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1 A HISTÓRIA COMO DISCIPLINA ESCOLAR: TRAJETÓRIA E

2.3 CARACTERÍSTICAS GERAIS DA PROPOSTA CURRICULAR DO

A abertura democrática da década de oitenta, e os desejos de transformações sociais juntamente com as eleições para governos estaduais levaram muitos estados reformularem suas diretrizes educacionais.Compreendendo que a melhoria dos índices educacionais fazem parte da luta democrática.

O Estado do Paraná, apresenta em 1990 suas diretrizes curriculares, para a rede estadual de ensino e surge o interesse dos sistemas municipais em criar suas propostas curriculares.A prefeitura do município de Londrina apresenta sua proposta em 1992,comungando deste pensamento de melhoria do ensino para uma melhor estruturação de uma sociedade democrática.

A proposta Curricular para a rede Municipal de Ensino de Londrina define as diretrizes para o ensino de pré a 4ª série8. A publicação e distribuição da

Proposta Curricular aconteceram em 1992. Tem sua organização feita de modo bem diferente dos PCN, que dividem o documento em primeiro e segundo ciclo. Esta referida proposta apresenta uma sustentação teórica e depois um capítulo com a organização dos conteúdos para cada série.

Na apresentação do documento, foi descrito que a proposta é culminância de um trabalho coletivo, pois a secretaria Municipal de Educação organizou grupos de trabalho compostos por representantes dos professores, supervisores e diretores das escolas municipais, por meio do Grupo de Apóio Técnico- pedagógico, onde foram discutidos os pressupostos teóricos e metodológicos, procurando relacionar teoria e prática, para a formulação da mesma.

De acordo com a apresentação da proposta, a escola deve viver a democracia levando os alunos a “compreender a realidade social, tornando-o capaz de entendê-la e modificá-la [...] Assim entendendo que o aluno será sujeito de seu próprio processo de desenvolvimento, e terá o seu ritmo de aprendizagem respeitado” (LONDRINA, 1992, p.17).

No texto fica explícita a necessidade de um professor educador “compromissado com a educação, conhecedor do processo em que se dá o conhecimento, que analise e reflita sobre sua prática a todo o momento, pensando e repensando” (LONDRINA, 1992, p.17).

Esta seção é finalizada dizendo que nela consta uma concepção dialética de conhecimento.A finalidade precípua é “subsidiar o professor, que dela fará um instrumento de trabalho, pronto para ser reformulado sempre que não estiver condizente com a realidade social dos envolvidos na práxis escolar” (LONDRINA, 1992, p.17),

É pertinente neste momento explicar que o Grupo de Apoio Técnico Pedagógico é composto por professores da rede formados na ciência de referência de cada disciplina, responsáveis pela formação continuada. Este grupo, além de preparar cursos, está disponível para visitas nas escolas em grupos de estudo, e

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preparam material de apoio.De modo que as Propostas Político Pedagógicas das escolas sejam realimentadas e promovam melhoria no ensino. Cada unidade escolar seguindo os pressupostos teóricos e metodológicos da Proposta Curricular elaboram sua PPP, de acordo com sua realidade.

Nos pressupostos teóricos, apresenta-se a concepção de História como aquela que:

[...] ainda deve se definir como ciência da mudança, da transformação (LE GOFF E NORA 1988:15) e que “... toda ciência está sempre em vias de constituição(...), considerando que o (...) “limiar epistemológico é útil na medida em que serve para distinguir entre as sucessivas adequações das construções do espírito às estruturas do real” (VILAR, 1988, p.147)” (LONDRINA, 1992, p. 476).

Considera a proposta que esta é uma concepção dialética de História, dizendo que o homem constrói e reconstrói sua história. Consta ainda o entendimento de que a temporalidade das sociedades humanas é o objeto de ciência da História, no seu ritmo de contradições, conflitos, antagonismos e lutas e que por isso ensino de História deve partir de uma visão crítica da realidade do aluno.

Na entrevista que realizamos com as professoras para nossa pesquisa, aparecem algumas concepções de História que em nosso entendimento algumas vezes se relacionam com a proposta apresentada pelo município e outras se distanciam apresentando concepções antagônicas a delineada na proposta.. Percebemos, por exemplo, na fala da professora 1 que afirma “ A história é a relação entre o homem, os fatos e o tempo.” Podemos dizer que nesta definição há um certo distanciamento entre o que a professora conceitua de homem, fato e tempo. Se para a professora é a disciplina de História que estabelece esta ligação, então entende estas categorias como dimensões separadas. Isto denunciaria numa primeira observação uma visão de História Narrativa e etapista.

Podemos entender que a História, para a proposta curricular. não é concebida como narrativa etapista, segundo a qual conhecer o passado é ordenar fatos cronologicamente e narrá-los, por meio documentos onde o historiador reconstrói o passado sem emitir juízo de valor. Isto demonstraria que nem todos os professores têm conhecimento significativo acerca da proposta da rede municipal de Londrina no que tange à disciplina de História.

A definição da professora 1 aproxima-se muito da professora 3 que diz “É a disciplina que aborda acontecimentos ocorridos no passado das pessoas”. Vejamos se a disciplina trata de “acontecimentos ocorridos no passado”, temos denunciado nesta fala um conceito de História tradicional, que privilegia a memorização de datas, fatos e nomes de personagens famosos além de uma concepção de história que teria uma noção de tempo direcionada apenas para o passado.

“A história é uma viagem no tempo em que podemos regredir no tempo para entendermos o presente e construirmos o futuro.” Este é o conceito de História para a Professora 2. Para analisarmos esta fala buscamos respaldo em Gago (2007, p. 53), que nos explica que a concepção de “relógio do tempo” não contribui para a interpretação histórica

A escrita da história moderna retira o ferrão da temporalidade para fora do passado. Neste sentido, o tempo torna-se um agente da própria narrativa histórica. Segundo o mesmo autor (ANKESMIT, 2002), a escrita da história não é formada pelo tempo, mas forma o tempo em si. O tempo histórico não é um conceito físico ou filosófico, mas cultural, e a sua natureza depende das funções das escritas históricas com o todo da cultura em que se inscrevem.O passado histórico reconstruído é mais coerente que o passado quando aconteceu.A compreensão histórica funde o passado com o presente, e simultaneamente diferencia-os. Para a compreensão do que aconteceu é necessária a introdução dos próprios pensamentos do presente (GAGO, 2007, p. 53).

Voltando à proposta do município, “A relação com o tempo histórico se dará a partir do presente, o tempo vivido, para que seja debatido refletido e questionado, gerando questionamentos ao passado, não julgamento do mesmo (LONDRINA, 1992, p. 476)”, reforça-se a ideia da trabalho com o cotidiano do aluno, no intuito de levar o aluno a uma relação passado/ presente que supere a ideia de tempo cronológico, evolutivo e uniforme.

Segundo esse documento, desta forma o futuro será compreendido como aberto a possibilidades e tendências e não “à concatenação do “onde o depois é precedido pelo antes”, de maneira ordenada, o que daria a História um falso sentido da História factual que se pretende superar” (LONDRINA, 1992, p. 476).

Neste sentido, a busca da totalidade deve ser efetivada com o trabalho das diversidades e especificidades das sociedades. Num ambiente desafiador para

professor e aluno, para aceitar e criar experiências que levam ao uso da capacidade de opção e assim construtores da História, de maneira intelectual dinâmica e crítica.

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