• Nenhum resultado encontrado

Características do Pensamento Sistêmico

CAPÍTULO 6 DINÂMICA DE SISTEMAS

6.1.2 Características do Pensamento Sistêmico

Através dos estudos de autores como CAPRA (2001), CHURCHMAN (1968),

BERTALANFFY (1977), CHECKLAND (1981), entre outros, pode-se separar as principais

características-chave do pensamento sistêmico.

A primeira característica é a mudança das partes para o todo. De acordo com a visão sistêmica, as propriedades essenciais de um sistema são propriedades do

todo, não encontradas em nenhuma das suas partes. Elas são um resultado das interações e relacionamentos entre essas mesmas partes.

Um segundo aspecto do pensamento sistêmico é pensar em termos de contexto; as propriedades das partes só podem ser compreendidas dentro do contexto mais amplo. Assim, a nova regra é: para compreender algo, não se deve separar, mas sim inserir num contexto mais amplo. Desta forma, o pensamento sistêmico é expansionista, opondo-se ao pensamento analítico reducionista.

Na visão mecanicista, o mundo é visto como uma coleção de objetos, sendo secundárias as relações entre eles; na visão sistêmica, reconhece-se que os objetos em si são redes de relações inseridas em redes maiores.

Outra característica-chave do pensamento sistêmico é sua capacidade para fazer com que se desloque a atenção através dos diferentes níveis dos sistemas; isto é possível devido ao caráter multinível inerente aos sistemas.

Outro atributo do pensamento sistêmico é fazer com que cada estrutura seja vista como uma manifestação dos processos subjacentes. O pensar sistêmico é sempre pensar em termos de processo.

6. 2 Dinâmica de Sistemas

Os construtores de modelos podem adotar muitas abordagens diferentes na escolha dos problemas a serem modelados e do conteúdo de seus modelos. Dentre essas abordagens, tem-se a simulação clássica e a simulação baseada em Dinâmica de Sistemas, a última é o principal objeto de discussão deste capítulo.

Dinâmica de Sistemas (SD) é o termo aqui utilizado para denominar a metodologia System Dynamics, cujo conceito foi originalmente desenvolvido, na década de 50, pelo professor Jay W. Forrester, do Massachusetts Institute of

Technology (MIT).

O trabalho inicial de Forrester foi o livro Industrial Dynamics (1961), cujas idéias foram posteriormente expandidas a outros sistemas que não os industriais (econômicos, sociais etc.). Todas as suas idéias formaram um novo campo de estudo, conhecido como Dinâmica de Sistemas. Segundo ROBERTS (1983), este novo campo

computadores; a SD provê uma estrutura que possibilita a aplicação da idéia da teoria de sistemas a problemas sociais e econômicos.

Desde a publicação da obra Industrial Dynamics, a modelagem e a simulação da Dinâmica de Sistemas têm despertado o interesse de especialistas de diversos campos do conhecimento, desde as engenharias, onde se originou, aos sistemas físicos, biológicos, sociais e econômicos (GALLAHER, 1996). Apesar dessa obra tratar da modelagem do comportamento dinâmico das organizações industriais, suas premissas podem ser estendidas a qualquer outro sistema dinâmico.

Aplicações mais amplas dessa metodologia só foram feitas a partir da década de 90, com o desenvolvimento da tecnologia computacional, com equipamentos mais poderosos e baratos e programas computacionais mais amigáveis e intuitivos.

Segundo FORRESTER (1961), a SD permite a representação, ao longo de

grandes períodos de tempo, de sistemas que possuem inter-relacionamentos complexos e processos não-lineares. Essas características são particulares à relação entre as ações humanas e o seu ambiente sócio-econômico, físico e biológico.

A Dinâmica de Sistemas começou com o nome de Dinâmica Industrial, a qual foi definida por FORRESTER (1961, p.13) como:

“... o estudo das características de realimentação de informações de atividades industriais, a fim de mostrar como a estrutura organizacional, a amplificação (em políticas) e os lapsos de tempo (em decisões e ações) interagem para influenciar o sucesso do empreendimento. Ela trata da interação entre os fluxos de informação, dinheiro, pedidos, materiais, pessoal e equipamentos em uma companhia, uma indústria ou uma economia nacional”.

