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Características das espécies de peixes mais aptas para piscicultura com águas residuárias e

3.4 A PISCICULTURA

3.4.2 Características das espécies de peixes mais aptas para piscicultura com águas residuárias e

O tratamento de águas residuárias por lagoas de estabilização utiliza as mesmas potencialidades de qualquer viveiro de piscicultura.

Como o objetivo desta piscicultura é a produção e a melhoria do meio ambiente deve-se procurar o máximo de produção e a diminuição dos impactos ambientais, com a diminuição dos sólidos suspensos (algas, rotíferos, grumos de bactérias e matéria orgânica particulada) e consumo pelo ambiente dos nutrientes disponíveis na produção de alimento para a cadeia trófica existente.

O bom aproveitamento do ambiente diminui resíduo, diversificando os componentes da cadeia trófica, seguindo o mesmo princípio das Tecnologias limpas. Se a cadeia trófica não tem um fluxo linear de energia, existe em cada elo da cadeia inter-relações que aumentam a biodiversidade do ambiente tornando-o mais equilibrado (CAPRA, 1996).

Diferentes espécies de peixes no mesmo ambiente podem criar uma interação positiva. Espécies com hábitos alimentares diferentes podem atuar em diferentes níveis na água, superfície, meia água e fundo, e ter diferentes tipos de alimentação: fitoplantófagos, zooplanctófagos, iliófagos, detritívoros, omnívoros, bentófagos, insetívoros, carnívoros (PROENÇA & BITTENCOURT, 1994).

O hábito alimentar mais desejado para a espécie a ser cultivada é o que atinge os níveis mais baixos da cadeia trófica, reciclando os nutrientes mais rapidamente e transformando a energia potencial do ambiente (nutrientes) em produção de pescado. Retirar o máximo de trabalho/entropia (produtividade) da energia existente é ter boa eficiência produtiva, é diminuir os custos ambientais (desperdício), é promover a sustentabilidade.

Os peixes carnívoros estão no topo da cadeia alimentar, consequentemente as produções destes peixes sem o emprego de suplementação alimentar são pequenas.

O cultivo de uma única espécie, monocultivo, direciona toda cadeia de energia. Para atingir boa produtividade no ambiente a espécie utilizada deve aproveitar os diversos níveis da cadeia trófica, ter boa variabilidade na alimentação, utilizando os diversos ambientes do viveiro (superfície, meia água e fundo).

Devido às condições climáticas e a constituição do esgoto há uma grande variabilidade das condições do efluente da ETE, portanto o peixe deve ser capaz de suportar variações como: baixas concentrações de oxigênio dissolvido e elevadas concentrações de amônia.

No início de uma experiência de piscicultura é recomendável utilizar espécies bem estudadas em suas limitações às condições ambientais a serem enfrentadas e de reconhecida aptidão para a criação naquele ambiente.

Proença & Bittencourt (1994) descrevem características desejáveis para uma espécie ser adequada para a piscicultura:

• ser facilmente propagável, natural ou artificialmente, de modo a produzir, anualmente grande número de alevinos;

• apresentar bom crescimento em condições de cativeiro; • ser resistente ao manejo e às enfermidades mais comuns;

• apresentar hábito alimentar onívoro, herbívoro, iliófago, detritívoro, fitoplantófago, zooplanctófago, ou planctófago;

• quando carnívora, ela deverá ter alto valor comercial e aceitar alimento não vivo, de preferência ração;

• apresentar uma boa conversão alimentar, ou seja, capacidade de transformar alimento em carne;

• não apresentar canibalismo intra ou inter específico; • ter boa aceitação no mercado.

Algumas espécies são reconhecidas como aptas para a utilização na piscicultura por Proença & Bittencourt (1994) dentre estas, as espécies a seguir são especialistas em consumir os sólidos suspensos.

Tilápia (Oreochromis niloticus)

Depois da carpa comum é o peixe tropical mais cultivado no mundo, é proveniente dos rios e lagos do continente africano.

