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No decorrer deste trabalho fez-se uma pequena descrição dos municípios pertencentes à AMTFNT e deu-se a conhecer alguns pontos turísticos de interesse dos municípios onde se realizou o trabalho de campo, assim como a localização de cada uma das construções estudadas.

A AMTFNT é constituída por quatro municípios (Bragança, Vimioso, Vinhais e Miranda do Douro), abrangendo uma área total de 2838,11 km2. Na fase inicial do trabalho de campo foram necessárias quatro deslocações aos municípios em estudo, onde foi possível observar um número considerável de construções, tendo-se registado maior número em Vinhais e menor em Miranda do Douro.

Não se conseguiu obter mais amostras nem registar mais informação pois muitas das vezes não era possível entrar em contacto com os moradores de forma a obter autorização para a sua recolha. Assim, foram estudadas trinta e uma construções, não se tendo recolhido amostras de todas.

Com os dados recolhidos das trinta e uma construções e indicadas nas fichas técnicas, apenas três elementos de tabique se encontravam em perfeitas condições, nove em estado de conservação bom e degradado, seis construções apresentam um estado de conservação considerado muito degradado e cinco em ruína.

Ao se considerar que as trinta e uma construções são representativas das construções de tabique existentes na AMTFNT, esta informação revela que o estado de conservação dessas construções pode ser extrapolado e considerado como sendo degradado ou bom.

Esta informação reforça ainda mais o facto de haver necessidade de se efectuarem trabalhos de conservação/reabilitação deste tipo de construção na região em causa.

A maioria das construções encontradas eram habitações unifamiliares em banda de dois pisos (rés-chão e 1.º piso) e era no 1.º piso que se encontravam mais elementos de tabique.

O elemento construtivo de tabique mais frequente é a parede. Verificou-se que os edifícios de tabique existentes na AMTFNT apresentam com muita frequência paredes exteriores de tabique. A existência de elementos de tabique ao nível do rés-chão é

reduzida. O facto de haver paredes exteriores de tabique indica que estas podem apresentar um papel importante como elementos estruturais.

Apesar da informação recolhida durante este trabalho mostrar que o tipo de elemento construtivo mais abundante ser a parede de tabique, há que frisar que noutros trabalhos do mesmo género foram encontrados outros tipos de elementos tais como tectos, escadas, alpendres e chaminés [9].

Como forma de revestimento, o caiado/pintado era o mais usual, encontrando-se revestimentos de chapa de zinco.

Noutros trabalhos apresentados no mesmo âmbito [9] foi indicado a existência de outro tipo de revestimentos mas que não se encontraram na AMTFNT. Essas soluções são a ardósia e a telha cerâmica.

Estas soluções de revestimento desempenham uma função de protecção do material enchimento contra as intempéries.

Em casos de construções que se apresentavam num estado de conservação mais avançado não foi possível identificar o revestimento.

As dimensões dos elementos construtivos de tabique apresentavam espessuras que oscilavam entre os 9,0 cm e os 14,0 cm. As alturas variavam entre os 180,0 cm e os 300,0 cm. No que respeita à largura, estas paredes de tabique atingem valores da ordem dos 350,0 cm.

As tábuas verticais apresentam uma largura máxima de 35,0 cm e mínima de 4,0 cm, a espessura máxima era de 5,0 cm e a mínima de 2,0 cm. Por sua vez, o seu espaçamento mínimo era de 1,0 cm e máximo de 2,0 cm.

No que diz respeito à largura das ripas horizontais, o valor mínimo era de 1,5 cm e o máximo de 3,0 cm. A espessura máxima é de 1,5 cm e a mínima de 0,5 cm, estando afastadas entre si de 0,7 cm como valor mínimo e 3,5 cm como máximo.

possível propor um esquema de montagem tipo para a execução deste tipo de elementos construtivos de tabique e que possa ser útil em trabalhos de conservação e reabilitação.

