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3 A COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA NO ORDENAMENTO JURÍDICO

3.2 CARACTERÍSTICAS DA COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA

A competência tributária apresenta cinco características importantes. São

elas: facultatividade, indelegabilidade, irrenunciabilidade, inalterabilidade e

incaducabilidade. Este trabalho as abordará sucintamente, levando em consideração seus pontos mais importantes:

3.2.1 Facultatividade

Em regra, os titulares das competências tributárias, mesmo que não possam delegá-las ou renunciá-las, não estão obrigados a instituir todos os tributos. Analisando de forma literal o artigo 145 da CF, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios “poderão”, e não “deverão”, instituir tributos (BRASIL, 1988). Logo, partindo da terminologia adotada pelo legislador constituinte, a doutrina compreende que a competência tributária no Brasil é facultativa. Trata-se aqui de uma opção política a ser decidida pelos entes competentes, que possuem a faculdade de instituir ou não os tributos que pertencem às suas competências (CARVALHO, 2007).

Um exemplo muito comum que mostra o caráter facultativo do exercício da competência tributária é o Imposto sobre Grandes Fortunas (IGF), possuindo competência da União e que, até o presente momento, não fora instituído. Observe- se, dessa forma, que não existe problema nenhum quanto à falta de criação do tributo mencionado, levando em consideração o fato de que se faculta essa competência tributária (MINARDI, 2018).

3.2.2 Indelegabilidade

Indo adiante, tem-se que as competências tributárias são indelegáveis. Assim, cada Ente Político atua em sua respectiva competência, atribuída pela Constituição, não podendo, de forma alguma, delegá-la para outros entes. Pode existir o caso de não exercê-la, como citado anteriormente, mas não lhes é dado poder, no sentido de permitir, que outro ente o exerça, sob pena inclusive de alteração das próprias condições da outorga constitucional.

Essa característica é imprescindível, uma vez que é necessário proporcionar, além da autonomia administrativa e política, também a autonomia financeira. O fundamento do Princípio do Federalismo consiste na autonomia dos Entes Federativos, por isso, deve existir a repartição do Poder de Tributar entre eles (PAULSEN, 2012).

Quando a Carta Maior concede poder para os Entes Federados, ela determina precisamente quais serão os tributos de competência de cada um. E, exatamente em razão do Princípio do Federalismo, a Constituição define que determinada competência seja indelegável, ou seja, intransferível. Isso significa que o ente não poderá repassar a sua competência tributária, nem interferir na de outro.

Observe a previsão legal do artigo 7º do CTN:

Art. 7º. A competência tributária é indelegável, salvo atribuição das funções de arrecadar ou fiscalizar tributos, ou de executar leis, serviços, atos ou decisões administrativas em matéria tributária, conferida por uma pessoa jurídica de direito público a outra, nos termos do § 3º do artigo 18 da Constituição.

§ 1º A atribuição compreende as garantias e os privilégios processuais que competem à pessoa jurídica de direito público que a conferir.

§ 2º A atribuição pode ser revogada, a qualquer tempo, por ato unilateral da pessoa jurídica de direito público que a tenha conferido. § 3º Não constitui delegação de competência o cometimento,a pessoas de direito privado, do encargo ou da função de arrecadar tributos (BRASIL, 1966).

Dessa forma, se a Constituição conferiu poder para a União instituir o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), somente ela poderá realizá-lo. Ressalte-se que a indelegabilidade engloba a competência tributária (instituição e majoração). Isso porque o exercício administrativo de arrecadar, fiscalizar tributos, abrange a Capacidade Tributária Ativa, podendo sim haver delegação (MACHADO, 2010).

Dito isso, a característica de indelegabilidade na competência tributária incide de forma fundamental para a rigidez constitucional, de modo que, se aos Entes Políticos pudessem delegar suas competências, ou renunciá-las, romper-se-ia o próprio alicerce do sistema de competências, a Constituição por sua vez, se tornaria flexível, comprometendo seriamente a ordem jurídica.

3.2.3. Irrenunciabilidade

Do mesmo modo que os Entes Políticos não podem delegar suas competências, também não podem delas abrir mão, quer no todo, quer em parte. Desse modo, as competências tributárias são irrenunciáveis. O Ente Federativo não poderá renunciar sua competência tributária em favor de outro Ente, podendo somente deixar de exercê-la, como já visto na facultatividade. É assim que Paulo de Barros Carvalho (2007), evidenciando a importância da irrenunciabilidade, afirma:

Que sentido haveria numa discriminação rigorosa de competências, quando se permitisse que uma pessoa delegasse a outras as habilitações recebidas? Em pouco tempo, no manejo das utilizações concretas, quando se manifestasse o direito no dinamismo do seu estilo peculiar, o desenho das atribuições competenciais passaria por diferentes e imprevisíveis configurações, dissipando a rigidez e a estabilidade pretendidas pelo legislador constituinte. Advém daí o entendimento perante o qual a indelegabilidade e a irrenunciabilidade seriam prerrogativas inafastáveis do exercício competencial (CARVALHO, 2007, p. 169).

