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3. CAPÍTULO 03 A ATUALIZAÇÃO DA PLANTA GENÉRICA DO IPTU COMO

3.3. Limitações Constitucionais ao Poder de Tributar

3.3.5. Princípio da Capacidade Contributiva

3.3.5.2. Capacidade contributiva absoluta ou objetiva

O que interessa aqui é a capacidade contributiva absoluta ou objetiva, não a relativa ou subjetiva - aquela expressa no parágrafo primeiro do artigo 145 da Constituição Federal de 1988 e que trata da personalização da carga tributária às características específicas de cada contribuinte - porque esta segunda seria específica dos impostos pessoais.

A capacidade contributiva objetiva ou absoluta refere-se às características do fato gerador, da conduta humana que acarreta, com sua verificação, a obrigação de pagar o tributo, e implica que este comportamento humano deve simbolizar uma grandeza que constitua signo presuntivo de riqueza, ou índice de capacidade contributiva.

JOSÉ MARCOS DOMINGUES DE OLIVEIRA, do mesmo modo, a define como "a existência de uma riqueza apta a ser tributada (capacidade contributiva como pressuposto da tributação)"135.

Nesse caso, como exposto, o fato econômico revelador de capacidade contributiva é o patrimônio ou riqueza imobilizada; tributa-se um estado, uma situação economicamente estática, um "ser" proprietário, não um ato ou movimento de riqueza (como na tributação da renda – riqueza acrescida - ou do consumo – riqueza circulante).

É comum a falsa concepção de que só se pode tributar dinheiro "novo", acréscimo

133 STF. RE 153771-MG, Tribunal Pleno, Rel. Min. Carlos Velloso, DJ 20.11.96.

134 Súmula 668. É inconstitucional a lei municipal que tenha estabelecido, antes da Emenda Constitucional

29/2000, alíquotas progressivas para o IPTU, salvo se destinada a assegurar o cumprimento da função social da propriedade urbana.

135 OLIVEIRA, José Marcos Domingues de. Capacidade contributiva: conteúdo e eficácia do princípio. 2.

patrimonial, ou seja, renda. A maioria das pessoas identifica capacidade contributiva com "ganho", "acréscimo", "aumento" patrimonial, tendendo a enxergar ausência de capacidade contributiva quando isso não ocorre; só que isso não é verdade, ao menos não em nosso sistema constitucional vigente.

ADAM SMITH já reconhecia a possibilidade de que o patrimônio (a terra) pudesse ser

índice de riqueza; ainda que falasse em taxa sobre a renda da terra, reconhecia que o valor da taxa corresponderia à atribuição de um valor à terra, pois "como a taxa é pagável em dinheiro, a avaliação da terra é expressa em dinheiro"136.

ALIOMAR BALEEIRO,do mesmo modo, após afirmar que o tributo pode gravar tanto o

recebimento quanto o consumo da renda, ressalva que "os impostos também representam mutilação de capital já formado", muito embora reconheça que, na prática, esses impostos, como o IPTU, acabam por ter o valor "medido pelo capital e pago pela renda"137.

PAULO DE BARROS CARVALHO, por sua vez, informa que o sistema tributário

nacional outorga as competências para instituição de impostos "em função do conteúdo material que há de integrar o núcleo das respectivas hipóteses normativas"138, abrangendo gravames sobre comércio, renda, patrimônio, transmissão, circulação, produção, além daqueles extraordinários e os previamente indeterminados, objeto da competência residual.

ENRICO DE MITA afirma que:

os fatos economicamente relevantes, tomados majoritariamente em consideração pela lei tributária, são o patrimônio (riqueza possuída), a renda (riqueza adquirida), a transferência, o consumo de riqueza139.

Já PAULO CALIENDO lembra que "a tributação da propriedade é uma das formas mais

antigas de financiamento do Estado, existindo desde seus primórdios"140.

REGINA HELENA COSTA, por sua vez, assevera que "os índices de capacidade

contributiva reportam-se sempre à renda, ao patrimônio ou ao consumo", já que "os índices

136 SMITH, Adam. Riqueza das nações. São Paulo: Folha, 2010, p. 348.

137 BALEEIRO, Aliomar. Uma introdução à Ciência das Finanças. 16. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2003, p.

275.

138 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 23. ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 70-71. 139 MITA, Enrico de. O princípio da capacidade contributiva. In: FERRAZ, Roberto (coord.). Princípios e

limites da tributação. São Paulo: Quartier Latin, 2005, p. 231.

140 CALIENDO, Paulo. Direito Tributário e análise econômica do Direito: uma visão crítica. Rio de Janeiro:

são plurais porque plurais são os fatos reveladores da situação econômica dos sujeitos"141, o que deixa claro que nem todo tributo é sobre renda, ou riqueza acrescida.

Mais importante, a Constituição Federal de 1988 admite isso, em sua redação originária, ao outorgar competência para instituição do IPTU (inciso I do artigo 156 da CF/88), do IPVA (inciso III do artigo 155 da CF/88), do ITR (inciso VI do artigo 153 da CF/88) e do Imposto sobre Grandes Fortunas (inciso VII do artigo 153 da CF/88).

Sendo o patrimônio o índice de riqueza - ou seja, o fato gerador -, sua expressão e numerário (a base de cálculo) é o valor da propriedade, que é o valor venal; logo, enquanto a base utilizada estiver dentro do valor venal, está-se respeitando a capacidade contributiva, pouco importando os rendimentos, reajustes e ganhos do proprietário.

ROQUE CARRAZZA,com o brilhantismo que lhe é peculiar, afirma que:

Em relação aos impostos sobre a propriedade (imposto territorial rural, imposto predial e territorial urbano, imposto sobre a propriedade de veívulos automotores etc.), a capacidade contributiva revela-se com o próprio bem, porque a riqueza não advém apenas da moeda corrente, mas do patrimônio, como um todo considerado. Se uma pessoa tem, por exemplo, um apartamento que vale um milhão de dólares, ela tem capacidade contributiva, ainda que nada mais possua. Apenas, sua capacidade contributiva está imobilizada. A qualquer tempo, essa pessoa poderá transformar em dinheiro aquele bem de raiz.142

E, em seguida, conclui que “a só propriedade de um imóvel de alto luxo já indica a existência de capacidade contributiva.143

Resumindo este entendimento, AIRES BARRETO afirma que "é fora de dúvida, assim, que o imposto que grava a propriedade imobiliária é o exemplo mais conspícuo de tributo real, tanto em nosso sistema jurídico quanto nos sistemas de outros países", e, por isso o IPTU "grava a propriedade isoladamente considerada (e não o patrimônio global do contribuinte)"144.

141 COSTA, Regina Helena. O princípio da capacidade contributiva. 3. ed. São Paulo: Malheiros, 2003, p. 30. 142 CARRAZZA, Roque Antônio. Curso de Direito Constitucional Tributário. 21. ed. São Paulo: Malheiros,

2013, p. 103.

143 CARRAZZA, Roque Antônio. Curso de Direito Constitucional Tributário. 21. ed. São Paulo: Malheiros,

2013, p. 103.

144 BARRETO, Aires. Progressividade (conteúdo, sentido, limites de sua aplicação ao IPTU]. In: TORRES,