Num esquema proposta para as medidas dos elementos de tabique, conclui-se que uma parede interior da AMTFNT deve ter de largura 231,0 cm, 226,7 cm de altura e uma espessura de 9,6 cm. As tábuas verticais da parede interior devem ter uma largura de 15,3 cm, uma espessura de 2,9 cm e um espaçamento de 2,0 cm. Quanto às ripas horizontais, estas devem ter dimensões de 2,1 cm de largura, uma espessura de 1,3 cm, estarem espaçadas entre si de 2,6 cm e um comprimento de 166,7 cm.

Da mesma forma, as medidas das paredes exteriores devem ser de 233,8 cm de largura, altura de 210,0 cm e uma espessura de 11,7 cm. As suas tábuas verticais têm dimensões superiores às que se encontram nas paredes interiores. Assim, tinham de largura 19,6 cm, de espessura 3,5 cm e espaçamento 1,2 cm. O ripado horizontal proposto tem uma largura média de 2,2 cm, uma espessura de 1,0 cm, estavam espaçadas entre si de 2,7 cm e o comprimento das ripas era de 155,7 cm.

Após se calcularem os valores médios das dimensões das tábuas verticais e ripas horizontais pode-se concluir que estes elementos quando inseridos em paredes exteriores têm dimensões maiores, o levando a crer que a função estrutural destas paredes assim o obriga.

Observando-se em mais pormenor as ripas horizontais, pode-se registar que a secção transversal destas não é necessariamente rectangular. Estas apresentam um efeito de cunha que poderá ter como objectivo auxiliar a aplicação do enchimento da parede.

Após análise dos vários elementos que constituem a construção em tabique (madeiras, enchimento e revestimento), podemos concluir que existe uma linha mestra na forma de construir, mas não nos materiais utilizados na mesma, ou nas medidas dos vários elementos que constituem esta técnica construtiva, ainda que exista um padrão em alguns elementos, podemos observar alguns bastantes dispersos dos demais.

Se considerar que a fracção fina de um solo é formada pela argila, pelo silte e pela parte fina da areia, a curva granulométrica indica que o material estudado apresenta aproximadamente 30% de fracção fina e o restante de areia.

Na construção de terra, a percentagem ideal de argila encontra-se compreendida entre 20% e 30%.

Ao contrário dos resultados obtidos noutros trabalhos de investigação [1] e [9], a percentagem de Cálcio é sempre superior a 16% o que se considera elevado. Este resultado é inesperado mas pode levar a concluir que o enchimento seja do tipo argamassa com ligante do tipo cal aérea ou hidráulica.

Os resultados expostos na Tabela referente à identificação da espécie de madeira mostram claramente que a espécie de madeira usada com maior frequência na construção de madeira dos elementos de tabique existentes na AMTFNT é o pinus pinaster ou pinheiro bravo. Contudo existe um caso em que foi encontrado choupo.

Nos ensaios efectuados às amostras de pregos, concluiu-se que o material destes era aço, uma vez que nos testes de dureza obtiveram valores superiores a 200 HV. Os valores abaixo dos 300 HV levam a crer que se tratam de aços produzidos de forma rudimentar, levando a que o material tivesse impurezas, comprometendo a sua dureza.

Quanto às características físicas dos pregos, estes apresentam-se com um comprimentos que varia entre os 4,6 cm e os 3,2 cm, sendo que a maioria é de 3,2 cm. A secção do prego nas amostras recolhidas apresenta sempre uma forma quadrada e a cabeça é maioritariamente redonda à excepção de uma amostra que é quadrada.

Segundo o observado, a forma de aplicação e a natureza dos materiais aplicados parece diferir consoante a zona em questão, estando sujeitos a costumes, tradições na arte de construir.

