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1 INTRODUÇÃO

6.1 Características sociodemográficas das mulheres

O perfil sociodemográfico da amostra estudada apresentou maior concentração na faixa etária dos 20 aos 34 anos (329; 58,7%), 148 (26,5%) tinham entre 13 e 19 anos e 83 (14,8%) tinham 35 anos ou mais. A média foi de 25 anos, a mínima 13 e a máxima 45 anos.

Esse dado corrobora com pesquisas feitas na Nigéria e na Índia, nas quais a média de idade foi 29 anos e 64% das mulheres com NMM tinham entre 20 e 29 anos, respectiva- mente (OLAGBUJI et al., 2012; PURANDARE et al., 2014). Já em estudo realizado na França e Abu Dabi, a idade média das mulheres admitidas na UTI foi 30.5 anos e a maioria tinha mais que 35 anos (CHANTRY et al., 2015; GHAZAL-ASWAD et al., 2013).

Em estudo realizado em Recife com mulheres internadas em UTI com NMM, a idade das pacientes variou de 12 a 45 anos (média de 24,8 ± 7 anos), sendo que 25,3% tinham entre 10 e 19 anos, 66,3% entre 20 e 34 anos e 8,6% mais que 35 anos, apresentano um per- centual também importante de adolescentes (AMORIM et al, 2008). No entanto, no estudo realizado em Campinas, São Paulo, encontrou-se um percentual de pouco mais que 15% de adolescentes, podendo refletir as diferenças regionais do Brasil (SOUZA et al, 2007).

Foram encontradas 287 (56,8%) mulheres casadas, 304 (54,3%) que residiam em Fortaleza, 354(75,3%) tinham até nove anos de estudo, 337(62,1%) não tinham trabalho remunerado e 342(87,3%) tinham a cor da pele não branca.

O acesso e a efetividade das ações desenvolvidas pelos serviços de saúde são influenciados por indicadores sociodemográficos e econômicos como a escolaridade, a renda e o local de moradia e, em especial, na área materno-infantil, os diferenciais são frequentes, assim, a assistência prestada, muitas vezes, reproduz as desigualdades sociais (SOARES; SCHOR; TAVARES, 2008).

Alguns autores consideram que a maior incidência de complicações maternas ocorra em mulheres com maior idade, cor da pele preta/parda, com menor escolaridade e com piores condições socioeconômicas (SOUSA et al., 2006; SOUZA et al., 2007; TUNÇALP et al., 2014).

Tabela 2- Distribuição dos dados sociodemográficos segundo critérios do near miss e óbito de mulheres internadas na UTI materna da MEAC no período de 2010 a 2014. Fortaleza/CE, 2016.

Near miss (OMS) Near Miss (Mantel) Near Miss (Waterstone) Near Miss (Geller) Óbito materno

Variáveis f(%) Valor p f(%) Valor p f(%) Valor p f(%) Valor p f(%) Valor p

Faixa etária (n=560) 13 a 19 anos 54 (35,8) 0,002 53(35,1) 0,010 120(80,4) <0,001 55(36,5) 0,056 6(4,1) 0,010 20 a 34 anos 173(52,7) 164(50,0) 207(63,1) 157(47,9) 36(11,0) 35 ou mais anos 34(41,0) 40 (48,2) 48(57,8) 40 (48,2) 3(3,6) Procedência (n=560) Fortaleza 143(46,9) 0,783 141(46,5) 0,692 211(69,6) 0,034 139(45,9) 0,611 23(7,6) 0,863 Região metropolitana 54(48,2) 53 (47,3) 79 (70,5) 52(46,4) 9(8,0) Interior 63(44,1) 61(42,7) 83 (58,0) 59(41,3) 13(9,1)

Estado civil (n=505) OR (IC95%) OR (IC95%) OR (IC95%) OR (IC95%) OR (IC95%)

Sem parceiro 106(48,6) 1,2 (0,8-1,7) 99 (45,4) 1,0(0,7-1,4) 157 (72,0) 1,3(0,9-2,0) 91(41,7) 0,8(0,6-1,2) 18(8,3) 1,0(0,5-2,0) Com parceiro 125(43,6) p=0,257 128 (44,6) p=0,865 186 (64,8) p=0,086 128(44,6) p=0,521 22(7,7) p=0,807 Escolaridade (n=470) < 9 anos 154(43,5) 0,9(0,6-1,4) 153 (43,2) 1,0 (0,6-1,5) 236 (66,7) 0,6(0,4-1,1) 145(41,0) 0,9(0,6-1,4) 28(7,9) 1,1(0,5-2,6) ≥ 9 anos 52(44,8) p=0,803 50 (43,1) p=0,982 86 (74,1) p=0,133 49(42,2) p=0,808 8(6,9) p=0,722 Ocupação (n=543) Não Trabalha 161(47,8) 1,2 (0,8-1,7) 157 (46,6) 1,1(0,7-1,5) 237 (70,3) 1,4(1,0-2,1) 159(47,2) 1,3 (0,9-1,8) 27(8,0) 0,9(0,5-1,8) Trabalha 89(43,2) p=0,300 91 (44,2) p=0,584 127 (61,7) p=0,037 83(40,3) p=0,117 17(8,3) p=0,921 Cor (n=394) Branca 25(50,0) 1,1(0,6-2,0) 22(44,0) 0,9 (0,5-1,6) 38 (76,0) 1,5(0,7-2,9) 20 (40,0) 0,8(0,4-1,5) 7(14,0) 1,6(0,6-3,9) Não Branca 161(46,8) p=0,672 159 (46,2) p=0,768 233 (67,7) p=0,238 153(44,5) p=0,551 31(9,0) p=0,264