Segundo MEIER, NEWELL & PAZER (1969), a simulação dinâmica é uma

técnica para construção e operação de modelos dinâmicos, enquanto a dinâmica industrial é, primariamente, uma filosofia, uma maneira de se olhar para as organizações e sistemas, e uma metodologia para estudo do comportamento de sistemas industriais. Na Dinâmica de Sistemas, a simulação de sistemas dinâmicos é utilizada como uma ferramenta de análise.

Quatro fundamentos principais melhoraram o entendimento da dinâmica das organizações. Foram eles que tornaram a dinâmica industrial possível: a teoria dos sistemas de realimentação de informação, um conhecimento dos processos de tomada de decisão, a abordagem de modelos experimentais para sistemas complexos e o computador digital como meio para simular modelos matemáticos realísticos (FORRESTER, 1961).

A utilização de modelos dinâmicos tem uma base bastante ampla, podendo fornecer ao tomador de decisão o benefício de um entendimento mais profundo a respeito do sistema com o qual ele lida. BUFFA & DYER (1977) afirmam que, através

da utilização desse tipo de modelo, os indivíduos podem adquirir uma melhor compreensão dos efeitos das variáveis interativas e dos aspectos dinâmicos de como o sistema trabalha; ganham compreensão a respeito de como o sistema funciona como um todo, ao invés de uma maneira mais dissociada.

STARR (1980) afirma que os conceitos envolvidos em SD incluem:

Um foco no comportamento descritivo através de um tempo contínuo, tais como crescimento, declínio, oscilação etc.

Identificação de um limite do sistema, tal que o comportamento de interesse será gerado internamente, a partir dos laços de realimentação, contendo os atrasos de tempo e elementos não-lineares.

Um formato específico para identificação e descrição dos elementos do sistema de realimentação.

Uma atitude de construção de modelo que tenta incluir e quantificar todos os fatores que se acredita que influenciem o comportamento de interesse. Identificação das características de comportamento a partir da inspeção visual dos padrões de resposta gerados pela simulação computacional.

Ainda, segundo o mesmo autor, o último item poderia ser lido como “o uso da simulação computacional para traçar a resposta do sistema”, mas o ponto principal não é a obtenção da resposta no tempo, e sim a inspeção das características comportamentais e a sugestão de mudanças nessa base.

Para FORRESTER (1961), a característica-chave do Pensamento Sistêmico está

ligados uns aos outros, o que, para ele, é mais importante do que a análise puntual destes elementos de forma independente.

6.2.1 Histórico

Durante a Segunda Guerra Mundial, J. W. Forrester, um engenheiro eletricista, foi contratado para prestar serviço nas forças armadas americanas como técnico no laboratório de servomecanismo do MIT, organizando controles de armas e radares. Mais tarde, ele abandonaria a engenharia e realizaria os primeiros estudos na área da dinâmica de problemas administrativos. Essas experiências resultaram na metodologia SD, amplamente conhecida após a publicação do livro Industrial

Dynamics em 1961.

Alguns anos antes da publicação de seu livro, Forrester contatou Richard Bennett, especialista em computação, para auxílio na modelagem computacional. Bennett desenvolveu um compilador que criaria automaticamente o código de uma forma genérica, gerando o embrião de um programa de computador para modelagem de dinâmica de sistemas, posteriormente chamado de DYNAMO.

Às experiências em sistemas industriais, seguiram-se aquelas realizadas em outros tipos de sistemas, resultando em obras como: Urban Dynamics (1969) e

World Dynamics (1972). Hoje em dia, a SD é aplicada com sucesso a inúmeros tipos

de sistemas e aos mais variados problemas.

O entendimento dos conceitos de causa e efeito, laços de realimentação e atrasos fornece bons fundamentos para se entender a complexidade da natureza de um sistema. A utilização desses conceitos no estudo de sistemas produtivos provê um acréscimo de experiências, as quais podem ser usadas pelos usuários das ferramentas de simulação como forma de se aperfeiçoar e de entender os sistemas com os quais lida diariamente.

Como toda área do conhecimento, a SD também é discordada por alguns autores. LEGASTO & MACIARIELLO (1980) fazem uma classificação das principais

críticas à Dinâmica dos Sistemas; segundo eles, as mais comuns estão ligadas a fatores como: definição dos limites (escopo do modelo e nível de agregação), seleção

de um horizonte de tempo apropriado e de uma direção para uma resolução geral das dificuldades e vulnerabilidades na fase de definição do problema.

Documentos relacionados