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Este capítulo tem como objetivo, mostrar as características do município, e, dentro das limitações de nosso trabalho de campo, apresentar os aspectos da extração do caulim em Junco do Seridó, especialmente no tocante aos seus métodos de garimpagem, traçando um panorama geral a respeito desta atividade no município.

3.1- Junco do Seridó e a Extração de Caulim

No que se refere à mineração, Junco do Seridó está inserido na denominada Província Pegmatítica da Borborema/Seridó 8, que é uma das mais significativas províncias minerais do Brasil, composta por uma grande variedade de minerais industriais como o feldspato, caulim, quartzo, mica, tantalita e gemas. Geograficamente, o Município de Junco do Seridó localiza-se no sertão paraibano, nos limites com cidades do Estado do Rio Grande do Norte e com os municípios paraibanos Tenório, Assunção, Santa Luzia, São José do Sabugi, Salgadinho e Juazeirinho, estando a 233 km de João Pessoa, capital do Estado. Apresenta uma área de 170 Km2 e uma população de 6.643 habitantes, de acordo com os dados disponíveis do IBGE, no ano de 2010.

Segundo Nóbrega (2010), Junco possui uma altitude média de 590 metros e, por ser localizada na região da Caatinga, tem solo pedregoso, de fina espessura, escassa retenção de água, sendo em grande parte composto por areia. A temperatura da cidade é especialmente marcada por um longo período de clima seco que registra uma variação de 25°C e 28°C. No entanto, a cidade também convive com um período chuvoso, mesmo que curto e irregular.

Nos curtos períodos de chuva, impera como fonte de renda a agricultura de subsistência, cujos produtos mais cultivados são o feijão, o milho e algumas frutas como o caju. Porém, durante os longos períodos de sol, predominantes na região, a grande 8

A província pegmatítica da Borborema/Seridó, também conhecida como região Junco- Equador, está localizada nos Estados da Paraíba e Rio Grande do Norte, abrange os municípios paraibanos de Junco do Seridó, Salgadinho, Taperoá, Juazeirinho, Cubatí, São Vicente do Seridó, Pedra Lavrada, Nova Palmeira, Picuí e Frei Martinho, enquanto no Estado do Rio Grande do Norte a área principal circunscreve os municípios de Equador, Santana, Jardim do Seridó, Acari, Carnaúba dos Dantas, Parelhas, até as proximidades de Currais Novos. (SILVA & DANTAS, 1997)

movimentação econômica dá-se pela atividade de extração mineral, que se sobressai nas fases de estiagem, quando os agricultores se veem obrigados a se arriscar na extração, por não poder contar com alguma alternativa que lhes garanta o sustento da família.

No que se refere a substancia mineral, tem-se que em Junco do Seridó é encontrada uma diversidade de minérios, tais como caulim, feldspato, mármore, ferro, scheelita, talco, amianto e quartzitos. (GOMES; ET AL, 2008) Por ser o minério de maior abundância e possuir grande aplicação em diversas áreas (a exemplo da indústria farmacêutica, alimentícia, de produção de cerâmica, papel, dentre outros), o caulim vem sendo o maior atrativo econômico da região.

Conforme revelado por Guerra (1975), a extração mineral vem sendo realizada na região que engloba o município de Junco do Seridó, desde o advento da II Guerra Mundial, pela procura de pegmatitos portadores de berilo, tantalita, columbita, quartzo de mica. Todavia, esta passou a ocorrer, com maior intensidade, há quase cinco décadas, voltada para a extração de caulim.

O caulim é um mineral argiloso de cor branca, encontrado com grande expressividade na natureza, formado por silicatos hidratados de alumínio, como a caulinita e a haloisita, de coloração branca e funde a 1800°C. É uma das argilas industriais mais utilizadas em todo o mundo, em virtude de suas excelentes propriedades naturais, tais como: brancura, granulometria muito fina das partículas, pequena abrasão e grande inércia ou estabilidade química (MOURA, 1981). A primeira aplicação industrial do caulim foi na fabricação de artigos cerâmicos, entretanto, na atualidade ele é utilizado nos mais diversos setores industriais, como o de papel, borracha, plásticos, pesticidas, rações, produtos alimentícios e farmacêuticos, além de fertilizantes (DNPM, 2001).

