• Nenhum resultado encontrado

2. FUNDAMENTOS DOS MERCADOS FUTUROS AGROPECUÁRIOS

2.2. Características do Mercado Futuro

Como visto, o mercado futuro moderno teve o seu início com a fundação da CBOT em 1848. Porém, antes do desenvolvimento deste mercado, um instrumento de gestão de risco bastante utilizado e que até os dias atuais exerce uma grande influência no mercado agropecuário é o contrato a termo, ou seja, um contrato para entrega futura da mercadoria. Nesta modalidade de negociação, o preço, as características e a quantidade do produto são definidos no momento do fechamento do contrato, em comum acordo entre comprador e vendedor, que também definem o momento e o local de entrega (SCHOUCHANA e MICELI, 2004). As negociações a termo podem ser realizadas dentro ou fora da bolsa, mas, no geral, são realizadas fora, já que, normalmente, são feitas entre duas partes já conhecidas e que negociam entre si há muito tempo, possuindo certo grau de confiança.

Apesar de ser uma forma de gestão de risco bastante utilizada pelos agentes da cadeia agropecuária brasileira, o contrato a termo possui certas deficiências, das quais, segundo Marques e Mello (1999), se destacam:

a) Falta de padronização: não há a determinação de uma qualidade mínima do que deve ser entregue, o que pode resultar em um custo muito alto de transação;

b) Falta de transparência na definição dos preços: como o contrato a termo é uma negociação privada, os demais participantes do mercado não têm informações sobre esse negócio, ou seja, não há divulgação dos preços que são praticados.

c) Baixa liquidez: nenhuma das partes envolvidas consegue encerrar sua posição antes da data de liquidação, dificultando a transferência de risco para outros agentes.

d) Risco de inadimplência: diferentemente do mercado futuro, que possui o sistema de garantia da Clearing, o mercado a termo não possui um sistema de garantias adequado. Essa ausência representa um grande fator de desestímulo a esse tipo de negociação.

19

Com o intuito de aprimorar os negócios para liquidação futura e extinguir os problemas citados acima, surgiu o contrato futuro, com objetivos e operacionalidade semelhantes ao contrato a termo, com a diferença de ser negociado somente em bolsa. O mercado futuro também tem como objetivo diminuir os riscos dos agentes da cadeia envolvida, realizando compra e venda de ativos para liquidação em data futura. No entanto, diferentemente dos contratos a termo, os contratos futuros apresentam a vantagem de não necessitarem da entrega da mercadoria para liquidação da transação. No contrato a termo a liquidação só é feita através da liquidação física, mediante a entrega física da mercadoria. Já nos contratos futuros, o encerramento da operação pode ser feito através da liquidação física, pela liquidação financeira ou pela liquidação por diferença, que é feita através de um acerto financeiro, pelo diferencial entre compra e venda sem haver a necessidade de entrega da mercadoria. A liquidação financeira exige que o desenho do contrato seja referenciado por um indicador de preços, visando promover um mecanismo de administração de risco que elimine a possibilidade de entrega física da mercadoria. Com isso, participantes que não possuem interesse na mercadoria podem negociar no mercado, como é o caso dos especuladores, integrantes do mercado que serão analisados mais adiante.

Outra vantagem do mercado futuro em relação ao mercado a termo está relacionada com a padronização do produto. No mercado futuro, os agentes envolvidos conhecem os produtos que estão negociando, pois são referenciados pela bolsa. Isso torna a negociação mais transparente, além de reduzir os custos de transação. O mercado futuro também possui ajuste diário, que são os créditos ou débitos nas contas dos agentes resultantes da variação positiva ou negativa no valor das posições por eles mantidas. Este ajuste permite que qualquer uma das partes envolvidas na transação possa se desfazer da operação a qualquer momento, repassando-a para uma terceira parte.

O processo de formação de preços no mercado futuro é transparente, ao contrário do mercado a termo, que é definido e conhecido apenas pelas partes envolvidas. A formação de preços no mercado futuro é feita pela lei da oferta e demanda, sendo divulgada para todo o mercado.

20

Dessa forma, o mercado futuro aprimorou o mercado a termo no que diz respeito a algumas características que o aproximam do modelo de competição perfeita, como homogeneidade do produto, otimização do mercado e informações transparentes, permitindo, assim, que os preços possam se ajustar conforme as leis de oferta e demanda. A Tabela 6 resume as principais diferenças entre os mercados a termo e futuro.

Tabela 6 – Diferenças entre os mercados a termo e futuro

Mercado a Termo Mercado Futuro

Negociações dentro ou fora da Bolsa Negociações apenas em Bolsa

Entrega física Entrega física ou liquidação financeira Ativos customizados Ativos padronizados

Impossibilidade de se encerrar a posição antes da data de vencimento

Intercambialidade de posições

Ausência de ajuste diário Presença de ajuste diário Os riscos devem ser compartilhados

pelas partes envolvidas

Operações garantidas pela bolsa

Ausência de transparência de informações na definição dos preços

Transparência de informações na definição dos preços

Fonte: BM&F (2004).

Com o mercado futuro, o produtor tem como avaliar a viabilidade de investimento em determinada cultura, comparando o custo de produção conhecido e o preço que ele pode assegurar com a venda do produto a futuro na Bolsa. Com a ampla divulgação dos preços, é possível saber se os preços a serem pagos no futuro são compensadores ou não, já que neste mercado existem agentes fechando negócios com vencimento para seis a oito meses à frente. Um produtor de arroz, por exemplo, sabedor de seus custos de produção, poderia ter conhecimento hoje do preço que receberia pelo seu produto no futuro, decidindo, assim, se será viável ou não o plantio do arroz nesta safra. Isso ocorrerá caso o produto seja negociado no mercado futuro.

21

Apesar de todas as vantagens do mercado futuro, Souza (1998) ressalta que o produtor encontra certa dificuldade para assimilar seus mecanismos, principalmente pela existência do ajuste diário, que requer disponibilidade de recursos do produtor para se manter atualizado, podendo ser solicitado a cobrir diferenças a qualquer momento. Porém, este problema poderia ser resolvido com a formação de cooperativas, que diminuiria a necessidade do produtor ter grandes somas de recursos financeiros.

Documentos relacionados