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4 – CAPITULO III: MOVIMENTOS DE DEFESA DOS DIREITOS DAS CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO ESPIRITO SANTO NA ATUALIDADE: LIMITES E

POSSIBILIDADES

Percebe-se que existem sujeitos, ONGs, atores que atuam na defesa dos direitos das crianças e adolescentes no Espírito Santo, inseridos em espaços institucionais (estatais e não-estatais), como os conselhos municipais estadual de direitos, conselhos tutelares, nos fóruns e movimentos episódicos e espontâneos. Assim, buscar-se-á apresentar a sistematização dos dados coletados durante a pesquisa através das observações feitas de reuniões do CRIAD, do Fórum DCA, de eventos, das entrevistas realizadas com alguns atores, etc. e posteriormente serão tecidas algumas análises referentes a alguns pontos utilizando de algumas leituras bibliográficas e sempre que possível se recorrerá às falas dos sujeitos entrevistados.

4.1 – O que demonstra o conteúdo e sistematização dos dados

4.1.a - O Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente do ES

Durante o período estudado, estava na presidência do CRIAD o MNMMR46.

À época da pesquisa (no período de 28/11/2006 a 18/09/ 2007) num total de sete reuniões ordinárias do CRIAD, participaram, excetuando a reunião específica para eleição do presidente no dia 20/06/2007, as seguintes instituições da sociedade civil: MNMMR (participou seis vezes), CRESS (participou cinco vezes), CRP (participou apenas uma vez), CMDCA Aracruz (participou duas vezes), ACES (participou quatro vezes), Pastoral da criança (participou duas vezes), CESAM (participou seis vezes); FEAPAES (participou quatro vezes), CIEE (participou cinco vezes) e Cáritas Arquidiocesana (participou três vezes). As instituições do Estado compreendiam a SETADES (participou cinco vezes), IASES (participou seis vezes), SEDU (participou quatro vezes), SEJUS (participou cinco vezes), SESA (participou três vezes), SESP

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A cada dois anos revezam-se na presidência do CRIAD representantes do Estado e da sociedade civil.

(participou duas vezes) e Juizado da Infância e da Juventude (participou apenas um vez).

Uma primeira leitura que se pode fazer a respeito das instituições que representam a sociedade civil no CRIAD é que 30% delas são de origem religiosa e 30% vinculadas ao empresariado local, 20% são Conselhos Profissionais, 10%Conselho Municipal de Direitos e 10% Movimento Popular.

O total de participações durante as sete reuniões observadas, entre os representantes da sociedade civil e do Estado, percebe-se que esta contabilizou trinta e oito participações de suas instituições, enquanto aquele contou com vinte e seis participações, por intermédio de suas instituições. Neste sentido, as entidades da sociedade civil compareceram às reuniões com maior assiduidade do que as instituições do Estado, o que não quer dizer que essa significativa presença tenha resultado em maiores poderes de influência e negociação neste espaço.

As entidades da sociedade civil que mais estiveram presentes nas reuniões, fazendo com mais freqüência intervenções nos assuntos que eram discutidos foram o MNMMR, CIEE, CESAM e CRESS.

Porém, dentre todos os componentes do CRIAD, quem deteve maior destaque nas reuniões foram algumas instituições do Estado, pelo fato de dominarem a maioria dos encaminhamentos referentes aos assuntos pautados na reunião daquele Conselho. Faziam intervenções, ponderando com significativa habilidade e propriedade acerca dos meandros burocráticos, demonstrando possuir saber técnico diante dos direcionamentos e encaminhamentos dos processos ali discutidos. Por isso, houve falas de participantes do Conselho que chegaram a dizer, durante as reuniões, que o Conselho era confundido com uma instituição do estado especificamente.

Uma instituição do Estado destacou-se bastante por pautar temas a serem discutidos no conselho, chamando atenção dos conselheiros sobre a importância deste órgão diante das temáticas e polêmicas que estavam acontecendo.

