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6. RESULTADOS E DISCUSSÃO

6.1 Características dos resíduos

Os cinco tipos de resíduos tinham diferentes teores de K total (Tabela 1), o que é um resultado dos diferentes manejos pós-colheita. Os menores valores observados nos tratamentos compostados podem ser devido à lixiviação do K durante o processo de compostagem (EL-FADEL et al., 2002).

Os valores de K solúvel em água para Casca do café cereja despolpado (CC), Casca do café natural seco em coco (SC), Casca do café boia (CB) e Casca do café 1 ano compostada (C1) variaram de 32,2 à 45,5% dos valores de K Total. Porém, para a Casca do café enriquecida e compostada por 3 anos (C3) o K solúvel correspondeu a 91,8%. Esses resultados indicam maior disponibilidade de K no tratamento compostado por três anos. A menor relação C:N e o menor teor de fenóis em relação aos demais materiais pode ter proporcionado maior teor de K solúvel em relação ao K total para o tratamento enriquecido e compostado.

A casca enriquecida e compostada apresentou maior teor de lignina, um polissacarídeo de difícil degradação, que nesse caso, permaneceu em alta concentração no material durante os três anos de compostagem, enquanto a celulose e hemicelulose foram degradadas. Apesar desse tratamento apresentar o menor teor de carbono, o carbono presente é em grande parte proveniente da lignina, então, pode ser considerado carbono de maior estabilidade (KIEHL, 1998).

Os maiores teores de condutividade elétrica nos resíduos casca do café cereja e enriquecida e compostada não podem ser relacionados apenas ao potássio, pois o teor desse nutriente foi o menor no tratamento compostado, sendo então a alta condutividade elétrica devida à presença de nitrogênio e outros íons não analisados.

A variação de pH em compostos orgânicos ocorre devido a ação de microrganismos e eliminação de CO2, então, no resíduo compostado por um ano o maior

valor de pH em relação aos tratamentos sem compostagem já era esperado (Bidone e Povinelli, 1999). Contudo, o tratamento compostado e enriquecido, ao longo do processo de decomposição, pode ter apresentado aumento de pH e posterior redução ao longo dos três anos de compostagem (Tabela 1).

Tabela 1. Caracterização dos resíduos do benefício de café no início do experimento

CC2 SC3 C34 CB5 C16 K total(g kg-1) 38,9 a7 23,0 c 6,1 e 34,7 b 17,8 d K soluvel(g kg-1) 17,7 a 7,4 c 5,6 d 10,9 b 7,4 c N (g kg-1) 26,7 a 14,8 bc 12,0 c 15,6 b 17,5 b C (g kg-1) 427,0 a 447,0 a 150,0 b 447,0 a 400,0 a Relação C:N 16,0 c 30,0 a 13,0 c 29,0 a 23,0 b Lignina (g kg-1) 20,9 b 21,0 b 31,3 a 20,7 b 30,5 a Celulose (g kg-1) 25,9 d 33,5 c 10,9 e 41,5 a 35,8 b Hemicelulose (g kg-1) 3,8 d 10,8 b - 15,7 a 7,6 c pH 5,7 c 5,9 c 6,7 b 7,2 b 8,2 a CE (µS cm-²) 1612,0 a 1156 b 1586,0 a 858,0 c 621,0 d Fenóis Totais (g kg-1) 23,5 a 14,5 b 4,4 c 14,9 b 15,2 b MMS1 (% da MO) 20,0 c 96,0 a 85,0 b 92 a 93 a

1: Massa de matéria seca

2: Casca do café cereja descascado (CC) 3: Casca do café natural seco em coco (SC)

4: Casca do café enriquecida e compostada por 3 anos (C3) 5: Casca do café boia (CB)

6: Casca do café compostada por 1 ano (C1)

O menor valor de fenóis apresentado pelo resíduo compostado e enriquecido pode ser devido à degradação e a lixiviação (EL-FADEL et al., 2002). Os fenóis são compostos voláteis, que com aumento da temperatura, ao longo do processo de compostagem podem ser degradados. O efluente gerado pela pilha de composto também pode carrear os fenóis presentes nos resíduos.

A casca do café cereja apresentou o maior valor de fenóis, pois, esse material é a casca do fruto colhido maduro, enquanto os outros tratamentos contém casca de café já seco no campo ou de café ainda verde, os quais apresentam menores concentrações de fenóis (ROSSETTI, 2007).

A massa de matéria seca da casca do café cereja foi a menor (Tabela 1). Os outros tratamentos são constituídos de casca de café colhido seco ou café seco antes do beneficiamento, enquanto o café cereja é descascado antes do processo de secagem. A massa de matéria seca de apenas 20% pode aumentar o custo de transporte e distribuição da casca do café cereja na lavoura, por ser necessário aplicar uma quantidade maior de casca para obter a mesma quantidade de potássio que outros resíduos do beneficio de café podem fornecer (Tabela 2).

Tabela 2. Simulação da aplicação de 300 kg ha-1 de K2O resíduos do benefício de café

CC3 SC4 C35 CB6 C17 MMS1 Resíduo aplicado (kg ha-1) 6.402 10.826 40.816 7.177 13.992 MMO2 Resíduo aplicado (kg ha-1) 32.010 11.227 48.019 7.801 15.045 K2O (kg ha-1) 300 300 300 300 300

N Total (kg ha-1) 170 160 490 112 245 C Total (kg ha-1) 2.734 4.839 6.122 3.208 5.597 Fenóis Totais (kg ha-1) 150 157 180 107 213 Lignina (kg ha-1) 134 227 1.278 149 427

1. MMS: Massa de matéria seca 2.MMO: Massa de matéria original 3: Casca do café cereja descascado (CC) 4: Casca do café natural seco em coco (SC)

5: Casca do café enriquecida e compostada por 3 anos (C3) 6: Casca do café boia (CB)

7: Casca do café compostada por 1 ano (C1)

Se a aplicação de resíduo do benefício de café na lavoura for baseada no teor de K, de acordo com a simulação da Tabela 2, os tratamentos compostados, tanto por

um ano como enriquecida proporcionariam maior aporte de carbono no solo, porém, o tratamento enriquecido acrescentaria ao sistema de 3,0 a 9,5 vezes mais lignina do que os demais, e devido à lignina ser um material de decomposição mais difícil, o carbono permaneceria no solo por mais tempo que nos outros tratamentos.

A quantidade de nitrogênio total aplicada seria maior com o resíduo compostado e enriquecido, enquanto o menor valor seria observado para a casca do café boia. Por apresentar relação C:N de 13 o resíduo compostado e enriquecido poderia liberar rapidamente o nitrogênio (KIEHL, 1985). Assim, se aplicadas doses altas desse resíduo, poderia ocorrer morte de mudas de café por excesso de nitrogênio e perdas por lixiviação desse nutriente.

Devido ao baixo teor de K do resíduo compostado e enriquecido, para se aplicar a mesma quantidade de potássio seria necessário utilizar dose de resíduo 1,5 vezes maior que café cereja, 3,2 vezes maior que o resíduo compostado por um ano, 4,3 vezes maior que a casca do café natural seco em coco e 6,2 vezes maior que a casca do café bóia. Considerando que o aumento da quantidade de resíduo a ser aplicada aumenta o custo para o produtor, o resíduo enriquecido e compostado por três anos apresenta a menor viabilidade como fonte de K.

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