respeito do trabalho pedagógico com o canto como meio musicalizador atualmente. Segundo ela, o canto pode ser inserido no contexto educativo também como um processo pedagógico para a aula de música, e não somente com a função de executar canções sem objetivos educacionais ou de conteúdos musicais.

O canto em grupo ou coro, assim definido por Behlau e Madazio (2015) é um ponto positivo destacado. As autoras afirmam que “cantar em coral ajuda no controle dos músculos do canto, na musicalidade e é um excelente exercício de socialização e trabalho em grupo” (p. 49), além de ser positivo para a mente e para o corpo. Alertam a importância em manter uma boa postura para melhor projeção vocal, visto que a má postura influencia na questão da respiração, podendo trazer dificuldades na emissão vocal. Mársico e Cauduro (1978) buscaram a expressão vocal por meio do canto coletivo, acreditando no cantar como a forma mais humana de se fazer música. As autoras definem que tal prática traz pontos positivos para os que praticam, sem se despreocuparem com possíveis dificuldades em relação à “educação vocal” (p. 13), quando se trata da prática coletiva.

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