Conclui-se, dessa forma, que a individualização da competência tributária estabelecida pelo constituinte, possui uma razão de ser. Ora, no caso do afastamento

da irrenunciabilidade, haveria sério prejuízo a rigidez e ao equilíbrio constitucional

pretendido pelo legislador, além disso, estar-se-ia comprometendo também a validade dos demais atributos intrínsecos à competência tributária, e, desse modo, lesando todas as espécies de competências legislativas.

Por isso, a característica da irrenunciabilidade tem grande importância dentro da competência tributária. Tomando como exemplo mais uma vez o Imposto sobre Grandes Fortunas (IGF), tem-se o fato de a União não tê-lo instituído ainda, mas nem por isso é dado aos demais Estados o direito de criar o imposto mencionado, tudo isso devido à presença da irrenunciabilidade da competência tributária, com todo o seu rigor na definição das atribuições tributárias (CARVALHO, 2007).

3.2.4. Inalterabilidade

Por sua vez, a doutrina confere às competências tributárias a particularidade da inalterabilidade. Somente a Constituição Federal tem o poder para modificar a competência tributária, por isso, essa prerrogativa não pode ser alterada por lei infraconstitucional.

Assim, quando na Carta Maior, no artigo 156, I, dispõe que o IPTU incidirá sobre a propriedade predial e territorial urbana, uma lei comum não pode modificar tal competência de modo a definir que o IPTU tenha fato gerador diferente do que está previsto da Constituição. Nesse caso, entretanto, observa-se que o artigo 32 do CTN dispõe que o fato gerador do IPTU é a propriedade, posse e domínio útil de imóvel urbano. Essa divergência acontece, por razão do Código Tributário Nacional ter sido editado em 1966 e a Constituição em 1988. Dessa maneira, esse artigo do CTN foi recepcionado parcialmente pelo ordenamento jurídico, ao considerar que será contribuinte do IPTU o possuidor ou aquele que detenha o domínio útil da propriedade predial e territorial urbana, caso haja o animus domini (MACHADO, 2010).

Assim, o simples detentor da posse, como o locatário sem animus domini, não é considerado um contribuinte do IPTU, devido à lei não ter o poder para alterar a competência tributária. E, salienta-se, que a Constituição Federal define que somente o proprietário se encaixa como contribuinte do imposto mencionado. Como dito anteriormente, a competência tributária não pode ser mudada através de mera lei,

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entretanto, a Emenda Constitucional tem poder para alterá-la. Cita-se como exemplo, a EC n. 39/2002 que adicionou na Constituição o artigo 149-A, instituindo, dessa forma, a atual Contribuição para Custeio do Serviço de Iluminação Pública (COSIP) (MINARDI, 2018).

Nesse sentido, em conformidade com a hermenêutica constitucional, aos Entes Políticos é completamente aceitável realizar alterações em dimensões das competências tributárias que lhes foram outorgadas, inclusive, também não utilizá-las totalmente, ou até não utilizá-las. Porém, como já mencionado, os Entes Federativos não tem poder para modificar seus termos e condições, tendo em vista se tratar de matéria exclusivamente constitucional.

3.2.5. Incaducabilidade

Por fim, as competências tributárias não caducam com o passar do tempo, mesmo que não exercitadas, sendo, então, incaducáveis. A característica da incaducabilidade permite compreender que o Ente Federativo tem direito de desempenhar sua competência tributária a qualquer momento. Por isso, não existe decadência no exercício das competências tributárias. Mesmo que um Ente Político não exerça uma alguma competência tributária por tempo indefinido, nunca a perderá, podendo, a qualquer instante, vir a implementá-la, por meio de processo legislativo adequado (MINARDI, 2018).

Paulo Carvalho (2007) reitera que a Constituição existe para perdurar no tempo: “se o não-uso das faixas de competência tributárias acarretasse na sua extinção, a Constituição como um todo estaria comprometida, ficando à mercê de contingências e interesses das Pessoas Políticas”.

Coadunando também com essa lógica, afirma Roque Carrazza (2003): “O eventual não exercício da competência tributária, por parte da pessoa política que a detém, não a transfere para outra pessoa política; tampouco a autoriza a dela se apossar. Afinal, a competência tributária é improrrogável”.

Por esse motivo, por exemplo, o fato de a União não ter criado o IGF em 1988, na época da promulgação da Constituição Federal, não lhe obsta de ainda reter o direito de instituí-lo, quando por ventura decidir, apesar de passados mais de 30 anos.

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