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CAPÍTULO 3 – ESPECIFICIDADES DO MEIO: A NOTÍCIA NO RÁDIO

3.1 Aspectos da produção da notícia no rádio: início e principais marcos da trajetória

3.1.1 Características da comunicação no rádio

Mesmo após quase um centenário de história no Brasil, o rádio ainda se mantém como um dos principais meios de comunicação de massa do país. Embora tenham surgido fortes concorrentes ao longo de sua trajetória, como a televisão e, mais recentemente, a internet, o rádio ainda tem seu espaço e seu público. Para tanto, precisa se reinventar cotidianamente, trazendo novos elementos que possibilitem a interação do público e o tornem mais atrativo. No entanto, como ressalta Ortriwano (2003), essa reinvenção diária precisa ser compatível com o tipo de linguagem que deve ser empregada no rádio, para que não se perca sua essência e se possa atingir com eficiência o principal objetivo: comunicar.

A audiência do rádio, por ser um meio tradicionalmente de comunicação de massa, é ampla, heterogênea e anônima. De acordo com Ferraretto (2007), a mensagem radiofônica é definida por uma média de gosto, tem baixo retorno do público (feedback), e sobrevive por meio de verbas publicitárias, com exceção das rádios educativas.

19 Tudo sobre a migração do rádio AM-FM. ABERT, site. Disponível em

<http://www.abert.org.br/web/index.php/tudo-sobre-a-migracao-do-radio-am>. Acesso em: 17 mar. 2017. 20 Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/decreto/d8139.htm>. Acesso em: 17 mar 2017.

Ortriwano (1985) aponta que as características fundamentais do rádio seriam a linguagem oral, que daria ao meio vantagem sobre os veículos impressos, pois, para receber as informações, não é preciso que o ouvinte seja alfabetizado; a penetração, por sua abrangência geográfica; a mobilidade, tanto do ponto de vista do emissor (que, com o avanço da tecnologia, pode transmitir informações de qualquer lugar) quanto do ponto de vista do receptor (visto que o rádio hoje está em todos os lugares e não precisa estar preso a fios e tomadas); seu baixo custo, se comparado aos demais veículos de comunicação; o imediatismo, uma vez que as informações podem ser transmitidas diretamente do local do acontecimento, pela menor complexidade do aparato técnico do rádio; a instantaneidade, já que, estando exposto ao meio, o ouvinte recebe a informação no momento em que ela é emitida; a sensorialidade, que permite o envolvimento do ouvinte no diálogo mental com o emissor; e a autonomia, proporcionada pela mobilidade e que gera uma relação individual – e não mais coletiva – do público com o rádio.

Prado (1989) destaca a instantaneidade, a simultaneidade e a rapidez como os três principais aspectos da natureza do rádio. Ferraretto (2007) acrescenta a essa lista de características a proximidade e a mobilidade. Ele explica ainda que o rádio é um meio de comunicação fugaz: uma vez que o ouvinte não pôde receber aquela mensagem, naquele instante, ele a perde; e, no caso do radiojornalismo, se passado o momento correto para a transmissão da notícia, ela se torna obsoleta. Mcleish (2001) também ressalta a efemeridade do meio radiofônico: seus efeitos podiam ser percebidos pelo público apenas naquele momento de transmissão ao vivo. Se o ouvinte não estivesse ali para ouvir o noticiário, este já teria sido transmitido e ele teria de esperar pela edição seguinte. Diferentemente do jornal impresso, que o leitor pode deixar de lado, pegá-lo numa outra hora ou passar para outras pessoas, a radiodifusão costumava impor aos seus usuários uma disciplina rígida, a exigência de se estar na hora certa diante do dispositivo para se absorver o conteúdo. Costumava. Mas hoje, a internet permite que os veículos de radiodifusão disponibilizem, em suas páginas, os arquivos dos programas apresentados, que podem ser consultados, assistidos e ouvidos a qualquer momento por sua audiência, além de outros tipos de conteúdo. Ou seja, as possibilidades do rádio, com a chegada da internet, se ampliaram e permitem a convergência do veículo com outras mídias.

