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Estudou-se 19 crianças com diagnóstico prévio de Bronquiolite Obliterante. Embora essa seja uma amostra relativamente pequena, representa todos os pacientes do Serviço de Pneumologia do HCSA, que estão em acompanhamento ambulatorial, capazes realizar as ma- nobras necessárias para o estudo. Na maioria destes pacientes não foi realizada identificação do vírus para o diagnóstico etiológico, devido à impossibilidade de realização dos exames na época do episódio inicial. O diagnóstico foi fundamentado nas características do quadro clíni- co, incluindo a faixa etária, a evolução e os achados da tomografia de tórax.. Outras doenças que poderiam causar sintomas obstrutivos crônicos foram excluídas. De acordo com estudos prévios, o diagnóstico pode ser baseando na história prévia de agressão viral grave, presença de radiograma e tomografia de tórax compatíveis, hipoxemia com ou sem hipercapnia, um perfil funcional caracterizado por obstrução grave de vias aéreas sem resposta à broncodilata- dor e alterações graves na retração elástica pulmonar (1, 25). Segundo Chang et al, biópsia pulmonar e broncografia devem ficar reservados para situações raras onde a TC e a cintilogra- fia não estiverem disponíveis ou forem inadequadas (21).

Dentre os 70 pacientes em acompanhamento no Serviço de Pneumologia Pediátrica do HCSA, há predomínio de crianças do sexo masculino com BO, o que está de acordo com a

maior freqüência e maior gravidade da Bronquiolite Viral Aguda em meninos, como registra- do por outros autores(24). No estudo de Zhang et al., com crianças oriundas de uma popula- ção semelhante, 80% eram meninos(25). Tal achado foi diferente no estudo de Yalçin et al, na Turquia, que não identificou o gênero como possível fator de risco para BO(37). O maior nú- mero de crianças de cor branca nessa pesquisa provavelmente reflete as características da po- pulação de onde a amostra foi obtida.

Quanto ao aspecto nutricional, a maioria apresentava um escore Z para peso/altura adequado para a idade, embora se saiba que pacientes com pneumopatia crônica apresentam maior gasto energético e, portanto, têm maior tendência à desnutrição. Teper et al., estudando crianças com BO por Adenovírus, em média nove meses após o episódio de BVA, observou que as crianças apresentavam peso e estatura adequados para a idade antes do episódio infec- cioso mas, estavam desnutridas no momento do estudo (22). Em um outro estudo, realizado por Chan et al., as crianças que apresentavam comprometimento pulmonar bilateral tinham evolução com déficit de crescimento (23). Como os pacientes do presente estudo fazem parte de um ambulatório de acompanhamento continuado e específico para crianças com BO é pos- sível que a orientação de nutrição hiperproteica e hipercalórica a esses pacientes possa justifi- car o adequado estado nutricional observado na maioria.

Têm-se descrito que a gravidade é maior quando a BVA ocorre antes dos 6 meses, embora a associação de menor faixa etária com BO não esteja bem definida. Yalçin et al. não encontraram correlação entre a idade da criança no episódio de BVA com BO, enquanto Zhang et al. encontraram melhor evolução naqueles com início dos sintomas em torno dos dois meses (25, 37). No presente estudo, a distribuição da idade do início da doença corres- ponde à faixa etária de maior prevalência e gravidade da BVA, sugerindo uma possível asso- ciação (64). Contudo, quando a idade de início dos sintomas foi comparada com o volume de zonas hipoatenuadas não se observou associação.

Nesse estudo, o exame físico demonstrou que os sinais de doença obstrutiva pulmo- nar estavam presentes na maioria dos pacientes (94,7%). Chang et al. Encontraram crepita- ções localizadas, persistentes após um período de 6,8 anos de acompanhamento e sugeriram que este pode ser um achado permanente durante a infância(21). Os achados do presente estu- do sugerem que, na maioria dos pacientes, os sintomas podem persistir além da infância e, provavelmente, manter-se-ão durante a idade adulta.

Nesse grupo de pacientes, a freqüência de sintomas respiratórios no período intercri- se foi elevada, com predomínio de tosse, no período entre as exacerbações. Zhang et al, estu- dando pacientes com características semelhantes encontraram sinais e sintomas de doença pulmonar crônica em 68% das crianças com BO após três anos(25). Tal freqüência de sinto- mas, bem como a ocorrência de exacerbações e o número de internações refletem o grau de morbidade destes pacientes.

Quatro pacientes desta amostra haviam sido submetidos à cirurgia, cuja principal in- dicação foi para o tratamento de bronquiectasias. Deve-se salientar que no Serviço de Pneu- mologia, onde estes pacientes são atendidos, utiliza-se como critério para a indicação de ci- rurgia de atelectasias com bronquiectasias a impossibilidade de controle das exacerbações in- fecciosas com medidas clínicas, fisioterapia e antibióticos, após doze meses de tratamento. Os achados relativos à função pulmonar e Densitovolumetria, nesses pacientes previamente sub- metidos à ressecção pulmonar, não se mostraram diferentes dos demais, portanto, não foram discutidos em separado.

O relato de piora dos sintomas respiratórios durante atividade física, que esteve pre- sente em 40% dos pacientes, é de grande importância na faixa etária pediátrica visto que cri- anças necessitam de exercício físico regular para manter uma taxa de crescimento e de desen- volvimento dentro de padrões normais.

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