São excelentes peixes para cultivo, pois apresentam carne muito saborosa, com poucas espinhas, e são extremamente resistentes às condições adversas do meio e às enfermidades. Alimenta-se de plâncton e, em menor proporção, de detritos orgânicos e do limo que se forma sobre as pedras e outros substratos.

Para Diana et al. (1991) a tilápia por apresentar grande variação na preferência alimentar em cada fase da vida pode desempenhar sozinha o papel

trófico de várias espécies em policultivo.

Carpa prateada (Hypophtalmichthys molitrix)

Peixe pertencente à família Cyprinidae, originário dos grandes rios da China. Seu hábito alimentar fitoplanctófago, a torna uma boa espécie para os policultivos. Assim como outras carpas chinesas, não se reproduzem naturalmente em cativeiro. Ao filtrar a água, consomem algas unicelulares, organismos pequenos do zooplâncton, e partículas de detritos orgânicos em suspensão. Com dois anos de vida, consome cerca de 17% do seu peso corporal em alimento por dia (PROENÇA & BITTENCOURT, 1994).

Carpa cabeça grande (Aristichthys nobilis)

Peixe pertencente à família Cyprinidae e bastante semelhante a carpa prateada. Originário dos grandes rios da China, também não se reproduz naturalmente em cativeiro. Pode alcançar 2,0 Kg no seu primeiro ano. Definida como uma espécie onívora no consumo do plâncton, alimenta-se preferencialmente, de zooplâncton. Possui bom sabor de carne, apresentando melhor aceitabilidade e preço do que as prateadas. Também é recomendada para policultivos (PROENÇA & BITTENCOURT, 1994).

Estas três espécies são atualmente as mais indicadas para utilização na piscicultura em águas residuárias, devido ao conhecimento adquirido até aqui.

(Prochilodus scrofa), que se alimentam principalmente do lodo, as piracanjubas (Brycon sp) e piavas que se alimentam de zooplâncton, mas são de difícil reprodução artificial. A utilização destas espécies e das espécies nativas das regiões onde forem instaladas as pisciculturas requer estudos e conhecimentos quanto às interações com as outras espécies, resistência as condições ambientais, reprodução, produção obtida, preço de mercado, etc.

De todas as espécies citadas aqui, a Tilápia tem sido a mais utilizada no reúso das águas residuárias, preenchendo a maior parte dos requisitos necessários para a piscicultura.

A tilápia como o peixe mais apto para a piscicultura de reúso das águas residuárias deverá ter sua reprodução controlada para que não haja perda de ganho de peso com a reprodução e para que não ocorra superpopulação. Na piscicultura atual este controle tem sido feito através da reversão sexual das larvas em "machos", através da introdução de hormônios masculinizantes na 1ª alimentação dos peixes. A técnica quando bem aplicada tem garantido altos percentuais de sucesso na reversão (PROENÇA & BITTENCOURT, 1994).

A produção de alevinos requer um ambiente rico em fito e zooplâncton. Kibria et al. (1997) utilizaram zooplâncton produzido em lagoas de estabilização para alimentação de larvas de diversas espécies de peixes. Os autores analisaram a composição bioquímica do plâncton coletado e ressaltaram o grande valor nutricional do alimento vivo para as primeiras fases de vida dos peixes.

A produção de alevinos possui duas etapas. Na primeira através da reprodução natural ou artificial de peixes adultos, obtém-se ovos e larvas que são muito sensíveis e suscetíveis a doenças, não consomem alimento do ambiente, e é

necessária a utilização de água de ótima qualidade físico-química e microbiológica. Na segunda etapa a larva ou alevino irá abrir a boca e iniciar sua alimentação, que deverá ser rica em zooplâncton, para a grande maioria dos casos (KIBRIA, 1997).

O ambiente de lagoas de estabilização é riquíssimo em alimento vivo para alevinos, mas a boa qualidade de água é muito importante neste estágio da piscicultura, os alevinos são mais sensíveis do que os peixes jovens ou adultos. A adoção de alguns cuidados no “polimento do efluente” pode viabilizar esta potencialidade, bem como viabilizar a reprodução dos peixes natural ou artificialmente.

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