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Historicamente o desenvolvimento do processo de trabalho na sociedade capitalista passou pela forma de cooperação, manufatura e grande indústria (MARX, 2013), na atualidade o capitalismo passa pela fase especulativa e

parasitária, daí ser de suma importância entender o conceito marxista de trabalho produtivo para compreender o que acontece na contemporaneidade.

O capitalismo dos anos 70 em diante, de acordo com o pensamento de variados autores, vive uma fase muito diferente da anterior, uma nova era denominada de capitalismo especulativo. Uma das particularidades fundamentais dessa fase é a financeirização, isto é, existe uma expressiva predominância das finanças em comparação com as atividades realmente substantivas do capital, que Karl Marx chama de capital industrial.

Segundo Carcanholo (2008), é primordial lançar mão do conceito marxista de capital fictício para o entendimento do capitalismo contemporâneo, este nasce como consequência da existência generalizada do capital a juros. É capital fictício pelo fato de que por trás deste não existe nenhuma substância real e também não ajuda em absolutamente nada para a produção ou para a circulação da riqueza, ele não financia nem o capital produtivo, nem o comercial.

Para entender teoricamente o conceito de capital fictício é necessário ter um conhecimento significativo e realizar uma interpretação adequada da teoria do valor em Karl Marx (CARCANHOLO, 2008). Se compreendida de forma satisfatória essa teoria, entende-se nessa perspectiva que o capital fictício vai exigir remuneração e na realidade não irá contribuir em absolutamente nada para a produção de excedente econômico, da mais-valia, conceito primordial da teoria do valor em Marx (2013). Esta teoria é descrita como a diferença, originalmente, entre o valor dos produtos que os trabalhadores produzem e o valor que é pago à força de trabalho vendida aos capitalistas, é uma parte do valor criado pelo trabalhador humano e que não é apropriado pelos mesmos (COELHO, 2012), apontando a exploração do proletariado pelo capitalista.

O que fica de primordial na atualidade é esclarecer quem de fato produz a mais-valia em quantidade suficiente para atender às exigências do capital, pode-se dizer também do capital fictício. Na contemporaneidade o que se compreende por

reestruturação produtiva no capitalismo, foi à redução do papel do trabalho produtivo, pelo menos no que diz respeito ao trabalho formal e os relacionados às ações produtivas industriais.

Dessa maneira, chega-se a negar veementemente o trabalho como central na produção da riqueza, o que para Marx (2013), em sua teoria do valor é fora de propósito. Se levada em consideração a teoria do valor, a particularidade básica da fase atual da sociedade capitalista é contraditória, com aprofundamento cada vez mais marcante entre a produção e a apropriação do excedente econômico mercantil, da mais-valia em suas variadas formas. Por isso é importante compreender o conceito de trabalho produtivo, considerado aquele que produz mais-valia ou excedente na forma mercantil que é apropriada pelo capital.

Portanto, a financeirização é a particularidade fundamental da sociedade capitalista na atualidade, o que representa o contraditório nesta fase está inscrito entre a propriedade e a gestão do capital; entre aqueles que na sociedade atual detém as diversas formas de títulos de propriedade sobre o capital produtivo/comercial (substantivo). Existem entre essas duas frações do capital, sem sombra de dúvida, interesses contraditórios, diferenciados, que os levam à perspectiva de saídas reformistas para as dificuldades do capitalista, observa-se com esses empreendimentos a consequente falta de conhecimento ou simples desprezo pela teoria marxista do valor.

Quanto à fase do capitalismo especulativo, pode-se afirmar que a partir dos anos 70 até o início dos 80, houve a tendência à queda da taxa de lucro, tanto nos Estados Unidos da América e em países europeus. Essa mudança apresentou na época perspectiva de redução da remuneração, portanto, a saída para os capitais, foi à especulação:

essa tendência foi sancionada pelas políticas neoliberais (expressão dos interesses do capital especulativo) e teve como contraparte indispensável à instabilidade cambiária e a dívida

pública dos Estados (tanto os do primeiro mundo, quando os periféricos). O capital acreditou ter encontrado seu paraíso: rentabilidade sem necessidade de “sujar as mãos com a produção”. E isso de fato aconteceu; lamentavelmente, para ele, por pouco tempo (CARCANHOLO, 2008, p. 208).

É real que a partir dos anos 80, as remunerações do capital, tenderam ao aumento, diante dessa verdade é preciso entender como se processou esse crescimento. Se por um lado verifica-se que o ritmo da acumulação do capital produtivo (substantivo) diminui e, por outro lado contata-se a taxa de crescimento avassalador da massa de capital fictício, o especulativo e parasitário, no mercado mundial. É fundamental entender como ocorreu à taxa de aumento da remuneração dos capitais, seja dos capitais produtivos e dos especulativos, portanto, nas palavras de Carcanholo:

a explicação disso, para ser coerente com a teoria marxista do valor, só pode ser encontrada no aumento da exploração do trabalho. E aqui devemos nos preocupar especificamente com a exploração do trabalho produtivo. É verdade que, seguindo Marx, também podemos falar de exploração do trabalho não produtivo. Apesar de que o aumento desta última exploração não permite elevar o excedente ou a mais-valia produzida, ao reduzir-se a parcela relativa apropriada pelos trabalhadores improdutivos, amplia-se a margem destinada à remuneração do capital (CARCANHOLO, 2008, p. 208).

A explicação da ampliação da remuneração consiste, basicamente, na elevação, em graus sem precedentes, da exploração do trabalho, seja por meio da mais-valia relativa, da mais-valia absoluta (como a extensão da jornada de trabalho, variadas jornadas, intensificação do trabalho, seja da superexploração dos trabalhadores,) também da exploração daqueles trabalhadores não assalariados. A explicação consiste fundamentalmente, na exagerada ampliação da exploração do trabalho e na expansão dos lucros fictícios, que é fruto da especulação financeira, sem depender da produção real de mais-valia. Embora, essa era da especulação possa permanecer por mais algum tempo, sua tendência é

desvanecer, a sua sobrevivência depende primordialmente da exploração do trabalhador. A substituição do capital especulativo pela reconstrução do capital substantivo, de acordo com Carcanholo (2008), passará por níveis insuspeitáveis de exploração do trabalho. Nas palavras do mesmo autor, a perspectiva de uma retomada do capitalismo menos violento do que aquela que sofre o trabalhador nos dias atuais é puro engano.

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