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5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 CARACTERÍSTICAS DA POPULAÇÃO

Dos 75 idosos residentes no Recanto Nossa Senhora da Boa Viagem à época da coleta de dados, 72 foram incluídos neste estudo. O exame clínico foi realizado em todos os participantes, enquanto a entrevista estruturada foi realizada com 45 idosos, de acordo com os critérios de inclusão e exclusão já citados para cada etapa desta pesquisa.

Com relação à idade, 29 (40,3%) possuíam mais de oitenta anos, 25 (34,7%) de 71 a 80 anos, 13 (18%) de 61 a 70 anos, enquanto somente 4 (5,6%) possuíam menos de 60 anos. Portanto, 75% dos sujeitos analisados possuíam mais de 71 anos. Não foi encontrado registro a respeito da idade de um único participante. Chaimowicz & Greco (1999) também encontraram maior prevalência de idosos com idades mais avançadas, principalmente do gênero feminino, residindo em instituições de longa permanência de Belo Horizonte.

De fato, houve grande predomínio do gênero feminino (62,5%) sobre o masculino (37,5%). Este achado está de acordo com os dados demográficos da cidade de Belo Horizonte para populações com idade acima de 60 anos (CUNHA et al., 1985; CHAIMOWICZ & GRECO, 1999; IBGE, 2002), que também apresentaram maior prevalência de mulheres

(acima de 70%) em populações de idosos acima de 60 anos neste município.

Para se estimar a situação sócio-econômica dos sujeitos analisados, foram coletados os registros das contribuições mensais pagas pelos idosos e/ou seus familiares à instituição. Os valores encontrados foram bastante heterogêneos, variando de zero (nenhuma contribuição) até o valor máximo de R$ 1874,00*, indicando a coexistência de diferentes classes sociais na instituição. Como anteriormente citado, o valor pago mensalmente à instituição possui relação direta com o grau de benefícios obtidos ou pretendidos. Somente 12,5% contribuíam com valores acima de R$1000,00, como mostra o GRAF. 1. Dezesseis idosos (22,2%) tinham suas contribuições abaixo de R$ 250,00, provavelmente pagos com a própria aposentadoria do idoso, muitas vezes requisitada após o ingresso no Recanto. Além disso, todos os idosos que não mantinham nenhum contado com a família se encontraram nesta categoria de contribuição relativamente baixa ou inexistente.

*

Salário mínimo corrente de R$ 240,00 e 1U$ equivalente a aproximadamente R$ 2,94 (dezembro/2003)

22% 22% 23% 17% 13% 3% 0 a R$250,00 R$350 a 600,00 R$601 a 800 R$801 a 1000,00 acim a de R$1000,00 Não registrado

GRÁFICO 1 - Distribuição percentual dos idosos segundo os valores de contribuição mensal pago à instituição. Idosos residentes em uma instituição geriátrica de Belo Horizonte - 2003.

Quanto à capacidade de realização das Atividades de Vida Diária - AVDs (alimentação, higiene, vestuário, banho e locomoção) 38,9% eram independentes, 30,6% parcialmente dependentes e 30,6% dependentes. Vale enfatizar que o critério utilizado neste tipo de classificação se refere à capacidade ou não de realizar sozinho estas atividades, independentemente da qualidade em que são realizadas. Com relação à locomoção especificamente, 29,2% eram acamados, 16,7% possuíam marcha somente com auxílio e 54,2% possuíam marcha livre. Este achado está próximo do encontrado por Cunha et al. (1985), que num levantamento em asilos de Belo Horizonte, encontraram 42,2% da amostra com distúrbios de mobilidade e 54,2% necessitando de ajuda para realização das tarefas diárias. Foi observada também, uma nítida tendência de aumento de indivíduos acamados com o aumento da idade; 47,6% dos acamados tinham idade superior a 80 anos, 23,8% de 71 a 80 anos, 14,3% de 61 a 70 e somente 9,5% dos acamados possuíam idade inferior a 60 anos. Chaimowicz (1997) também relatou que a proporção de indivíduos que apresentam deficiências e dependências

aumenta de acordo com a idade, e segundo este autor, as questões da capacidade funcional e autonomia do idoso podem ser mais importantes que a própria morbidade, pois se relacionam diretamente à qualidade de vida. A maioria dos residentes (84,7%) mantinha algum convívio com a família, embora 88,8% não tenham um companheiro(a), sendo 48,6% solteiros, 31,9% viúvos e 9,7% separados. Saliba et al. (1999a) também encontraram alta porcentagem de indivíduos solteiros (48,45%) em instituições para idosos de Araçatuba - SP. Com relação a hábitos, foram encontrados 8 (11,1%) tabagistas e 2 (2,8%) com má postura da língua. Embora tenham sido verificadas nos prontuário referências a etilismo prévio à institucionalização, não foi encontrado nenhum idoso etilista à época da coleta de dados, provavelmente devido à dificuldade de acesso ao álcool dentro da instituição.

Apenas 9,7% dos idosos não consumiam nenhum medicamento. A maioria (61,2%) consumia entre 2 e 5 medicamentos e 22,2% consumiam 6 ou mais medicamentos. O número médio de medicamentos consumidos foi de 3,7 (DP=2,38), variando de nenhum (9,7%) a 9 (2,8%). Este achado está além do relatado por Cunha et al. (1985) que encontraram 68,8% dos idosos institucionalizados de Belo Horizonte utilizando medicamentos e está semelhante ao de Teixeira & Lefèvre (2001) que encontraram uma média diária de consumo de 3,6

medicamentos por idoso, num intervalo de 1 a 8. Os medicamentos consumidos foram divididos em grupos de acordo com suas indicações. A distribuição do consumo de medicamentos por grupo é mostrada na TAB. 2.

TABELA 2

Distribuição dos idosos em número e porcentagem segundo as indicações dos medicamentos consumidos. Idosos residentes em uma instituição geriátrica de Belo Horizonte - 2003

Grupo de medicamento N %

Hipertensão/diurético 41 56,9

Ansiedade/sono 26 36,1

Problema cardiovascular 32 44,4

Sistema Nervoso Central 20 27,8

Outros 47 65,3

Vale aqui comentar, que segundo Xavier et al. (2001) é alta a incidência, entre idosos, de problemas psicossomáticos, entre eles a depressão e ansiedade. A presença destes distúrbios é associada à menor satisfação com a vida e aos piores padrões de qualidade de vida. Cunha et al. (1985) comentaram estranhar a baixa prevalência de uso de antidepressivos entre idosos institucionalizados de Belo Horizonte, e comentaram que isso é um reflexo da não formação psicogeriátrica dos médicos responsáveis pelos cuidados com idosos asilados. Parajara e Guzzo (2000) afirmaram, ainda, que os problemas de fundo emocional, como a depressão, podem fazer com que os idosos negligenciem os cuidados com o corpo, entre eles, a higiene e cuidados bucais.