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Características sociodemográficas na Região Metropolitana da Baixada Santista

CAPÍTULO III – O PROCESSO DE ACUMÚLO DE CARÊNCIAS: SEGREGAÇÃO

3.2 Características sociodemográficas na Região Metropolitana da Baixada Santista

A estrutura etária é uma das componentes demográficas mais importantes para definir o perfil de uma população, uma vez que a partir dela é possível inferir as principais demandas de um conjunto de políticas e serviços essenciais de uma população. Assim, ela é fundamental para fins de planejamento de políticas públicas, pois é um importante elemento “[...] para o conhecimento das diferenciações sócio-espaciais e, portanto, para a tomada de decisões sobre como enfrentar os problemas derivados do processo de urbanização” (CUNHA; OLIVEIRA, 2001, p. 365).

Um dos princípios mais básicos sobre a relação entre estrutura etária e o planejamento de políticas públicas é que a demanda por serviços varia segundo a idade das pessoas, e consequentemente, regiões com populações mais jovens têm necessidades diferentes daquelas mais envelhecidas e vice-versa. Pensando no contexto da educação básica regular, sabe-se que os requerimentos deste serviço são maiores em áreas de maior concentração de crianças e adolescentes.

A Região Metropolitana da Baixada Santista, nos períodos referentes a 2000 e 2010, apresentou um sensível envelhecimento relativo, conforme pode ser observado na Figura 2.

FIGURA 2 – Distribuição da população, por município, segundo grupos etários. Região Metropolitana da Baixada Santista 2000-2010

Fonte: Cunha; Farias (2017).

Ao tomar como referência o segmento da população com menos de 15 anos, no período analisado, houve uma moderada redução desse grupo no total da população, passando de 25,9% para 22%. Ao analisar individualmente cada um dos nove municípios da região observou-se “[...] que até naqueles que conformam a periferia social metropolitana também foi observado envelhecimento relativo de suas populações no período considerado” (CUNHA; FARIAS, 2017, p. 34).

Contudo, há importantes diferenças observadas entre os municípios. Tomando como exemplo o município de Santos, observou-se que o grupo etário de 0 a 15 anos nesse município era menor (20% em 2000 e 2010) do que a média da RMBS, e que o grupo etário de 60 anos e mais “[...] por sua vez, registrava percentuais elevados, acima dos 15%, valor não alcançado em nenhum outro município” (CUNHA; FARIAS, 2017, p. 35).

Além das particularidades observadas que difere um município do outro, para a discussão desenvolvida neste trabalho é fundamental pormenorizar ainda mais o recorte espacial e tornar conhecida a distribuição da população segundo grupos etários no âmbito intraurbano. Esta informação pode ser observada a partir dos clusters de segregação construídos através do Índice de Moran Local, conforme Tabela 1:

TABELA 1 – População urbana residente por grupos etários segundo Clusters de Segregação na Região Metropolitana da Baixada Santista em 2010

Fonte: IBGE (Censo Demográfico 2010).

Segundo a referida categorização socioespacial a população na RMBS em 2010 estava distribuída da seguinte maneira: quase metade (48,33%) da população concentrada em áreas heterogêneas (categoria não significativa – NS); um quarto (25,04%) em áreas de concentração de pobreza (categoria baixo-baixo – LL); pouco menos de um quinto (18,42%) em áreas de concentração de riqueza (categoria alto-alto - HH); menos de um décimo em áreas pobres cercadas por áreas ricas (7,85%: categoria baixo-alto – LH) e em áreas ricas cercadas por áreas pobres (0,36%: categoria alto-baixo – HL).

Ademais, ao analisar a distribuição da população segundo grupos etários nos clusters de segregação residencial (ver tabela 1), observa-se uma notável participação de idosos (22,64%) nas áreas de concentração de riqueza (cluster HH) em relação ao total da população deste cluster. Já nas áreas de concentração de pobreza (cluster LL) esse mesmo grupo etário (60 anos e mais) apresenta um valor relativo, em relação ao total da sua população, muito menos expressivo (7,41%). Confrontando o perfil extremo dos grupos etários entre essas duas categorias, ou seja, a população de 0 a 5 anos entre os dois clusters, identifica-se o oposto: maior peso nas áreas de concentração de pobreza (8,58%) em relação às áreas de concentração de riqueza (4,13%).

