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3 POLÍTICAS PÚBLICAS: UM INSTRUMENTO DE FOMENTO À AGRICULTURA

4.2 CARÊNCIAS DO SETOR PRODUTIVO DE UVA ORGÂNICA

Se analisarmos o processo de planejamento e desenvolvimento das políticas públicas, veremos que na base de cada uma delas encontram-se necessidades humanas, que foram problematizadas e se transformaram em questões de direito.

Brage (1999, p.17) explica que “a necessidade, em geral, não pode ser reduzida a uma simples carência, mas deve ser vista como carência percebida, o que implica definição de valores, finalidades e existência de sujeitos envolvidos no seu enfrentamento”.

Além disso, é pelo reconhecimento da existência de necessidades humanas que surge a obrigação do Estado de satisfazê-las. O despertar da consciência para esse fato revela que as necessidades humanas sempre ocuparam lugar de destaque em toda teoria social e em toda prática política que se fundamentaram na justiça e nos direitos de cidadania, porque são essas necessidades que lhes servem de pressupostos e justificação.

Tanto é assim que, na ausência de definição precisa e coerente de necessidades, as políticas públicas tornam-se inconsistentes, quando não desastradas, por não contarem com critérios adequados de orientação (DOYAL & GOUGH, 1991).

Bühring (2016, p. 153), refere que “justamente a eficácia ao implemento de políticas públicas faz com que a população tenha nas suas expectativas, uma promessa de concretização.” A partir do relato dos produtores e das respostas fornecidas ao instrumento de coleta de dados, ficam evidentes as carências existentes no município.

A ausência de políticas públicas no setor é a principal delas. Durante todo o processo de formulação da pesquisa não se identificaram políticas públicas destinadas ao produtores orgânicos.

Notou-se que ainda não há um interesse dos órgãos públicos pelo assunto e que, o pouco que vem sendo realizado, tem origem na iniciativa privada.

Foi possível observar também que falta uma maior articulação entre o Poder Público municipal e as demais órgãos que tem atuação no setor agrícola, há desencontro de informações porque não se discute o tema.

Há falta de incentivos técnicos e financeiros o que impede a expansão do segmento. Disto decorre outra carência evidente, que é a falta de informação, tanto para o produtor, quanto para o consumidor.

Nesse sentido, cabe ao Município, que está mais próximo da população rural, atuar de forma mais eficiente, promovendo as ações necessárias.

Sobre a atuação dos municípios em matéria de legislação rural, Rech explica que:

É privativo da União legislar sobre direito agrário, cabendo a ela desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, imóvel rural buscando cumprir a função social da terra, o que não proíbe o município, por força de interesse local, de buscar, preservar, incentivar e fomentar zoneamentos produtivos, na forma do que dispõe a Constituição Federal.

Além disso, o art. 24 da Constituição Federal estabelece que é competência concorrente da União, dos estados e do Distrito Federal legislar sobre produção e consumo, o que fica em aberto, na forma do art. 30 do mesmo dispositivo legal, a autonomia dos municípios em suplementar a legislação federal e a estadual no que couber. (RECH, 2010, p. 152)

Portanto, incumbe aos municípios desenvolver atuação legislativa suplementar em matéria de direito agrário, não podendo se omitir em situações que ensejam autuação para sanar/minimizar carências, pois são destas ações que decorrem o desenvolvimento local, a preservação ambiental e a garantia de atendimento dos direitos sociais.

Entretanto, a identificação dessas necessidades pressupõe o conhecimento da população de seus direitos e a pesquisa focada nos setores atendidos pela atuação estatal para verificar onde as deficiências se encontram. Entretanto, embora o acesso a informação esteja mais acessível nas últimas décadas, a partir da globalização e do acesso à internet, o homem do campo - principalmente da agricultura familiar - ainda vive uma realidade distante dos centros urbanos, muitos sem acesso à tecnologia, sinal de telefone ou internet. E para podermos exigir nossos direitos, primeiramente, precisamos conhecê-los.

É sabido que os sistemas monocultores vendem a ideia de que são responsáveis por alimentar o planeta, e sistemas monocultores não se utilizam de sistemas orgânicos de produção, utilizam-se de, na sua grande maioria, sementes geneticamente modificadas e de uma grande quantidade de agrotóxicos em seus cultivos.

Sparemberger bem define a situação:

Todavia, ao longo da modernidade, a produção do conhecimento científico foi configurada por um único modelo epistemológico, como se o mundo fosse monocultural, o que descontextualizou o conhecimento e impediu a emergência de outras formas de saber não redutíveis a esse paradigma”, referindo-se a voz dos dominantes e o silencio dos dominados. (SPAREMBERGER, 2016, p. 75).

Ou seja, é nos passada a ideia de que necessitamos de transgênicos, fertilizantes e agrotóxicos para que o mundo não sofra de desnutrição, e essa informação é transmitida por grandes corporações sem que o Estado interfira da forma devida para sanar essas incorreções.

Dados divulgados pela Secretaria Especial de Agricultura Familiar e Desenvolvimento Agrário do Governo Federal em 02 de fevereiro de 2017, demonstram que boa parte dos alimentos que compõe as refeições da famílias brasileiras advém da agricultura familiar.

Figura 13 – Participação da Agricultura Familiar da Produção de Alimentos no Brasil

Fonte: SEAF (2017)

Portanto, fica mais do que evidente a necessidade de elaboração de políticas públicas no setor agrário para que possamos apresentar verdadeiros avanços em questões ambientais e para assegurar à população um meio ambiente ecologicamente equilibrado e a sadia qualidade de vida.

No caso específico do Município de São Marcos, após a realização do estudo de caso com os produtores de uva, e da observação das carências existentes no setor da agricultura orgânica, propõe-se a adoção de algumas políticas públicas para auxiliar no desenvolvimento sustentável local, como será explanado na seção a seguir.

4.3 PROPOSTAS DE POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O MUNICÍPIO DE SÃO