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1.5 Delimitação e caracterização da área e da população da pesquisa

1.5.1 Características socioeconômicas da população pesquisada

Considera-se que as características socioeconômicas são fundamentais para se entender o contexto que envolve as realidades dos agricultores sobre algumas

23 questões que esta pesquisa pretende identificar: o acesso às políticas públicas, a percepção sobre as mudanças no clima e as possíveis formas adaptativas buscadas pelos agricultores para mitigar os impactos negativos do fenômeno climático (BELOW et al., 2012; AYALA; ESTRUGO, 2014; ANDRADE, SILVA e ANDRADE, 2015). Sendo assim, esta subseção irá apresentar dados sobre essas características.

A maioria dos agricultores entrevistados possui mais de cinquenta anos (60,2%), se identificam como homens (69,4%) e, estão casados (86,3%). Quanto aos anos de experiência no trabalho agrícola, a maior parte possui mais de 30 anos trabalhando na terra (74,3%) (Tabela 6). Esse dado pode ser explicado tanto pela idade quanto pelo fato de que a maioria dos entrevistados disse ter iniciado na atividade agrícola antes dos dezoito anos para ajudar seus pais (83,5%).

Tabela 6. Idade, gênero, estado civil e tempo de experiência agrícola dos entrevistados

Idade (anos) Percentagem (%)

20 – 29 2,9 30 – 39 12,1 40 – 49 24,8 50 – 59 34,0 60 – 69 18,4 70 – 79 6,3 80 ou mais 1,5 Gênero Feminino 30,6 Masculino 69,4 Estado Civil Solteiro 9,8 Casado 86,3 Divorciado 1,0 Viúvo 2,9 Experiência (anos) Entre 5 e 10 5,9 Entre 11 e 20 6,4 Entre 20 e 30 13,4 Entre 30 e 40 Mais de 40 18,8 55,5 Fonte: Elaborada pelo autor com base nos dados da pesquisa de campo

Já a Tabela 7 demonstra que os estabelecimentos agrícolas visitados possuem, na sua maioria (83,4%), menos de um módulo fiscal, uma vez que este módulo varia entre 20 e 30 hectares nos municípios pesquisados (INCRA, 2013).

24 Tabela 7. Dados relevantes dos estabelecimentos agrícolas visitados.

Tamanho do estabelecimento (ha) Percentagem (%) 0 até 5 24,2 > 5 até 10 16,0 > 10 até 30 43,2 > 30 até 60 10,2 > 60 até 100 4,4 Mais de 100 2,0

Condição legal em relação à terra %

Proprietário 80 Assentados 13,1 Comodatário 1,9 Arrendatário 1 Posseiro 1 Parceiro 1 Meeiro 1 Uso coletivo 1

Principais atividades desenvolvidas nos estabelecimentos

Pecuária leiteira 34

Agricultura de maneira geral 17,0 Produção de hortaliças 13,1

Produção de café 10,2

Pecuária de corte 6,3

Produção de Banana 2,4

Outras 17,0

Percentual da renda dependente das atividades

agropecuárias %

0 – 25 10,2

25 – 50 28,1

51 – 75 17,0

76 – 100 44,7

Número de dependentes da renda gerada no

estabelecimento %

1 2,5

Entre 2 e 5 80,3

Entre 6 e 10 16,7

Mais de 10 0,5

Fonte: Elaborada pelo autor com base nos dados da pesquisa de campo

Quanto à condição legal da terra, é possível identificar nessa mesma tabela que 192 agricultores declararam ser proprietários ou assentados. Segundo Motta (2011) tal característica é considerada como um elemento facilitador para obtenção de crédito. Consequentemente, se bem utilizado, o crédito rural pode ser um elemento

25 potencializador da produção e da implementação de alternativas adaptativas às mudanças climáticas. A Tabela 7 indica também as principais atividades desenvolvidas nos estabelecimentos. O maior destaque ficou para pecuária leiteira, que é considerada a principal atividade por 34% dos entrevistados.

A dependência dos agricultores à renda das atividades desenvolvidas na propriedade também é apresentada na Tabela 7.

A tabela anterior, demonstra que a pluriatividade se destaca no ambiente pesquisado, uma vez que 38,3% dos entrevistados declaram que no máximo 50% da renda familiar depende das atividades desenvolvidas no estabelecimento. Contudo, a preocupação com o acesso às políticas públicas e com o fenômeno das mudanças climáticas é ainda mais relevante: 44,7% dos agricultores que participaram da pesquisa possuem, no mínimo, 75% da renda familiar dependente das atividades agrícolas. E relevante relembrar, que segundo Altieri e Koohafkan (2008), Altieri e Niccholls (2013) e Cunha et al. (2013), um dos fatores que fazem os agricultores familiares serem mais sensíveis ao fenômeno das mudanças climáticas é justamente sua alta dependência da renda agrícola. Por fim, a Tabela 7 apresenta o número de dependentes da renda gerada nos estabelecimentos, na qual percebe-se que 80,3% dos estabelecimentos possuem entre duas e cinco pessoas dependendo de sua renda.