A técnica construtiva de tabique enquadra-se no âmbito da “Arquitectura de Terra” e é praticada há milénios por diversas culturas em todos os continentes, dai a sua universalidade e potencial de uso. A terra é um material natural, ecológico, reciclável, económico e, como tal, um material de construção com enorme potencial.

Por isso, o tabique, verdadeiro ícone do património arquitectónico da Associação de Municípios da Terra Fria do Nordeste Transmontano, associa-se ao clima, ao terreno, à

património arquitectónico criou-se um blogue onde se partilha toda a informação recolhida neste trabalho de investigação [20].

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] CARVALHO, J. – Construções de tabique na região de Trás-os-Montes e Alto Douro. Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil. UTAD. Vila Real. 2008.

[2] CARVALHO, J., PINTO, J., VARUM, H., JESUS, A., LOUSADA, J., MORAIS, J. Construções em tabique na região de Trás-os-Montes e Alto Douro, CINPAR 2008, 4th International Conference on Structural Defects and Repair, 25 a 28 Junho de 2008, Universidade de Aveiro, Portugal.

[3] MARTINHO, J., GONÇALVES, C., MAGALHÃES, F., LOUSADA, J., VIEIRA, J., VARUM, H., TAVARES, P., PINTO, J. Construções de tabique no Vale do Douro Sul. Livro de Publicações de Resumos do VIII Seminário Iberoamericano de Construcción com Tierra (VIII SIACOT) e do II Seminário Argentino de Arquitectura y Construcción com Tierra (II SAACT). Editor: CRIATIAC – FAU – UNT. Junho de 2009. Tucumán, Argentina. ISBN en Trâmite. Pag. 151. Junho de 2009.

[4] GONÇALVES, C., MAGALHÃES, F., MARTINHO, J. Construções de tabique no Vale Douro Sul. (Dissertação/Projecto de Engenharia Civil I - 1º Ano Mestrado em Engenharia Civil). Vila Real, Fevereiro de 2009.

[5] CRUZ, D., MORAIS, P., SOUSA, D., Construções de tabique na Associação de Municípios do Vale Douro Norte. (Projecto de Licenciatura em Engenharia Civil). Vila Real. 2008/2009.

[6] PINTO, J., VARUM, H., CRUZ, D., SOUSA, D., MORAIS, P., TAVARES, P., LOUSADA, J., SILVA, P., VIEIRA, J. - Tabique Construction Characterization in Douro North Valley, Portugal: A First Step to Preserve this Architectural Heritage - 2nd WSEAS International Conference on Urban Rehabilitation and Sustainability (URES'09) - Environmental Science and Sustainability - Proceedings published by WSEAS Press (printed and in CD), Editors: Manoj Jha, Charles Long, Nikos Mastorakis, Cornelia Aida Bulucea, ISBN 978-960-474-136-6, ISSN 1790-5095, pp. 48-53 - Baltimore, USA, 7 a 9 de Novembro de 2009.

Constructions in Douro North Valley Region - Journal WSEAS Transactions on Environment and Development, ISSN 1790-5079, Issue 2, Vol. 6, February 2010, 105-114.

[8] PINTO, J., CRUZ D., SOUSA, D., MORAIS P., TAVARES P., VIEIRA, J., VARUM, H. (2010) – Estudo do Material de Enchimento/Revestimento de Elementos Construtivos de Tabique de Construções Antigas Existentes na Região do Vale do Douro Norte. 3º Congresso Português de Argamassas de Construção, Associação Portuguesa dos Fabricantes de Argamassas de Construção (APFAC). Editado em CD. Tema 6: Argamassas na Reabilitação e Conservação de Construções. Auditório LNEC, Lisboa, Portugal. 18-19 de Março de 2010.

[9] CEPEDA, A. – Construções de tabique existentes na Associação de Municípios do Alto Tâmega. Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil. UTAD. Vila Real. 24 de Novembro de 2009.

