• Nenhum resultado encontrado

Capacidades relacionadas à acumulação de conhecimento As três cooperativas abordaram questões relacionadas às

SISTEMAS DE GESTÃO DA INFORMAÇÃO

5.6 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

5.6.5 Capacidades relacionadas à acumulação de conhecimento As três cooperativas abordaram questões relacionadas às

capacidades de absorção e compartilhamento de conhecimento como influentes nas dinâmicas dos fluxos entre as organizações em questão. Segundo Lai (2009), tais capacidades são vistas como variáveis ligadas à acumulação de conhecimento das organizações. Sendo assim, os próximos tópicos estão relacionados a estas duas capacidades – absorção e compartilhamento - que foram mensuradas segundo adaptação da metodologia do autor. Algumas inferências foram realizadas no sentido de promover uma visão integrada destas capacidades diante de indicadores relacionados à produtividade nas propriedades e ao perfil

dos produtores integrados entrevistados. Esta abordagem visou contemplar ainda como a dinâmica do fluxo de conhecimento entre as organizações incide sobre tais variáveis de acumulação de conhecimento.

Os níveis distintos de capacidade de acumulação de conhecimento por parte dos produtores nas três cooperativas estudadas foram relacionados ainda ao perfil (apontado por cada gestor) dos produtores, índices médios de produtividade e ao número médio de técnicos responsáveis pela assistência em cada uma das cooperativas.

Foi possível visualizar três níveis distintos de capacidades de acumulação de conhecimento dos produtores integrados de cada organização. A Figura 24 ilustra o percentual de cada produtor diante das capacidades de acumulação de conhecimento segundo os respectivos perfis (Grande produtor, produtor mais antigo ou menor e produtor com algum tipo de problema: técnicos, financeiros e/ou operacionais). Figura 24. Capacidades de acumulação de conhecimento dos produtores

integrados de cada organização.

Fonte: do autor.

A Cooperativa A apresentou os maiores resultados referentes à capacidades de acumulação de conhecimento pelos produtores integrados, sendo que todos os produtores estudados se mantiveram acima da média. Os produtores da Cooperativa B apresentaram níveis medianos de acumulação. Observaram-se na Cooperativa C os piores

resultados, estando todos abaixo da média obtida a partir dos resultados das três cooperativas.

O perfil dos produtores também apresentou distintos níveis de acumulação de conhecimento, cada qual dentro da faixa constatada em cada cooperativa. Todavia, foi possível perceber que os maiores possuíram as maiores capacidades de acumulação, com exceção da Cooperativa C, pois o produtor de maior porte estava ainda apenas no primeiro lote (o que acabou prejudicando a coleta de dados) e teve problemas com assistência técnica. O técnico responsável realizou apenas uma visita (das três que deveria ter sido feita até o momento da coleta de dados) e era novo na atividade.

Nas cooperativas A e C os produtores ―antigos / menores‖ foram os que demonstraram menor capacidade de acumulação de conhecimento. Na Cooperativa B, o pior resultado foi constatado na propriedade considerada ―problema‖ quando comparada em relação às demais. O problema nesta propriedade foi destacado em função de dificuldade de trabalho junto aos técnicos, principalmente.

O produtor considerado ―problema‖ pela Cooperativa C foi o que apresentou a maior capacidade de acumulação de conhecimento entre as propriedades estudadas dentro da cooperativa. O produtor foi considerado ―problema‖ pela cooperativa por possuir dívidas oriundas de investimentos na propriedade. O problema financeiro, neste caso, não se mostrou diretamente relacionado à capacidade de acumulação de conhecimento.

O produtor ―problema‖ da Cooperativa A apresentou problemas relacionados principalmente à mão de obra na propriedade. Por ser uma propriedade de porte relativamente grande quando comparada às demais, o produtor declarou dificuldades em manter a regularidade dos funcionários nas atividades. Além do turn over de pessoal, a baixa qualificação dos empregados também foi mencionada.

