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CARACTERÍSTICAS GEOLÓGICAS E GEOMORFOLÓGICAS

5 CONDICIONANTES GEOAMBIENTAIS

5.1 CARACTERÍSTICAS GEOLÓGICAS E GEOMORFOLÓGICAS

O litoral piauiense está localizado, de acordo com Petri e Fúlfaro (1983), na foz deltaica da bacia do rio Parnaíba. O município de Ilha Grande é parte de uma ilha denominada Ilha Grande de Santa Isabel, que compreende a porção leste do delta do rio Parnaíba, cuja origem remonta aos períodos Terciário (Paleógeno e Neógeno) e Quaternário da era Cenozóica.

A bacia do Parnaíba é uma bacia intracratônica, isolada, que se originou no fim do siluriano ou início do devoniano (PETRI e FÚLFARO, 1983).

Os terrenos de idade cenozóica de origem continental são de difícil datação por serem afossilíferos ou desprovidos de fósseis-índices. Em todo o Brasil, essa Era assistiu uma tendência a soerguimento, flutuações transgressivas-regressivas, prevalecendo fases regressivas durante o período Paleógeno (PETRI e FÚLFARO, 1983).

Ainda conforme Petri e Fúlfaro:

A regressão culminou no Oligoceno, topo do Paleógeno. O fim do Oligoceno e o início do Mioceno, base do Neógeno, testemunham marcante flutuação transgressiva, seguida de nova fase regressiva. Assim, o Mioceno é um referencial separando os depósitos paleogênicos dos neogênicos. A regressão do Oligoceno foi de ampla repercussão em todo território nacional. A discordância basal do Mioceno Inferior é de âmbito regional em quase toda a região costeira do Brasil. O Eomioceno caracterizou-se por rebaixamento generalizado da costa brasileira, com início em alguns lugares no Neo-

Oligoceno (PETRI e FÚLFARO, 1983 apud NEVES e SCHOBBENHAUS, 2003, p. 47).

O período Neogênico está representado pela Formação Barreiras, composta por rochas não consolidadas, sedimentos clásticos continentais afossilíferos de cores variadas, em geral friáveis, predominantemente arenosos de granulometria variada (NEVES e SCHOBBENHAUS, 2003). Ocorrem praticamente em toda a zona costeira formando os tabuleiros, constituindo-se essencialmente por sedimentos variados de coloração amarelo- avermelhados, inconsolidados, com capeamento de intemperismo e acamamento indistinto (CAVALCANTI, 2001).

No Plioceno ocorreu a sedimentação da Formação Barreiras, sob condições de clima semi-árido sujeito a chuvas concentradas e torrenciais, que deu origem a depósitos de leques aluviais coalescentes que, conforme Ghignone (1979, apud SUGUIO et al, 1985), entulharam extenso trecho da costa brasileira.

Quando da deposição desta formação, o nível do mar era bem mais baixo que o atual e, portanto, seus sedimentos recobriram, de acordo com Bigarella & Andrade (1964 apud SUGUIO et a., 1985), parte da plataforma continental adjacente. Os sedimentos da Formação Barreiras se estendem desde o Rio de Janeiro até a desembocadura do rio Amazonas.

No litoral brasileiro, variações do nível do mar ocorrem no Quaternário. Os cordões litorâneos paralelos à costa e os depósitos com restos de organismos marinhos dessas planícies costeiras são demonstração de que foram ocupados pelo mar Holocênico (PETRI, FÚLFARO, 1983).

Segundo Bittencout (et al, 1979, apud SUGUIO et al, 1985), esse episódio foi denominado de Última Transgressão ou Transgressão Holocênica. Em suma, pode-se dizer, independente das causas, que a maior parte do litoral brasileiro tenha estado em submersão até cerca de 5.150 anos antes do presente (A.P), seguida de emersão até os nossos dias, quando se faz abstração das duas rápidas oscilações, como demonstra a Figura 11 (SUGUIO et al, 1985).