Os caulins brasileiros podem ser divididos em cinco grupos: caulins sedimentares, caulins oriundos de rochas graníticas, de rochas vulcânicas, caulins derivados de anortosito, caulins derivados de pegmatitos, cuja maior parte fica localizado na região da Borborema estado da Paraíba. (NÓBREGA, 2010, p. 10)

Em Junco do Seridó, os depósitos de caulim são derivados de pegmatitos9, e seu processo de extração ocorre principalmente por meio da atividade garimpeira, ainda que existam algumas empresas de mineração formalizadas na região10. Para se ter uma idéia, foi revelado em conversas informais com um antigo garimpeiro da região, que existem mais ou menos 700 garimpeiros atuantes no local.

Também nos foi informado que a garimpagem naquele município é realizada em três grandes áreas centrais de exploração, conhecidas como Noruega, Chorão e Carneira. Conforme releva um entrevistado que afirmou:

[...] no Junco existem três áreas próprias pra extração de caulim. Uma é a Noruega, a Noruega é uma das maiores, aí depois da Noruega tem o chorão, e a outra se chama Carneira. A Carneira foi comprada por um cara rico que comprou aquilo ali [...] mas ele comprou foi embora e nunca veio atrás. [JUCA]

Pelo que restou afirmado acima, observamos que não há um critério delimitado para ocupação dessas áreas, nem padrão único de exploração. As pessoas juntam-se e decidem, então, concentrar seus trabalhos extrativos em alguma dessas localidades, conforme julguem ser mais lucrativo. Em conversa, funcionário do DNPM, o qual não quis gravar entrevista,

9

Rocha geralmente filonar de composição idêntica à do granito, e na qual os indivíduos mineralógicos, quartzo e feldspato, muito desenvolvido se acham interpenetrados. Essas informações foram recolhidas do Dicionário da língua Portuguesa Aurélio - Século XXI, que informa sobre o conceito geológico do termo pegmatito. (Versão digital 3.0).

10 A este respeito ver: NÓBREGA, José Aderivaldo S. da e MENEZES, Marilda Aparecida de. A

Expansão da indústria de extração mineral pelo meio rural e a problemática do trabalho. In: Anais do XXVIII Congresso Internacional da ALAS. Recife: ALAS/UFPE, 2011.

revelou que no Junco não há áreas com delimitações denominadas, formalizadas. O que confirma a informação prestada pelo entrevistado acima.

Os garimpeiros entrevistados informam que a idade média daqueles que estão em plena atividade, varia entre 18 e 35 anos. Percebemos que muitos, visivelmente, possuem idade inferior a 18 anos, mas esses se negaram a falar conosco, certamente por medo de represálias futuras, o que foi descoberto através do depoimento de outros garimpeiros, e que, quando nos identificamos como pesquisadora da Universidade, deixaram-nos a par da situação. Também existem os mais velhos, que comumente desempenham um papel de líder de grupo. Isso deve acontecer devido à tamanha exaustão que o garimpo provoca, fazendo com que os mais velhos não suportem o ritmo puxado da rotina de trabalho.

Foi observado também, que os garimpeiros do caulim possuem baixo nível de escolaridade, o que não nos surpreendeu face à entrada precoce no mercado da garimpagem e ao intenso ritmo de trabalho, que dificulta enormemente a frequência nas escolas. Na realidade, algumas até relataram que poderiam estudar à noite, mas não têm disposição para ir à escola. Todavia, percebemos que um ou outro garimpeiro frequenta a escola, mas sem perspectiva de trabalho fora do garimpo.

Eu num estudo mais não. Eu fui pouco pra escola. Eu tô aqui nesse garimpo desde pequeno. Meu pai era garimpeiro e eu vim pra cá também. Mas no dia que eu tiver um filhe eu quero que ele estude, num quero isso aqui pra ele não. [MARCELO]

Eu estudo de noite e, mesmo chegando cansado, eu vou. Mas tem dia que não dá mesmo porque eu chego todo quebrado. Mas mesmo assim to conseguindo terminar. Eu já tô no 3º ano, mas quando terminar num quero mais nem saber de escola. Isso num vai mudar minha vida mesmo, entrei nisso aqui faz pouco tempo, mas não consegui mais sair. Vou terminar nisso aqui mesmo, eu já sei. [JORGE]