Milton Jung (2007, p. 69) corrobora com esse pensamento. Para ele, atualmente, “uma rádio não é apenas uma rádio. Na rede, o internauta busca texto, foto e imagem. E tudo tem de estar acessível”. Muitas emissoras de rádio têm buscado alcançar esse novo ouvinte, ao disponibilizarem a transmissão ao vivo de seus programas também em vídeo, além de outros

elementos de interatividade, como perfis em redes sociais na internet, para que o público se sinta mais participante da notícia – em sua construção e transmissão.

O rádio não fica à margem. Também é incorporado pelos computadores e conquista espaço na web, mas vê sua forma tradicional de transmitir desafiada pela tecnologia digital (ainda em experimentação no Brasil), a oferecer, além do áudio, textos e imagens (COMASSETO, 2007, p. 57).

Além da efemeridade, outras seis características do rádio são apontadas por McLeish (2001): capacidade de formação de imagens; possibilidade de falar para milhões e ao mesmo tempo para cada indivíduo; capacidade de abranger grandes territórios sem fronteiras geográficas; baixo custo de transmissão, produção e recepção; seletividade de informações; além de sua importante função social.

O autor explica que, por se tratar de um meio de comunicação exclusivamente sonoro, o rádio contribui para que os ouvintes utilizem a imaginação para criar imagens a partir da descrição dos fatos veiculados. Outro destaque está na capacidade de a informação radiofônica ser transmitida para milhares de pessoas em todo o mundo, ultrapassando barreiras geográficas e linguísticas, ao mesmo tempo em que pode cativar cada ouvinte individualmente. E, nesse processo de transmissão-recepção, temos uma mídia de baixo custo que está conectada com outras mídias, como o celular, por exemplo. A função social do rádio, ainda segundo McLeish (2001), fica por conta da veiculação de informações e prestação de serviços de utilidade pública. Trataremos mais especificamente do radiojornalismo de interesse público no próximo tópico.

Pela relevância do papel do rádio na sociedade, é preciso atenção aos formatos e linguagem utilizados para a transmissão da notícia nessa mídia. A notícia no rádio precisa receber um tratamento diferenciado, para que seja compreendida por inteiro, sem ruídos. Ferraretto (2007) lembra que a linguagem radiofônica engloba o uso da voz humana, da música, dos efeitos sonoros e do silêncio.

Cada um destes elementos contribui, com características próprias, para o todo da mensagem. Os três últimos trabalham em grande parte o inconsciente do ouvinte, enquanto o discurso oral visa ao consciente. A trilha sonora pode acentuar ou reduzir determinados aspectos contidos na voz do comunicador, ressaltados, por vezes, pelo silêncio. (FERRARETTO, 2007, p. 26).

A simplicidade é outro elemento fundamental da informação radiofônica, tendo em vista a necessidade de ser acessível, ou seja: compreensível para públicos de variadas formações. “O

nível socioeconômico e cultural do ouvinte ao qual se destina a mensagem determina como esta vai ser estruturada. O usual é considerar o público como um todo”, explica Ferraretto (2007, p. 27). No entanto, no caso de programações segmentadas, o conteúdo poderá ser escrito de forma mais ou menos coloquial, dependendo do público.

A linguagem para o rádio também deve conter características como períodos curtos, linguagem direta, objetividade, além da ausência de adjetivação, que pode aparentar opinião do comunicador (SAMPAIO, 2008). O texto deve ser escrito na ordem direta, na voz ativa, com tempo verbal no presente, e expressões no plural devem ser evitadas (FERRARETTO, 2007).

Listado o rol de características essenciais da comunicação radiofônica e para que possamos visualizar essa mídia pelo espectro do radiojornalismo, vamos compreender os gêneros jornalísticos empregados no rádio.