No litoral piauiense o período Quaternário é representado por sedimentos de dunas e aluviões. Constitui-se de areias quartzosas, de coloração predominantemente clara e granulação fina a média, sobreposto aos sedimentos da Formação Barreiras (CAVALCANTI, 2001).

Figura 11: Curva esquemática média da variação do nível relativo do mar para o litoral brasileiro de 7.000 anos A.P. até hoje

FONTE: Suguio (et al, 1985).

Os depósitos costeiros são constituídos essencialmente por formações de dunas e areia de praia, estando condicionados ao desenvolvimento morfológico da costa, ocupando faixas variáveis e com características próprias (CAVALCANTI, 2001).

As unidades de relevo que se destacam, são a planície costeira e planície deltaica; a primeira tem como unidades de relevo o canal estuarino, cordões de areia, dunas, planície de maré, pântanos salinos. A planície deltaica, objeto de estudo desta pesquisa, tem como unidades de relevo: praia, lençóis de areia, planície fluvial, banco de areia, planície de inundação, planície de maré, dunas ativas e dunas estabilizadas.

A sedimentação e a evolução na planície costeira em Ilha Grande se baseiam na integração dos dados morfo-sedimentares, hidro-aerodinâmicos, correlacionados lateral- verticalmente às unidades estratigráficas e morfo-estratigráficas que se constituem em um modelo evolutivo. A configuração atual da planície costeira da ilha é resultado da ação do mar na costa, somando-se a isso a ação dos ventos e as correntes de maré, entre outros fatores.

Desta forma, utilizando critérios morfogenéticos, foi possível dividir o município de Ilha Grande em três grandes unidades geológicas. A partir do Holoceno, representado pelos depósitos litorâneos recentes, resultantes das atividades da ação marinha, fluvial e eólica. A segunda unidade, a partir do Pleistoceno, faz-se presente nas Paleodunas; a ela também pertencem os sedimentos inclusos ao Holoceno fora das faixas de deposição eólica atuais; e, por último, os Depósitos de Pântanos e Mangues, representados pelos depósitos marinhos, fluviomarinhos e fluviais (Quadro 03). Essas unidades estão representadas no mapa geológico-geomorfológico da Figura 12.

Quadro 03 – Coluna litoestratigráfica de Ilha Grande-Pi

Era/Período Época Unidade Descrição

C en o zó ic o / Q u at er n ár io H o lo ce n o

Depósitos Litorâneos Areias finas a grossas e dunas móveis.

P le is to ce n

o Paleodunas Areias bem selecionadas, quartzosas ou quartzo-feldspáticas. Ambiente eólico-

litorâneo. Depósitos de

Pântanos e Mangues Areia, silte, argila e material orgânico.

Fonte: Elaboração do autor; adaptado de Brasil (2009).

Os aspectos geomorfológicos de Ilha Grande se caracterizam por agrupamentos de origem eólica (lençóis de areia, dunas estabilizadas, dunas ativas), marinha (praia), fluviomarinha (planície de maré) e fluvial (planície fluvial, planície de inundação), depositados sob influência das condições ambientais variais durante o Quaternário (Figura 12).

Cabe ressaltar que os depósitos litorâneos, as paleodunas e a porção norte dos depósitos de pântanos e mangue, apresentam uma configuração diferenciada do restante da planície deltaica. Pelo menos no que se refere às características de seu perfil longitudinal, onde as altitudes vão sofrendo uma redução da área de acúmulo de sedimentos eólicos para a área de acúmulo fluvial.

Nesse município, as maiores altitudes se localizam na porção norte dos depósitos de pântanos e mangue e no sul dos depósitos litorâneos, culminando 25m positivos. As áreas de menor altitude chegam a 12m negativos, representando as áreas sensivelmente mais planas sob influência fluvial (Figura 13).