Todavia, gostaria de destacar a distribuição de um terceiro segmento etário: o grupo de 6 a 14 anos, que será a população alvo analisada neste trabalho. A comparação dos resultados deste segmento etário segue um padrão de distribuição da população muito parecido ao grupo etário anterior (0 a 5 anos). Isto é, há maior participação nas áreas de concentração de pobreza (19,36%) comparada àquelas de concentração de riqueza (9,55%).

Desse modo, assim como apresentado no Atlas da RMBS (CUNHA; FARIAS, 2017, p. 39) afirmamos que:

[...] as regiões centrais dos municípios apresentaram as menores proporções de crianças e adolescentes de 6 a 14 anos, sobretudo a orla de Santos. Por sua vez, as zonas mais afastadas da linha de costa [...] registraram maior proporção de indivíduos pertencentes a este grupo etário.

Grupos Etários HH HL LL LH NS RMBS

Absoluto % Absoluto % Absoluto % Absoluto % Absoluto % Absoluto %

0-5 anos 12628 4,13 333 5,56 35687 8,58 10154 7,79 52410 6,53 111212 6,70 6-14 anos 29212 9,55 796 13,30 80505 19,36 22871 17,55 121403 15,13 254787 15,35 15-34 anos 83434 27,28 1638 27,37 149627 35,99 45821 35,16 262006 32,65 542526 32,68 35-59 anos 111301 36,40 2243 37,48 119140 28,65 39271 30,13 262116 32,67 534071 32,17 60 anos e mais 69218 22,64 974 16,28 30830 7,41 12203 9,36 104463 13,02 217688 13,11 Total 305793 100,00 5984 100,00 415789 100,00 130320 100,00 802398 100,00 1660284 100,00

Todavia, a compreensão da distribuição espacial do referido grupo etário no território da RMBS torna-se mais intuitiva ao analisar a Figura 3. Aqui é possível observar além das maiores concentrações desse segmento, a distribuição espacial das escolas públicas que ofertavam o ensino fundamental regular na região em 2015.

FIGURA 3 – Distribuição da população de 6 a 14 anos de idade e dos equipamentos públicos de educação básica na Região Metropolitana da Baixada Santista – 2010/2015

Fonte: IBGE (Censo Demográfico 2010) e INEP (2016b).

À primeira vista, ao observar a distribuição espacial da população de 6 a 14 anos e das escolas no território da RMBS, parece haver uma “coerência espacial” entre estas duas variáveis. Isto é, a alocação espacial desse grupo etário no território parece ser acompanhada da distribuição das escolas que oferecem essa modalidade de ensino da educação básica. Mas será que realmente tais distribuições acontecem de maneira tão harmônica? Apenas com estes resultados é possível desenvolver uma análise adequada sobre a demanda e oferta educacional para essa modalidade da educação básica? E como poderíamos conhecer melhor tal relação (demanda e oferta educacional) e seus desdobramentos diante do quadro de segregação residencial presente na RMBS?

As respostas para as duas primeiras perguntas são negativas, pois esta é uma análise que requer maior nível de detalhamento a fim de verificar se, de fato, a distribuição da

população em idade a frequentar o ensino fundamental regular (6-14 anos) - e a consequente demanda por este serviço – é seguida pela distribuição dos equipamentos de ensino no território.

A fim de alcançar este objetivo, analisou-se tanto a disposição das escolas no território quanto a quantidade de matrículas realizadas nestes estabelecimentos segundo cluster de segregação residencial, e a distribuição da população de 6 a 14 anos de idade na RMBS. Estes e outros resultados encontram-se na seção seguinte e respondem à terceira pergunta feita antes, ou seja, sobre a relação entre demanda e oferta.

Além disso, a seção seguinte apresenta as principais características de infraestrutura destes equipamentos distribuídos no território da RMBS, o que pode revelar um acesso diferenciado às políticas públicas de educação. Assim, procura-se confirmar se as localidades de concentração de pobreza nessa região são caracterizadas pela ausência e/ou precariedade dos serviços públicos de educação.

3.3 Caracterização dos equipamentos de educação pública na Região Metropolitana da