[10] CEPEDA, A., LOUSADA, J., VIEIRA, J., VARUM, H., TAVARES, P., FERNANDES, L., PINTO, J. (2010) – Estudo do material terra aplicado na construção de tabique existente no Alto Tâmega –Proceedings do 6º Seminário Arquitectura de Terra em Portugal (6º ATP) e 9º Seminário Ibero-Americano de Arquitectura e Construção com Terra (9º SIACOT). Editado em CD. 20 - 23 de Fevereiro de 2010. Universidade de Coimbra. Coimbra. Portugal. 2010.

[11] CEPEDA, A., MURTA, A., LOUSADA, J., VIEIRA, J., PINTO, J., FERNANDES, L., TAVARES, P., SILVA, P. & VARUM, H. (2010) – Tabique constructions in Alto Tâmega. Book of abstracts of the 1st International Conference on Structures and Architecture (ICSA2010). Ed. Paulo Cruz. CRC Press, Taylor & Francis Group. London. ISBN 978-0-415-49249-2. pp. 397-398.

[12] MARTINHO, J., PINTO, J., VARUM, H., TAVARES, P., LOUSADA, J., SILVA, P., VIEIRA, J. FERNANDES, L. Tabique constructions in the Municipalities Association of Terra Fria do Nordeste Transmontano. VII Congresso Internacional de Arquitectura de Tierra Tradición e Innovación. Grupo Tierra de la Universidad de Valladolid. Valladolid. España. 25-26 Septiembre de 2010.

[13] MARTINHO, J., GONÇALVES, C., PINTO, J., VIEIRA, J., SILVA, P. TAVARES, P., FERNANDES, L., LOUSADA, J., VARUM, H. (2010). Construções de

tabique nas Associações de Municípios da Terra Fria do Nordeste Transmontano e da Terra Quente Transmontana. Actas do 1.º Congresso Internacional de Habitação no Espaço Lusófono, 1.º CIHEL, Desenho e Realização de Bairros para Populações com Baixo Rendimento. Editado em CD. Tema D: Materiais e Tecnologias – Considerando aspectos de escassez de recursos e ligados às diversas facetas da sustentabilidade. Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE). Departamento de Arquitectura e Urbanismo. Lisboa. Portugal. 22-24 de Setembro de 2010.

[14] C. GONÇALVES, J. PINTO, J. VIEIRA, P. SILVA, A. PAIVA, L. RAMOS, P. TAVARES, L. FERNANDES, J. LOUSADA, H. VARUM (2010) – Tabique construction in the Municipalities Association of the Terra Quente Transmontana. Latest Trends on Cultural Heritage and Tourism. 3rd WSEAS International Conference on Cultural Heritage and Tourism (CUHT `10). Corfu Island. Greece. July 22-24, 2010. Editors: V. Miadenov and Z. Bojkovic. Published by WSEAS Press. ISSN: 1792-4308. ISBN: 978-960-474-205- 9. pp. 235-240. Also available in CD-ROM: Proceedings of WSEAS International Conferences. Corfu Island. Greece. July 22-24, 2010. WSEAS Multiconference. Editors: N. Mastorakis, V. Miadenov, Z. Bojkovic, P. Dondon, O. Martin, X. Zheng, M. Jha, Z. Bojkovic. Associate Editors: V. Vasek, D. Simian, N. Bardie, G. R. Gillich, R. Cermak. ISSN: 1792-4291. ISBN: 978-960-474-206-6

[15] WIKIPEDIA [on-line]. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/P%C3%A1gina_principal.

[16] Parques com vida [on-line]. Disponível em: http://infospcv.webhost4life.com/montesinho.aspx.

[17] GOOGLE EARTH [on-line], Disponível: http://earth.google.com.

[18] LABORATÓRIO NACIONAL DE ENGENHARIA CIVIL [on-line], Disponível: http://www.lnec.pt/servicos/ensaios/solos

[19] UNIDADE MICROSCOPIA UTAD [on-line], Disponível: http://home.utad.pt/~ume/

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