Os depoimentos acima apontam que parte do garimpeiro oscila entre o trabalho e a frequência à escola. Verdadeiramente, pode-se observar que o ritmo intenso da garimpagem e a ausência de perspectiva de vida levam o garimpeiro a considerar que o trabalho seja mais importante do que alcançar um maior nível de escolaridade. Com isso, mantém-se um círculo vicioso na trajetória de vida e trabalho dos homens das famílias de garimpeiros, conforme se depreende do depoimento abaixo

[…] Eu tô aqui nesse garimpo desde pequeno. Meu pai era garimpeiro e eu vim para cá também, mas no dia que eu tiver um filho eu quero que ele estude, num quero isso aqui pra ele não. [MARCELO]

3.2- As formas de garimpagem do caulim

A atividade de garimpagem do Caulim em Junco do Seridó é bastante intensa. Geralmente, os garimpeiros trabalham durante todo o dia. Saem de casa às cinco horas da manhã e só retornam por volta das cinco horas da tarde. É no próprio garimpo que são feitas as comidas, tudo de modo improvisado.

Eu tenho 19 anos, e aquele dali só tem é 17, por isso que ele deu uma carreira daqui. Eu passo mais tempo aqui do que na minha casa, eu venho assim que o dia clareia. O caminhão vai buscar a gente em casa. O motorista traz a gente, e fica levando o caulim que a gente tira. Aí no fim do dia é que a gente vai embora, lá por unas 5 horas, antes de escurecer. [JORGE]

A partir do depoimento acima, percebemos que os garimpeiros trabalham 12 horas diárias, e se locomovem para os garimpos através dos próprios caminhões que transportam o caulim, o que é um risco, pois as estradas que levam aos garimpos são desniveladas, tornando o trajeto bastante propício a acidentes que, caso aconteçam, podem levar até à morte, uma vez

que os trabalhadores são transportados dentro das carrocerias dos caminhões, sem proteção alguma contra acidentes.

A escolha do local da garimpagem a ser explorado, acontece sem que exista um estudo prévio, ocorrendo de forma irregular, sendo utilizada como critério de escolha a experiência de garimpeiros antigos. Observamos que na cidade, existem grandes disputas por determinadas áreas, porque os garimpeiros as julgam como sendo mais produtivas. Sobre essa questão, alguns garimpeiros se manifestaram dizendo que

Esse local mesmo aqui é muito bom de garimpagem. A gente conhece quando um lugar é bom pela experiência. É muito tempo no garimpo, daí a gente sabe logo quando um lugar é bom pra tirar caulim puro. Aqui mesmo, a parte da Noruega é muito boa, é a melhor que tem pra fazer garimpo no Junco. [JUCA]

Essa parte do Chorão era a melhor que tinha, mas já tiraram tanto de lá, que ela não tá mais dando pra explorar direito não. Ta muito sem segurança garimpar ali. Chegou um ponto que as banquetas tão muito perigosas. Num é que a área é ruim,muito pelo contrário, ela é muito boa, mas que já tiraram tudo, aí num tem mais nem o que fazer lá. Só se tivesse máquina boa mesmo, que levantasse os paredões de novo pra que a gente não ficasse com o perigo de ter um desabamento. Por isso é que a gente tá correndo pra Noruega. [PEDRO]

Sobre o contido acima, pertinente à escolha do local para garimpar, Oliveira (1997) afirma que no garimpo o aprendizado é absorvido pelo modo empírico, ocorrendo através de observações da vivência em grupo. E, aquele garimpeiro que apresenta grande experiência e conhecimento é respeitado por todos os demais.

Como se observa, para os garimpeiros, muito mais do que uma questão técnica no processo da garimpagem, está em jogo um aspecto bastante relevante que compreende a “experiência”; é a partir deste critério que define o local para extração como de boa qualidade. Todavia, mister ainda ressaltar que outro critério utilizado para escolha do local representa o esgotamento da banqueta pela quantidade de extração já realizada. Por tais critérios, a Noruega é, hoje, considerada pelos garimpeiros como promissora, enquanto o Chorão representa área desfavorável pela sua situação de insegurança, acarretada pela garimpagem predatória ali já ocorrida.