Segue abaixo uma fala de representante de uma Secretaria do Estado, que sintetiza e exemplifica uma série de outras colocadas nas reuniões por essa instituição:

O CRIAD precisa cobrar quais as políticas que estão sendo implementadas para os adolescentes em situação de risco no estado. O CRIAD precisa saber e não sabemos! Isso é papel do conselho. O que a secretaria de saúde tem feito de política, a secretaria de assistência, de educação?? etc. Precisamos ver a situação da Liberdade Assistida nos municípios. O Criad precisa trabalhar com os Conselhos Municipais de Direito da Criança e do Adolescente sobre a Liberdade Assistida, pois esta é uma agenda dos gestores municipais. Ver também junto às Secretarias o que foi executado para a criança e o adolescente e junto ao Plano Plurianual.Ver se o recurso planejado foi executado (REPRESENTANTE DO ESTADO Nº 1, 24/04/2008).

De um modo geral, pode-se dizer que no período de observações realizadas no CRIAD, poucas foram as falas que partiram da sociedade civil no sentido de problematizar e interferir nas discussões, produzindo pouco efeito naquele espaço. Em muitos momentos sentiam o órgão colegiado como fragilizado, como aponta a fala abaixo:

Se formos pensar, o conselho como um todo está fragilizado, todos os encaminhamentos não tiveram retorno. A gente começa e não tem continuidade. Isso fragiliza, desmobiliza, deixa a gente cansado, a gente não vê as coisas acontecerem e parece que não chegamos a lugar nenhum. Qual o nosso papel neste espaço? (REPRESENTANTE DA SOCIEDADE CIVIL Nº 01, 08/03/2007).

A dificuldade de encaminhar as questões e deliberações foi outro ponto muito discutido no Conselho. Os recorrentes e significativos atrasos de integrantes dificultavam sobremaneira o transcorrer das atividades inerentes ao Conselho. Como resultante dessas dificuldades, o próprio conselho, em reunião no dia 29/05/2007, reconheceu que os encaminhamentos do CRIAD estavam muito confusos, não eram executados e havia pouco controle dessa situação. No entanto, havia uma preocupação maior com as ações que envolviam a gestão de recursos do Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente47. Diante disso, consensualmente, construíram uma planilha das ações para que o controle da execução ou não dos encaminhamentos não ficassem apenas a cargo da presidência, mas de todos.

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O FIA – Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente – autorizado pela Lei federal 8.242/91 é um Fundo gerido pelos Conselhos de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente. Esses fundos existem nas instâncias federal, estadual e municipal e foram criados para captar recursos destinados ao atendimento de políticas, programas e ações voltadas para a proteção de crianças e adolescentes. A aplicação dos recursos do FIA é decidida pelo Conselho de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente

Assim, um representante da sociedade civil pontuou a seguinte fala: “o conselho deveria monitorar todas as ações e não apenas as que são financeiras” (REPRESENTANTE DA SOCIEDADE CIVIL Nº0 2, 29/05/2007).

No que concerne à planilha de ações, ou seja, onde deveria conter quais as deliberações foram tomadas e executar essas deliberações, esta não foi colocada em prática durante o período em que ocorreram as observações para a presente dissertação.

Essa demora em começar as reuniões propiciou, muitas vezes, a superficialização das discussões, esvaziou a participação e atropelou alguns encaminhamentos que eram deliberados de última hora.

Outra fala muito presente nas reuniões do Conselho, principalmente dita pela sociedade civil, foi a de que “precisamos nos capacitar”, “é preciso capacitar a sociedade civil”. Alguns movimentos foram feitos em relação a isso, ou seja, foram preparadas oficinas, seminários, eventos, etc, porém, essas capacitações não significaram um aumento de influência e/ou participação da sociedade civil durante as reuniões do Conselho.

Era evidente a grande dificuldade da sociedade civil em entender os trâmites burocráticos do Estado, em responder às questões colocadas pelo mesmo, muitas vezes sendo engolida por suas propostas.