Como o foco desta pesquisa está ligado ao fluxo de conhecimento entre as organizações em questão, buscou-se aqui visualizar quais os aspectos relacionados principalmente à gestão das cooperativas e das unidades produtoras, observando como estes aspectos influenciam o fluxo, sua dinâmica e quais as implicações sobre as capacidades de acumulação de conhecimento por parte dos produtores integrados. Para isto, utilizar-se-á nos próximos itens instrumentos de suporte à compreensão dos fluxos, por meio da visualização das capacidades de absorção e compartilhamento de conhecimento dos produtores integrados.

5.6.5.1 Capacidades relacionadas à absorção de conhecimento.

Conforme apresentado no Item 5.4.1, os itens referentes à absorção de conhecimento pelas organizações são compostos pelas sub variáveis que indicam (1) capacidades relacionadas às fontes de investimento; (2) capacidades relacionadas à identificação do conhecimento e (3) capacidades relacionadas à padronização e aplicação/uso das práticas/rotinas/conhecimento (Figura 25).

Figura 25. Variáveis relacionadas às capacidades de absorção de

conhecimento dos produtores integrados.

A partir da Figura 25 é possível perceber que os produtores da Cooperativa C possuem maiores limitações à realização de investimentos (tangíveis e intangíveis) na propriedade quando comparados com as demais cooperativas. As capacidades referentes à identificação dos conhecimentos transmitidos pelas cooperativas mostraram-se similares para todos os produtores entrevistados. É possível identificar ainda que os produtores integrados da Cooperativa A apresentaram maiores índices em todas as variáveis avaliadas. Os produtores demonstraram relativa superioridade relacionada às capacidades de padronização das práticas transmitidas pelas cooperativas.

É possível perceber neste ponto, a relação proporcional entre o número de Knowledge Nodes (neste caso, técnicos) inseridos na rede e as variáveis referentes à absorção de conhecimento transmitido. Em outras palavras, foi observado que quanto maior o número de produtores visitados por um único técnico, menor foram as capacidades destes produtores de absorver o que a cooperativa desejava transmitir. Isto se mostra ainda mais evidente quando analisadas às variáveis de padronização das rotinas transmitidas.

O menor nível de absorção de conhecimento na cooperativa que possuía alta relação produtores / técnicos é explicado por Zhuge (2006), onde a classificação da energia do conhecimento e seu respectivo fluxo ocorre em função da área, nível de conhecimento, tempo e dos próprios

KN’s. Como as cooperativas transmitem os conhecimentos em formato

de ―pacotes tecnológicos‖ (possuindo área e níveis de conhecimento similares) e os técnicos (principais nodes de distribuição identificados) das cooperativas possuíam formação semelhantes (técnicos agrícolas, veterinários, zootecnistas e agrônomos), a diferença mais significativa em função do fluxo entre as cooperativas estudadas ocorreu em função da variável tempo.

Quanto maior for o número de produtores por técnico, menor será a disponibilidade de tempo que este dispenderá para cada unidade, enfraquecendo assim a energia do fluxo de conhecimento proposta por Zhuge (2006) entre as organizações, conforme ilustrado pela Figura 26. Figura 26. Diferentes intensidades dos fluxos segundo o número de nodes

na rede.

Na prática, o reflexo desta situação estava no fato da realização de visitas semanais pelos técnicos da Cooperativa A aos produtores, ao passo que na Cooperativa C as visitas limitavam-se a, no máximo, cinco por lote.

A seguir serão apresentadas às sub variáveis relacionadas às capacidades de compartilhamento de conhecimento por parte dos produtores integrados de cada cooperativa.

5.6.5.2 Capacidades relacionadas à capacidade de compartilhamento de conhecimento.

Conforme apresentado no Item 5.4.2, as sub variáveis utilizadas para a avaliação dos produtores integrados quanto as suas capacidades de compartilhar conhecimento estavam relacionadas a (3) Sistemas de Gestão da Informação; (2) Relações cooperativas e (3) Motivação e Sistemas de Compensação para o compartilhamento e cumprimento das práticas.

Figura 27. Subvariáveis referentes às capacidades de compartilhamento de

conhecimento entre os produtores integrados.

