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Capitalismo monopolista de Estado: neste tópico são alocados os autores vinculados a outras perspectivas teóricas e políticas, além dos keynesianos, que também teria analisado o capitalismo

AS VERSÕES DA TESE DA TECNOBUROCRACI A

4) Capitalismo monopolista de Estado: neste tópico são alocados os autores vinculados a outras perspectivas teóricas e políticas, além dos keynesianos, que também teria analisado o capitalismo

tecnoburocrático, mas sob outras nomenclaturas, como “capitalismo monopolista” (P. Sweezy e P. Baran), “capitalismo monopolista de Estado” (P. Boccara) ou de “capitalismo de Estado”. Estas expressões, diferentemente do termo corporativismo, por exemplo, são consideradas por Bresser como sinônimas de capitalismo tecnoburocrático, conforme já visto acima.

Em meio a tantas possibilidades de definição do fenômeno, Bresser propõem a sua própria denominação:

Eu prefiro chamá-lo de 'capitalismo tecnoburocrático' a fim de enfatizar dois fenômenos sociais e políticos fundamentais do capitalismo contemporâneo: o papel de uma nova classe – a tecnoburocracia ou a nova clase média, atuando dentro do Estado e das grandes corporações –, e a expansão do papel do Estado na coordenação da economia: o Estado tecnoburocrático (TechC, 29).

Estabelecidas essas definições e distinções em relação a outras definições possíveis do capitalismo tecnoburocrático, TechC segue esmiuçando suas características e implicações.

Bresser discorre, então, sobre a crise do Estado como um fenômeno cíclico (TechC, 35-6), critica as leituras da nova direita (TechC,43-47) e algumas da esquerda (TechC,48-52) a respeito daquela crise.

No parágrafo de encerramento da seção, dedicado às análises da esquerda sobre a crise do Estado, Bresser uma vez mais explicita sua redefinição de tecnoburocracia, agora cada vez mais uma fase do capitalismo: “Isto significa que o Estado tecnoburocrático, ou social democrata, ou Keynesiano, ou de bem-estar – o nome que usamos para o Estado no capitalismo contemporâneo não importa – é bastante limitado em sua capacidade de reformar a sociedade” (TechC,51-2, grifo nosso). Após ter travado uma árdua batalha nos anos 1970 defendendo a validade do emprego do conceito de “tecnoburocracia”, Bresser chega à singela conclusão de que, simplesmente, “o nome... não importa”!

As duas primeiras versões da tese da tecnoburocracia (Tec e EeSI) foram enxertadas nas teorias de Marx (ou melhor, na interpretação bresseriana delas). Já a terceira versão, de TechC, foi emparelhada às análises, que se multiplicaram dos anos 1970 para os anos 1980, sobre a crise do Estado de bem-estar social e das políticas sociais de inspiração socialdemocrata e as políticas econômicas de corte keynesiano. Nos anos 1960 e 1970, a tese era um instrumental de análise para uma nova realidade emergente, dominada pela tecnoburocracia. Em fins dos anos 1980, torna-se em uma base de análise da crise mundial daquela época: “A revolução democrática de 1989 na Europa Oriental é o sinal do fracasso do estatismo ou comunismo. Enquanto tendência de longo prazo (...), o tecnoburocratismo provou-se não viável” (TechC, 72).

A redução do escopo da tese da tecnoburocracia encontra-se associada, assim, ao esgotamento histórico do estatismo soviético, cujo caso era o exemplo mais acabado de um modo de produção tecnoburocrático, tal qual delineado por Bresser nos anos 1970. Essa redução de escopo significa, basicamente, que a tese da tecnoburocracia deixa de ser uma interpretação global do capitalismo – desenvolvido e subdesenvolvido - e do estatismo soviético, na medida em que este regime, e outros regimes semelhantes em países satélites da URSS, ruiu nos anos 1980 e 1990, e passou a se constituir em uma ferramenta de análise sem pretensões meta-teóricas como antes.

Para manter a validade de sua tese da tecnoburocracia, Bresser acomoda o fenômeno empírico da tecnoburocracia no modo de produção capitalista. Esta operação permite que sua tese continue operacional, mas agora apenas em termos de uma “ferramento teórica para a compreensão do capitalismo” (TechC, 73) e, dentro do capitalismo, de uma classe social bem específica: a classe média.

Aquela acomodação empírica aparece explicitamente na construção de seu texto: “Neste capítulo, examinarei os fatos históricos por trás da teoria da classe média tecnoburocrática. Estes fatos históricos estão mudando ou já mudaram o capitalismo de uma maneira profunda” (TechC, 73). Antes, o estatismo soviético apresentava-se como o horizonte histórico futuro do capitalismo, a base concreta da interpretação que Bresser elaborara. Agora, tal base encontra-se reduzida à classe média tecnoburocrática surgida de dentro do capitalismo.

A análise torna-se cada vez mais da tecnoburocracia, especificamente, e menos dos modos de produção – capitalista e suas alternativas históricas.

E, conforme já observado acima, nessa análise, mais importante que a tese da tecnoburocracia em si, é a ideia de ciclo, a qual, contudo, não é levada muito longe por Bresser, que fica apenas na sugestão de que, ao longo do tempo, a intervenção do Estado varia. Ou seja, não vai muito além da ideia, já contida no emprego da palavra “ciclo”, de uma variação aproximadamente pendular. Não esmiúça a lógica e os mecanismos de tais movimentos.

Bresser resvala constantemente em uma visão monocausal da história, na qual o desenvolvimento tecnológico seria a chave para a compreensão da sociedade como um todo. “A natureza básica da estrutura social será definida pelo fator de produção que for historicamente estratégico em relação ao desenvolvimento tecnológico” (TechC, 85). E como já fizera décadas antes, em TeC, remete essa ideia à J. K. Galbraith, associando-a a uma visão não ortodoxa de K. Marx.

Na esteira dos estudos sobre as transformações do proletariado, que vicejaram no final do século XX, Bresser introduz uma alteração em seus argumentos, defendendo a ideia de que o proletariado – operários industriais urbanos que realizam atividades manuais – estaria desaparecendo. Em suas discussões em torno da tecnoburocracia, nos anos 1960 e 1970, aquela se tornaria a nova classe dominante, mas os trabalhadores continuariam sendo a classe dominada por excelência, mesmo mudando o modo de produção. Assim, apesar das mudanças na classe trabalhadora, esta continuaria a ser a classe dominada no tecnoburocratismo (TechC,100).

Bresser situa sua perspectiva no interior de um “neo-marxismo”, na medida em que, segundo sua interpretação, o “marxismo convencional” não seria suficiente para tratar adequadamente a “questão da classe média”. Sua proposta neste livro visa justamente cobrir aquela lacuna representada pela classe média no marxismo, centrada no conceito de tecnoburocracia, o qual foi elaborado de acordo com alguns dos pressupostos e noções básicas do marxismo, aliás, de um marxismo mais ‘atualizado’, por assim dizer. “Esta questão [da classe média] tem sido caracterizada pela inabilidade teórica das análises marxistas convencionais de apresentar uma explicação satisfatória para o enorme crescimento dos funcionários administrativos [white collar workers] neste século” (TechC,162).

Em meio a tantas atualizações, incorporações e mudanças, o que se mantém inalterado é a perspectiva de “revolução utópica” ou, em suas palavras, “uma revolução das consciências – uma revolução profundamente ideológica” (TechC, 207-08).

1.5

TECNOBUROCRACIA, O AGIR E O PENSAR