Frente às situações acima expostas, e considerando que os minerais naturais encontrados na natureza não são renováveis, indagamos aos garimpeiros sobre a possibilidade de escassez do caulim naquela região. Os garimpeiros informaram que esta possibilidade existe. Porém, os mesmos acreditam que isso levará um longo tempo para acontecer. Vejamos algumas declarações abaixo:

Olha, a gente vê isso, mas bem no longo prazo, longo prazo mesmo. Tem muito minério no Junco, tem muita coisa a ser explorada ainda. As banquetas que foram exploradas estão aí, a grosso modo, deixando cair tudo. Mas quando entrar a máquina ai de novo vai rebeneficiar praticamente 50% de tudo, ou seja, dá pra aproveitar tudo novamente. [CARLOS]

Menino tem muito caulim nesse banquetão aqui pra ser extraído. Pode até ser que um dia ele acabe, mas ainda tá muito longe, viu? O problema é que essas banquetas vão ficando inseguras e aí a gente fica com medo de trabalhar nela. Mas não é por falta de caulim não, é por medo mesmo. Mas se você escavar aí a mesma altura pra baixo vai ter caulim e cada vez melhor. O negócio é que a gente não tem condição. As máquinas até estão fazendo uns paredões de sustentação, mas chega num ponto que não dá mais. [JUCA]

Com relação as formas de garimpagem, alguns estudiosos indicam que, historicamente, esta é feita de três diferentes tipos: garimpo artesanal, semimecanizado e o mecanizado (COSTA 2007). No Junco do Seridó a garimpagem do caulim é realizada de dois modos: manual e semimecanizado. Neste sentido, necessário destacar o fato de que o método manual vem sendo parcialmente substituído pela forma semimecanizada, a partir da introdução de alguns maquinários. No entanto, importante ressaltar que em fases mais avançadas os trabalhadores voltam para o trabalho de garimpagem manual do caulim, haja vista que existem pontos que a máquina não alcança. Mister salientar que, mesmo atualmente a maior parte dos garimpos está sendo aberta por máquinas, contudo, a atividade manual, ao longo de todas as fases da extração, é inevitável. Dessa maneira, mesmo com toda mudança das inovações tecnológicas e consequente introdução de maquinário no garimpo, é possível afirmar que, em Junco, os dois modos de garimpagem do caulim coexistem, todavia, a extração manual é predominante. Essa consideração pode ser feita a partir das entrevistas realizadas com os atores da pesquisa, de onde se colheu que,

A máquina extrai o caulim, mas ela tira muito pouco. Tem pontos que a máquina já não alcança mais e aí o garimpeiro tem que ir para o manual, para o manual mesmo. Existe extração de máquina também, ela não só abre, mas o aproveitamento maior do caulim é através do manual, mas realmente o aproveitamento maior do caulim só tem quando a gente vai pro manual mesmo. Porque a máquina só consegue ir em cima, mesmo, aí ela tira muita impureza. Quanto mais profundo, mais o caulim é o puro. [BETO]

Pra mim essa máquina num serve de muita coisa não. Quer dizer, ela até serve no começo, mas o que ela tira é muito rejeito. Só é boa mesmo pra abrir o caminho da banqueta, mas no final das contas mesmo o que vai dar dinheiro mesmo é a gente ir pra dentro e tirar com as mãos, porque só com as mãos é que a gente consegue puxar o caulim bom, porque a máquina com essas coisas grandonas não consegue chegar muito fundo. [...] Mas eu num tô dizendo que ela é ruim não, ele é boa. O que tô dizendo é que não tem como ficar só

nela, a não ser que criem outras aí que vá mais fundo, e ia ser até bom porque a gente ia trabalhar menos. [LUIZ]

Mais uma vez, os informantes chamam a atenção para o fato de que, no âmbito do garimpo, o trabalho final fica a cargo do trabalhador capaz de retirar o minério de forma adequada, evitando o excesso de impurezas e garantindo sua qualidade. Em Junco, parece que a máquina fornece o suporte para o garimpeiro, porém o maior ganho é justamente na abertura das banquetas, pois se trata de um trabalho árduo e de pouca produtividade.