As características referentes às capacidades de compartilhamento de conhecimento entre os produtores também apresentaram distinções entre as organizações estudadas. Principalmente diante das relações cooperativistas e dos sistemas de motivação e compensação adotados pelas cooperativas, que visam estimular o compartilhamento e o cumprimento de práticas.

Frente aos sistemas de gestão da informação, os produtores demonstraram características similares aos sistemas utilizados. Isto pode ser explicado pelo fato de praticamente todas as informações

relacionadas à produção serem geridas basicamente de forma vertical, pelas cooperativas.

Já as relações cooperativistas e os sistemas de compensação adotados apresentaram diferenças entre as organizações. Os produtores da Cooperativa C apresentaram índices inferiores diante das relações cooperativas 4 e dos sistemas de compensação pelo cumprimento e compartilhamento de práticas fornecidas pelas cooperativas. Isto ocorre fundamentalmente devido à ausência de políticas formalizadas de compensação (tanto na Cooperativa B quando na Cooperativa C) diante da correta realização das práticas fornecidas e, no caso da Cooperativa C, ao fato da cooperativa evitar trocas presenciais entre os produtores nas propriedades – devido à prevenção sanitária – e o alto individualismo (relatado tanto por produtores como também pelo gestor) dos próprios produtores.

A cooperativa que possui uma política institucionalizada de sistemas para a motivação e compensação para os produtores que seguem as práticas corretamente e compartilham apresentou os maiores índices relacionados a estas sub variáveis relacionadas ao compartilhamento de conhecimento. O mesmo foi observado para as sub variáveis relacionadas ao cooperativismo promovido pela cooperativa, a partir da visão dos produtores.

Ainda com base na proposta de Zhuge (2006), percebe-se que além da variável tempo (componente da energia dos fluxos), observa-se aqui que os Knowledge Nodes (neste caso produtores) que não realimentam o sistema ou não compartilham entre si, também enfraquecem as trocas de conhecimento e práticas de sucesso entre as organizações (Figura 28). Dyer & Nabeoka (2000) salientam ainda para o risco eminente de membros que apenas se utilizam da rede sem que ocorra um feedback positivo decorrente das atividades realizadas. Os

freeriders (nome fornecido pelos autores para este tipo de membro da

rede) segundo os autores, além de não compartilhar, podem ainda abandonar a rede, partindo para organizações concorrentes.

4opinião por parte dos produtores aos esforços realizados pela cooperativa frente à integração e compartilhamento de práticas entre seus produtores

Figura 28. Representação do feedback dos fluxos com e sem

compartilhamento de conhecimento entre os cooperados.

KN= Knowledge node (Agroindústria) / kn= Produtores Integrados KF1= Knowledge flow vertical / kf= knowledge flow horizontal

A partir da Figura 28 é possível observar que a retroalimentação do fluxo diante do compartilhamento limitado ou não compartilhamento de conhecimento entre os produtores integrados (horizontal) resulta em uma retroalimentação inferior àquelas onde existem a livre troca e estímulo ao compartilhamento entre os produtores. Conforme abordado por Schultz (2001), o processo de criação de conhecimento tende a ocorrer das subunidades para a unidade supervisora. O processo de codificação e implantação do conhecimento envolve tanto os fluxos horizontais (mais associados a conhecimentos já difundidos e utilizados na organização) quanto verticais (àqueles relacionados a novos conhecimentos).

Zhuge (2006) atenta ainda para o fato da necessidade de obtenção de conhecimento a partir de outros Nodes para que o sistema seja realimentado e o fluxo de conhecimento entre os nodes não seja desgastado e perca a força ao longo do tempo. Barreiras ou a falta de incentivos aos fluxos e compartilhamento de conhecimento entre os

nodes resultam no enfraquecimento das trocas de práticas de sucesso

entre os produtores, e consequentemente, no entrave aos processos de criação de novas práticas e conhecimentos relacionados à atividade.

O próximo item irá propor práticas para a gestão do conhecimento entre as organizações envolvidas, com o intuito de promover os fluxos entre estas organizações e o consequente incremento do desempenho das mesmas.

5.7 PRÁTICAS PARA A GESTÃO DO CONHECIMENTO COMO