Outra situação observada nas reuniões do CRIAD foi a existência do que aparentava constituir-se em uma espécie de “concorrência”. Não apenas pelo recurso do FIA, como ocorreu nos períodos em que se votavam os projetos, mas poder-se-ia dizer que parecia existir rivalidades entre as entidades e/ou pessoas que as representavam, tanto da sociedade civil quanto do Estado. Algumas reuniões pareciam ser prejudicadas por essa situação, tendo efeitos negativos quanto a encaminhamentos da pauta prevista para o dia.

Outra situação que comprometia o encaminhamento das questões e deliberações do CRIAD se dava pelo fato de nem todos os conselheiros se comprometerem com as decisões posteriormente, ficando sua execução, em boa parte das vezes, a cargo da diretoria.

O problema é que você acaba ficando sozinha na ação do conselho, porque eles vinculam como se o CRIAD fosse só a diretoria e a presidência. Os conselheiros acham que são conselheiros só naquele momento ali da reunião, acaba a reunião eles deixam de ser conselheiros. O Conselho exige conselheiros que vão além da reunião, tem que se comprometer, tem que se colocar à disposição para garantir o papel da política: o controle social e a elaboração da política de atendimento da criança e do adolescente no estado (REPRESENTANTE DA SOCIEDADE CIVIL nº 3, 29/05/2007).

Na reunião do dia 08/03/2008 houve um momento crítico no conselho. Durante esta reunião, foi apresentada uma carta de renúncia do então presidente do conselho, baseada no seguinte argumento: colocava-se contrário à decisão tomada pela maioria dos conselheiros na plenária de 27/02/2007 que aprovaram o plano de ações 2007/2008 do IASES.

Segundo os argumentos do então presidente, o Plano de Ações havia sido apresentado de última hora, não deixando tempo para que a plenária pudesse analisá-lo, de forma aprofundada, para poder aprová-lo. Neste momento houve grande agitação no conselho e uma grande discussão, momento este quando a maioria das entidades da sociedade civil presentes fez intervenções, concordando com os argumentos da carta de repudio da então presidente. As entidades que faltaram à plenária chegaram a colocar que o conselho não deveria aprovar o que não conhecia.

A maioria das entidades da sociedade civil se posicionou contra a saída repentina do presidente. Embora uma instituição representante do estado tenha colocado como proposta um “mandato tampão” da sociedade civil, esta, através de uma reunião, acabou decidindo e “convencendo” a então presidente a continuar até as próximas eleições.

Outra questão muito criticada no Conselho foi a doação casada48. As instituições que mais se utilizaram desse recurso foram as instituições de representação do Estado e quem mais se posicionou criticamente a isso foi o MNMMR.

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Esse processo se dava da seguinte forma: a instituição fazia toda uma campanha para a empresa e/ou doadores, geralmente empresários, incentivando a doação para o Fundo, no entanto, parte dessa doação já entrava no fundo destinada para a instituição.

Muitos outros temas apareceram nestes espaços, porém, as pautas das reuniões durante quase todas as observações feitas foi a organização da VII conferência Estadual de direitos das crianças e adolescentes e as Conferências Municipais49.

4.1.b - Sistematizações das Conferências Municipais de Direitos das Crianças e dos Adolescentes do Espírito Santo

Dos 78 municípios do Espírito Santo, 72 enviaram os relatórios das Conferências Municipais.

Para a realização dessas conferências, o CONANDA colocou como proposta para os municípios de todos os estados a discussão de três eixos específicos: o SINASE, o Plano de Convivência familiar e comunitária e o Orçamento. Os municípios deveriam construir um quadro onde, de um lado, apresentariam suas propostas e do outro os parceiros do município na execução das propostas e estratégia de implementação. A partir da leitura de todos os relatórios criou-se categorias e verificou-se quais mais se repetiram em cada eixo (Apêndice F). Dessas categorias foi escolhida as três que mais se repetiram, ficando sistematizadas conforme quadros abaixo50:

Tema 1 – Plano Nacional de Convivência Familiar e Comunitária: marco regulatório da política de proteção

Tabela 1

SUB-TEMA PROPOSTA DE ESTRATÉGIA PARA

IMPLEMENTAÇÃO