A educação formal é outro importante item a se considerar nessa pesquisa. Xavier et al. (2016) descrevem que além de um importante indicador do desenvolvimento, a educação formal também pode ser considerada como ferramenta que potencializa o acesso às políticas públicas. Ademais, Bellow et al. (2012) ressaltam que a vulnerabilidade a mudanças no clima pode ser reduzida por meio desse tipo de educação, que também propicia a implementação de medidas adaptativas mais consistentes. Nesse contexto, os dados de campo indicam a vulnerabilidade existente entre os agricultores participantes desta pesquisa. O gráfico 1 demonstra que 63,5% dos entrevistados possuem no máximo o ensino fundamental completo, enquanto que a porcentagem dos que possuem ensino superior é de apenas 2%.

26 Gráfico 1. Nível de educação formal dos agricultores que participaram da pesquisa

Fonte: Elaborada pelo autor com base nos dados da pesquisa de campo

Nesse contexto de pouco acesso à educação formal, acredita-se que os serviços de assistência técnica sejam uma importante ferramenta para o acesso às políticas públicas de desenvolvimento rural e de mitigação aos efeitos negativos das mudanças do clima, auxiliando também na recuperação de impactos ambientais causados por grandes empreendimentos capitalistas. Além disso, entende-se que a assistência técnica pode colaborar para o entendimento dos agricultores sobre mudanças climáticas e para construção coletiva de técnicas produtivas mais sustentáveis, por meio da soma dos conhecimentos teóricos dos extensionistas aos conhecimentos práticos e tradicionais dos agricultores. Dos agricultores entrevistados, 119 disseram que receberam, ou estavam recebendo serviço de assistência técnica (57,7%). Contudo, 45,4% desses agricultores relataram que as visitas técnicas não são frequentes, o período de tempo entre uma e outra é superior a um mês. É preciso destacar também, que apesar dessa porcentagem ser muito maior do que os 11,5% apresentados pelo Censo Agropecuário (IBGE, 2006) para o estado de Minas Gerais, não necessariamente condiz com a realidade dos territórios pesquisados. Pois, um dos recortes metodológicos escolhidos nesta pesquisa foi entrevistar agricultores que recebiam e que não recebiam assistência técnica. Essa opção foi tomada para testar estatisticamente se os agricultores que recebiam esses serviços tinham maior acesso às políticas públicas e se ambos

27 potencializavam o entendimento sobre o fenômeno das mudanças climáticas e a busca por adaptações a este fenômeno, o terceiro objetivo desta tese.

Uma vez compreendendo que a participação em sindicato de trabalhadores rurais (STR) e instituições associativas, associação ou cooperativa, traz uma série de benefícios aos agricultores, tais como a luta por direitos adquiridos, o aumento de escala de produção para atingir determinados mercados, especialização da produção em forma de beneficiamento em escala (MALUF, 2004; FAVARETO, 2006), acesso a informações e a assistência técnica, também buscou-se identificar a participação dos entrevistados nessas instituições. Dos 206 entrevistados, 112 disseram participar de associação ou cooperativa (54,4%). Em relação ao STR, 149 agricultores disseram participar. Entre os 172 motivos expostos para justificar o interesse em ser sindicalizado, o grande destaque vai para a aposentadoria, citada 95 vezes (55,2% do total). Posteriormente aparecem o acesso a consultas médicas, 23 vezes mencionadas (13,4%) e o acesso à assistência técnica, citada apenas 18 vezes (10,5%).

Apesar da extrema relevância dos três motivos descritos no parágrafo anterior, no contexto desta pesquisa, eles em nada, ou pouco, podem colaborar para aumentar o acesso às políticas públicas e para buscar formas mais sustentáveis de produção que amenizem os impactos ambientais regionais e procurem formas adaptativas em relação aos impactos negativos oriundos do fenômeno das mudanças climáticas. Assim sendo, os STR dos territórios pesquisados aparentam não estar conseguindo colaborar para amenizar os limites impostos pelo déficit de educação formal e de assistência técnica local. Além disso, é necessário destacar que a união por meio das instituições associativas pode desenvolver maior relação entre agricultores e os responsáveis pelas políticas públicas, fazendo com que os conhecimentos tradicionais dos agricultores possam nortear essas políticas, coisa que não acontece na região pesquisada e no Brasil de maneira geral, conforme será apresentado no capítulo intitulado “Etnoecologia e etnoclimatologia no contexto das mudanças climáticas na região Rio Doce, Minas Gerais”

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