De acordo com a Tabela 2 houve associação entre a faixa etária e os critérios de OMS (p=0,002), Mantel (p=0,010), Waterstone (p<0,001) e o óbito materno (p=0,010). Os dados mostram que apenas o critério de Waterstone associou-se com a faixa etária entre 13 e 19 anos, sendo as demais variáveis associadas à faixa etária entre 20 e 34 anos.

No que diz respeito a idade, Oliveira Jr et al. (2013) concluiram que o aumento das taxas de NMM aumentam de acordo com a idade materna. No entanto, recentes estudos identificaram maior ocorrência de NMM em mulheres com idade na faixa etária de 20 a 29 anos (GIORDANO et al., 2014; LUEXAY et al., 2014; HALDER;JOSE;VIJAYSELVI, 2014; ASSARAG et al., 2015). A gestação em jovens pode acarretar complicações à saúde materna e estar associada ao risco de piores resultados no fim de uma gestação (AMORIM et al, 2008).

Apesar de não haver associação entre a variável Estado civil, percebe-se que, ex- ceto o critério do Geller, os outros critérios e o óbito materno tiveram mais mulheres sem companheiros. O que corrobora com um estudo multicêntrico, publicado em 2010, que envol- veu120 hospitais de oito países da América Latina e concluiu que mulheres sem parceiros tem maior associação com a ocorrência de NMM (SOUZA et al., 2010b).

A análise do estado marital leva a crer que a presença do companheiro seja impor- tante na vida da gestante/puérpera, visto que o parceiro pode prestar suporte emocional e eco- nômico a ela.

Morais et al. (2011) mostraram em seu estudo que há menor adesão ao pré-natal de mulheres, independente da idade, que não residem com seus companheiros. Mulheres con- sideradas de alto risco são solteiras, na maioria, o que infere que estas seriam menos estimu- ladas a procurar assistência adequada e em tempo hábil por não terem apoio e incentivo de outrem.

Acerca da Escolaridade, não houve associação entre esta e o NMM ou óbito. No entanto, pesquisas sugerem a maior incidência de NMM em mulheres com nenhum ou poucos anos de estudo e baixa condição de vida (SOUSA et al., 2006; SOUZA et al., 2007; TUNÇALP et al., 2014).

Houve associação entre o critério de Waterstone e as variáveis Procedência (p=0,034) e Ocupação (p=0,037), no qual foi mínima a diferença entre as mulheres que residiam na região metropolitana (70,5%) e na capital (69,6%).

A elevada porcentagem das mulheres residentes na capital e região metropolitana advém do fato de estarem mais próximas da MEAC, e desta ser uma maternidade de referên- cia para o Estado do Ceará.

No entanto, chama atenção também a elevada porcentagem de mulheres residentes nos municípios do interior do Estado que tiverem associação com o NMM (58%). Isso pro- vavelmente reflete a precariedade da assistência prestada nestas localidades e a necessidade de melhorias, que podem ser alcançadas com a organização da assistência regional e a descen- tralização do atendimento de pré-natal e parto de alto risco, fornecendo a essas regiões equi- pamentos, exames complementares, medicamentos e profissionais especializados.

No tocante à Ocupação, houve associação em relação ao critério de Waterstone (p=0,037), no qual 70,3% das mulheres que não trabalhavam tiveram NMM. A relação de- monstra também que as mulheres sem ocupação tem 40% (OR:1,4; IC95% 1,0- 2,1) mais chances de evoluir para NMM do que as que trabalham.

Sabe-se que atualmente em muitas famílias a mulher vem se tornando a principal provedora do sustento econômico. Com o desemprego desta as possibilidades financeiras da família tem drástica redução.

Ademais, o acesso aos serviços de saúde de qualidade depende, muitas vezes, dos aspectos econômicos, o que restringe a escolha dos serviços pelas usuárias com baixas condi- ções socioeconômicas (TRAVASSOS; CASTRO, 2008; ASSIS; JESUS, 2012). Shen et al. (2013) inferem que o status socioeconômico e a ausência de plano de saúde são fatores de risco para o NMM.