3.2.1- Modo Manual

Em Junco do Seridó a extração manual de caulim pode ir da abertura das banquetas até o carregamento final do produto. Assim, na extração manual, os garimpos são abertos de forma aleatória, pois são escavados diversos túneis subterrâneos em uma única mina. É feita uma abertura vertical de cerca de 2m², que vai se expandido horizontalmente, o que torna a atividade bastante perigosa para a vida dos trabalhadores, na medida em que esses passam longas horas do dia dentro de pequenos espaços, sem luz solar e gás oxigênio suficiente. São utilizados materiais como bases de madeira, carretéis manuais, picaretas, baldes, pás e carros de mão para o transporte do material obtido. Nos túneis geralmente trabalham grupos de três a quatro homens, que descem segurados em cordas, passando apenas um de cada vez, pelo seu pequeno espaço para entrada e saída. Depois de extraído o caulim dentro dos túneis, o mesmo é colocado em baldes e levado para superfície, puxado por meio de carretéis manuais.

Como a gente aqui num tem máquina nenhuma, é tudo no braço mesmo, num dá pra gente tirar tanto dinheiro assim. Nem se compara com quem tem máquina, porque só o tempo que a gente passa pra abrir uma banqueta, meu Deus do céu, é tempo demais. E mais, a gente num ganha nada por isso não, porque o que a gente tira no começo num presta, porque o caulim tá muito misturado. O apurado da gente aqui é pouco demais, mas fazer o que, a gente passa o dia todinho pra ver se

tira pelo menos 10 toneladas, e olhe lá. Agora, quem tem máquina é outra coisa, porque bem dizer já começa ganhando. Por isso que hoje em dia ninguém mais quer nem abrir banqueta com a mão. Pode ver que a maioria disso aqui está abandonada, nem funciona mais. Agora se tu for lá do outro lado, tu vai ver povo tudo trabalhando depois que a máquina já abriu. Aí é bom demais. Porque isso aqui é muito trabalhoso. [JUCA]

Como bem explicitado acima, o processo utilizando o método manual acontece de forma lenta e, por isso, apresenta uma baixa produtividade. Os trabalhadores passam longas horas do dia para retirarem em média 10 toneladas e, por isso, esse modo de garimpagem, como única forma de extração, está cada vez mais em desuso, tanto que as banquetas visitadas, durante a pesquisa de campo, estavam abandonadas, muito embora tenhamos escutado falar sobre a existência de algumas ainda em atividade, em lugares mais afastados.

Durante a entrevista foi mencionada a existência de um acidente, neste tipo de banqueta, acontecido há alguns meses antes da realização deste estudo. O acidente teria acontecido durante o manuseio do carretel, inclusive com um garimpeiro bastante experiente, demonstrando assim, que nem mesmo a experiência os livra dos desastres durante a realização da garimpagem.

Teve um dia, faz só uns meses, que um amigo meu morreu aqui nesse carretel. Ele trabalhava comigo na mesma banqueta. Era como se fosse um pai pra mim. Eu sofri mais com a morte dele do que com a morte do meu pai de verdade. [...] Ele tava trabalhando normal, foi um acidente tão besta. Ate hoje fico aqui pensando como isso aconteceu com ele, porque ele era tão experiente. Ele tava usando o carretel, puxando o caulim lá de baixo no balde e é muito pesado. Aí o carretel quebrou e ele foi muito sem sorte porque foi bem na ora que ele tava girando ele pra frente, aí puxou ele pra dentro da banqueta. Eu só ouvi o estouro. Ele se quebrou todinho e fui eu e o próprio filho dele que socorreu ele. A gente ainda foi com ele pra Campina, mas não teve jeito. Depois eu

nem voltei mais pra trabalhar aqui. Eu sofri muito com a morte dele, porque ele era como se fosse um pai mesmo pra mim. [JUCA]

Como se pôde colher, a ocorrência de mortes é muito mais significativa nesse tipo de garimpagem, já que além de o risco de desabamento nos túneis ser muito maior, quando acontece, não existe escapatória para os garimpeiros.

O meu pai morreu numa banqueta assim. Nessas banquetas tem muito mais perigo da gente morrer. É que quando vem caindo por cima da gente, tem nem pra onde a gente correr. Até eu mesmo pequeno já via que aquela ali que ele tava trabalhando ia desabar em cima dele. Eu e

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