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PARTE II – Um Estudo Comparativo de dois processos de Territorialização do

5.1 O Contexto Sócio – Espacial da Fronteira Agrária no Sul e Sudeste do Pará e o

5.1.1 Características gerais do espaço do Sudeste do

Quando optamos por utilizar “contexto sócio-espacial” para o entendimento da Amazônia e, em especial, da Amazônia paraense não fazemos aleatoriamente. Partimos da preocupação de Souza (2013) em utilizar o “sócio-espacial” hifenizado exatamente para tentar compreender o espaço como um componente vivo e dinâmico. Tendo nas relações sociais uma característica que o anima e, ao mesmo tempo, que é animada. Temos a clareza que as relações sociais e o espaço são inseparáveis ainda que não se confundam. Por isso, a necessidade do “sócio-espacial” com hífen “no qual o ‘sócio’, longe de apenas qualificar o ‘espacial’, é, para além de uma redução do adjetivo ‘social’, um indicativo de que está se falando, direta e plenamente, também das relações sociais” (SOUZA, 2013:16).

Assim, nas linhas que seguem faremos uma caracterização dos principais elementos que compõem a paisagem natural do Sudeste do Pará procurando entende-la sob a lógica da ocupação humana pós-1960. Depois disso, faremos um percurso pela territorialização da luta pela terra dando ênfase para construção do MST na região em sua relação conflituosa e contraditória com o avanço dos agentes especificamente capitalistas na fronteira de acumulação na Amazônia. Seguindo o capítulo, faremos uma análise dos 56 questionários aplicados no P.A. Palmares II procurando entender sua territorialização a partir de suas histórias de vida, dando ênfase ao que estamos chamando de clivagens territoriais: migração, trabalho, família e saberes.

A região54 apresenta, em geral, um relevo acidentado com sua formação geológica baseada em núcleos de rochas cristalinas. O que, de antemão, já explica a incidência de minerais na área e de rochas metamórficas antigas. Nesse tipo de formação rochosa há uma tendência formadora de solos pouco férteis e ácidos, cujo manejo agropastoril requer boa orientação agronômica e zootécnica, com exceção do oeste de Altamira (porção que fricciona a mesorregião do sudeste do Pará) e o sul do Maranhão onde houve intrusões ou derrames de rochas basálticas levando ao desenvolvimento de solos considerados bons (terra roxa). Tal perspectiva nos introduz

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na composição da Serra de Carajás onde temos um maciço ferrífero com 18 bilhões de toneladas de minério, no teor médio excepcional de 66% (AB’SÁBER, 2004).

O clima é, como em grande parte da Amazônia, quente e úmido, as temperaturas médias anuais ficam entre 24ºC a 32ºC, a umidade relativa do ar atinge, em média, 80%. Por isso, durante a noite, na região, é comum a formação de orvalho e neblina. Sua floresta é de terra firme com árvores colossais originais que alcançam 30, 40 ou 50 metros de altura, no entanto, com raízes geralmente pivotantes. Quase todas têm raízes que se espraiam a menos de um metro de profundidade ou se estendem pela superfície do solo (VALVERDE, 1985).

Apesar deste potencial florestal e de toda diversidade geomorfológica da Amazônia, foi somente depois do chamado boom da borracha (1870-1910) que as Regiões Sul e Sudeste do Pará começam a ser povoadas e exploradas por populações não-indígenas. Ainda que de uma forma bem tímida já que lugares privilegiados para a extração do látex tenham sido as planícies amazônicas pela facilidade de escoamento pelos principais rios.

Com o colapso do ciclo econômico da borracha55, aumenta consideravelmente a exploração de castanha e diamante (COELHO, 1997). Até a década de 1960, o extrativismo da castanha-do-Pará (Bertholletia Excelsa, HBK) é hegemônico no cenário da região. Nesse período, o Vale do Itacaiúnas constituía-se no maior produtor de castanha do Estado do Pará. Destacava-se, também, como maior produtor de castanhas de toda a Amazônia (VELHO, 1976). Seu período de floração vai de meados de outubro até meados de dezembro, período do início das chuvas. Sua incidência está nas encostas da Serra de Carajás, onde pode ser encontrada somente até a altitude de 230 metros acima do nível do mar.

Abaixo o mapa de uso da terra do Município de Parauapebas na Região Sudeste do Pará

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Temos clareza do limite do conceito de ciclo. Muito utilizado por vários historiadores. Já que, como nos alertou Andrade (1995), a exportação de um produto continuava no ciclo seguinte como um produto menos expressivo. O que chamamos atenção é que quando falamos em ciclo da borracha estamos enfatizando que este produto é o carro-chefe do processo econômico na época.

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Percebemos que o espaço do município é, em grande parte, reservado para atividade mineralógica sob o controle da Empresa Vale. A área de verde sob a adjetivação extrativismo vegetal é dividida entre a Terra Indígena dos Xicrins do Cateté e um tipo de gestão territorial chamada de Cinturão Verde56. Um mosaico de Unidades de Conservação sob o controle direto da Vale. A mancha marrom sob o uso de pecuária reside sujeitos ligados ao latifúndio na região friccionados por áreas reformadas do INCRA, os Assentamentos Rurais.

Abaixo temos uma foto da entrada da Floresta Nacional de Carajás – FLONACA uma das Unidades que a Vale controla e que o compõe o Cinturão Verde.

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O Cinturão Verde, como a nomenclatura nos refere é um território fechado, envernizado de um componente ambiental. Este território fechado é composto pela “área dedicada à atividade mineradora e pela Company Town construída para abrigar seus trabalhadores; a teia urbana e os núcleos concentradores de trabalhadores urbanos e rurais; e finalmente as áreas de entorno em relação aos centros econômicos e políticos.” (Coelho, M.; Lopes, A.; Silva, A.; Silvia, F.; Fonseca, H.; Matos, I.; Souza, M. Territórios, Cidades e Entorno no espaço de mineração em Carajás/Pará – Amazônia Oriental, p. 144)

126 FOTO 8 Pórtico de Entrada da FLONACA e do Núcleo Urbano da VALE na Serra de Carajás

Fonte: Trabalho de Campo, 2014.

5.1.2 Do capital mercantil ao capital financeiro: diferentes formas, mesmos conteúdos?

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